Quedas em Idosos: Fatores de Risco, Avaliação e Prevenção

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Fatores de Risco para Quedas

A estabilidade do corpo depende da recepção adequada de informações e é influenciada por efeitos cumulativos de alterações relacionadas à idade, doenças e ao meio ambiente. Os fatores de risco para quedas podem ser classificados em:

  • Extrínsecos: Condições do ambiente que facilitam a queda.
  • Intrínsecos: Problemas inerentes à saúde do indivíduo.
  • Comportamentais: Hábitos e atitudes do indivíduo.
  • Mistos: Combinação de fatores.

Fatores de Risco Intrínsecos

  • História prévia de quedas: Uma ou mais quedas no ano anterior aumentam o risco de novas quedas no ano subsequente.
  • Idade: A prevalência das quedas aumenta com o envelhecimento. Nas faixas etárias mais velhas da população, a proporção de mulheres caidoras é maior que a de homens e com maior risco de fraturas1.
  • Medicamentos: São fatores predisponentes as drogas psicoativas, as de uso cardiológico (como diuréticos, antiarrítmicos, vasodilatadores e glicosídeo cardíaco) e a polifarmácia (uso de quatro ou mais medicamentos simultaneamente).
  • Condição clínica: Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), Diabetes Mellitus (DM) e doenças neurológicas ou osteoarticulares que afetem a força muscular, o equilíbrio e a marcha são fatores de risco comuns.
  • Distúrbio de marcha e equilíbrio: Menos força e resistência abaixo do limiar mínimo para realização independente das Atividades de Vida Diária (AVD).
  • Sedentarismo.
  • Estado psicológico: O medo de cair novamente após uma queda está correlacionado com pior desempenho da marcha e novos episódios de quedas, podendo restringir atividades físicas e sociais.
  • Deficiência nutricional.
  • Declínio cognitivo: Mesmo um discreto déficit.
  • Deficiência visual: Alterações da acuidade e do campo visual.
  • Doenças ortopédicas: Doenças como espondilose cervical, que pode provocar tontura e desequilíbrio, e problemas nos pés, como calos, deformidades, úlceras e dor ao caminhar.

Fatores de Risco Extrínsecos

Afetam até 50% dos idosos da comunidade e incluem:

  • Iluminação inadequada.
  • Superfícies escorregadias.
  • Tapetes soltos ou com dobras.
  • Degraus altos ou estreitos.
  • Obstáculos no caminho (móveis baixos, pequenos objetos, fios).
  • Ausência de corrimãos em corredores e banheiros.
  • Prateleiras excessivamente baixas ou elevadas.
  • Roupas e sapatos inadequados.
  • Via pública mal conservada com buracos ou irregularidades.
  • Órteses inapropriadas.

Fatores de Risco Comportamentais

Relacionados a hábitos e atividades, tanto ativas quanto inativas.

Consequências das Quedas

Consequências Físicas

  • Lesões teciduais.
  • Fraturas.
  • Hospitalização.
  • Imobilização e problemas respiratórios.
  • Lesão neurológica.
  • Nível de atividade física reduzido.

Consequências Funcionais

  • Limitações.
  • Abandono de certas atividades.
  • Modificação de hábitos e estilo de vida.
  • Dependência.
  • Perda da independência (afeta 32% a 50% dos idosos).
  • Mudança de comportamento (observada em 9,5% a 35% dos idosos).

Consequências Psicossociais

  • Medo.
  • Sensação de impotência.
  • Desgaste emocional.
  • Depressão.
  • Diminuição da autoestima.
  • Vergonha.
  • Menos otimismo com relação ao futuro.

Avaliação dos Fatores de Risco

É fundamental incluir na anamnese perguntas específicas para identificar os fatores de risco. Tais perguntas devem abordar:

  • História prévia de quedas e suas circunstâncias.
  • Uso e alterações recentes de medicamentos.
  • Evidências de maus-tratos.
  • Doenças musculoesqueléticas.
  • Capacidade funcional.
  • Fatores de risco ambientais.

História da Queda: Perguntas Chave

  • Quantas vezes houve quedas no último ano?
  • Houve alguma consequência?
  • Houve necessidade de procurar um médico?
  • As Atividades de Vida Diária (AVDs) foram restringidas? Qual o motivo?
  • Houve intervenção fisioterapêutica?

Intervenções para Prevenção de Quedas

  • Otimização Medicamentosa

    Revisão e ajuste de medicamentos, especialmente aqueles associados a quedas, como:

    • Antidepressivos.
    • Ansiolíticos.
    • Neurolépticos.
    • Hipnóticos.
  • Exercício Físico

    Embora o tipo, duração e intensidade ideais de exercícios para diminuir o risco de quedas ainda não estejam totalmente estabelecidos, a prática regular é recomendada.

  • Correção dos Fatores de Risco Ambientais

    Para pacientes com histórico de quedas, medidas como o uso de barras de apoio foram consideradas úteis em estudos (ex: um estudo caso-controle com 270 idosos).

