Produção Enxuta: A Evolução da Indústria
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Da Produção em Massa para a Produção Enxuta
A Indústria Automobilística em Transição
- A indústria automobilística é uma das maiores em atividade industrial, com mais de 50 milhões de veículos produzidos a cada ano.
- Por duas vezes no século passado, esta indústria alterou nossas noções de como produzir bens.
- Após a 2ª Guerra Mundial, Eiji Toyoda e Taiichi Ohno, da Toyota japonesa, foram os pioneiros no conceito da Produção Enxuta.
- Com as outras companhias japonesas copiando este sistema, o Japão logo saltou para a atual proeminência econômica.
- Histórico comparativo:
Produção Artesanal: Características
- Trabalhadores muito qualificados
- Ferramentas simples e flexíveis
- Um item por vez, conforme desejo do cliente
- Ex: móveis por encomenda, trabalhos de arte decorativa, alguns modelos de supercarros, etc.
Produção Artesanal: Resultado
- Bens produzidos muito caros, o que levou à produção em massa.
Produção em Massa: Características
- Trabalhadores menos qualificados
- Máquinas complexas e dispendiosas
- Alto volume de produção de cada item
- Necessita suprimentos, trabalhadores e espaço extra para garantir a continuidade da produção.
Produção em Massa: Resultado
- Mudança de produto muito cara, mantém os modelos padrão pelo máximo tempo possível.
- Bens produzidos muito baratos, porém com pouca variedade.
- Métodos de trabalho tediosos.
Produção Enxuta: Características
- Mescla os dois métodos anteriores.
- Evita o alto custo do processo artesanal.
- Evita a rigidez do processo de produção em massa.
- Emprega trabalhadores multiqualificados nos diversos níveis da Organização.
- Máquinas mais flexíveis e automatizadas.
Produção Enxuta: Resultado
- Produção de grandes volumes de produtos com ampla variedade.
Vantagens da Produção Enxuta
A Produção Enxuta foi uma expressão definida pelo pesquisador John Krafcik. É “Enxuta” por empregar menores quantidades de tudo em comparação com os métodos de produção em massa.
- Menos esforço dos operários da fábrica.
- Menos espaço para a fabricação.
- Menos investimento em ferramentas.
- Menos tempo para planejamento e desenvolvimento de novos produtos.
- Menos estoques no local de fabricação.
- Menos defeitos de fabricação.
- Maior e sempre crescente variedade de produtos.
Diferenças de Mentalidade (Enxuta x Massa)
Massa:
- Objetivo – meta limitada, que seja boa o suficiente.
- Quantidade tolerável de defeitos.
- Nível máximo de estoques aceitável.
- Limitada variedade de produtos padronizados.
Diferenças de Mentalidade (Enxuta x Massa)
Enxuta:
- Objetivos: Custos declinantes.
- Ausência de itens defeituosos.
- Nenhum estoque.
- Grande variedade de novos produtos.
Para o trabalhador, a principal vantagem é que, para cada produto, os processos diferem, tornando o trabalho mais desafiador e menos monótono que o processo relacionado com a produção em massa.
Isso torna o trabalho mais estimulante.
Ascensão e Queda da Produção em Massa
- 1894: Sua Excelência Evelyn Henry Ellis, abastado membro do Parlamento Inglês, saiu para comprar um carro.
- Não na concessionária, nem em qualquer loja, pois na Inglaterra não existia.
- Foi à fábrica de ferramentas “Panhard e Levassor” ou “P&L” na França.
- 1887: A P&L obteve licença para fabricar o motor de Gottilieb Daimler.
- Início da década de 1890: P&L fabricava algumas centenas de automóveis por ano.
- Processo artesanal com artesãos habilidosos que montavam à mão um pequeno número de carros.
- Peças vinham de oficinas artesanais por toda Paris.
- Os contatos com clientes eram feitos pelos próprios donos.
