Reabilitação Respiratória: Avaliação, Intervenção e Benefícios

Classificado em Desporto e Educação Física

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Reabilitação Respiratória: Avaliação e Intervenção

A reabilitação respiratória é um componente fundamental no cuidado de pacientes com doenças pulmonares, como a DPOC. Sua oferta é fortemente recomendada como padrão nos cuidados clínicos em todo o mundo.

Definição

É uma intervenção abrangente baseada em uma avaliação completa do paciente, seguida de terapias personalizadas. Inclui exercício físico, educação, mudança de comportamento e outras, projetadas para melhorar a condição física e psicológica de pessoas com doença respiratória crônica. Além disso, promove a adesão a longo prazo de comportamentos que melhoram a saúde.

Componentes

Exercício

  1. Treino aeróbio
  2. Treino de força
  3. Equilíbrio
  4. Flexibilidade e alongamento
  5. Músculos respiratórios
  6. Estratégias respiratórias
  7. Treino funcional

Educação

  1. Integrar o programa de exercícios
  2. Prevenir sintomas e orientar a toma de medicação
  3. Gestão da respiração e técnicas de conservação de energia
  4. Gestão do estresse e ansiedade
  5. Integrar uma dieta saudável
  6. Manter uma vida saudável
  7. Oxigenoterapia

Comportamentos

  1. Exercício físico
  2. Atividade física
  3. Atividades de vida diária
  4. Técnicas de higiene brônquica
  5. Cessação tabágica

Reabilitação Respiratória

  • Aumento da capacidade de exercícios (Evidência A, Recomendação 1)
  • Componente educacional para autogestão da doença (Evidência A, Recomendação 1)
  • Redução do declínio funcional e aceleração da recuperação (Evidência A, Recomendação 1)
  • Início precoce após hospitalização reduz recorrência (Evidência A, Recomendação 2)

Benefícios para o Paciente

  • Aumento da capacidade de exercício, função muscular e realização das AVDs
  • Aumento do equilíbrio
  • Diminuição da sintomatologia (dispneia, fadiga)
  • Aumento da qualidade de vida
  • Aumento da autoeficácia e conhecimento sobre a doença
  • Diminuição de sintomas de ansiedade e depressão
  • Diminuição do isolamento social

Benefícios para os Serviços de Saúde

  • Diminuição das idas à emergência e do número de internamentos
  • Redução do tempo de internação
  • Diminuição de consultas não programadas e da mortalidade
  • Redução da dependência dos serviços de saúde

Equipe Multidisciplinar

  • Médico (pneumologista, clínico geral, fisiatra, cardiologista)
  • Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Enfermeiro
  • Nutricionista, Fisiologista do exercício, Técnico de cardiopneumologia
  • Farmacêutico, Psicólogo, Assistente social, Gestor do programa

Admissão aos Programas de Reabilitação Respiratória

Indicada para pessoas com doença respiratória crônica e:

  1. Sintomas persistentes e qualidade de vida diminuída
  2. Estado funcional e emocional comprometidos
  3. Diminuição da participação nas atividades de vida diária
  4. Incapacidade de ajustar à doença
  5. Estado nutricional comprometido
  6. Exacerbações/hospitalizações frequentes
  7. Trocas gasosas comprometidas
  8. Motivação do paciente

Patologias Obstrutivas

  • DPOC, Asma, Fibrose cística, Bronquiectasias

Patologias Restritivas

  • Doenças do interstício, da parede torácica, neuromusculares

Outras Patologias

  • Câncer de pulmão, Hipertensão pulmonar, Pré e pós-cirurgias

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Fatores Importantes

  • O VEF1 não se correlaciona bem com a função física, emocional e social.
  • O VEF1 não prevê a probabilidade de desistência.
  • A reabilitação respiratória tem impacto em todos os graus de severidade da doença.

VEF1 não tem valor como critério de seleção para Reabilitação Respiratória em pessoas com DPOC.

Exclusões

Doença ortopédica e neurológica grave que comprometam a mobilidade e cooperação.

Limitações

Patologias não controladas (psiquiátricas e cardíacas), hábitos tabágicos.

Reabilitação Respiratória: Duração e Frequência

Duração: Mínimo de 6 a 8 semanas. Programas mais longos têm benefícios mais abrangentes.

Frequência: Mínimo 3x/semana. Uma sessão pode ser realizada fora do centro especializado.

Idealmente, a intervenção teria o tempo necessário para ganhos. Na prática, a duração é definida pela capacidade de resposta dos programas.

Reabilitação Respiratória: Avaliação dos Pacientes

Essencial para medir a mudança e o impacto do programa.

Outcomes clínicos/fisiológicos: Dispneia, fadiga, capacidade de exercício funcional, função muscular dos membros inferiores.

