Psicologia Social: Vinculação, Cognição e Influência

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1. Conceitos de Vinculação e Figura de Vinculação

A vinculação é uma necessidade de criar e manter relações de proximidade e afetividade com os outros, de o bebé se apegar a outros seres humanos para assegurar proteção e segurança. Esta teoria foi criada em 1958 (no contexto da Segunda Guerra Mundial) por John Bowlby. Segundo ele, é uma necessidade primária, básica para a sobrevivência do indivíduo.

Bowlby gerou alguma controvérsia nas suas conceções, uma vez que centrou a mãe como a mais importante figura de vinculação. No entanto, a figura da mãe pode ser substituída por agentes de maternagem, como as mães de substituição, os pais ou outros familiares. Estes têm capacidade de estabelecer também uma vinculação forte com a criança, desde que proporcionem um ambiente consistente, sensível, acolhedor e de apoio. Isto é possível porque não existe uma predisposição biológica específica para a vinculação com a mãe biológica.

2. Contributos de Bowlby e Ainsworth para a Vinculação

Desde as constatações pioneiras de Bowlby sobre o desenvolvimento da vinculação, tem-se consolidado a verificação de que o vínculo mãe-bebé emerge da interação ajustada ao longo dos primeiros meses. Segundo Bowlby, um bebé que se sente protegido terá muito mais hipóteses de se tornar um adulto seguro de si e capaz de amar e de se sentir amado. Além disso, a quantidade e a qualidade do contato mãe-bebé nos primeiros dias depois do parto também parecem ser de especial importância.

Bowlby fez a avaliação do processo de formação dessas primeiras relações afetivas estabelecidas com o bebé. A vinculação inicia-se a partir das respostas dadas pelos adultos, que permitem estabelecer as interações sociais. Para manter a proximidade e cuidados dos outros seres humanos e especialmente da mãe (esta aproximação não é inata), o bebé desenvolve padrões específicos de proximidade, tais como chupar, agarrar, seguir com o olhar, chorar e sorrir.

O ser humano é aquele que está menos dotado para viver sozinho e, assim, essa imaturidade é o ponto de partida para a necessidade de envolvimento social com o meio externo. A função da primeira vinculação é a de sobrevivência, não física, mas como vivência e aquisição daquilo que é específico da espécie humana. Isto só acontece através da relação interpessoal, onde se criam e constroem relações afetivas entre os seres humanos, e através da qual se estabelece a capacidade de relação interpessoal.

Segundo Bowlby, estes cinco comportamentos são instintivos e exercem-se de uma forma reativa e reflexa. Mas são comportamentos que contribuem para a vinculação e têm a função específica de estabelecer relações sociais. Estes comportamentos de vinculação vão-se perdendo com a habituação, ou seja, nos primeiros meses dirigem-se a qualquer pessoa com um caráter instintivo, para depois se dirigirem a pessoas significativas. Em princípio, a primeira relação humana afetiva recai sobre a figura materna, mas depende da relação mantida com o bebé, pois nem sempre é assim, pode ser outra pessoa que não a mãe biológica a criar a vinculação com o bebé.

A psicóloga Mary Ainsworth trabalhou com Bowlby no desenvolvimento da teoria da vinculação. Realizou uma experiência intitulada a “Situação Estranha”, no qual veio a comprovar a “base de segurança” entre progenitores e bebés. Segundo Ainsworth, a forma como o bebé reagia, quer à ausência da mãe, quer ao seu regresso, refletiria o seu equilíbrio emocional, que relacionava com os cuidados que recebera. A partir das suas observações, distinguiu três tipos de vinculação:

Tipos de Vinculação Segundo Ainsworth

  • Vinculação Segura: As crianças choram e protestam pela ausência da mãe, mas procuram o contato físico logo que ela entra na sala, ficando calmas.
  • Vinculação Evitante: As crianças parecem indiferentes à separação da mãe e ao seu regresso.
  • Vinculação Ambivalente/Resistente: Os bebés manifestam ansiedade mesmo antes da mãe sair e perturbação quando abandona a sala, hesitando entre a aproximação e o afastamento dela quando regressa.