- Não existia um carro igual ao outro (processos de metalurgia da época não permitiam isso).
Solicitações de Ellis
- Aceitou o motor e os chassis.
- A carroceria pediu de uma fábrica de carruagens.
- Controles e volante no centro do carro.
Teste do Carro de Ellis
- Contratou um mecânico e um motorista e ficou um bom tempo em Paris para testar o carro (que era um protótipo).
Em Londres – Fora da Lei
- Junho de 1895: Ellis foi o 1º a dirigir um automóvel na Inglaterra.
- 90 km em 5h e 32 min.
- Média de 16 km/h (ilegal – máxima = 4 m/h = 6,44 km/h).
Características que Derrubaram a Produção Artesanal
- Força de trabalho altamente qualificada e cara.
- Alguns trabalhadores se tornavam empreendedores autônomos e conduziam suas próprias firmas.
- Organizações descentralizadas.
- Peças provinham de pequenas oficinas.
- Características que derrubaram a Produção Artesanal:
- Utilização de máquinas gerais para todas as funções.
- Volume de produção muito baixo.
- Menos de 1000 carros por ano, dos quais 50 ou menos conforme o mesmo projeto.
- Produtos sem qualidade e sem confiabilidade (todos protótipos sem testes).
- Incapacidade de pequenas oficinas fornecedoras desenvolverem tecnologia.
O Início da Produção em Massa
1903: Ford inicia a produção do Modelo A.
1908: Ford inicia a produção do Modelo T.
Modelo T
- Carro projetado para a manufatura.
- User-friendly (amigo do usuário).
- Não precisava motorista (qualquer um podia dirigir).
- Nem mecânico (qualquer um podia consertar).
Uma Grande Sacada Financeira
- Ford percebeu que a padronização de medidas se converteria em benefícios financeiros.
Uma Grande Sacada Metalúrgica
- Ford se beneficiou do avanço das máquinas e ferramentas que possibilitaram o trabalho com metais pré-endurecidos.
- Arqueamento resultante do aquecimento das peças impedia a padronização anteriormente.
- Ford fundiu o bloco do motor em uma peça única, eliminando ajustadores qualificados.
Uma Grande Sacada para o Tempo de Montagem
- Com a produção especializada (uma tarefa por trabalhador), o tempo médio de um montador caiu de 514 minutos para 2,3, graças à não necessidade de ajustes das peças.
- Com a produção em linha (o carro ia ao trabalhador), o tempo médio de um montador caiu de 2,3 minutos para 1,19 minutos.
1920: Ford fabricou 2 milhões de modelos T idênticos, derrubando seu custo para 1/3 do inicial em 1908.
A Ford se tornou a maior fabricante de automóveis do mundo e encaminhou para o fim a maioria das indústrias artesanais, com exceção de alguns produtores artesanais europeus de carros de luxo.
A produção em massa de Henry Ford orientou a indústria automobilística por 50 anos, sendo adotada em quase todas as atividades industriais na Europa e na América do Norte.
Estudaremos a seguir algumas das suas características mais importantes.
Características da Produção em Massa para Estudo
Força de trabalho – Organização – Ferramentas – Produtos
1) Força de Trabalho
- Os operários das linhas passaram a ser tão intercambiáveis quanto os carros.
- Troca da mão de obra especializada em montagem e ajuste de peças por mão de obra menos qualificada para a linha de montagem.
- Surgimento dos engenheiros de produção ou engenheiros industriais com a incumbência de projetar e garantir o funcionamento das linhas.
- Somente os supervisores e fiscalizadores mantinham as qualidades de montagem dos operários originais.
- Equipes mais qualificadas reparavam partes com defeitos ao final da linha.
- Surgem os trabalhadores da “inteligência” que contrastavam com os pouco qualificados trabalhadores da linha, que não passavam de supervisores ao longo da carreira.
- Os engenheiros tinham agora uma carreira executiva e substituíram os trabalhadores especializados que acabavam abrindo suas firmas.
