Apoio Psicopedagógico na Educação Especial: Deficiência Intelectual e Síndrome de Down
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Base de Notas de Apoio Psicopedagógico da Educação Especial
Item 7: Deficiência Intelectual
Introdução
A terminologia evoluiu significativamente. Palavras como 'idiota', 'imbecil', 'oligofrénico', 'retardado' foram historicamente usadas para descrever o que hoje chamamos de deficiência intelectual.
Perspectivas de Estudo
- Psicométricas: Foco no Quociente de Inteligência (QI).
- Outras Perspectivas: Evolutiva, Cognitiva, Funcional.
Cinco Princípios-Chave da Pedagogia Válida
Estes princípios baseiam-se em fornecer suporte para:
- Sentir-se querido, amado e seguro.
- Sentir-se livre.
- Desenvolver um trabalho digno.
- Desfrutar de momentos de lazer.
- Sentir-se responsável.
Conceito de Inteligência
- É complexa, não simples.
- É mutável, não fixa.
- Está integrada à personalidade, não age de forma independente.
- Inteligências Múltiplas: Incluem inteligências interpessoais (relações com outros, trabalho em equipe) e intrapessoais (autoestima, autoconhecimento).
Definição da AAMR (Associação Americana de Retardo Mental)
Caracteriza-se por um funcionamento intelectual abaixo da média, com limitações associadas em duas ou mais das seguintes áreas de habilidades adaptativas: comunicação, vida doméstica, cuidados pessoais, habilidades sociais, utilização da comunidade, autogoverno, saúde e segurança. O retardo mental manifesta-se antes dos 18 anos.
Comportamento Adaptativo
- Saúde e Segurança: Lidar com doenças, autocuidado, etc.
- Habilidades Acadêmicas: Alfabetização, matemática, etc.
- Lazer: Recreação e observação são importantes.
- Trabalho: Competências específicas para o emprego.
Fatores Predisponentes
- Herança (5%): Erros de metabolismo, genética.
- Alterações precoces do desenvolvimento embrionário (30%).
- Problemas na gravidez e perinatais (10%): Parto prematuro, hipóxia, trauma, etc.
- Condições médicas adquiridas durante a infância (5%): Infecções, etc.
Características da Deficiência Intelectual
- Idade: Manifesta-se antes dos 18 anos.
- Duração: Pode variar ao longo da vida; o diagnóstico é mantido se houver necessidade de suporte em pelo menos nove habilidades adaptativas.
- Prevalência: Aproximadamente 1% da população (varia conforme os testes de diagnóstico).
- Heterogeneidade: Cada aluno é único, apesar de compartilhar características comuns.
- A deficiência intelectual é caracterizada por um atraso geral no desenvolvimento e aprendizagem que limita o desempenho em todas as áreas da vida. É crucial trabalhar todas as áreas da criança de forma holística.
Desenvolvimento Cognitivo
- Ausência ou dificuldade de pensamento abstrato.
- Rigidez cognitiva: Dificuldade em mudar de tarefas ou estratégias quando o comportamento aprendido falha.
- Problemas de atenção e memória.
- Desenvolvimento não completo.
- Fadiga precoce.
- Ritmo mais lento.
Desempenho da Memória
A memória de curto prazo (MCP) e a de longo prazo (LTM) são afetadas. A MCP (primária) é imediata, enquanto a LTM armazena memórias mais antigas. O processo envolve um input (estímulo) que capta a atenção, e a memória primária transfere para a secundária (intermediária, dentro da MCP) e, finalmente, para a superior (LTM).
Crianças com deficiência intelectual podem ter dificuldade em recordar informações específicas, como a segunda de uma série de números. Não utilizam estratégias de revisão eficazes, o que prejudica a consolidação na memória secundária.
- Informação: Dados ou estímulos.
- Atenção: Défice.
- Memória a Curto Prazo (STM): Primária. Défice nas estratégias de revisão (metacognição).
- Memória de Médio Prazo (MMP): Secundária.
- Memória de Longo Prazo (LTM): Terciária.
Desenvolvimento Motor
- Reflexos mais fracos.
- Passividade em relação ao ambiente.
- Alterações motoras.
- Dificuldade no controle da motricidade fina e grossa.
Desenvolvimento da Linguagem
- Grandes variações.