Reabilitação Respiratória: Avaliação da Capacidade de Exercício

Definição: Esforço físico máximo que um paciente pode suportar. Associação direta com melhor prognóstico e sobrevivência.

Tipos de testes: Laboratório e Campo.

A avaliação prévia ao treino individualiza a prescrição, avalia a necessidade de ajuda (oxigênio), descarta contraindicações e garante segurança.

Reabilitação Respiratória: Diminuição da Capacidade de Exercício

Fatores Multifatoriais: Limitações ventilatórias, alterações nas trocas gasosas, disfunção cardíaca, disfunção muscular periférica, comorbidades (síndrome metabólica, diabetes, má nutrição, patologias musculoesqueléticas, ansiedade e depressão).

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Disfunção Cardíaca

Pode haver complicações como aumento do ventrículo direito, hipertrofia e insuficiência ventricular direita, e arritmias.

Disfunção Muscular Periférica

Paciente com DPOC e exacerbação grave (com hospitalização) pode apresentar redução da força do quadríceps. Relacionado com aumento da inatividade e inflamação sistêmica.

Reabilitação Respiratória: Avaliação da Capacidade de Exercício - Testes de Laboratório

Fornecem informações sobre: fatores limitantes do exercício, nível de incapacidade, objetivos da intervenção, prescrição do exercício, resposta à intervenção e prognóstico.

Reabilitação Respiratória: Prescrição do Exercício Físico

FITTVP: Frequência, Intensidade, Tempo, Tipo, Volume, Progressão.

F: 3-5 dias/semana em 8-10 semanas.

T: 60 minutos/sessão (30 minutos de exercício aeróbio).

Prescrição do Exercício Aeróbio para os Membros Inferiores

ATS/ERS: Bicicleta ou marcha (piso normal ou tapete).

Intensidade >60% da potência máxima ou Borg 4-6 (intensidade moderada).

20 a 60 minutos (normalmente 30 min).

Métodos para prescrever a intensidade inicial:

Método 1: 60% da potência máxima atingida no teste de esforço.

Método 2: 75 a 85% da velocidade no teste de caminhada de 6 minutos (6MWT) ou 60 a 70% no teste de caminhada intermitente (ISWT).

Exemplo de prescrição com base no 6MWT: Se a pessoa caminha 420m em 6 minutos, sua velocidade média é 4,2km/h. A 80% dessa velocidade (3,36km/h), em 20 minutos, a pessoa deve atingir ~1120m.

A prescrição não é feita pela FC, mas pelos sintomas e desempenho. Na DPOC, a FC pode não representar o esforço real.

Treino Contínuo (Aeróbio)

  1. Intensidade: 60-70% da potência máxima.
  2. Tempo: Inicialmente 10-15 minutos, progredindo para 30-40 minutos.
  3. Borg: 4-6.

Treino Intervalado

  1. Intervalos: 30 segundos de esforço e 30 segundos de repouso ou 20 segundos de esforço e 40 de repouso ativo.
  2. Intensidade: 30-40% para garantir a duração do treino, com pico de 80-100%.
  3. Tempo: Inicialmente 10-15 minutos, progredindo para 45-60 minutos.
  4. Borg: 4-6.

Prescrição do Exercício Aeróbio para os Membros Superiores

Menos evidência em comparação com membros inferiores. Recomenda-se focar nos membros inferiores.

Explicações: Maior recrutamento muscular nos membros inferiores, maior consumo de O2, maior débito cardíaco. Treino de membros superiores pode aumentar a PA em pacientes com HTA.

Oxigênio Suplementar

Indicações: Pacientes com hipoxemia em repouso ou dessaturação induzida pelo exercício. Decisão em conjunto com o médico.

Como: Verificar se a suplementação previne a dessaturação no exercício (ex: teste a 75% da potência máxima com e sem oxigênio).

Objetivos: Aumentar PaO2, otimizar o suprimento de oxigênio muscular, diminuir a ventilação e o lactato, e reduzir a dispneia.

Administrar oxigênio apenas em pacientes com hipoxemia em repouso ou exercício.

Prescrição do Treino de Força Muscular

Modo: Instrumental (máquinas) ou pesos/halteres.

Intensidade: Borg ou % de RM (resistência máxima).

Especificidade: Membros superiores e inferiores; grandes grupos musculares; “single leg at a time” se doença grave.

Melhor tolerado que o treino aeróbio em pacientes com doença avançada.

Modalidades: 2 a 3x/semana. Intensidade: 60-70% de 1RM ou 100% de 8-12RM ou Borg 4-6.

Métodos para Prescrever Treino de Força

  1. Aquecimento.
  2. Determinar 1RM ou 10RM em quatro tentativas com descanso de 3 a 5 minutos entre elas.
  3. Aumentar a resistência progressivamente.