Estas investigações mostraram a importância das primeiras vinculações: a sua qualidade influencia as relações que a criança vai estabelecer no futuro.

3. Experiências de Harlow e a Teoria da Vinculação

Harry Harlow foi um psicólogo que elaborou um conjunto de estudos sobre o comportamento dos macacos em situação de privação social. Realizou uma experiência com duas mães substitutas: uma de arame e outra de tecido felpudo, mantendo os macacos em isolamento total ou parcial nos primeiros meses de vida. Harlow tinha como objetivo analisar os efeitos da ausência da mãe e analisar as consequências das perturbações nas relações precoces.

Consequências do Isolamento em Macacos

  • Reações de medo e fuga ao serem colocados com outros seres;
  • Manifestavam patologias como: embalar-se, abraçar-se, morder-se, incapacidade de interagir com os outros;
  • Alguns morreram de anorexia.

Estas experiências permitiram demonstrar a necessidade básica de contato e provar que esta necessidade de afeto cria, entre o bebé e a figura maternante, um vínculo mais forte do que a satisfação das necessidades básicas de nutrição (procurava sempre o contato do conforto).

4. Spitz e o Hospitalismo: Consequências da Privação

René Spitz, psiquiatra infantil, desenvolveu um conjunto de pesquisas em crianças institucionalizadas, privadas da presença da mãe.

Tinha como objetivo estudar as consequências do isolamento e investigar os fatores que influenciavam o desenvolvimento das crianças internadas até aos primeiros 12 meses de vida.

Spitz, com estas pesquisas, concluiu que as relações precoces para o desenvolvimento infantil são muito importantes:

Conclusões de Spitz sobre Relações Precoces

  • A alimentação e os cuidados básicos não substituem eficazmente os cuidados maternos;
  • Identificou duas enfermidades que se produzem por privação afetiva precoce:
    • Depressão: resultante da privação afetiva parcial;
    • Hospitalismo: conjunto de perturbações vividas por crianças institucionalizadas e privadas de cuidados maternos (atraso no desenvolvimento corporal, dificuldades na habilidade manual e na adaptação ao meio ambiente, atraso na linguagem).

Destacou também a síndrome do hospitalismo, que resulta da rutura total e duradoura, durante os primeiros 18 meses de vida, da relação afetiva precoce. Caracteriza-se por:

Características da Síndrome do Hospitalismo

  • Atraso no desenvolvimento psíquico, relacional, físico e biológico;
  • Morte precoce;
  • Taxas de doenças elevadas em relação ao normal;
  • Atraso no crescimento físico;
  • Atraso no desenvolvimento intelectual;
  • Dificuldades de relacionamento interpessoal.

Com as suas investigações, Spitz confirmou a necessidade de laços e de contato afetivos entre o bebé e o adulto, especialmente entre mãe e filho; a sua ausência pode conduzir a perturbações emocionais, comportamentais e desenvolvimentais graves.

5. Resiliência e Ausência de Relações Precoces

A ausência de uma relação privilegiada com a mãe ou com um agente maternante compromete o desenvolvimento normal da criança, mas não o determina.

Embora a influência dos diferentes níveis de contexto seja poderosa, o resultado final em termos de desenvolvimento pessoal vai depender das características pessoais dos indivíduos. A trajetória desenvolvimental de cada pessoa é influenciada por fatores pessoais e contextuais de forma que não são, à partida, determináveis.

Assim, o conceito de resiliência descreve a capacidade encontrada por algumas pessoas de encontrarem forças e recursos no seu mundo pessoal que lhes permitem enveredar por trajetórias desenvolvimentais adaptativas e positivas, mesmo em condições adversas de privação e risco. Frequentemente relacionada com a resiliência está a presença de pessoas e interações significantes, de elementos da rede social, que apoiem de forma adequada, que demonstrem preocupação e afeto pela pessoa em desenvolvimento. As experiências presentes e também as passadas têm influência social sobre as possibilidades de manifestação de resiliência.