- Dependência do desenvolvimento motor.
- Aquisição lenta.
- Problemas na autorregulação.
- Ausência de discurso interior.
Aspectos Pessoais e Socioemocionais
- Experiência de fracasso: Devido ao ritmo mais lento, a adaptação pessoal é crucial.
- Falta de motivação: Necessidade de incentivo, amor e materiais específicos.
- Desamparo aprendido: Relacionado à depressão.
Exemplo de Seligman: Um experimento com ratos demonstrou como a falta de controle sobre situações pode levar ao desamparo aprendido. É vital evitar que os alunos cheguem a esse ponto, compreendendo suas dificuldades e evitando comparações.
- Impulsividade.
- Desenvolvimento limitado da personalidade.
- Dificuldade em estruturar a experiência e o reconhecimento como sujeito.
- Alto risco em geral.
Níveis de Colocação Institucional
- Nível I: Sala de Aula Regular - Primeira fonte de instrução, promovendo inclusão e integração.
- Nível II: Aula Especial - Integração parcial em salas regulares, com ensino especial como base.
- Nível III: Escola de Educação Especial - Alternativa menos restritiva que centros residenciais.
- Nível IV: Serviços Residenciais - Cuidados institucionais 24 horas, onde a instrução acadêmica é parte de um programa mais amplo.
Programa Mercury
Instalação de câmeras em sala de aula para gravar aulas, permitindo que alunos ausentes acompanhem o conteúdo e façam perguntas online. Projeto pioneiro do Ministério da Educação de Extremadura.
Níveis de Apoio
Avaliação em quatro dimensões para fornecer assistência integral:
- Dimensão I: Funcionamento intelectual e habilidades adaptativas.
- Dimensão II: Considerações psicológicas/emocionais.
- Dimensão III: Análise física/saúde/etiologia.
- Dimensão IV: Considerações ambientais.
Intervenções Educativas
Princípios Orientadores:
- Analisar o ambiente.
- Utilizar o suporte.
Intensidade do Apoio
- Intermitente: Quando necessário, em momentos específicos (ex: procura de emprego).
- Limitado: Por um período determinado (ex: transição escola-trabalho).
- Amplo: Apoio a longo prazo, contínuo (regular, semanal, diário).
- Generalizado: Apoio vitalício, com maior intensidade e intrusividade.
O apoio deve ser adequado; excesso pode gerar dependência.
Intervenção Educacional - Prioridade Temporal
- Comportamento perigoso.
- Comportamento que impede a aprendizagem.
- Aprendizagem básica (contato visual, seguir instruções, imitar).
- Objetos que permitem manipulação e trabalho em equipe.
- Outras aprendizagens.
Procedimentos e Metodologia de Ensino-Aprendizagem
- Modificação de Comportamento:
- Princípio de Premack: Usar uma atividade preferida como recompensa para uma menos preferida.
- Reforço: Combinação de comportamentos para aumentar a frequência do desejado.
- Análise de Tarefas: Dividir tarefas em etapas menores, garantindo sucesso para evitar frustração. Ritmo lento é essencial.
- Materiais Significativos: Utilizar desenhos, jogos, etc., que sejam relevantes para o aluno.
- Reforço Positivo (RP): Recompensa por bom comportamento.
- Reforço Negativo (RN): Remoção de algo desagradável após bom comportamento.
- Punição: Adição de algo desagradável ou remoção de algo positivo após mau comportamento.
- Extinção: Não reforçar um comportamento para que ele desapareça. Atenção: distinguir de um pedido de atenção que pode aumentar inicialmente.
- Economia de Símbolos: Transição gradual de reforços extrínsecos para intrínsecos. O objetivo final é a satisfação pessoal.
- Time Out: Afastamento temporário do contexto para reflexão (máximo 5 minutos).
Procedimentos e Metodologia de Ensino-Aprendizagem (Continuação)
- Mecanismos de Instrução: Internalização da atividade pelo aluno.
- Ensino Recíproco.
- Aprendizagem Cooperativa.
- Inclusão em atividades recreativas, sociais e educativas com pares sem deficiência.