2) Organização
- Ford era inicialmente um montador.
- Motor = Irmãos Dodge.
- Itens diversos de outras firmas.
- 1915 – Ford iniciou a incorporação de todas as funções em sua empresa.
- 1931 – Ford conclui a incorporação.
Motivos para Ford Incorporar Todas as Funções
- Ford aperfeiçoou as técnicas da produção em massa antes de seus fornecedores.
- Ford não confiava nas pessoas.
- Ford necessitava de peças com tolerâncias menores e com cronogramas de entrega mais rígidos.
- Surge a moderna corporação verticalmente integrada.
Características da Organização Verticalmente Integrada
- Serviços e matérias-primas necessárias eram obtidas de divisões operacionais internas.
- Estas divisões eram coordenadas por executivos seniores dentro da própria corporação.
Consequências da Organização Verticalmente Integrada
- Excesso de burocracia.
- Problemas de transporte para a escala de fabricação em um só local.
- Barreiras alfandegárias impostas por políticas governamentais.
Consequências da Organização Verticalmente Integrada
- Em 1926, a Ford montava automóveis em 36 cidades americanas e em mais 19 países, apesar de os projetos serem todos desenvolvidos, as peças desenhadas e fabricadas em Detroit.
Consequências da Organização Verticalmente Integrada
- Novo problema:
- O produto padrão não se adaptou em todos os lugares do mundo.
- EUA descobriram petróleo, e a gasolina era barata.
- Europa não tinha gasolina, tinha que importá-la, ou seja, gasolina cara.
Consequências da Organização Verticalmente Integrada
- Para minimizar as barreiras impostas na Europa, Ford vendeu fatia minoritária do negócio para os ingleses.
- No início dos anos 30, Ford estabeleceu 3 sistemas integrados na Inglaterra, Alemanha e França.
- Estas empresas “europeias” manufaturavam produtos de acordo com os gostos de cada país e eram administradas por gerentes nativos.
3) Ferramentas
- As ferramentas foram a chave para o sucesso das peças intercambiáveis.
- Tinham a capacidade de cortar o metal de alta dureza e de prensar o chapas de aço com precisão absoluta.
- A chave para a intercambiabilidade de peças a baixo custo foi a preparação das máquinas para realização de uma única tarefa e não mais receber ajustes como no processo de produção artesanal, onde as máquinas realizavam várias funções.
Vantagens
- Tempo menor por operação.
- Trabalhadores menos qualificados e mais baratos.
- Grande volume de produção.
Desvantagens
- Pouca ou nenhuma flexibilidade nos equipamentos e na linha de produção.
- Mudanças nas linhas e nos equipamentos caras e demoradas.
4) Produto
- Modelo T: Nove versões com o mesmo chassi:
- Conversível para duas pessoas.
- Passeio aberto para quatro pessoas.
- Sedan coberto para quatro pessoas.
- Caminhão com compartimento de carga atrás.
- 1923 foi o pico da produção do Modelo T, com 2,1 milhões de chassis construídos (número somente alcançado pelo Fusca).
Motivos do Sucesso
- Custo baixo e declinante.
- Facilidade de manutenção (manual do proprietário).
- Durabilidade do projeto e dos materiais.
- Pouca atenção dos consumidores em detalhes como pinturas e demais acabamentos.
- Devido à facilidade de manutenção dos modelos T pelos próprios proprietários, raramente a Ford ligava um motor antes de o carro estar já fora da linha de produção.
- Testes de qualidade e de funcionamento eram quase inexistentes.
- A linha de produção do modelo T teve seu fim em 1927, em parte devido aos carros da GM, que eram melhores e pouco mais caros que os Ford do mesmo segmento.
Onde Ford Falhou
- Tecnicamente, o processo desenvolvido por Ford era muito bom, porém, administrativamente, Ford propiciou espaço para evoluções.
Ford investiu com recursos próprios em:
- Plantação de borracha no Brasil.