O Que Avaliar na Prevenção de Quedas?

Para uma avaliação completa, os seguintes aspectos devem ser considerados:

  • Força muscular dos membros inferiores (MMII).
  • Função física dos membros inferiores (MMII).
  • Força muscular global.
  • Equilíbrio.
  • Mobilidade.
  • Marcha.
  • Fadiga.
  • Resistência.
  • Atividades de Vida Diária (AVD).
  • Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD).

Instrumentos Padronizados para Investigação de Quedas

1. Escala de Equilíbrio de Berg (EEB)

  • Objetivo: Determinar os fatores de risco para perda da independência e para quedas em idosos.
  • Avaliação: Avalia o equilíbrio em 14 itens comuns às atividades da vida diária.
  • Instrumento: Cada item possui uma escala ordinal de cinco alternativas que variam de 0 a 4 pontos, totalizando uma pontuação máxima de 56.
  • Observações: Considera o tempo em que uma posição pode ser mantida, a distância que o membro superior é capaz de alcançar à frente do corpo e o tempo para completar a tarefa. Quanto menor a pontuação, maior o risco de queda.
  • Escores de Risco:
    • Berg et al.: 45 pontos.
    • Chiu, Au-Yeung e Lo: 47 pontos.
    • Shumway-Cook et al.: 49 pontos.
    • Entre 53 e 46 pontos: baixo a moderado risco para quedas.
    • 46 pontos ou menos: alto risco para quedas.

2. Teste de Alcance Funcional (TAF)

  • Objetivo: Identificar o risco de quedas, avaliando a capacidade do idoso de se deslocar dentro do limite de estabilidade anterior.
  • Instrumento: Uma fita métrica é presa à parede, paralela ao chão, e posicionada na altura do acrômio do voluntário.
  • Procedimento: O indivíduo, descalço, é posicionado com os pés confortáveis e paralelos entre si, perpendicularmente em relação à parede e próximo ao início da fita métrica. Os punhos devem estar em posição neutra, cotovelos estendidos e ombro com flexão de 90º. A instrução é inclinar-se para frente sem tocar na fita, e em seguida, verificar o deslocamento sobre ela.
  • Resultado: É calculada a média após três tentativas.
  • Escores de Risco:
    • Deslocamento menor que 15 cm indica fragilidade do paciente e risco de quedas (BERG, 1992; Duncan, 1990; Gomes, 2003).
    • Idosos com alcance funcional menor ou igual a 17 cm apresentam 13 vezes maiores chances de cair.

3. Timed Up and Go (TUG)

  • Objetivo: Avaliar a mobilidade e o equilíbrio funcional.
  • Procedimento: O teste quantifica em segundos o tempo que o indivíduo leva para realizar a tarefa de levantar de uma cadeira (com apoio de aproximadamente 46 cm de altura e braços de 65 cm de altura), caminhar 3 metros, virar, voltar em direção à cadeira e sentar novamente. A posição inicial é com as costas apoiadas na cadeira. A cronometragem é iniciada após o sinal de partida e parada somente quando o idoso se colocar novamente na posição inicial, sentado com as costas apoiadas na cadeira.
  • Escores de Risco (Bischoff et al., 2003):
    • Até 10 segundos: Tempo considerado normal para adultos saudáveis, independentes e sem risco de quedas.
    • Entre 11 e 20 segundos: Esperado para idosos com deficiência ou frágeis, com independência parcial e baixo risco de quedas.
    • Acima de 20 segundos: Sugere que o idoso apresenta déficit importante da mobilidade física e alto risco de quedas.
    • Até 12 segundos: Tempo normal de realização do teste para idosos comunitários.

4. Escala de Tinetti (POMA)

  • Estrutura: Dividida em duas partes, uma que avalia o equilíbrio e outra que avalia a marcha.
  • Avaliação: As tarefas, que simulam Atividades de Vida Diária (AVD), são avaliadas por meio da observação do examinador.
  • Pontuação: A escala de Tinetti compreende 14 tarefas (oito na escala de equilíbrio e seis para avaliação da marcha), variando de 0 a 28 pontos no máximo.
  • Escores de Risco:
    • 19 pontos ou menos: Alto risco para quedas.
    • Entre 19 e 24 pontos: Moderado risco de quedas.

5. Falls Efficacy Scale - International (FES-I-BRASIL) (Camargos, 2010)

  • Objetivo: A classificação de risco da escala FES-I-Brasil concluiu que o escore total é o melhor elemento de associação com o desfecho "queda no último ano".
  • Pontuação e Associação:
    • Maior ou igual a 23 pontos: Sugere associação com queda esporádica.
    • 31 pontos ou mais: Sugere associação com queda recorrente.
  • Observação: A FES-I-Brasil não constitui um instrumento preditivo para quedas no sentido estrito, mas funciona como um indicador da possível ocorrência do evento queda.

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