- Tutoria entre pares.
| Processo | Descrição |
| Aproximações Sucessivas | Reforçar comportamentos cada vez mais semelhantes ao desejado. |
| Modelagem | Ensinar por imitação, observando um modelo significativo. |
| Reforço de Comportamento Incompatível | Reforçar comportamentos que não podem ocorrer simultaneamente com o indesejado. |
| Reforço de Comportamento Alternativo | Reforçar comportamentos que não são problemáticos. |
| Controle de Estímulo | Reforçar o comportamento na presença de estímulos discriminativos e extingui-lo na ausência. |
| Controle Instrutivo | Reforçar o comportamento após um pedido ou instrução. |
- Programas de Comportamento Alternativo (PCA): Para adolescentes e adultos (Verdugo, 1997) - Habilidades Sociais, Orientação para o Trabalho, Habilidades da Vida Diária.
ITEM 8: Síndrome de Down
Histórico
Langdon Down (1887) descreveu a síndrome e suas características físicas. O termo 'mongolismo' foi substituído por 'Síndrome de Down' devido ao seu caráter discriminatório. A partir dos anos 1930, a causa cromossômica foi investigada, sendo definitivamente identificada por Dr. Lejeune (1959) como trissomia do cromossomo 21 (47 cromossomos).
Definição
A Síndrome de Down é uma aberração cromossômica ligada ao par 21, com três tipos de variações:
- Trissomia: Todas as células têm 47 cromossomos (95% dos casos, esporádica).
- Translocação: O cromossomo 21 se liga a outro cromossomo, frequentemente o 14 (2-3% dos casos).
- Mosaicismo: Presença de diferentes tipos de células cromossômicas no corpo (devido à não-disjunção no zigoto).
A superexpressão de genes no cromossomo 21 causa desequilíbrio na produção de substâncias biológicas essenciais, afetando o desenvolvimento do sistema nervoso central e resultando em deficiência intelectual.
Etiologia
- Incidência: 1,5 por 1000 nascidos vivos.
- Fatores de Risco: Idade materna acima de 35 anos (risco de 1/40 após 40 anos), pais com mais de 50 anos, histórico familiar de anomalia cromossômica.
Fenótipo (Características Físicas Comuns)
- Cabeça: Pequena (microcefalia), fontanelas de cicatrização lenta, alopecia parcial ou total.
- Face: Ossos faciais pouco desenvolvidos, nariz achatado, narinas estreitas, ponte nasal achatada.
- Olhos: Oblíquos, fendas palpebrais estreitas, manchas brancas (Brushfield) na íris.
- Orelhas: Pequenas, espiral inclinada, canais auditivos estreitos.
- Boca: Estreita, lábios rachados, boca pequena. Língua grande que pode protruir. Dentes com erupção tardia, ausentes ou malformados; sobreposição devido à mandíbula pequena.
- Pescoço: Mais largo e forte que o normal.
- Peito: Esterno deprimido em alguns casos.
- Mãos e Pés: Pequenos e grossos, dedos curtos. Uma única prega palmar.
As características físicas podem impactar a autoestima e ter consequências psicológicas. A miopia (50%), hipermetropia (20%) e deficiências auditivas (60-80%) são comuns.
Funções Cerebrais e Transtornos Psiquiátricos
- Transtornos Psiquiátricos: Mais comuns na idade adulta (depressão, problemas comportamentais).
- Função Cerebral: O cromossomo extra desequilibra a síntese proteica, afetando o sistema nervoso central.
Processos Cognitivos
- Transmissão Sináptica e Comunicação Interneuronal: Respostas lentas, necessidade de informação estruturada, retenção de informação mais fraca.
- QI: Diminui com a idade cronológica. Aumento do uso de estratégias de prevenção, uso ineficiente de habilidades de resolução, falta de consolidação de habilidades, relutância em tomar iniciativa.
- Foco e Atenção: Facilmente distraídos, pouca diferenciação entre estímulos novos e antigos, dificuldade em manter a atenção, menor capacidade de auto-inibição, menor esforço em tarefas.
- Memória a Curto Prazo e Processamento da Informação: Dificuldade em processar informações sensoriais e organizar respostas.
- Memória a Longo Prazo: Capacidade diminuída de controle e recuperação; redução dos tipos de memória declarativa.
- Correlação e Análise: Dificuldade em integrar e interpretar informações, organizar sequências, conceituar, programar internamente, realizar operações cognitivas sequenciais, desenvolver pensamento abstrato e operações numéricas.
