Realismo e Naturalismo em Portugal: Ciência e Análise Social

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Em Portugal, o Realismo e o Naturalismo, à semelhança do que ocorre com a literatura francesa, são duas direções estéticas com certa independência.

Diferenciação Estética e o Papel da Ciência

Saindo do Realismo, a que é posterior cronologicamente, o Naturalismo dele se diferencia por conduzir a ciência para o plano da obra de arte, fazendo desta como que meio de demonstração de teses científicas, especialmente da psicopatologia.

Realismo: Esteticismo e Limite Analítico

O Realismo, mais esteticizante, embora se apoie no que as ciências do século XIX vinham afirmando e desvendando, não vai até à profundidade analítica do Naturalismo, donde advém a sua não preocupação pela patologia, característica do romance naturalista.

A Posição Combativa do Naturalismo

A par disso, enquanto o Naturalismo implica uma posição combativa, de análise, dos problemas que a decadência social evidenciava, fazendo da obra de arte uma verdadeira tese com intenção científica, o Realismo apenas “fotografa” com certa isenção a realidade circundante, sem ir mais longe na pesquisa, sem trazer a ciência, dissertativamente, para o plano da obra.

A Metáfora das Luvas na Análise Social

O romance realista encara a podridão social usando luvas de pelica, numa atitude fidalga de quem deseja sanar os males sociais, mas sente perante eles profunda náusea, própria dos sensíveis e estetas. O naturalista, controlando a sua sensibilidade, ou acomodando-a à ciência, põe luvas de borracha e não hesita em chafurdar as mãos nas pústulas sociais e analisá-las com rigorismo técnico, mais de quem faz ciência do que literatura.

Conclusão: Pontos de Contacto e Confusão

Em suma, realistas e naturalistas amparam-se nos mesmos preconceitos científicos, bebidos na atmosfera cultural que envolve a todos, mas diferenciam-se no modo como aproveitam os dados de conhecimento na sua obra de arte.

Essas diferenças, postas aqui em síntese e nos seus aspetos fundamentais, não têm valor absoluto, porquanto existem vários pontos de contacto entre Realismo e Naturalismo, por se orientarem pelas mesmas verdades científicas e coexistirem numa época saturada de revolução cultural. Mais ainda: muito embora se classifiquem os romancistas dessa época em realistas e naturalistas conforme a predominância de uma dessas direções estéticas, nos autores portugueses Realismo e Naturalismo acabam muitas vezes por se confundir.

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