A Segunda República Espanhola: Proclamação, Constituição e Desafios
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Proclamação da Segunda República Espanhola
As eleições municipais de 12 de abril de 1931 deram uma vitória clara para os partidos republicanos e de esquerda nas principais cidades. Em 14 de abril, a Espanha testemunhou uma mudança histórica: a abolição da monarquia e a proclamação da Segunda República. Este evento foi recebido com grande entusiasmo pela maioria da população espanhola. Em poucos dias, a paisagem política espanhola mudou radicalmente, instituindo uma república que prometia a garantia pacífica das liberdades democráticas da população.
Em Madrid, um comitê revolucionário, formado por membros do Pacto de San Sebastián, constituiu-se no Governo Provisório da República. Seu presidente foi Niceto Alcalá Zamora, que prometeu realizar eleições gerais com sufrágio universal (para homens maiores de 23 anos) em 28 de junho de 1931, para formar as Cortes Constituintes.
Estas eleições gerais contaram com 65% do eleitorado e deram a vitória aos partidos de esquerda (PSOE, Ação Republicana, Partido Republicano Radical Socialista, Esquerra Republicana de Catalunya) e de centro (Partido Radical ou Partido Progressista). Em contrapartida, a ala dos partidos de direita (monárquicos, carlistas, Liga Regionalista Catalã, o PNV) obteve menos de cem dos 484 assentos totais do parlamento.
O governo interino não aceitou a proclamação da República Catalã e forçou os líderes nacionalistas catalães a desistir.
O presidente da Generalitat da Catalunha, Francesc Macià, criou uma comissão para elaborar um estatuto de autonomia que deveria ser aprovado pelas Cortes espanholas.
A Constituição de 1931
Sua carta de direitos incluía, entre outros, a liberdade de religião, de expressão, de reunião e de associação, a liberdade de circulação, a liberdade de residência e a inviolabilidade do domicílio e da correspondência. Foram abolidos todos os privilégios de classe e apontada a possibilidade de socializar bens e serviços públicos.
A Constituição estabeleceu que o Presidente da República seria eleito por um período de seis anos. O primeiro presidente da República foi Niceto Alcalá Zamora, e Manuel Azaña foi uma figura central na primeira administração.
Contexto e Conflitos da Segunda República
Quadro Internacional
Na Europa, assistia-se ao surgimento e à consolidação dos regimes totalitários (fascismo na Itália, nazismo na Alemanha), que se apresentavam como a solução para a crise dos sistemas democráticos europeus.
Ao mesmo tempo, o regime stalinista tentava, através de vários partidos comunistas, exportar o modelo soviético para outros países europeus, onde a população se sentia frustrada por um sistema democrático parlamentar incapaz de resolver a crise econômica.
Conflito Econômico e Social
A proclamação da Segunda República coincidiu com a difusão da Grande Depressão Econômica Mundial, iniciada em Nova Iorque em 1929, considerada a mais grave e longa crise da economia capitalista.
O facto de a economia espanhola viver em grande parte isolada de outros países e de o setor primário ser ainda muito importante fez com que o impacto da crise económica fosse menor.
Em 1932, houve um declínio nas exportações agrícolas, devido à crise sofrida pelos países europeus.
O Problema Agrário
A Espanha permanecia um país predominantemente agrícola. Para tentar resolver estes problemas, o governo da República, em 1931, projetou uma reforma agrária por decreto, que incluía:
- A obrigação do empregador de dar preferência aos trabalhadores do município;
- O estabelecimento da jornada de trabalho de 8 horas;
- A obrigação de cultivar as terras;
- A proibição de expulsar pequenos agricultores pobres.
A lei estabeleceu a compensação pela expropriação de grandes explorações agrícolas de regadio ou de terras não cultivadas sem irrigação. As terras desapropriadas tornaram-se propriedade do Instituto de Reforma Agrária.
A política social dos governos da República centrou-se no aumento dos salários para promover o poder de compra da população, aumentando assim a capacidade de consumo e elevando a produção industrial.
Esta situação gerou uma crise económica, aumento do desemprego na indústria e crescente inquietação social tanto no campo como nas cidades.
Em janeiro de 1932, em Castilblanco (Badajoz), a Guarda Civil reprimiu violentamente uma manifestação camponesa convocada pela UGT, resultando em seis mortes. Um ano depois, em Casas Viejas (Cádiz), a Guarda Civil esmagou uma revolta camponesa, fuzilando 25 pessoas.
Relações Estado-Igreja
Ao contrário do período monárquico, em que a Igreja gozava de proteção oficial do Estado, a Constituição de 1931 estabeleceu um regime secular e a separação entre Estado e Igreja.
Consequentemente, o governo republicano iniciou uma série de reformas, como a dissolução de algumas ordens religiosas, uma lei especial para outras, a proibição da prática de ensino por ordens religiosas e a expulsão dos jesuítas.
Todas essas medidas resultaram numa situação de constante tensão entre a Igreja Católica e a República. O Cardeal Segura, primaz da Espanha, publicou uma carta aos católicos advertindo contra o laicismo do novo regime, o que levou à sua expulsão do país pelo governo.
A reação de parte da população católica e da hierarquia foi de oposição aberta ao regime da República e, posteriormente, de apoio ao levante de Franco em 1936. No entanto, nem o clero do País Basco nem a democracia cristã, representada pelo PNV, apoiaram a rebelião. Na Catalunha, a União Democrática da Catalunha, também de ideologia democrata-cristã, agiu da mesma forma.
O Problema Militar
A maior parte do exército espanhol era monárquica, o que poderia representar um perigo para o regime republicano. O Ministro da Guerra, Manuel Azaña, decidiu modernizar, profissionalizar e garantir a lealdade do exército à República, com a chamada "Lei Azaña".
Uma seção de altos oficiais militares, os chamados "africanistas", pertencentes à clandestina UME (União Militar Espanhola), considerou estas medidas uma afronta aos militares, especialmente por suspeitarem do processo de descentralização do Estado.