Recursos Psicolinguísticos
- Linguagem formal pode ser limitada, mas eficaz para demandas sociais básicas.
- Pré-linguístico: Respostas lentas a estímulos verbais. Primeiras frases por volta dos 4 anos.
- Inteligibilidade: Um dos maiores problemas, afetando relações sociais e autoestima. Possibilidade de gagueira.
- Problemas de articulação e fonologia, vocabulário limitado, distúrbios na gramática e sintaxe.
Temperamento
Entre 0-3 anos, o temperamento pode ser mais difícil, melhorando entre 3-6 anos (ativos, dispostos a brincar, boa interação social). Geralmente, tendem a ter falta de controle, mas são adaptáveis e persistentes.
Declaração de Ensino
- Crianças com Síndrome de Down (SD) perdem interesse facilmente, desmotivam-se e podem manifestar desamparo aprendido.
- Podem apresentar ansiedade devido a ambientes competitivos.
- Intervenção Precoce: Essencial desde os primeiros meses de vida.
- Programas de Alfabetização: Benefícios cognitivos da ligação entre leitura, escrita e SD. Estratégias visuais ajudam a superar problemas de processamento auditivo e memória de curto prazo. A leitura oral estimula a coordenação, expressão e memória.
Área de Alfabetização
Habilidades que promovem autonomia pessoal:
- Preencher formulários.
- Ler e postar mensagens.
- Ler notícias simples.
- Escrever cartas.
- Escolher um menu.
Área de Experiência (Cuidados Pessoais)
- Enriquecer textos com imagens.
- Utilizar vídeos, fotos, filmes para retenção visual.
Área de Cálculo
- Dificuldade significativa (apoio externo pode ser necessário).
- Poucos programas específicos.
- Critérios básicos de funcionalidade.
- Uso de jogos familiares (oca, ludo, cartas, dominó).
- Sucesso com "economia simbólica" (pontos positivos/negativos para motivar).
Programa de Comunicação Aumentativa (CAI)
Para superar atrasos na linguagem, utilizam-se sinais e símbolos. Funções do CAI:
- Substituir a fala em crianças com expressão oral limitada.
- Apoiar a expressão oral clara.
- Reduzir a frustração e aumentar a motivação para comunicar.
Inovações
- Tutoria de alunos por colegas.
- Duas professoras em sala de aula.
- Agrupamentos diversos (grandes, pequenos) para incentivar a socialização (Aprendizagem Cooperativa).
- Incentivo ao apoio mútuo entre colegas.
Mais Inovações
- Planeamento de atividades variadas com materiais e meios diferentes.
- Limitar apresentações orais, complementando com atividades práticas e funcionais.
- Ajustar a duração das sessões.
- Verificar frequentemente a consolidação de competências adquiridas.
- Adaptar explicações orais e tarefas aos limites de atenção.
- Para dificuldades auditivas: usar comunicação visual, gestos, sinais, orientação física, escrever palavras-chave.
- Aprender por modelagem é proeminente; usar o colega como referência.
- Família: Reuniões regulares, "Livro Viajante" para comunicação escola-família.
ITEM 9: Percepção e Conhecimento de Crianças Cegas
Formação de Professores
Desafios incluem tempo, dinheiro e a articulação entre instituições.
Conceitos de Cegueira
- Acuidade Visual: Capacidade de discriminar detalhes a distância.
- Campo de Visão: Percepção do espaço visível com o olho fixo.
- Cegueira Legal (OMS): Acuidade visual igual ou inferior a 1/10 (escala Wecker) ou campo visual inferior a 35º.
- Cegueira Real: Ausência total de visão.
Níveis de Deficiência Visual (Barraga, 1992)
- Cegueira: Ausência de visão ou apenas percepção de luz; incapacidade de realizar tarefas visuais.
- Deficiência Visual Profunda: Dificuldade em tarefas visuais grosseiras; incapacidade para tarefas que exigem visão detalhada.
- Deficiência Visual Grave: Realiza tarefas visuais com imprecisões, necessitando de ajustes de tempo e modificações.
- Deficiência Visual Moderada: Realiza tarefas visuais com aparelhos especiais e iluminação adequada.
