Prosa Moderna e Narrativa Latino-Americana do Século XX

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1. Prosa Moderna

  • No início do século XX, a prosa sentiu a marca do modernismo e, posteriormente, uma progressiva rejeição do cosmopolitismo, buscando uma maior simplicidade de estilo.
  • A prosa modernista encontrou seu melhor veículo na história. Darío é autor de histórias valiosas com temas de fantasia modernista. A atração pelo estilo decadente e precioso é vista em outros autores, como Leopoldo Lugones e Horacio Quiroga.
  • A saída do modernismo ocorreu gradualmente, resultando na novela "da terra". A prosa abandona a fantasia para dar lugar a uma narrativa de natureza social, focando em eventos históricos ou na marginalização dos povos indígenas.

2. Novo da Terra

  • A busca pela identidade nacional levou à exploração do folclore e dos costumes americanos.
  • O tema comum é a luta do homem para dominar a natureza americana. Essa luta atinge proporções épicas e termina com a derrota do homem.
  • Nos três grandes romances da terra, encontramos diferentes conclusões:
    • O turbilhão, de José Eustasio Rivera, termina com a impotência do homem perante o meio.
    • Doña Bárbara, de Rómulo Gallegos, sugere que a ação humana pode, em certas circunstâncias, superar a natureza.
    • Em Don Segundo Sombra, de Ricardo Güiraldes, o ambiente natural é superado pelo progresso humano.

3. Romance Social

  • Diversos países tiveram suas narrativas influenciadas pelas circunstâncias históricas. O tema mais importante foi a Revolução Mexicana.
  • O romance da Revolução Mexicana aborda os eventos no México a partir de 1910. Esse fenômeno histórico passou por várias fases e envolveu líderes populares (Pancho Villa, Emiliano Zapata).
  • Os primeiros romances eram depoimentos. Posteriormente, buscaram interpretar esse momento crucial para a constituição nacional e social do México moderno.
  • Nos romances de depoimento, destaca-se o estilo realista e sóbrio, às vezes áspero e seco, como em Os de Baixo, de Mariano Azuela, que oferece uma visão desiludida dos ideais da Revolução.
  • Também é importante mencionar o romance indigenista, que denuncia a opressão e exploração dos indígenas, como em Raça de Bronze, de Alcides Arguedas, Huasipungo, de Jorge Icaza, e O Mundo É Largo e Estreito, de Ciro Alegría.

4. Renovação Narrativa

  • A partir da década de 1940, a narrativa latino-americana se renova com a assimilação de técnicas de novelistas americanos e europeus, a estética vanguardista e a mudança de perspectiva artística do surrealismo.
  • Essa mudança coincide com a transformação social e o crescimento das cidades nos países americanos.
  • Entre 1940 e 1960, coexistem diferentes tendências, como as histórias metafísicas de Borges e a narrativa existencialista de autores como Onetti. Além disso, algumas tendências anteriores continuam, como em Juan Rulfo, com Pedro Páramo, e Alejo Carpentier, com o tema indigenista.

4.1 Narrativa Metafísica

  • Inclui o trabalho de Jorge Luis Borges e José Lezama Lima.
  • Borges (1899-1986) ficou famoso por seus contos, como História Universal da Infâmia e O Livro de Areia. Suas histórias misturam realismo e fantasia, com referências clássicas, símbolos (tigre, espelhos, labirinto, biblioteca), paradoxos e jogos intelectuais. O livro, como metáfora do mundo, é central em seus textos.
  • José Lezama Lima foi poeta, ensaísta e romancista. Em Paradiso, com linguagem barroca, expõe a vida complexa do protagonista. A investigação de memórias e sentimentos desenvolve sua visão de mundo.

4.2 Narrativa Existencial

  • Dois importantes escritores existencialistas são Onetti e Sabato.
  • Juan Carlos Onetti (1909-1994) escreveu contos e romances com uma concepção pessimista da vida. Suas histórias retratam pessoas solitárias em um mundo triste. Seus livros incluem: A Vida Breve, Juntacadáveres.
  • Ernesto Sabato, com compromisso político e científico, demonstra uma visão sombria da realidade e preocupação com as injustiças sociais. Entre suas obras, destacam-se Sobre Heróis e Tumbas e O Túnel.

4.3 Realismo Mágico

  • Na segunda metade do século, a narrativa rompe com o realismo tradicional, incorporando elementos míticos, lendários e fantásticos.
  • O real maravilhoso busca a identidade americana. Os mitos se tornam parte da realidade.
  • Miguel Angel Asturias combina o real maravilhoso, a crítica social e a vanguarda em O Senhor Presidente.
  • Alejo Carpentier destaca-se pelo domínio da língua e pela renovação narrativa. Ecue-Yamba-Ó! explora técnicas de vanguarda e o ritual primitivo. Em O Reino Deste Mundo, a vida dos escravos no Haiti leva à novelização de mitos e magia.
  • Julio Cortázar inclui elementos fantásticos em seus contos (Bestiário, Armas Secretas) e inova na técnica narrativa em Rayuela.
  • Juan Rulfo representa o ápice do romance da Revolução Mexicana, com estilo depurado e capacidade de explorar as causas humanas. Suas obras incluem El llano en llamas e Pedro Páramo.

5. Narrativa desde 1960

  • Nos anos 1960, há um reconhecimento internacional da narrativa latino-americana.
  • Os romancistas assimilam as inovações do romance universal do século XX e se inspiram na literatura americana e espanhola.
  • Gabriel García Márquez, Nobel de Literatura em 1982, mistura mitos reais e imaginários em seus contos e romances.
  • Carlos Fuentes, em A Região Mais Transparente, experimenta novas técnicas narrativas e demonstra interesse pela realidade mexicana.
  • Mario Vargas Llosa, com A Cidade e os Cachorros, inicia o "boom" da narrativa dos anos 1960, satirizando o mundo militar.
  • Outros autores importantes: Mario Benedetti, Isabel Allende, José Donoso, Guillermo Cabrera Infante.
  • O "boom" da narrativa latino-americana, na década de 1960, teve grande sucesso editorial com obras como A Cidade e os Cachorros, Cem Anos de Solidão e Rayuela.
  • A realidade latino-americana é abordada de diversas formas, com elementos reais e fantásticos misturados.

Técnica narrativa: Ruptura do tempo e do espaço, variedade de perspectivas, diversidade de estilos, mistura de mitos, combinação de registros linguísticos e participação ativa do leitor.

Isabel Allende

  • A Casa dos Espíritos (1982): Saga de uma família de proprietários de terras.
  • De Amor e de Sombras (1984): Apelo à liberdade e dignidade.
  • Eva Luna (1987): Vida de Eva Luna, com personagens diversos.
  • Contos de Eva Luna (1989): 23 histórias que exploram as emoções humanas.
  • O Plano Infinito (1991): Jornada de um "gringo" na Califórnia.
  • Paula (1994): Sobre a doença da filha da autora.
  • Isabel Allende é uma escritora controversa, admirada por seus leitores, mas criticada por alguns círculos literários. Seu trabalho, especialmente A Casa dos Espíritos, apresenta elementos de realismo mágico, semelhantes aos de Gabriel García Márquez em Cem Anos de Solidão.

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