A Relação Corpo-Mente: Da Autoconsciência à Ciência Cognitiva
Classificado em Psicologia e Sociologia
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A autoconsciência, a capacidade de pensar em mim próprio, é a prova da existência. Todo o conhecimento só tem validade se for provado pela ciência. Foi esta tipologia cartesiana que abriu a porta para a ciência moderna. Descartes considerava que, por um lado, a mente pode ser estudada por leis que estão na natureza, mas também por leis metafísicas, que estão para além dela. A mente para Descartes continua a ser metafísica, platónica e cristã. Damásio expressa um novo paradigma da cognição, onde procura inverter o significado da máxima cartesiana. Na teoria da cognição atual, a existência é anterior ao pensamento, onde a existência será pensamento. Só o corpo existe e só existe pensamento porque o corpo pensa. A vida intelectual e a própria inteligência dependem não apenas da mente em sentido próprio, mas sim de processos neurológicos, ambientais e, em última instância, de uma realidade biológica. Não existe corpo sem meio ambiente, onde os aspetos ambientais, naturais e sociais influenciam a vida da mente. O corpo não é apenas biomassa, processos bioquímicos e biofísicos, são processos mentais e é meio ambiente, sendo natural, social ou cultural. A ciência moderna já não é cartesiana, considera que a mente é feita de algo que não é corpo.
No livro “O Erro de Descartes”, desenvolveu-se a teoria, através de pessoas que mostravam lesões no córtex pré-frontal e criaram lesão na capacidade de tomada de decisões e nas emoções. Esta teoria é chamada de hipótese dos marcadores somáticos. Segundo Damásio, os estímulos externos que afetam o corpo são as emoções que constituem um fundo da memória. Cognição é considerada estado mental e a emoção um estado somático. A emoção é a mesma coisa que estímulo. A conceção clássica de que a mente processa estímulos, onde a mente é a estância superior, vai dar sentido aos estímulos. Para este neurocientista, a tomada de decisões depende não só da cognição, como de estados somáticos da emoção. Os doentes lesionados não têm capacidade de tomar decisões porque têm dificuldade de acesso aos marcadores somáticos, que continuam a ser uma realidade do corpo importante para a tomada de decisões. A memória somática é uma memória do corpo e isto é uma revolução. A perspetiva não dualista da ciência cognitiva hoje, no que diz respeito à relação corpo-mente, é que é particularmente expressa na hipótese dos marcadores somáticos. Não é uma pura e simples rutura com a ideia de que mente e corpo reagem entre si em processos cognitivos e somáticos.
Descartes não errou vindo de uma tradição de que a mente é superior ao corpo, deu-lhe uma lógica de método científico porque se existiu algum erro não era dele. O problema da expressão ‘penso, logo existo’ é ambivalente. Por um lado, Descartes inscreve-se numa longa tradição sobre a mente e o corpo, dualista, mas foi o primeiro a colocar em causa esse dualismo, referindo que a mente é superior ao corpo, mas que estão ambos no mesmo mundo. A ciência moderna no que diz respeito à mente é pós-metafísica, mas continuou a perpetuar por outras formas uma visão dualista sobre a superioridade da razão em relação ao corpo e os seus estímulos, onde a mente processa superiormente os estímulos que o corpo sente. A ideia de Damásio ‘’Sinto, logo penso’’ reflete a conceção da interatividade entre mente e corpo que define a existência que permite a vida cognitiva, ou em particular, no caso dos ‘’Marcadores somáticos’’, que é uma justa posição cognitivo-somático como uma visão pós-dualista.
A psicologia pré-científica e moderna trabalha a relação entre corpo e mente. Esta história revela a mudança de paradigma. Cada vez mais temos o desenvolvimento da psicologia com outras disciplinas, onde a psicologia ganha e expande a sua identidade através de novos pensamentos.