Psicologia do Esporte: Conceitos Essenciais para Atletas e Treinadores

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A Psicologia do Esporte: História e Origens

A Psicologia do Esporte é uma ciência bastante recente, surgida no início do século passado. Nos anos 1920, surgiram os primeiros laboratórios e institutos de Psicologia do Esporte na antiga União Soviética, nos Estados Unidos, no Japão e na Alemanha.

Funções e Tarefas do Psicólogo do Esporte

  1. Ensino: Os professores de Educação Física e técnicos esportivos precisam de conhecimentos e capacidades psicológicas específicas para melhor compreender o comportamento humano no âmbito do esporte.
  2. Pesquisa: A pesquisa psicológica no esporte é voltada para as seguintes tarefas: (1) desenvolver uma teoria de ação esportiva como base para a explicação e o prognóstico de fenômenos psicológicos no esporte.

Intervenção

A intervenção psicológica na prática esportiva pode ser realizada por meio de determinados programas psicológicos de treinamento, assim como por medidas psicológicas de aconselhamento e acompanhamento.

O objetivo do treinamento psicológico é a modificação dos estados psíquicos (percepção, pensamento, motivação), ou seja, as bases psíquicas da regulação do movimento.

Treinamento de Capacidades Psicológicas

Desenvolver, estabilizar e aplicar as habilidades psíquicas em diferentes situações, de forma flexível.

Treinamento de Autocontrole

O atleta deve aprender a se controlar (sem ajuda externa) nas situações extremas e difíceis de treinamento e de competição, a fim de evitar reações psicológicas exageradas (por exemplo: ansiedade e raiva) e comportamento social inadequado (por exemplo: conduta agressiva).

Determinantes da Ação no Esporte

A situação de ação no esporte é definida como uma inter-relação de fatores pessoais (motivos, atitudes, interesses, capacidades), ambientais (condições externas da aprendizagem e do treinamento) e componentes da tarefa (grau de dificuldade e complexidade). A ação esportiva é determinada pelas condições subjetivas e objetivas da ação:

  • Condições Objetivas: Capacidades físicas do rendimento, aspectos antropométricos e biomecânicos, condições climáticas, temperatura, etc.
  • Condições Subjetivas: Interesses e atitudes, motivações, expectativas, experiências próprias, opiniões e preconceitos, sentimentos e emoções.

A Personalidade do Esportista

A personalidade representa um conjunto de características individuais, as quais são relativamente permanentes e estáveis. É o conjunto de características que fazem de cada pessoa uma pessoa única.

Percepção no Esporte

A percepção é o meio pelo qual a informação adquirida do meio ambiente através dos órgãos sensoriais é transformada em experiência de objetos, eventos, sons, etc. Esse processo de transformação sensorial supõe a interpretação dos dados. A percepção permite dar significado às coisas e objetos. “Percebemos a partir do que sabemos”.

Percepção Externa

Tipo e forma como as informações sobre o meio ambiente são percebidas. A percepção externa tem um papel importantíssimo nos jogos esportivos coletivos. Consiste em perceber o espaço, a forma, o tamanho, a distância e a direção da nossa ação. Envolve o tempo e seu significado para a ordenação do movimento, o timing da ação. Por exemplo, o tempo do deslocamento dos atletas na realização de uma tabela no futebol, o salto para cabeceio, etc.

Percepção Interna

Autopercepção, que abrange a informação sobre a própria pessoa. A autopercepção é caracterizada por abranger a recepção de informações do próprio corpo. Ambos os processos perceptivos interagem de forma a facilitar a realização do movimento durante a execução das técnicas específicas para resolver as situações que o atleta enfrenta.

Características da Percepção nos Esportes

Percepções são processos que estão presentes em todas as fases da ação esportiva. Elas contribuem para determinar as mudanças de velocidade, de espaço e movimentos do corpo inteiro ou de partes dele, da posição do adversário, da forma de controle do equipamento (raquete, bastão, etc.), entre outros.

  1. A formação de uma base para orientação: Formação de uma imagem mental sobre o objetivo e o decorrer do próprio movimento. É a imaginação do movimento.
  2. O controle visual do próprio movimento: A direção do olhar determina a direção e o objetivo do próprio movimento e serve como forma de controle da condução do movimento.
  3. Antecipação do movimento externo (colega, adversário, bola, etc.): A qualidade de antecipação depende da experiência do atleta e da sua forma de perceber. Quando determinados fatos aparecem com certa frequência, o atleta desenvolve uma estratégia de percepção que lhe permite reduzir os passos no processo cognitivo de elaboração de informação.
  4. A avaliação do movimento: Existem, em esportes, casos em que a percepção do movimento não é feita pelo executante e sim pelo avaliador (GRD, saltos ornamentais, etc.). Nesse caso, a percepção visual tem a função de controle e supervisão do movimento. Também exerce uma importante função no processo de aprendizagem, particularmente na correção de erros, no aperfeiçoamento do desenvolvimento do movimento. A forma com que se realiza a retroinformação (feedback) é de fundamental importância para o sucesso da aprendizagem e contribui para a sua otimização.