Concluindo, a ausência de relações precoces de qualidade vai influenciar o desenvolvimento do indivíduo, mas não o vai determinar, sendo que podem tornar-se indivíduos mais resilientes.

6. Processos Fundamentais da Cognição Social

Como temos uma capacidade limitada de processamento da informação relativa ao mundo social, recorremos a esquemas que representam o nosso conhecimento sobre nós, sobre os outros e sobre os nossos papéis no mundo social. É a partir desses esquemas, dessa forma específica de conhecimento, que processamos a informação sobre o mundo social e formamos opiniões sobre nós e sobre os outros. Existem alguns processos de cognição social, tais como:

Principais Processos de Cognição Social

  • Impressões;
  • Expectativas;
  • Atitudes;
  • Representações sociais.

7. Cognição Social: Conhecimento e Relação com o Mundo

A cognição social é o conjunto de processos que estão subjacentes ao modo como encaramos os outros, a nós próprios e à forma como interagimos. A cognição social refere-se, assim, ao papel desempenhado por fatores cognitivos no nosso comportamento social, procurando conhecer o modo como os nossos pensamentos são afetados pelo contexto social imediato e como afetam o nosso comportamento social. A cognição social é uma forma de conhecimento e de relação com o mundo dos outros, com o mundo social.

8. O Processo de Formação das Impressões

Na base da formação das impressões está a interpretação, isto é, nós percecionamos o outro a partir de uma grelha de avaliação que remete para os nossos conhecimentos, valores e experiências pessoais. Alguns indícios explicam o modo como formamos uma impressão de uma pessoa, num primeiro encontro:

Indícios na Formação de Impressões

  • Indícios Físicos: Remetem para características como o facto de a pessoa ser alta, baixa, gorda, magra… Algumas destas características podem remeter para determinado tipo de personalidade ou categoria social. Se a pessoa for muito magra, posso associar a uma personalidade muito irritável; se for gorda, posso associá-la à boa disposição, à afabilidade, etc. Nos indícios físicos podem incluir-se as expressões faciais e os gestos.
  • Indícios Verbais: O modo como a pessoa fala surge como um indicador, por exemplo, de instrução. Se a pessoa utiliza um vocabulário preciso e uma adjetivação variada, posso considerá-la dotada de um pensamento claro, culta e instruída. Se na sua expressão reconhecer um sotaque de uma determinada região, poderei avaliá-la a partir da caracterização que faço dos habitantes dessa zona.
  • Indícios Não Verbais: Remetem para elementos, sinais, que interpretamos como indicadores: o modo como a pessoa se veste, se usa fato e gravata ou calças de ganga, se usa sapatilhas ou sapato de salto alto, são elementos que nos levam a inferir determinadas características. A forma como a pessoa gesticula enquanto fala, o modo como se senta, são também indicadores que nos levam a inferir determinadas características sobre o outro.
  • Indícios Comportamentais: É um conjunto de comportamentos que se observam na pessoa e que nos permite classificá-la. O modo como os comportamentos são interpretados varia de pessoa para pessoa e remete para as experiências passadas, para as necessidades daquele que as interpreta. Daí que um mesmo comportamento possa ter significados diferentes para diferentes pessoas.

A partir destes indícios, formamos uma impressão global de uma pessoa, a quem atribuímos uma categoria socioeconómica e cultural, um determinado estatuto social.

9. O Efeito das Primeiras Impressões

As primeiras impressões são extremamente determinantes para o desenrolar de uma relação pessoal, do mesmo modo que permitem a emissão de juízos de valor muitas vezes precipitados. Por outro lado, as primeiras impressões são essencialmente influenciadas pela primeira informação que obtemos da pessoa.

Embora possa parecer estranho, as primeiras impressões têm um caráter bastante persuasivo e tendem a manter-se inabaláveis durante muito tempo. Assim, uma das características das primeiras impressões é a sua persistência. Quando analisamos informação, indícios e perceções e criamos uma impressão da pessoa, é muito complicado alterarmos essa conceção porque tentamos sempre resistir à mudança de opinião e à integração de nova informação.