Exemplo 1RM: Se 1RM = 20kg, iniciar com 60-70% (12-14kg).

Exemplo 10RM: Iniciar com o peso da 10RM.

Alternativa: Cargas que causam fadiga após 8 a 12 repetições.

Para idosos, pacientes descondicionados, dispneicos, frágeis ou sedentários:

  1. Uma série de 10 a 20 repetições a 40-50% de 1RM.
  2. Descanso entre séries: 2-3 minutos.
  3. Descanso entre sessões: >48h.

Treino dos Músculos Inspiratórios

Recomendado se PIM ≤ 60 cmH2O e/ou hiperinsuflação pulmonar.

Não há evidência de benefício como rotina.

Exemplos: Threshold IMT/PowerBreathe.

Frequência: 5-7 dias/semana. Intensidade inicial: 30% de PIMmáx. Duração: 7 séries de 2 minutos com 1 minuto de repouso.

Flexibilidade e Controle Neuromuscular

Não há indicações específicas nas guidelines. Personalizar os programas.

Reabilitação Respiratória: Educação

Educação: Fornecer informações e conselhos. Sessões didáticas são insuficientes para autogestão.

Autogestão: Estratégia para melhorar comportamentos de saúde e aumentar a responsabilidade do paciente.

Intervenção estruturada e personalizada para motivar e apoiar pacientes na adoção de comportamentos saudáveis e melhorar a gestão da doença.

Autogestão

  1. Explicar anatomia e fisiologia pulmonar.
  2. Explicar a fisiopatologia das doenças respiratórias crônicas.
  3. Ensinar estratégias de respiração.
  4. Interpretar exames médicos.
  5. Explicar oxigenoterapia e outras medicações.
  6. Explicar os benefícios do exercício e da reabilitação.
  7. Ensinar técnicas de conservação de energia para AVDs.
  8. Orientar sobre estilo de vida e alimentação.
  9. Abordar exacerbação e toma de medicação.

Grupos A, B e E: Comportamentos/fatores de risco, cessação tabágica, atividade física, sono e dieta.

Grupos B e E: Autogestão da respiração (dispneia), conservação de energia e gestão do estresse/ansiedade.

Grupo E: Evitar fatores agravantes, monitorar e gerir sintomas, plano de ação e contato regular com profissional de saúde.

A educação deve focar nos pacientes com maior risco de sintomas e exacerbações.

Sistema Cardiovascular

Constituído por coração, sistema vascular e sangue.

Funções:

  1. Suprimento de nutrientes e oxigênio.
  2. Remoção de produtos finais do metabolismo.
  3. Regulação da temperatura.

Coração bombeia sangue, criando pressão hidrostática.

Circulação pulmonar: Libera CO2 e capta O2.

Circulação sistêmica: Libera O2 e capta CO2.

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Células do Coração

Células contráteis (99%): Bombeiam o sangue.

Células Autoexcitáveis

Localizadas no nódulo sinoatrial (SA), nódulo atrioventricular (AV) e fibras de Purkinje.

Marcapasso natural (átrio direito): Inicia os potenciais de ação, determinando a FC.

Células Condutoras

Propagam o sinal elétrico para o miocárdio, assegurando a condução organizada dos impulsos.

Sistema Nervoso Parassimpático: Diminui FC e velocidade de condução.

Sistema Nervoso Simpático: Aumenta FC, velocidade de condução e contratilidade.

Eventos Mecânicos do Ciclo Cardíaco

Sístole: Contração ventricular.

Diástole: Relaxamento ventricular.

Contração atrial ocorre na diástole ventricular, e relaxamento atrial ocorre na sístole ventricular.

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Débito Cardíaco

DC = FC x VS

FC: ~5L/min em repouso.

VS: Regulado por:

  1. Volume diastólico final (influenciado pelo retorno venoso).
  2. Pressão arterial média (aórtica) pós-carga.
  3. Força de contração (catecolaminas).

Receptores de pressão no átrio direito informam o centro cardiovascular sobre o retorno venoso.

Lei de Frank-Starling

Aumento do retorno venoso → Aumento do volume diastólico final → Aumento da força de contração → Aumento do volume sistólico.

Retorno venoso aumentado por:

  1. Constrição simpática das veias.
  2. Contração muscular esquelética.
  3. Bomba ventilatória.

O alongamento das fibras cardíacas melhora a contração.

Pressão Arterial (PA)

Força exercida pelo sangue contra as paredes arteriais.

PA = DC x RVP

RVP = comprimento x viscosidade / raio4

PA regulada por:

  1. Sistema nervoso simpático.
  2. Rins.

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