Principais Patógenos Bacterianos em Medicina Veterinária
Classificado em Biologia
Escrito em em
português com um tamanho de 12,98 KB
Bactérias Espiraladas e Helicoidais: Ordem Spirochaetales
A Ordem Spirochaetales contém três famílias de interesse veterinário:
- Leptospiraceae
- Spirochaetaceae
- Brachyspiraceae
Características Gerais de Spirochaetales
- Seu cultivo é difícil, porém, crescem em meios líquidos.
- A ordem é composta por bactérias espiraladas e helicoidais.
- São móveis, pois possuem endoflagelos no periplasma.
- São frágeis no meio ambiente e sensíveis à dessecação.
Filamentos Axiais ou Endoflagelos
Estrutura exclusiva das espiroquetas (ex: Leptospira sp.):
- Feixes de fímbrias que se originam nas extremidades das células, sob a bainha externa, e fazem espiral em torno da bactéria.
- Estrutura similar aos flagelos.
- Propele o movimento espiral, semelhante a um saca-rolhas.
Família Leptospiaceae e Leptospirose
Características da Família Leptospiaceae
- Bactérias espirais móveis com terminações em forma de gancho e endoflagelos.
- Sensíveis à dessecação.
- Gram-negativas (GN), mas coram-se pouco pelo método de Gram, exigindo visualização por microscopia de campo escuro.
- Necessitam meios especializados (líquidos) para o seu cultivo.
- Devem ser cultivadas aerobicamente a 30°C.
Gênero Leptospira
Bactérias helicoidais, móveis, com extremidades em forma de gancho. Sua visualização é feita por microscopia de campo escuro. Possuem grande importância clínica e epidemiológica, sendo o agente etiológico da Leptospirose.
Sorovares de Leptospira e Condição Clínica
| Sorovares | Hospedeiro | Condição Clínica |
|---|---|---|
| L. borgpetersenii sorovar Hardjo | Bovinos e Ovinos | Aborto, natimortos e agalactia |
| L. interrogans sorovar Hardjo | Humanos | Enfermidade tipo influenza, doenças ocasionais no fígado e rins |
| L. borgpetersenii sorovar Tarrasovi | Suínos | Falha reprodutiva, aborto e natimortos |
| L. interrogans sorovar Bratislava | Suínos, Equinos e Cães | Falha reprodutiva, aborto e natimortos |
| L. interrogans sorovar Canicola | Cães | Falha reprodutiva, aborto e natimortos |
| L. interrogans sorovar Canicola | Suínos | Nefrite aguda em filhotes, doença renal crônica em adultos |
| L. interrogans sorovar Grippotyphosa | Bovinos, Suínos e Cães | Doença septicêmica em animais jovens, aborto |
| L. interrogans sorovar Icterohaemorrhagiae | Bovinos, Suínos e Ovinos | Septicemia aguda em animais jovens, abortos |
| L. interrogans sorovar Icterohaemorrhagiae | Cães e Humanos | Doença hemorrágica subaguda, hepatite aguda |
| L. interrogans sorovar Copenhageni | Animais Domésticos e Humanos | Doença subaguda e ativa, aborto |
| L. interrogans sorovar Pomona | Bovinos e Ovinos | Doença hemolítica aguda, aborto |
| L. interrogans sorovar Pomona | Suínos | Falha reprodutiva e septicemia em leitões |
| L. interrogans sorovar Pomona | Equinos | Aborto e oftalmia periódica |
Hospedeiros de Manutenção e Acidentais
| Sorovares | Hospedeiro de Manutenção | Hospedeiro Acidental |
|---|---|---|
| Bratislava | Suínos, Cavalos | Cães |
| Canicola | Cães | Suínos, Bovinos |
| Grippotyphosa | Roedores | Suínos, Bovinos, Equinos e Cães |
| Hardjo | Gado (Bovinos e Ovinos) | Humanos |
| Icterohaemorrhagiae | Ratos | Animais Domésticos e Humanos |
| Pomona | Suínos, Bovinos | Ovinos, Cavalos e Cães |
Epidemiologia e Controle da Leptospirose
- Podem sobreviver no ambiente em lagoas, rios, superfícies úmidas e lamas.