Deste modo, se ficarmos com primeiras impressões erradas, podemos contar com grande dificuldade de aceitação do outro e pouco provavelmente atingiremos uma relação saudável com ele.

10. Expectativas como Autorrealização de Profecias

Podemos definir expectativas como modos de categorizar as pessoas através dos indícios e das informações, prevendo o seu comportamento e as suas atitudes. As expectativas são mútuas, isto é, o outro com quem interagimos desenvolve também expectativas relativamente a nós.

O Efeito de Pigmalião é talvez a teoria mais acertada acerca da autorrealização de profecias. Este fenómeno caracteriza-se pela realização das expectativas que se têm acerca de um determinado assunto ou pessoa. Assim, as consequências advêm do processo de profecia, portanto as expectativas acabam por influenciar em grande escala o comportamento das partes envolvidas.

Robert Rosenthal foi um psicólogo conhecido pelo estudo das expectativas dos professores no comportamento deles e dos alunos.

Quando conhecem o aluno, os professores emitem juízos de valor e categorizam os alunos consoante as primeiras impressões que têm deles. A partir daí, criam expectativas adequadas à categoria do aluno que se tendem a realizar. A este fenómeno chamamos “Efeito de Rosenthal”. Este tem três componentes explicativas:

Componentes do Efeito de Rosenthal

  • Se o professor considera que um aluno tem potencial e que apresentará um bom rendimento, ele tê-lo-á;
  • Se o professor não esperar grande desenvolvimento do aluno, este pouco se esforçará e acabará por ter um rendimento medíocre;
  • Quando os alunos contrariam as expectativas do professor, são negativamente avaliados por ele.

É importante notar que estas componentes não são determinantes. Apenas podemos afirmar que há, efetivamente, uma tendência para professores e alunos reagirem deste modo, e principalmente para alunos com boas expectativas produzirem bons resultados.

Posteriormente, foram também feitos trabalhos de pesquisa acerca do papel das expectativas na relação investigador-experiência. Mais uma vez, constatou-se que expectativas positivas em relação ao resultado, favoreciam-no, uma vez que os investigadores se tornavam mais cautelosos, carinhosos e confiantes.

11. Definição de Atitude

Uma atitude é uma tendência para responder a um objeto social – situação, pessoa, grupo, acontecimento – de modo favorável ou desfavorável. A atitude não é, portanto, um comportamento, mas uma predisposição, uma tendência relativamente estável para uma pessoa se comportar de determinada maneira. É uma tomada de posição intencional de um indivíduo face a um objeto social.

12. Componentes das Atitudes

Construídas ao longo da vida, mas com especial incidência na infância e na adolescência, as atitudes envolvem componentes interligadas. Nas atitudes, podem distinguir-se três componentes:

As Três Componentes das Atitudes

  • Componente Cognitiva: Constituída pelo conjunto de ideias, de informações, de crenças que se têm sobre um dado objeto social (pessoa, grupo, objeto, situação). É o que consideramos como verdadeiro acerca do objeto.
  • Componente Afetiva: Conjunto de valores e emoções, positivas ou negativas, relativamente ao objeto social. Está ligada ao sistema de valores, sendo a sua direção emocional.
  • Componente Comportamental: Conjunto de reações, de respostas, face ao objeto social. Esta disposição para agir de determinada maneira depende das crenças e dos valores que se têm relativamente ao objeto social.

13. O Conceito de Dissonância Cognitiva

A dissonância cognitiva é um sentimento desagradável que pode ocorrer quando uma pessoa sustenta duas atitudes que se opõem, quando estão presentes duas cognições que não se adequam ou duas componentes de atitude que se contradizem. Por exemplo, a pessoa que defende o cumprimento das obrigações fiscais, mas que se esquiva ao pagamento dos impostos, tende a passar situações angustiantes e inconsistentes.

É possível alterar ou, pelo menos, diminuir estas sensações:

Como Reduzir a Dissonância Cognitiva

  • Mudando as duas convicções;
  • Alterando o grau de importância de uma delas, respeitando a que se sobrepõe;
  • Acrescentando uma outra informação que resolva o conflito;
  • Negando a relação entre as duas convicções.

Quanto mais fracos forem os argumentos para a contradição comportamental que se verifica, maior a dissonância e maior a vontade de mudar o que está a provocar o conflito. As situações de dissonância cognitiva levam-nos a mudar atitudes e pensamentos.

14. Formação e Mudança das Atitudes

As atitudes não nascem connosco, formam-se e aprendem-se no processo de socialização, no meio social onde estamos inseridos. São vários os agentes sociais responsáveis pela formação das atitudes:

Agentes de Formação das Atitudes

  • Pais e família;
  • Escola;
  • Grupo de pares;
  • Meios de comunicação.

Os parentes mais próximos exercem um papel fundamental na formação das primeiras atitudes nas crianças. São modelos que estas imitam e com as quais se procuram identificar. A educação escolar desempenha um papel central na formação das atitudes. Na adolescência, tem particular relevo o grupo de pares, isto é, os indivíduos com idade aproximada com que os jovens contactam mais frequentemente.

Atualmente, os meios de comunicação têm grande importância na formação de novas atitudes ou no reforço das que já existem: a publicidade, as telenovelas, os filmes, são meios poderosos pela influência que exercem sobre o modo como se encara o que acontece no mundo, as relações interpessoais, os gostos e as preferências, a ocupação dos tempos livres, o trabalho, etc.

É através da observação, identificação e imitação dos modelos - pais, professores, pares, figuras dos meios de comunicação social, etc. – que se aprendem, que se formam as atitudes. Esta aprendizagem ocorre ao longo da vida, mas tem particular prevalência na infância e na adolescência. Tal não significa que depois destas idades as atitudes não possam mudar. Há, contudo, uma tendência para a estabilidade das atitudes. Mas apesar da relativa estabilidade das atitudes, estas podem mudar ao longo da vida. Acontecimentos extraordinários, impressionantes, podem resultar em modificações nas nossas atitudes. As experiências vividas por nós podem conduzir à alteração das atitudes.

15. Normalização, Conformismo e Obediência

Estando constantemente sob ação externa, o homem interioriza três processos de influência social:

Processos de Influência Social

  • Normalização: Através do processo de socialização, interiorizamos um conjunto vasto de regras e formas de comportamento que variam de cultura para cultura. As normas estruturam as interações com os outros porque criam um padrão mais ou menos comum de comportamentos. São regras sociais básicas que estabelecem o que as pessoas podem ou não podem fazer em determinadas situações. As normas são uma expressão da influência social porque influenciam o nosso comportamento dentro de uma cultura/sociedade específica. A normalização permite a uniformização de comportamentos dentro desse grupo social, o que nos permite prever o comportamento dos outros e, portanto, sabermos como reagir. As normas são elementos de coesão grupal e facilitam a adaptação ao meio social quando são interiorizadas. Sendo relativamente duráveis no tempo, conseguem criar uma imagem/identidade para cada sociedade e assegurar a sua estabilidade.
  • Conformismo: O conformismo resulta do facto de uma pessoa mudar o seu comportamento ou as suas atitudes por efeito da pressão do grupo. O conformismo é uma forma de interação, um processo de influência inerente ao funcionamento dos grupos. Estes são regidos por normas aceites pelos seus membros que devem ser cumpridas por eles. Se um grupo for conformista e acatar as normas, será muito coeso e uniforme. As pessoas conformam-se para serem aceites pelos grupos e para interagirem com outras pessoas. Quem não se conformar, será visto como revolucionário ou conflituoso, pelo que a maioria opta por se adaptar e acatar as regras, criando um pensamento grupal, preferindo o consenso à reprovação social.
  • Obediência: Sinónimo de submissão à autoridade, a obediência acontece quando as pessoas não se sentem responsáveis pelos seus atos porque estes foram ordenados pelos seus superiores. Assim, para os executores da tarefa, o responsável será a figura de autoridade que os instigou ao cumprimento da ordem. Acatando as ordens, quer estejam de acordo com os princípios próprios ou não, as pessoas obedecem e não assumem a responsabilidade inerente ao ato em questão. Aceitam porque não querem sofrer as consequências que advêm da desobediência.

