Realismo Mágico: Origem, Características e Análise de 'A Casa dos Espíritos'
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Realismo Mágico
O Realismo Mágico, nascido na América, tem suas raízes na história e na descrição de elementos absolutamente maravilhosos que causaram surpresa nos navegadores, as coisas que viram em suas viagens. A partir desta tradição de interpretação da realidade do Novo Continente pelos olhos europeus, estabeleceu-se uma visão sobrenatural da realidade latino-americana, desde animais fantásticos a cidades escondidas, passando por fontes da eterna juventude e árvores cujos frutos eram capazes de fornecer tudo o que os homens necessitavam para a sua subsistência.
Autores como Alejo Carpentier, que cultivou o realismo mágico em romances como "Os Passos Perdidos", são precursores. Os principais autores do gênero incluem Miguel Ángel Asturias, Carlos Fuentes, Julio Cortázar, Mario Vargas Llosa, Isabel Allende e, acima de tudo, Gabriel García Márquez. O mérito desses autores foi o de dar o mesmo valor à realidade objetiva que à subjetiva, e alertar contra o perigo de identificar o realismo mágico americano com o exotismo.
Definição do Realismo Mágico
O realismo mágico desenvolveu-se bastante nas décadas de 60 e 70, fruto das discrepâncias entre as duas visões que coexistiam na América Latina: a cultura da tecnologia e a cultura da superstição. Define-se como uma tentativa de renovação literária que surge do desejo de descobrir a singularidade e as preocupações estilísticas americanas, e do interesse em mostrar o irreal ou o estranho como algo diário e comum. Além disso, surgiu como uma forma de reagir aos regimes ditatoriais da época. Como? A realidade não é única, não há uma só verdade; existem outros valores além da corrupção, da tirania e do triunfo do vício. É, acima de tudo, uma atitude perante a realidade.
Características do Realismo Mágico
- O maravilhoso real, o fantástico, não é tangencial à realidade, mas um componente básico que a enriquece.
- A literatura é bastante experimental. Aparecem nos romances estruturas narrativas complicadas, e a polifonia narrativa quebra o tempo.
- Os cenários americanos estão localizados principalmente nos níveis mais difíceis de pobreza e marginalização social, em zonas rurais e, muitas vezes, em condições precárias.
- O conceito mágico e mítico faz parte do cotidiano das pessoas.
- A morte é muito presente na vida dos personagens; não se sabe se alguns não são mortos-vivos, mas é possível morrer e viver novamente.
Análise Estrutural: A Casa dos Espíritos
A Casa dos Espíritos é um romance que se divide em catorze capítulos e um epílogo.
Estrutura Externa
O romance é dividido em catorze capítulos e um epílogo.
Estrutura Interna
A estrutura interna pode ser dividida em duas partes e um epílogo:
- A história familiar e da família Trueba del Valle constitui a primeira parte (capítulos 1-10). Aqui, o primeiro plano é ocupado pelos aspectos mais românticos e pelo desenvolvimento da história narrativa, que tem um ritmo mais lento.
- A segunda parte assume um papel de liderança na turbulenta história do país (capítulos 11 ao final). Esta segunda parte é precedida, no Capítulo X, pela morte de Clara, que intensifica o horror e os eventos que se seguirão. Nesta segunda parte, os eventos se sucedem rapidamente, o ritmo da narrativa torna-se mais ágil, e o primeiro plano da narrativa é ocupado por acontecimentos históricos.
Estas duas partes do romance entrelaçam duas histórias que se complementam: a memória individual e familiar, com sua teia de mistério e realidade, e a memória coletiva. Ambas as histórias se reúnem na ficção. As fases da vida da família Trueba del Valle são um reflexo da realidade chilena. Aqui se encontram histórias incríveis de pessoas que leem livros retirados de troncos mágicos, aparições que se sentam à mesa com a família, e histórias passadas de geração em geração. No entanto, no fundo, são abordados temas como a sociedade patriarcal, o abuso das mulheres, o sufrágio de Nívea del Valle, a chegada do telefone, e o status dos agricultores.
Na segunda parte, a História (com H maiúsculo, referindo-se a eventos históricos) impõe-se sobre a história (com h minúsculo, referindo-se à narrativa ficcional), talvez porque o processo social determine a trama ficcional. Exemplos incluem as eleições presidenciais, o crescimento dos sindicatos, a luta dos trabalhadores, as greves e as manifestações do proletariado, e o discurso de Allende à saída do Palácio de La Moneda. Portanto, essa sucessão rápida de eventos marca o desaparecimento dos personagens principais.
O epílogo, que encerra o livro, une a história (ficcional) e a História (real), conferindo à estrutura uma característica circular.