Prevalência
- A cegueira infantil é um problema mundial.
- Mais de 12 milhões de crianças (5-15 anos) sofrem de deficiência visual não corrigida (erros de refração).
- Mulheres apresentam maior risco.
- 85% das pessoas com deficiência visual vivem em países em desenvolvimento.
Causas Principais de Cegueira
- Catarata.
- Erros de Refração (miopia, astigmatismo).
- Glaucoma.
- Degeneração Macular Relacionada à Idade.
- Retinopatia da Prematuridade.
- Falta de Vitamina A.
Três quartos dos casos são preveníveis ou tratáveis.
Detecção
- Olhos do Aluno: Estrabismo, olhos/pálpebras vermelhos, pálpebras caídas, movimentos oculares constantes, estrabismo frequente.
- Queixas Associadas: Dores de cabeça, náuseas, tontura, ardor nos olhos, visão turva.
Grandes Obstáculos no Desenvolvimento Cognitivo
- Aquisição do conceito de permanência do objeto.
- Compreensão de processos causais.
- Compreensão de estruturas espaço-temporais.
- Contraste entre eventos e a própria realidade.
- Controle do ambiente.
- Processos de simbolização (imitação, jogo simbólico).
- Compreensão de diferentes aspectos da realidade.
Linguagem e Comunicação
- A complexidade morfossintática não é atrasada em crianças cegas.
- Falam as mesmas coisas que crianças com visão.
- Usam mais perguntas, que podem não ter propósito aparente, mas não indicam desvio de desenvolvimento.
Desenvolvimento Motor e Comportamento Adaptativo
É essencial alinhar estímulos externos ao campo perceptivo da criança cega, utilizando os sentidos tátil e cinestésico. Pode haver comprometimento da coordenação bimanual e movimentos estereotipados (autoestimulação, tédio).
Processo de Escolaridade
- Avaliação individualizada.
- Atribuição a grupos e educadores adequados.
- Preparação do ambiente e materiais antes da entrada na sala de aula.
- Incorporação gradual.
Objetivos: inclusão, aprendizagem, objetivos adequados ao nível de desenvolvimento, metodologia que desperte o desejo de aprender, acesso à informação, materiais para experiência direta, requisitos de desempenho adequados, percepção de sucessos.
Dificuldades na Escola
- Da Criança: Estresse, ansiedade de separação, lentidão na aprendizagem, dificuldades de imitação e relações igualitárias.
- Do Educador: Superproteção, falta de experiência, expectativas inadequadas (subavaliação/supervalorização).
- Dos Colegas: Atitudes imitadoras; curiosidade deve ser respondida com clareza.
Integração: Inclusão de alunos com necessidades educativas especiais na sala de aula regular.
Inclusão: Integração com garantia de educação de qualidade.
Currículo e Ajustes de Material
- Psicomotricidade: Superar medos, obter prazer no movimento, controle do tônus muscular, estabilidade postural, equilíbrio, liberação do impulso agressivo, orientação espacial.
- Motricidade Fina: Substituir coordenação olho-mão/bimanual; usar pinça tripla; associar cores; trabalhar perspectiva tridimensional; usar o cego como modelo para movimentos.
- Comunicação, Linguagem e Socialização: Pedir ajuda, iniciar comunicação em grupo, revezar, esperar, engajar-se em atividades com outros, aprender Braille.
- Hábitos de Trabalho: Participar na organização e recolha de materiais, suportar frustração e inveja.
Considerações Metodológicas
- Organizacional e Espacial: Organização estável de elementos; escola espaçosa com recursos técnicos e ergonômicos; localização acessível na sala de aula.
- Atitudes de Professores e Colegas: Formação; evitar explorar rostos; apresentar-se ao sair da sala; descrever conteúdo visual; chamar pelo nome; trabalho em grupo.
- Recursos Materiais e Técnicos: Substituição de materiais (quadro magnético); materiais para aquisição de conceitos; recursos para baixa visão (púlpito, flexo); código Braille.
Avaliação
- Questionários (motivação, estratégias de estudo).
- Observação sistemática.
ITEM 10: Comunicação, Linguagem e Pensamento em Crianças Surdas
Definição de Surdez
O ouvido é um órgão sensorial para audição e equilíbrio. Surdo é quem, com ou sem ajuda de aparelhos auditivos, não consegue compreender a fala exclusivamente pela audição.
