Racionalismo vs. Empirismo: Razão e Experiência no Conhecimento

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Racionalismo vs. Empirismo: Fontes do Conhecimento

O Racionalismo e o Empirismo divergem nas suas fontes primárias de conhecimento: a razão e a experiência sensível, respetivamente. Para o Racionalismo, o conhecimento emana da razão, sendo a priori, logicamente necessário e universalmente válido. Em contrapartida, o Empirismo postula que a mente é uma tábua rasa, na qual a experiência escreve; nada existe na razão que não tenha sido previamente apreendido pelos sentidos.

Descartes: A Dúvida Metódica e o Cogito

René Descartes inicia o seu percurso filosófico pela dúvida hiperbólica, questionando tudo o que possa suscitar a mínima incerteza, desde os dados sensoriais às verdades matemáticas. Nesta jornada de dúvida, descobre a sua existência como substância pensante, expressa na célebre máxima: "Penso, logo existo". O cogito, a certeza inabalável do pensamento, torna-se o alicerce sobre o qual Descartes constrói todo o seu edifício do conhecimento.

A hipótese do génio maligno eleva a dúvida ao seu extremo, servindo para reforçar a primazia do cogito. Mesmo perante a possibilidade de um génio enganador, a própria dúvida pressupõe a existência; duvidar implica pensar, e pensar confirma a existência.

Através da dúvida, Descartes alcança verdades claras e distintas, como o cogito. Ao duvidar dos sentidos, das demonstrações matemáticas e dos sonhos, a dúvida, enquanto instrumento metodológico, permite-lhe encontrar uma verdade indubitável: o pensamento. Munido deste primeiro princípio claro e distinto, Descartes está apto a edificar o seu sistema de saber verdadeiro.

Para Descartes, Deus é o garante do conhecimento verdadeiro, assegurando a evidência da clareza e distinção. Sendo Deus o criador do mundo e do entendimento humano, dotou o ser humano de uma capacidade que o impede de se enganar quando apreende um conhecimento claro e distinto. Assim, a razão pode aspirar a um conhecimento verdadeiro e universalmente válido.

Hume: Impressões, Ideias e a Associação de Ideias

David Hume distingue entre impressões e ideias com base no seu grau de vivacidade e intensidade. As ideias são cópias menos intensas e vivas das impressões, originadas pela memória e imaginação, e alcançadas por reflexão. As impressões, por outro lado, são as perceções mais fortes e vivas, constituindo o material primitivo do conhecimento.

Segundo Hume, as ideias associam-se por três princípios fundamentais:

  • Semelhança: A semelhança entre objetos leva o pensamento de um a evocar o outro.
  • Contiguidade: A proximidade no espaço e/ou no tempo entre objetos faz com que a ideia de um conduza à do outro.
  • Causa e Efeito: A relação entre causa e efeito permite que, perante um efeito, se pense na causa, e vice-versa.

O hábito ou costume é a base da relação causal entre ideias. Hume exemplifica com a associação entre neve e frio, ou chama e calor. Esta relação não é adquirida pela experiência, por mais extensa que seja, nem pela razão, mas sim pelo hábito. O hábito leva-nos a estabelecer relações causais, levantando o problema da indução, uma vez que as inferências baseadas na imaginação antecipam o futuro, sem garantia de que a associação se concretize. Como Hume afirma: "sem a influência do costume, seriamos plenamente ignorantes em toda a questão de facto para além do que está imediatamente presente à memória e aos sentidos."

Conclusão: Razão vs. Experiência

Em suma, o Racionalismo defende que o conhecimento provém da razão, única via para obter um saber universal e logicamente válido. O Empirismo, por sua vez, afirma que a fonte do conhecimento é a experiência sensível, pois a mente é inicialmente uma tábua rasa, onde a experiência inscreve todo o conhecimento, sendo este sempre a posteriori.

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