16. Conformismo e Obediência: Asch e Milgram

O conformismo é uma forma de influência social que resulta do facto de uma pessoa mudar o seu comportamento ou as suas atitudes por efeito da pressão de grupo.

Solomon Asch, na década de 50, realizou um conjunto de experiências e tinha como objetivo conhecer o modo como as pessoas se influenciavam umas às outras.

Após as experiências (imagens de paus), Asch, através de entrevistas com os sujeitos participantes, procurou compreender os processos subjacentes ao comportamento conformista. A partir desses dados, procurou identificar os fatores que influenciam e explicam o conformismo:

Fatores que Influenciam o Conformismo (Asch)

  • A unanimidade do grupo: O conformismo é maior nos grupos em que há unanimidade. Basta haver um aliado no grupo que partilhe uma opinião diferente para os efeitos do conformismo serem menores;
  • A natureza da resposta: O conformismo aumenta quando a resposta é dada publicamente; a resistência à aceitação da opinião da maioria é maior quando a privacidade é assegurada (voto secreto);
  • A ambiguidade da situação: A pressão do grupo aumenta quando não estamos certos do que é correto. Por isso, o conformismo é maior quando as tarefas ou as questões são ambíguas, não sendo clara e inequívoca a opção (gera dúvida e insegurança);
  • A importância do grupo: Quanto mais atrativo for o grupo para a pessoa, maior é a probabilidade de ela se conformar. A necessidade de pertencer ao grupo implica, por parte do indivíduo, a adoção de comportamentos, normas e valores do grupo;
  • A autoestima: As pessoas com um nível mais elevado de autoestima são mais independentes do que as que não têm (confiam menos nos seus juízos e opiniões, tendem a adotar o mesmo comportamento do grupo).

As razões que levam uma pessoa a conformar-se são as mesmas que a levam a fazer parte de grupos: a necessidade de ser aceite, de interagir com os outros.

No início da década de 70, Stanley Milgram desenvolveu uma experiência (sala de choques) no âmbito da influência social: a submissão à autoridade.

Essa experiência de Milgram levou os investigadores a averiguarem quais as condições que favoreceram o comportamento obediente, identificando alguns fatores:

Fatores que Favorecem a Obediência (Milgram)

  • A proximidade com a figura de autoridade: Quanto mais próxima estiver a figura de autoridade, maior é a obediência (as pessoas sentem-se intimidadas e obedecem mais);
  • A legitimidade da figura de autoridade: Quanto mais reconhecida for a autoridade, maior é a obediência (quanto mais elevado o estatuto, mais elevado é o nível de obediência);
  • A proximidade da vítima e a pressão do grupo: (Metade das pessoas não queriam ultrapassar metade da escala 450 volts).

17. Inconformismo e Inovação Social

A história da humanidade testemunha que a mudança a todos os níveis foi desencadeada por conceções, atitudes e comportamentos que não respeitaram o que socialmente estava estabelecido como correto e desejável. Por exemplo, nas grandes revoluções científicas, foi o inconformismo dos cientistas que transformou o modo como os seres humanos se concebem. O inconformismo consiste na adoção de conceções, atitudes e comportamentos que não respondem às expectativas do grupo. As pessoas que adotam atitudes inconformistas são, frequentemente, objeto de crítica social. O desvio, a dissidência, são encarados como desagregadores da ordem social e são tanto mais criticados e reprimidos quanto mais importante for, para o grupo social, a norma não respeitada. Assumidos por minorias, os comportamentos inconformistas, geradores de inovação, acabam muitas vezes por ser integrados pelo sistema social. A mudança social encontra neste processo a sua origem.

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