Problemas da Percepção nos Esportes

  1. A expectativa: Em geral, se vê o que se esperava ver. Isso é um fator que influencia a percepção, por isso, às vezes a realidade subjetiva não coincide com a realidade objetiva. Em alguns atletas, a expectativa é mais forte do que a cognição.
  2. A quantidade de informações: A quantidade de informações provenientes do meio ambiente supera a capacidade de assimilação do organismo. Portanto, as informações devem ser reduzidas e selecionadas, o que exige um adequado processo de ensino-aprendizagem-treinamento dos sinais relevantes em cada situação de jogo.

Autoconfiança: Definição e Importância

Autoconfiança é a crença de que você pode realizar com sucesso um comportamento desejado. O comportamento desejado pode ser o de chutar uma bola ao gol, permanecer em um regime de exercícios, recuperar-se de uma lesão no joelho ou sacar um ace. Mas o fator comum é que você acredita que vai conseguir.

Benefícios da Autoconfiança

A autoconfiança é caracterizada por uma alta expectativa de sucesso. Ela pode ajudar os indivíduos a:

  • Despertar emoções positivas: Quando você se sente confiante, você tem mais probabilidade de permanecer calmo e relaxado sob pressão.
  • Facilitar a concentração: Quando você se sente confiante, sua mente fica livre para focalizar-se na tarefa a ser realizada. Quando lhe falta a confiança, você tende a preocupar-se sobre como você está se saindo e sobre como os outros acham que você está se saindo.
  • Estabelecer metas: Pessoas confiantes tendem a estabelecer metas desafiadoras e persegui-las ativamente. Pessoas inseguras tendem a estabelecer metas fáceis e nunca se esforçam ao máximo.
  • Aumentar o esforço: Quando a capacidade é igual, os vencedores de competições são geralmente os atletas que acreditam em si mesmos e em suas capacidades. Isso é especialmente verdadeiro quando a persistência é fundamental, como ao correr uma maratona, jogar uma partida de tênis de três horas ou enfrentar sessões dolorosas de reabilitação.
  • Focalizar estratégias de jogo: As pessoas no esporte comumente se referem a “jogar para ganhar” ou, inversamente, “jogar para não perder”.

Autoconfiança Ideal

Embora a confiança seja um determinante crítico de desempenho, ela não superará a incompetência. A confiança pode levar um atleta até certo ponto. A relação entre confiança e desempenho pode ser representada pela forma de U invertido, com o ponto mais alto inclinado para a direita.

Falta de Confiança

Muitas pessoas têm as habilidades físicas para serem bem-sucedidas, mas falta-lhes confiança em sua capacidade de realizar habilidades sob pressão – quando o jogo ou partida estão nivelados. Por exemplo, uma jogadora de vôlei consistentemente dá cortadas fortes e precisas durante o treino. Entretanto, na partida, sua primeira cortada é bloqueada.

Excesso de Confiança

Pessoas superconfiantes são na verdade falsamente confiantes. Ou seja, a confiança delas é maior do que suas capacidades. Seu desempenho diminui porque elas acreditam que não precisam se preparar ou fazer esforço para realizar seu trabalho.

Como as Expectativas Influenciam o Desempenho

As pesquisas demonstram que dar a uma pessoa uma pílula de açúcar para dor extrema (dizendo-lhe que é morfina) pode produzir alívio como um verdadeiro analgésico.

Teoria da Autoeficácia

A autoeficácia, a percepção da própria capacidade de realizar uma tarefa com sucesso, é na verdade uma forma de autoconfiança específica da situação. O psicólogo Albert Bandura reuniu os conceitos de confiança e de expectativas para formular um modelo conceitual claro e útil de autoeficácia.

  1. Realizações de desempenho: Se baseiam em experiências pessoais. Se as experiências forem em geral bem-sucedidas, elas elevarão o nível de autoeficácia. Entretanto, fracassos repetidos resultarão em expectativas de eficácia mais baixas.
  2. Experiências indiretas (modelagem): Esta pode ser uma fonte de informação de eficácia particularmente importante para atletas que não têm experiência com a tarefa a ser realizada.
  3. Persuasão verbal: Técnicos, professores e colegas frequentemente usam técnicas persuasivas para influenciar comportamentos. Um técnico poderia dizer a um atleta: “Seja perseverante e não fique desanimado, mesmo que você tenha que perder alguns dias”. Esse tipo de encorajamento é importante para os participantes e pode ser útil para melhorar a autoeficácia.
  4. Experiências imaginárias (mentalização): Indivíduos podem gerar crenças sobre eficácia ou ineficácia pessoal imaginando-se comportando efetiva ou inefetivamente em situações futuras.
  5. Estados fisiológicos: Os estados fisiológicos influenciam a autoeficácia quando os indivíduos associam sinais fisiológicos aversivos com mau desempenho, percepção de incompetência e percepção de fracasso. Por exemplo, alguns atletas podem interpretar aumentos na ativação ou ansiedade fisiológica (como a taquicardia ou a respiração superficial) como medo de não poder realizar a habilidade com sucesso (autoeficácia diminuída), enquanto outros poderiam percebê-los como um sinal de que estão prontos para a competição (autoeficácia aumentada).
  6. Estados emocionais: Um atleta lesionado que está se sentindo deprimido e ansioso em relação à sua reabilitação provavelmente teria sentimentos de autoeficácia diminuídos. De modo inverso, um atleta que se sente energizado e positivo provavelmente teria sentimentos de autoeficácia aumentados.

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