Reabsorção Radicular Pós-Ortodontia: Revisão e Caso Clínico

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Resumo

Introdução

A severidade da reabsorção apical está associada a vários fatores do tratamento ortodôntico como: a duração do tratamento, magnitude das forças aplicadas e o tipo de aparelho ortodôntico.

Objetivo

Demonstrar, por meio de um relato de um caso clínico, o processo de reabsorção apical após tratamento ortodôntico. O grau de reabsorção radicular pode estar relacionado ao uso de aparelho ortodôntico fixo por tempo prolongado. The degree of root resorption can be related to the use of fixed orthodontic for a long time.

A susceptibilidade ou predisposição genética às reabsorções dentais não são cientificamente comprovadas, mas merecem atenção no momento do planejamento do tratamento ortodôntico1-2.

A reabsorção apical da raiz é um problema iatrogênico sério, que pode estar associado ao tratamento ortodôntico. A reabsorção da raiz é definida como um processo fisiológico ou patológico que se traduz na perda de cemento e dentina3.

A reabsorção generalizada moderada caracteriza-se por apresentar uma proporção de encurtamento radicular variável entre os dentes. A reabsorção generalizada severa parece não estar diretamente ligada ao tratamento ortodôntico, porque indivíduos que não foram submetidos a ele apresentam a alteração. Sua etiologia ainda não é completamente conhecida e o tratamento ortodôntico não é tido como principal fator etiológico. Já a reabsorção localizada severa caracteriza-se por atingir dentes isolados e tem o tratamento ortodôntico como fator etiológico predominante. Os incisivos superiores são os dentes de maior risco para esse tipo de reabsorção.

O deslocamento horizontal do ápice é o responsável pela reabsorção radicular5. A reabsorção externa radicular inicia-se 14 a 20 dias após a aplicação da força ortodôntica e continua durante a ação desta3,6. Dessa forma, geralmente, há a restauração do contorno original da raiz, exceto quando a ação é sobre a superfície radicular produzindo efeitos deletérios ao ápice. Nesse caso, este acaba se separando da própria superfície radicular, formando ilhas. Logo, sempre que uma porção de cemento ou dentina for totalmente removida, a reposição por cemento não ocorrerá quando o movimento ortodôntico cessar4.

A reabsorção radicular devido ao tratamento ortodôntico acomete 90,5% dos dentes permanentes, sendo o arredondamento do ápice radicular considerado normal7. A incidência de reabsorção radicular pós-tratamento ortodôntico corresponde a 100%, ou seja, nenhum tratamento ortodôntico é possível sem a reabsorção radicular4. Acredita-se que a reabsorção radicular, na maioria das situações, é clinicamente insignificante e não põe em perigo a vitalidade ou funcionalidade dental8.

A reabsorção radicular, ao contrário da reabsorção óssea, é imprevisível e dependente de vários fatores como o tipo de aparelho e as forças utilizadas, a duração. Análises anteriores de estudos revelaram que o comprimento da raiz após o tratamento esteve relacionado significativamente com a idade do início do tratamento11. Em indivíduos mais jovens, mesmo que o tratamento seja prolongado, o grau de reabsorção é menor. Os tipos de reabsorções que se associam ao tratamento ortodôntico são: reabsorção superficial e apical. A diferença básica entre elas é que a primeira sofre reparo e a segunda leva ao encurtamento permanente da raiz12.

A magnitude da força ortodôntica e o tipo de movimento do dente são considerados fatores etiológicos da reabsorção radicular, principalmente quando são empregados no dente em direção desfavorável ou quando o dente apresentar sistema de sustentação enfraquecido3,13-14 acreditam que a maior quantidade de reabsorção está relacionada com um tempo de tratamento mais prolongado. Porém, quando a movimentação é muito extensa, o tempo de tratamento também o é. Não foram encontradas relações significativas entre a extensão da reabsorção e parâmetros como idade, tempo de tratamento, sexo e classificação de Angle15. Autores discorrem sobre a influência genética6,16.

As pesquisas tendem a mostrar que o tempo de tratamento não é um fator de risco para a reabsorção radicular ou não pode ser considerado, por si só, a causa primária da perda radicular17, mas existem certamente evidências ao contrário. Essa polêmica ocorre provavelmente devido ao fato de que o tempo de tratamento não reflete necessariamente a severidade inicial da má oclusão, a quantidade de movimento dental para corrigir a má oclusão ou mesmo a quantidade e a duração da força colocada sobre os incisivos superiores durante o tratamento17.

A exposição da raiz a uma força, por um longo período de tempo, influencia a reabsorção radicular19. Quanto maior o stress causado, mais extensa é a reabsorção radicular causada, porque ocorre comprometimento do processo de reparação20-22. A aplicação de forças intermitentes resulta em uma menor reabsorção radicular quando comparada à aplicação de uma força contínua. A pausa no tratamento com forças intermitentes permite que o cemento seja reabsorvido favorecendo o reparo e prevenindo uma maior reabsorção20.

Quanto aos movimentos, os de intrusão e torque são os mais lesivos3,12,23.

Os autores sugeriram que há uma relação entre reabsorção radicular e predisposição do indivíduo. Dessa forma, a predisposição individual24 foi fortemente sugerida como.

A partir de estudo, concluiu-se que os incisivos superiores mostraram maior reabsorção radicular que os outros dentes, quando comparados nos estágios iniciais e finais da mesma25. E há autores que acreditam que dentre esses, os centrais são os mais acometidos3,4,13,26. Os incisivos superiores são os mais frequentemente afetados e isso ocorre, pelo menos em parte, pelo fato de esses dentes serem os primeiros a responder à ativação do dispositivo fixo23.

