Realismo Mágico e Pós-Boom em A Casa dos Espíritos

Classificado em Língua e literatura

Escrito em em português com um tamanho de 3,34 KB

Isabel Allende faz parte do fenômeno artístico que se seguiu ao "boom" do Realismo Mágico e da renomeada Nova Narrativa ou postboom, romances escritos por volta de 1980.

Duas características herdadas do realismo mágico em Isabel Allende respondem às expectativas dos leitores pré-europeus deslumbrados com o "boom" hispânico.

Em A Casa dos Espíritos, vemos uma atmosfera misteriosa, em particular na residência dos Del Valle e em suas filhas, Rosa, de pele branca e longos cabelos verdes, e Clara, sonâmbula, imersa em um mundo interior descrito quando ela decide parar de falar (em sua casa, objetos têm vida própria e falam; as leis da física ou lógica nem sempre funcionam; combina a verdade prosaica das coisas materiais com a verdade dos sonhos tumultuados...).

Em A Casa dos Espíritos estão os quatro tipos de fatos do Realismo Mágico indicados para estudar as obras de García Márquez:

  • o mágico, o miraculoso, o fantástico, o mítico e o lendário.

Segundo Isabel Allende, não importa a fantasia dos contos de fadas em si, mas a inclusão na história contada da imaginação e do esotérico para explicar e sentir melhor a realidade, pois tudo isso junto faz parte dela. Por outro lado, fatos do cotidiano, mesmo os muito racionais, são percebidos pelos personagens como extraordinários.

Outras características do realismo mágico que vemos em A Casa dos Espíritos, sempre atenuadas, são:

Narradores múltiplos

Combinando a narrativa em terceira pessoa e em primeira pessoa, dando perspectivas diferentes para a mesma ideia e complexidade ao texto (Ver "O ponto de vista e narrador em A Casa dos Espíritos").

Polifonia

Diferentes visões e ofertas ambíguas, perturbando-nos simultaneamente, uma realidade complexa. O leitor não sabe o que esperar, não há fronteiras entre imaginação e realidade; tudo faz parte de uma nova realidade mágica formada pela soma das realidades das diferentes vozes que aparecem na história.

Não-linear de estruturas narrativas com pausas frequentes

Pausas frequentes no tempo, que se repete ou lembra o passado. O pós-"boom" moderou esse recurso para torná-lo acessível ao leitor (Ver "Tempo em A Casa dos Espíritos").

O pós-boom: a nova narrativa

No pós-"boom", há a explosão de três eixos marginais que caracterizam o novo trabalho, mais focado e mostrando uma realidade dominada pela pobreza, o subdesenvolvimento ou ditaduras:

  • Testemunho realista (tudo é pura realidade)
  • Cultura popular (presença maciça de recursos da cultura hispânica)
  • Feminismo (importante papel das mulheres na obra; foco na luta das mulheres pela liberdade)

Características do pós-boom são facilmente reconhecíveis:

  • Natureza literária realista (incluindo alguns elementos da literatura popular)
  • Recorrência da Memória (emprego de tópicos históricos)
  • Os limites entre realidade e ficção se confundem (elementos mágicos são itens de uso diário, mas com menos destaque que no RM)
  • Elementos da cultura jovem (drogas, sexo, etc.)
  • Protagonismo (mulheres), a presença do amor e do humor (elementos da comunicação cotidiana, por vezes com traços absurdos)

Entradas relacionadas: