René Descartes: Biografia, Obras e o Método da Dúvida
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René Descartes: Biografia e Contexto Histórico
Vida e Trajetória
René Descartes nasceu em 1596 em Haia (La Haye en Touraine), no seio de uma família abastada. Ainda jovem, foi admitido no colégio jesuíta de La Flèche, onde concluiu seus estudos. Posteriormente, obteve um diploma de bacharel em Direito pela Universidade de Poitiers.
Em seguida, alistou-se no exército, primeiro contra a presença espanhola na Holanda e depois contra os suecos. Foi no sul da Alemanha, perto da cidade de Ulm, que ele teve a inspiração fundamental de seu pensamento (o famoso episódio do “quarto aquecido”).
Deixou o exército e, após uma breve estadia em Paris, retirou-se para a Holanda, buscando paz e liberdade, e foi lá que publicou a maioria de suas obras. Em 1649, aceitou o convite para dar aulas à Rainha Cristina da Suécia, mas adoeceu com pneumonia e veio a falecer em 1650.
Obras Principais
Durante sua estadia na Holanda, Descartes desenvolveu e publicou seus trabalhos mais importantes. Inicialmente, escreveu “Regras para a Direção do Espírito”, que não foi publicado em vida. O método, que começou com trinta e tantas regras, foi posteriormente reduzido a quatro.
Outras obras notáveis incluem:
- “Tratado sobre o Mundo” (posteriormente renomeado “Tratado da Luz”): Defendia ideias copernicanas e galileanas, mas não foi publicado imediatamente, pois Descartes temia problemas com a Igreja e a Inquisição.
- “O Discurso do Método” (1637): Publicado com três tratados científicos anexos: Geometria, Meteoros e Dióptrica (o estudo da luz).
- “Meditações Metafísicas” (1641): Antes da publicação, o padre jesuíta Marin Mersenne recolheu objeções de cientistas da época, às quais Descartes forneceu soluções e respostas.
- “Princípios da Filosofia” (1644).
- “As Paixões da Alma” (1649).
O Método Cartesiano e a Estrutura da Razão
As Três Unidades do Conhecimento
O pensamento de Descartes se inspira na ideia fundamental da unidade do saber, que ele considerava um “presente da Virgem”. Essas unidades são:
- Unidade do Saber: Todas as diferentes ciências não são mais do que a sabedoria humana, que permanece una e a mesma, mesmo quando aplicada a diferentes objetos. A distinção entre elas é apenas a que a luz do sol recebe dos vários objetos que ilumina. O saber é único.
- Estrutura e Método da Razão: Todos os homens possuem a mesma inteligência e a mesma essência racional.
- Unidade do Método: O método deve ser único, pois corresponde à dinâmica interna do funcionamento da razão.
Estrutura da Razão e Tipos de Conhecimento
De acordo com Descartes, a estrutura da razão permite dois tipos de conhecimento:
- Intuição: Corresponde às naturezas simples. É a compreensão imediata de conceitos simples que emanam da própria razão, sem qualquer possibilidade de dúvida ou erro.
- Dedução: Todo o conhecimento intelectual é desdobrado a partir da intuição das naturezas simples. São as conexões de ideias que a inteligência descobre e percorre. A dedução é uma sucessão de ideias simples e das conexões entre elas.
Aplicação do Método: Análise e Síntese
Como a intuição e a dedução são as dinâmicas internas do conhecimento, estas devem ser aplicadas em dois passos práticos:
- Análise: Corresponde à intuição. Consiste em decompor o problema até alcançar os elementos ou naturezas mais simples.
- Síntese: Corresponde à dedução. É a reconstrução dedutiva do complexo a partir do simples. No momento da reconstrução, deve-se evitar o acaso e o capricho, que podem levar a erros.
As Quatro Regras Fundamentais do Método
O método cartesiano é o único que leva em conta o raciocínio correto. As quatro regras são:
- Evidência: Aceitar como verdade apenas aquilo que é óbvio, ou seja, aquilo que se apresenta com clareza e distinção, de modo que não haja margem para a dúvida.
- Análise: Dividir cada dificuldade em tantas partes quantas forem necessárias para resolvê-la melhor.
- Síntese: Conduzir os pensamentos por ordem, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir, pouco a pouco, ao conhecimento dos mais complexos.
- Enumeração: Fazer revisões e enumerações tão completas e gerais que se tenha a certeza de nada omitir. Isso evita o esquecimento durante a reconstrução do conhecimento.
Estas regras não são arbitrárias; elas representam o único método que corresponde à dinâmica interna do funcionamento da razão. Até então, este método era usado apenas no campo da Matemática e, portanto, deveria ser estendido a todas as áreas do saber.