- Animais portadores mantêm leptospiras no trato urinário (túbulos renais) ou genital.
- Transmissão mais frequente por contato direto/indireto.
- Distribuídas mundialmente.
- Sorovariedades associadas a determinados hospedeiros (hospedeiro de manutenção) são as principais fontes de contaminação ambiental.
Controle em Humanos
- Higiene pessoal.
- Utilização de roupas de proteção nas áreas rurais.
- Construções à prova de roedores.
- Proteção dos alimentos e descarte correto de resíduos (evitar contaminação pela presença de roedores).
- Controle da infecção nos animais domésticos.
- Vacinação (animais).
Família Spirochaetaceae: Gênero Borrelia
- Parasitas obrigatórios.
- Podem permanecer no ambiente por pouquíssimo tempo, necessitando de reservatórios e vetores artrópodes para sobrevivência prolongada.
Importância Veterinária: Borrelia burgdorferi (Doença de Lyme)
Sinonímia: Borreliose de Lyme, Artrite de Lyme e Eritema Crônico Migratório.
Vetor: Ixodídeos (Ixodes ricinus, I. scapularis).
Reservatórios: Roedores, Lagartos, Porcos-espinhos, Aves.
Ordem Rickettsiales
- Bactérias Gram-negativas (GN), minúsculas, imóveis.
- Parasitas intracelulares obrigatórios.
- Transmitidas principalmente por artrópodes.
- Pouca sobrevivência ambiental (exceto Coxiella burnetii).
Famílias e Gêneros
| Família | Gêneros |
|---|---|
| Rickettsiaceae | Coxiella, Rickettsia |
| Anaplasmataceae | Anaplasma, Ehrlichia, Haemobartonella |
Principais Patógenos de Rickettsiales
| Agente | Hospedeiros/Transmissão | Doença | Distribuição |
|---|---|---|---|
| Coxiella burnetii | Humanos e Ruminantes / Aerossóis e Carrapatos | Febre Q em humanos; Aborto em ruminantes | Mundial |
| Rickettsia rickettsii | Humanos, Cães / Carrapatos | Febre Maculosa | Américas |
| Ehrlichia canis | Cães / Carrapatos | Ehrlichiose Monocítica Canina | Regiões Tropicais e Subtropicais |
| Ehrlichia equi | Equinos / Carrapatos | Ehrlichiose Granulocítica Equina | EUA, Israel... |
Ehrlichiose Monocítica Canina
- Doença generalizada de canídeos.
- Agente etiológico: Ehrlichia canis.
- Vetor: Rhipicephalus sanguineus.
- Após a recuperação, os cães podem ser portadores por até dois anos.
- Zoonose? Sim, E. chaffeensis é um agente relacionado que afeta humanos.
Fases da Infecção por Ehrlichia canis
Infecção Aguda:
- Febre, trombocitopenia (duração de aproximadamente 1 mês).
- Pode levar à imunidade protetora e recuperação.
Infecção Subclínica Persistente:
- Febre intermitente, trombocitopenia e anemia (pode durar meses ou anos).
Doença Crônica Severa:
- Pancitopenia, febre, petéquias, edema. Pode ser fatal.
Mollicutes: Bactérias Sem Parede Celular
Revisão: Parede Celular Bacteriana
A parede celular é encontrada na maioria das bactérias (exceto nos micoplasmas, ureaplasmas e algumas arqueias). Localiza-se sobre a membrana plasmática, sendo a porção mais externa.
Funções da Parede Celular
- Responsável pela manutenção da forma celular (rigidez).
- Barreira de proteção contra agentes físicos e químicos (choque osmótico).
- Papel importante na patogenicidade.
- Sítio para ação de alguns antimicrobianos (ex: penicilinas).
Gênero Mycoplasma
São os menores microrganismos de vida livre, com poucos gêneros de interesse veterinário.
- Possuem tripla (ou dupla) camada de membranas, mas não possuem parede celular.
