Quevedo vs Góngora: Análise de Poema Satírico

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Contextualização do Texto

Este poema de Quevedo insere-se no movimento artístico Barroco, caracterizado por uma profunda crise social refletida nas obras dos autores da época, com complicação formal e sentimento pessimista. Esta crise afeta também as esferas política e económica: a Espanha perde a hegemonia política que exercia sobre a Europa, e os reis da época, conhecidos como 'os Áustrias menores', caracterizam-se pela delegação excessiva de poder nos seus validos (ministros). A crise económica leva ao empobrecimento geral do país, agravado por graves epidemias.

No Barroco existem duas tendências literárias: o Culteranismo, cujo principal expoente é Góngora, e o Conceptismo, cujo principal representante é Quevedo.

O Culteranismo caracteriza-se por atribuir grande importância à forma, o uso de neologismos, latinismos e da mitologia, o abuso de metáforas, cultismos, hipérbatos (modificar a ordem lógica das frases), etc.

O Conceptismo caracteriza-se pela associação engenhosa entre palavras e ideias; as palavras assumem múltiplos significados, utilizando uma linguagem complexa.

Como exemplificado por este texto, ambos os autores mantiveram um confronto pessoal contínuo.

Francisco de Quevedo, o autor deste texto, nasceu em Madrid em 1580 e morreu em 1645 em Ciudad Real. Este autor utiliza uma prosa muito complexa, e os seus poemas são ainda mais complicados. Nunca se encarregou da edição das suas obras; pessoas próximas a ele fizeram-no. Obras posteriores foram publicadas, como Las tres musas últimas castellanas, Poderoso caballero es Don Dinero, Érase un hombre a una nariz pegado e Contra Don Luis de Góngora y su poesía, obra à qual deve grande parte da sua fama. Este poema pertence à sua obra satírica e burlesca.

Género Literário

Esta composição de Quevedo está integrada no género lírico, que tem as seguintes características:

  • Discurso muito subjetivo: neste caso, estamos perante uma crítica contundente, pelo que a subjetividade prevalece.
  • Prevalência da função emotiva e poética. A função poética evidencia-se no texto com o vocabulário que o autor utiliza, como na expressão 'orbe postrero'.
  • Voz do eu lírico.
  • Geralmente, cada texto lírico desenvolve um único tema: o tema desta peça é a crítica à suposta homossexualidade de Góngora.
  • Acumulação de recursos técnicos e expressivos: no primeiro quarteto, repetem-se metáforas e hipérboles, entre outros recursos estilísticos.
  • Geralmente escrito em verso, mas também existe prosa lírica: este texto está escrito em verso.

Análise do Conteúdo

O tema desenvolvido por Quevedo neste poema é a crítica à homossexualidade do seu inimigo Góngora.

Quanto aos argumentos, destaca-se uma descrição grotesca do traseiro de Góngora.

Quanto à sua estrutura, o poema divide-se em dois quartetos e dois tercetos, formando um soneto. Os quartetos e o primeiro terceto descrevem grotescamente o traseiro de Góngora, enquanto no último terceto Quevedo acusa o seu inimigo Góngora de ser homossexual.

Análise da Forma

Este soneto é composto por dois quartetos e dois tercetos de arte maior (versos hendecassílabos) com rima consoante (ABBA ABBA CDC DCD).

Neste poema destaca-se a abundância de adjetivos ('postrero', 'antípoda'...), metáforas, e o uso de uma linguagem elaborada ('faz antípoda', 'orbe postrero', etc.), de difícil compreensão para o leitor.

O Texto como Ato de Comunicação

Sendo um texto literário, o autor é o criador da mensagem, o próprio Quevedo; o receptor é o leitor; o código é o castelhano da época; o canal é visual e a mensagem é o tema da obra (a crítica à suposta homossexualidade de Góngora), expondo o argumento (descrição detalhada do traseiro de Góngora).

Conclusão

O texto é uma crítica mordaz de Quevedo ao seu oponente Góngora, focando na sua alegada homossexualidade.

Destaca-se o vocabulário culto e elaborado que o autor utiliza na sua crítica, tornando difícil a compreensão do conteúdo do soneto.

Avaliação Crítica

O tema da homossexualidade, abordado de forma satírica neste soneto, é atualmente uma questão relevante para muitas pessoas.

A homossexualidade é uma questão que tem vindo a ser gradualmente aceite na nossa sociedade, permitindo que pessoas homossexuais expressem a sua orientação sexual com mais confiança. No entanto, ainda há uma elevada percentagem de pessoas que criticam e rejeitam essas pessoas e até mesmo chegam a rotulá-las de 'anormais', 'doentes', etc., tal como acontece, de forma satírica, no poema em análise.

Do meu ponto de vista, nenhuma pessoa deve ser rejeitada ou criticada por ter uma raça, cultura, orientação sexual ou aparência diferente. As pessoas homossexuais são iguais às que muitos consideram 'normais'; o seu aspeto físico e psicológico não difere do que caracteriza o ser humano; a única diferença reside nos seus sentimentos e preferências quanto ao sexo do parceiro, um facto que deve ser tolerado.

Quanto à forma como Quevedo escreveu o seu poema, devo dizer que utiliza uma linguagem muito elaborada, o que dificulta a compreensão por parte das classes média e baixa. Segundo alguns críticos, isso deve-se ao facto de o poeta escrever para um público seleto. Isto parece-me questionável, pois acredito que o objetivo de cada escritor deveria ser que a sua obra alcançasse o maior número possível de pessoas.

Em conclusão, para compreender o poema é necessário possuir um vocabulário rico.

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