Definição de Perda Auditiva
Pessoas cuja audição residual dificulta, mas não impossibilita, a compreensão da fala exclusivamente pela audição, com ou sem aparelhos auditivos, e que possuem formação de base no discurso interior.
Audição (Exemplos em Decibéis)
- Limiar de dor: 130 db.
- Trovão: 120 db.
- Berbequim/Caminhão Pesado: 90 db.
- Conversa Normal: 60 db.
- Sussurro: 20 db.
Tipos de Perda Auditiva
- Por Área: Condutiva (ouvido externo/médio), Sensorioneural (ouvido interno/sistema nervoso), Mista.
- Por Tempo de Aparecimento (Relação à Linguagem): Pré-lingual (antes da linguagem), Pós-lingual (após a linguagem).
- Por Tempo de Aparecimento: Congênita, Adquirida.
- Por Grau de Envolvimento:
- Normal: abaixo de 20 db.
- Leve: 20-40 db (dificuldade em discriminar fonemas, sons fracos/distantes, conversas em ambientes ruidosos).
- Moderada: 40-70 db (dificuldade com palavras em conversação normal).
- Grave: 70-90 db (dificuldade com palavras fracas/deformadas; requer amplificação e treino).
- Profunda: mais de 90 db (apenas sons fortes e vibrações; acesso à fala amplificada).
- Cofose: mais de 120 db (surdez total).
Indicadores de Perda Auditiva Pré-lingual
Geralmente congênita ou adquirida antes dos 3-5 anos, sendo mais grave.
- 0-3 meses: Não se assusta com ruídos, não se acalma com a voz da mãe.
- 3-6 meses: Não reage ao chocalho, não se orienta pela voz da mãe.
- 6-9 meses: Não emite sílabas, não responde ao nome, não responde a "adeus" com a mão, não brinca com rimas.
- 9-12 meses: Não responde a "dá" quando solicitado.
- 12-18 meses: Não nomeia objetos familiares, não diz "papai" ou "mamãe" com significado.
- 18-24 meses: Não sabe o nome, não presta atenção a histórias, não identifica partes do corpo, não forma frases de duas palavras.
A identificação precoce (antes dos 2,5 anos) garante melhor desenvolvimento da literacia e tarefas cognitivas. 90% das crianças surdas têm pais ouvintes.
Indicadores de Perda Auditiva Pós-lingual
Ocorre após o desenvolvimento de habilidades básicas de comunicação pela audição (após 5 anos).
- Respostas inconsistentes.
- Perde-se em leituras de grupo.
- Voz não modulada.
- Nem sempre compreende.
- Problemas na fala (omissões, distorções, substituições).
- Facilmente distraído.
- Orelhas doem, coçam.
Identificação de Dificuldades Auditivas (Espécie)
- O aluno se assusta com pessoas/objetos em seu campo visual?
- Articula mal sons, omite consoantes, tem problemas de pronúncia?
- Apresenta atraso de linguagem apreciável?
- Parece ter problemas com a audição (dor, reclamações, ruídos)?
- Parece não ouvir o que é dito?
- Senta-se na frente da sala?
- Inclina a cabeça, coloca a mão na orelha, gira a cabeça para ouvir melhor?
- Distrai-se, desatento, isola-se?
- Responde quando chamado pelo nome?
- Reluta em falar, participar de atividades de comunicação?
- Participa de atividades de lazer?
- Apresenta atrasos motores significativos?
- Fica para trás na alfabetização associada às questões acima?
Etiologia
- Origem indeterminada (20-30%).
- Anomalia genética (30-50%).
- Durante a gravidez: infecção viral (rubéola), poliomielite, drogas, diabetes, privação de nutrientes.
- Perinatal e neonatal (30%): hipóxia, meningite, prematuridade, infecções, traumas.
- Pós-natal (3-10%): infecções (otite, meningite, sarampo), lesões (objetos, ruídos intensos, drogas).
Epidemiologia
Cerca de 1,3% dos alunos com deficiência têm dificuldade de ouvir. Distribuição em diferentes ambientes educacionais.
Desenvolvimento Motor
- Semelhante a ouvintes da mesma idade.