- Não se coram pelo Gram (são fracamente GN).
- Maioria anaeróbia facultativa.
- Necessitam de meios enriquecidos para crescimento.
- São microrganismos procariotos sem parede celular rígida, sendo, portanto, pleomórficos (variando de cocos até filamentos).
- Delimitados por lipoproteína limitante na membrana plasmática.
- Maioria são comensais do trato digestório superior, respiratório e genital.
Principais Espécies de Mycoplasma por Hospedeiro
Aves (Galinhas e Perus)
- M. gallisepticum: Doença respiratória crônica, Sinusite infecciosa.
- M. synoviae: Aerossaculite, deformidades ósseas.
- M. meleagridis.
Suínos (Porcos)
- M. hyopneumoniae: Pneumonia Enzoótica.
- M. hyorhinis: Poliserosite.
- M. hyosynoviae: Poliartrite.
Bovinos
- M. mycoides subs. mycoides: Pleuropneumonia contagiosa bovina, Mastite, Pneumonia, Artrite.
- M. bovis: Mastite, Pneumonia, Artrite.
Micoplasmose Bovina
Causada por M. mycoides e M. bovis.
- Pleuropneumonia Contagiosa Bovina: Alta contagiosidade, lesões supurativas nos pulmões, pleura e peritônio.
- Causa mastite contagiosa e artrite.
Micoplasmose Suína
Causada por M. hyorhinis, M. hyosynoviae e M. hyopneumoniae.
Pneumonia Enzoótica Suína (M. hyopneumoniae)
Doença respiratória de distribuição mundial, responsável por grandes perdas econômicas. Caracteriza-se pelas alterações que provoca nos mecanismos de defesa do aparelho respiratório, facilitando o desenvolvimento de infecções secundárias no pulmão.
- A infecção por M. hyopneumoniae, associada à Pasteurella multocida, leva à dificuldade respiratória e redução do ganho de peso.
- Sinais clínicos mais comuns: tosse seca, atraso no crescimento e piora da conversão alimentar.
- A presença de infecções secundárias aumenta a mortalidade e as condenações de carcaça.
Sinais Clínicos Gerais (Pneumonia)
Os principais sinais clínicos observados são os mesmos de qualquer pneumonia:
- Tosse seca ou com catarro.
- A tosse pode ser observada em animais em repouso ou somente após o movimento.
- Febre pode ser observada.
Diagnóstico e Tratamento da Micoplasmose
- Diagnóstico: Imunodiagnóstico e diagnóstico molecular. Isolamento bacteriano em lavados transtraqueais (difícil).
- Tratamento: Antimicrobianos podem ser utilizados, contudo, resultados significativos são obtidos com a vacinação dos animais.
Clamídias (Chlamydiaceae)
- Bactérias esféricas intracelulares obrigatórias.
- Não cultiváveis.
- Coloração de Ziehl-Neelsen e Giemsa.
- Parede sem peptideoglicana.
- Causam enfermidades nos tratos respiratório, reprodutivo e entérico de animais e humanos.
Classificação e Espécies de Interesse
Família Chlamydiaceae:
- Gênero Chlamydia: C. trachomatis, C. suis.
- Gênero Chlamydophila: C. psittaci, C. abortus, C. felis, C. pneumoniae.
Patologias Causadas por Chlamydophila
- Chlamydophila psittaci:
- Aves: Pneumonia, aerossaculite, conjuntivite.
- Humanos: Psitacose, aborto e conjuntivite.
- Chlamydophila abortus: Ovinos, caprinos, bovinos e suínos (Abortos, especialmente Aborto Enzoótico Ovino).
- Chlamydophila felis: Felinos (Conjuntivite).
- Chlamydophila pneumoniae: Humanos e equinos (Infecção respiratória).
Nota: Chlamydophila psittaci e C. pneumoniae são consideradas Zoonoses.
Patologias Causadas por Chlamydia
- Chlamydia trachomatis: Humanos (Tracoma, conjuntivite, uretrite, linfogranuloma venéreo - DST, e artrite).