- Fundição.
- Fábrica de vidros.
- Minas de ferro em Minnesota.
- Navios para transporte de minério.
- Ferrovias interligando suas instalações.
Ford queria produzir em massa, de alimentos (fabricando tratores e uma usina de extração de soja) até transporte aéreo, com baixo custo.
Financiar tudo com recursos próprios, pois odiava bancos.
Administrar centralizadamente com um homem tomando todas as decisões, ele.
Consequência Inevitável
Fracasso dos empreendimentos.
A Evolução da Produção em Massa
A GM pôs à frente de sua indústria o executivo Alfred Sloan, que revolucionou a administração da produção em massa.
A Revolução de Sloan
- Descentralizou a administração das diversas unidades, gerenciando seus números com frequência.
- Revolucionou o marketing da indústria automotiva:
- Modificando a aparência externa dos carros anualmente.
- Lançando uma série de acessórios, como ar-condicionado, transmissão automática e rádios.
O Apogeu da Produção em Massa
A produção em massa em sua forma final amadurecida se deve a:
- Práticas de fabricação de Ford.
- Técnicas administrativas de Sloan.
- O papel do movimento sindical no controle das definições e conteúdo das tarefas.
O Apogeu da Produção em Massa
Resultados
- Companhias automobilísticas norte-americanas dominaram este mercado mundial.
- O mercado norte-americano representou maior percentagem de vendas do mundo.
- Companhias dos demais ramos de atuação adotaram métodos semelhantes.
- Sobreviveram algumas firmas artesanais em nichos de pequenos volumes.
O Apogeu da Produção em Massa: 1955
- Vendas de automóveis nos EUA superaram 7 milhões de carros.
- Sloan se aposenta após presidir a GM por 35 anos.
- Ford + GM + Chrysler = 95% das vendas.
- Seis modelos representavam 80% das vendas.
- Fim da produção artesanal nos EUA.
- Início da queda do domínio norte-americano no setor, pois:
- Demais companhias automobilísticas começaram a aplicar os mesmos métodos e a alcançar os mesmos resultados.
- Consequentemente, a importação de veículos teve início na América e não mais deixou de crescer.
A Difusão da Produção em Massa
Empresários que copiaram o modelo proposto por Ford após visitas a Highland Park:
André Citroen, Louis Renault, Giovanni Agnelli (Fiat), Herbert Austin e William Morris (Morris e MG inglesas).
Desde os anos 30, Ford discutia abertamente seus métodos com os empresários europeus, além de apresentar-lhes suas instalações. Somente nos anos 50 estes começaram a produzir conforme modelo de Ford.
Motivos pelos quais as marcas europeias demoraram 2 décadas para iniciar a produção em massa:
- Caos econômico pós-grande depressão de 30.
- Nacionalismo dos anos 20 e 30.
- Apego às tradições de produção artesanal.
No final dos anos 50, já produziam na Europa em escala comparável a Detroit:
Wolfsburg (VW), Flins (Renault), Mirafiori (Fiat).
Inicialmente, os europeus especializaram-se em dois tipos de carros que os norte-americanos não ofereciam: compactos e econômicos.
Exemplo: Fusca.
- Nos anos 70, o carro de luxo foi redesenhado para menor:
- Mercedes monobloco: 1,6 Ton, injeção de gasolina e suspensões independentes, versus:
- Cadillac: 2,3 Ton, carburador, eixo reto e carroceria sobre chassis.
Do início dos anos 50 até meados dos anos 70, os europeus obtiveram sucesso nas exportações.
Apostas Europeias
- Preços competitivos (salários menores).
- Tração dianteira.
- Carrocerias monobloco (rígidos, leves e silenciosos).
- Ótima relação peso/potência.
Apostas Europeias
- Freios a disco.
- Transmissão de 5 marchas.
- Injeção de combustível.
Apostas Americanas
- Sistemas de ar-condicionado.