- Pode apresentar desajeitamento (superproteção paterna, problemas de equilíbrio).
- Hipertonia muscular frequente.
Desenvolvimento Psicológico
Sequências de desenvolvimento comportamental e psicológico semelhantes a crianças ouvintes (QI e processos cognitivos adequados). No entanto:
- Lentidão na organização e reconhecimento do ambiente.
- Atrasos na leitura e escrita.
- Vocabulário menor, uso de menos palavras e preposições.
- Menos enunciados.
- Imitação menos funcional.
- Não percebem avisos sonoros que ajudam ouvintes.
- Perdem informações do ambiente, sofrendo choques emocionais.
- Em caso de surdez congênita, podem ocorrer dificuldades de comunicação com a mãe, problemas emocionais e de independência.
Desenvolvimento da Socialização
- Dificuldades de linguagem e comunicação.
- Deficiências mais marcantes após os 5 anos.
- Interação com outros surdos pode ser mais gratificante, levando à exclusão de ouvintes.
- Superproteção pode privar de interação comunicativa, limitando o repertório funcional e causando problemas de ajustamento social, baixa autoestima e dificuldade de autonomia.
Desempenho Acadêmico e Aprendizagem
- Mau desempenho acadêmico geral.
- Crianças surdas em 8º ano de escolaridade estão em níveis semelhantes a ouvintes da 3ª série.
- Dificuldades em linguagem e escrita. Em matemática, a dificuldade surge apenas com metodologia de ensino verbal.
Métodos de Comunicação
Considerar a perda auditiva, déficits associados e uso de próteses. Leitura labial pode ser útil.
- Sistemas de Comunicação Oral: Leitura labial, sistemas áudio-orais (com ou sem leitura labial).
- Sistemas Manuais e Visuais: Comunicação Simultânea (voz e sinais), Cued Speech (sinais de ajuda para fonética), Língua de Sinais (visual-gestual), Alfabeto Manual.
Em casos de surdez profunda e pré-lingual, o sistema oral é geralmente descartado. Recomenda-se uma abordagem bilíngue (oral e gestual).
Intervenção Educativa
- Integração: Escolas especiais vs. integração.
- Inclusão: Começar com língua de sinais e aquisição de conhecimentos, progredindo para linguagem oral e escrita.
Estratégias para Promover a Comunicação em Sala de Aula
- Posicionar o aluno perto do quadro, vídeo, professor.
- Simplificar vocabulário, usar frases curtas e sintaticamente corretas.
- Otimizar condições para leitura labial (articular corretamente, vocalizar claramente, falar devagar e perto do aluno).
- Suporte pré e pós explicações do professor.
- Fornecer conteúdo em recursos visuais impressos (índices, esquemas, resumos).
- Usar recursos visuais e manipulativos.
- Utilizar tecnologias disponíveis.
- Colocar o aluno perto de um colega que possa ajudar.
- Promover o uso de informação visual.
- Utilizar conteúdo significativo (ex: Pocoyo).
- Organizar grupos e alterar a estrutura física da sala.
Aspectos Gerais (Leitura Labial)
- Falar devagar, sem exagerar.
- Falar apenas quando olhado, chamando a atenção.
- Posicionar o aluno de costas para fontes de luz, com luz sobre o falante.
- Falar o mais próximo possível (até 2,5-3 metros).
- Evitar objetos que obstruam a visão (mãos, papéis).
- Barba e bigode podem dificultar a leitura labial.
- Considerar fadiga e distrações.
Outras Considerações para Surdez Severa
- Focar o tema da conversa.
- Evitar jargões e palavras complexas.
- Verificar negociações, incentivar participação em grupos.
- Se não entender, repetir com outras palavras ou auxílios visuais.
- Evitar que o surdo se sinta isolado; mantê-lo informado.
- Se distraído, pode não estar a acompanhar.
- Solicitar intérprete, se necessário.
- Interagir com as famílias.
ITEM 11: Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD)
Estudos Históricos
- 1943/1963: Causas psicogênicas, interpretação afetivista, culpa familiar, terapias dinâmicas e não educacionais.
- 1963/1983: Causas neurobiológicas, foco cognitivo, tratamento educacional, modificação de comportamento, centros específicos.