A reabsorção radicular pode ser detectada nos primeiros passos do tratamento ortodôntico2. As possibilidades de tratamento dos dentes afetados tornam-se mínimas quando o diagnóstico é tardio. As radiografias são de grande valia para detecção precoce do problema, aumentando as chances de sucesso no tratamento e prognóstico ortodôntico. As radiografias periapicais são superiores às panorâmicas, oclusais, cefalométricas laterais e telerradiografias para o estudo das estruturas radiculares, principalmente quando obtidas pela técnica do paralelismo13,17,23.

A evidência clínica de reabsorção radicular pode determinar uma revisão do plano de tratamento a fim de evitar mobilidade excessiva e perda do dente29. A reabsorção pode ser estatisticamente significativa, mas, muitas vezes, sem importância clínica3.

A reabsorção radicular decorrente do tratamento ortodôntico, geralmente, cessa após o término do tratamento, porém, quando progride, é decorrente de um processo de remodelação radicular apical. Recomendam o ajuste oclusal seis meses após a remoção do aparelho ortodôntico, bem como o acompanhamento efetivo de 2 a 3 anos nos casos com reabsorção radicular pronunciada11.

Diante do acima exposto, objetivou-se com esse estudo realizar:

  • uma revisão de literatura sobre o processo de reabsorção radicular apical, as etiologias e os fatores biológicos associados;
  • um relato de um caso clínico no qual a paciente foi submetida ao tratamento ortodôntico e, posteriormente, ao retratamento ortodôntico.

Há ausência de arredondamento ou encurtamento radicular apical. Devido a um desalinhamento dental recidivante, a paciente retornou à terapia aos 15 anos e não foram solicitadas.

A paciente relatou muita dor nos elementos dentais, sendo este o motivo principal pelo qual ela solicitou a remoção do aparelho ortodôntico.

A interpretação radiográfica sugeriu arredondamento radicular apical de forma generalizada e encurtamento radicular apical, principalmente dos elementos 11 e 21 (Fig. 2 e 3).

Radiografia panorâmica inicial.

Figura 2. Arredondamento apical em radiografias periapicais de acompanhamento. Destaque para os incisivos centrais superiores.

No planejamento inicial, a paciente foi informada da existência de uma reabsorção radicular acentuada, o que limitaria o estabelecimento de um novo tratamento ortodôntico. Foi sugerido um tratamento ortodôntico com mínima intensidade de força aplicada, para que a reabsorção radicular fosse a menor possível.

A paciente, por receio de potencializar a reabsorção radicular, optou por não realizar um novo tratamento ortodôntico.

A reabsorção generalizada moderada caracteriza-se por apresentar uma proporção de encurtamento radicular variável entre os dentes. A reabsorção generalizada severa parece não estar diretamente ligada ao tratamento ortodôntico, porque indivíduos que não foram submetidos a ele apresentam a alteração. Sua etiologia ainda não é completamente conhecida e o tratamento ortodôntico não é tido como principal fator etiológico. Já a reabsorção localizada severa caracteriza-se por atingir dentes isolados e tem o tratamento ortodôntico como fator etiológico predominante. Diante disso, pode-se classificar o tipo de reabsorção radicular do presente caso clínico como uma reabsorção localizada severa, uma vez que, ao se observar a figura 2, nota-se o encurtamento radicular apical dos elementos 11 e 21.

Situações de reabsorção radicular devido ao tratamento ortodôntico sempre ocorrem e o arredondamento do ápice radicular é considerado normal, porém são insignificantes e não põem em perigo a vitalidade ou funcionalidade dental3,7. Corroborando alguns estudos3,26,13,4, os incisivos centrais da maxila são os mais afetados pela reabsorção apical da raiz, após terapia ortodôntica.

O relacionamento da idade com a maior reabsorção radicular não foi comprovada9, entretanto, foram observadas diferenças na quantidade de reabsorção radicular entre pacientes adultos e adolescentes6. Pessoas com idade mais avançada em indivíduos mais jovens, mesmo que o tratamento seja prolongado, o grau de reabsorção é menor. Entretanto, a paciente apresentou graus elevados de reabsorção ao fim do tratamento, sendo ainda jovem, o que contraria a ideia de Selow et al.28.

A reabsorção radicular associa-se a vários fatores como o tipo de aparelho e as forças utilizadas, a duração do tratamento, a extensão do movimento dental e a idade do paciente12. Pode-se sugerir que essa potencialização no grau de reabsorção dental, apesar da pouca idade da paciente, ocorreu devido a uma magnitude de força ortodôntica exagerada associada ao tempo prolongado do tratamento, o que concorda com os estudos de Mavragani11. Se os casos que exigem movimentos mais extensos são os que demandam mais tempo, então não convém responsabilizar apenas a duração do tratamento pelo maior grau de reabsorção. Dessa mesma forma, pode-se realizar muita movimentação, em pouco tempo, tendo como consequência uma maior reabsorção3.

Deve haver uma padronização de imagens, para se poder usar uma metodologia quantitativa13-14,17,23.

No presente caso clínico observou-se que o tempo de tratamento ortodôntico e a magnitude de força, considerados agentes causadores da reabsorção radicular, foram fundamentais para a intensificação do processo, portanto, aconselha-se que o movimento ortodôntico tenha mínima duração e deve ser intermitente8,20-22.

Referências

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