- Atualidade: Perspectiva evolutiva, TGD, educação fundamental no ciclo de vida, variedade de terapias complementares.
Com o mesmo diagnóstico, não há dois filhos iguais.
Definição de Autismo
Leo Kanner (1943) definiu a síndrome, diferenciando-a da esquizofrenia infantil. O autismo é um transtorno invasivo do desenvolvimento com déficits centrais em:
- Socialização: Baixa qualidade de interações recíprocas.
- Comunicação: Atraso na aquisição da linguagem.
- Imaginação: Falta de jogo simbólico espontâneo.
Outros sintomas incluem ansiedade social, dificuldades de aprendizagem, deficiência mental e problemas de percepção.
Critérios Diagnósticos (DSM-IV)
A. Prejuízo qualitativo na interação social (2 ou mais):
- Modificação de comportamentos não-verbais (contato ocular, expressão facial, postura).
- Falta de desenvolvimento de relações adequadas com pares.
- Falta de partilha espontânea de prazeres, interesses e objetivos.
- Falta de reciprocidade emocional ou social.
B. Prejuízo qualitativo na comunicação (2 ou mais):
- Atraso ou ausência total de linguagem falada (sem compensação).
- Em indivíduos com fala adequada, diminuição da capacidade de iniciar/manter conversas.
- Uso estereotipado e repetitivo da linguagem.
- Falta de jogo realista, variado, espontâneo ou de imitação social apropriado.
C. Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades (1 ou mais):
- Preocupação com padrões estereotipados de interesse anormais.
- Adesão inflexível a rotinas ou rituais não funcionais.
- Maneirismos motores estereotipados e repetitivos.
- Preocupação persistente com partes de objetos.
D. Atrasos ou funcionamento anormal em pelo menos uma área (socialização, comunicação, jogo simbólico) que aparecem antes dos 3 anos de idade.
Características
- Prevalência: 5 casos por 10.000 indivíduos.
- Manifestações sutis na infância, mais difíceis de definir após 2 anos (20% de desenvolvimento normal relatado pelos pais).
- Curso contínuo, com progresso evolutivo em algumas áreas na idade escolar e adolescência.
- Um terço atinge independência parcial.
- Adultos com autismo de alto funcionamento mantêm problemas de interação social, comunicação e interesses restritos.
- Padrão Familiar: Risco aumentado (5%) entre irmãos.
- Ausência de medo de perigos reais, medo excessivo de estímulos nocivos.
- Comportamentos auto-agressivos (bater a cabeça, morder os dedos).
- Depressão em adolescentes/adultos com capacidade intelectual suficiente, devido à consciência dos déficits.
- Problemas Sensoriais: Surdez seletiva, sensibilidade à música melódica, preferência por estímulos táteis, olfativos e gustativos, hiper/hiporresponsividade à dor e frio. Visão e audição são relegadas.
Teoria da Mente
Refere-se à capacidade de compreender as intenções, crenças e desejos de outras pessoas. Crianças com autismo têm dificuldade em se colocar no lugar do outro, falhando em prever o que outra pessoa pensaria ou faria em determinada situação (exemplo das bonecas Luisa e Ana, ou do barco de Lacasitos).
Causas da Ausência da Teoria da Mente: Isolamento, comportamento ausente, olhar fixo, retraimento, falta de habilidades relacionais, falta de empatia, comportamento agressivo (auto e hetero).
Síndrome de Asperger
Outro transtorno invasivo do desenvolvimento, diferenciado do autismo pela ausência de atraso significativo na linguagem e no desenvolvimento cognitivo.
Critérios Diagnósticos (DSM-IV)
- Critério A: Prejuízo qualitativo na interação social (semelhante ao autismo).
- Critério B: Padrões restritos, repetitivos e estereotipados de comportamento, interesses e atividades (semelhante ao autismo).
- Critério C: Prejuízo clinicamente significativo em áreas sociais, profissionais e outras.
- Critério D: Ausência de atraso geral clinicamente significativo na linguagem.
- Critério E: Ausência de atraso clinicamente significativo no desenvolvimento cognitivo, habilidades de autoajuda, comportamento adaptativo (exceto interação social) e curiosidade no ambiente infantil.
- Critério F: Não satisfaz critérios para outro transtorno invasivo do desenvolvimento ou esquizofrenia.