Restauração Espanhola: Política e Crise (1874-1931)

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Item 7: Início da Restauração e Crise de 1898

1. Os Acontecimentos Políticos (1875-1898)

Em 29 de dezembro de 1874, o General Martínez Campos liderou uma revolta em Sagunto e proclamou rei Alfonso XII. O General Serrano, presidente do governo, não foi autorizado a governar e foi exilado.

No dia seguinte ao golpe, foi formado em Madrid um governo provisório chefiado por Cánovas del Castillo. Este já tinha a confiança de Alfonso XII, a quem havia ajudado a redigir o Manifesto de Sandhurst, no qual se estabeleciam os princípios do futuro sistema de restauração.

Em 9 de janeiro de 1875, o jovem rei chegou à Espanha. A dinastia Bourbon havia sido restaurada. Os eixos políticos essenciais que marcam a primeira fase da Restauração são o fim da Guerra Carlista, a instituição do bipartidarismo, a alternância de poder e a política externa.

A Restauração Espanhola (1874-1931)

  • O Fim da Guerra Carlista

A primeira ação política do novo rei foi deslocar-se para o norte da Península para conduzir a guerra contra aqueles que a haviam iniciado três anos antes. A chamada Terceira Guerra Carlista (1872-1876) foi desenvolvida na Catalunha, País Basco e Navarra.

Durante a guerra, Dom Carlos chegou a ter um governo estável com sede em Estella, e a eliminação dos contingentes de forais deu-lhe algumas vitórias, como Montejurra, Abárzuza e Lácar, mas falhou na tentativa de ocupação das grandes cidades, como Bilbao e Pamplona.

Enquanto Alfonso XII se dirigia para a zona de conflito, ofereceu uma ampla anistia. Um dos ex-dirigentes carlistas, o General Cabrera, aceitou a anistia e também dirigiu um manifesto às tropas carlistas, no qual as convidava a pôr fim à guerra.

Alfonso XII correspondeu ao gesto de Cabrera reconhecendo todos os seus títulos, mas o conflito não foi resolvido até março de 1876, data em que Carlos VII passou com as suas tropas para a França.

Os carlistas não voltaram a pegar em armas, mas o seu pensamento permaneceu vivo. Desde a sua derrota militar, os carlistas começaram a participar na política e colocaram-se na extrema direita do espectro parlamentar.

Na Catalunha, depois da guerra, evoluíram para uma postura autonomista militante que defendiam. Os elementos da ideologia carlista, a uniformidade dos governos liberais e a defesa dos privilégios, fizeram com que esta ideologia também continuasse no País Basco e em Navarra.

Cánovas utilizou o fim da guerra para revogar os aspetos-chave das cartas de Navarra, a crescente intervenção do Estado na administração do País Basco e Navarra, e estabeleceu o serviço militar obrigatório e os custos do Tesouro do Estado, o chamado Concerto do Estado.

  • Bipartidarismo

Cánovas del Castillo dirigiu um sistema bipartidário, tomando como modelo o inglês, para acabar com as tensões que marcaram a política do país ao longo do século XIX. A sua intenção era criar dois grandes partidos políticos que pudessem unir critérios diferentes, desde que cumprissem a lei. Isso significava deixar de fora do sistema os partidos políticos que não aceitassem a monarquia restaurada e a dinastia. Os partidos que dominaram a cena política durante a Restauração foram os conservadores e os liberais, representando, respetivamente, a direita e a esquerda dentro do pensamento liberal.

Cánovas liderou o Partido Liberal Conservador, conhecido como Partido Conservador, que era formado por pessoas do antigo Partido Moderado, da União Liberal e de um setor do Partido Progressista. O Partido Conservador ganhou também a adesão inicial do episcopado e do catolicismo mais radical.

Sagasta liderou o Partido Liberal Fusionista, em homenagem ao Partido Liberal, ao qual se juntaram democratas e setores radicais do republicanismo moderado. Foi influenciado e apoiado por parte das profissões liberais, comerciantes, banqueiros e militares.

O Partido Conservador venceu as eleições e, sob a sua hegemonia, redigiu a nova Constituição de 1876. A vida política do país baseava-se na alternância pacífica dos dois maiores partidos.

O bipartidarismo consolidou-se após a morte prematura de Alfonso XII, em 1885, sem descendência, estando a rainha grávida. Os dois partidos concordaram com a mudança política para assegurar a estabilidade do regime, num alegado acordo conhecido como o Pacto de El Pardo. Cánovas demonstrou a sua habilidade política, apresentando ao governo o seu rival Sagasta. Em 17 de maio de 1886, nasceu Alfonso XIII.

  • A Regência de Maria Cristina

Com a morte de Alfonso XII, foi nomeada regente durante a menoridade de Alfonso XIII a esposa do futuro rei falecido, Maria Cristina.

O primeiro turno político da regência foi liberal. Durante estes cinco anos, os liberais, liderados por Sagasta, desenvolveram uma intensa atividade legislativa, que culminou com a Lei do Júri e, em especial, com a Lei do Sufrágio Universal (1890), que estendeu o voto a todos os homens com mais de 25 anos. No entanto, não aumentou a democratização da política espanhola, uma vez que as eleições permaneceram sob o controlo dos caciques e do Ministério do Interior.

Desde 1890, a alternância dos dois principais partidos realizou-se por curtos períodos.

1.4. Política Externa

O reconhecimento das potências estrangeiras conservadoras e do Papa Pio IX deu ao novo regime e à monarquia legitimidade perante os setores católicos espanhóis.

Outro sucesso foi a pacificação de Cuba. Logo após a eclosão da revolução em Espanha, em 1868, tinha começado uma guerra de libertação que se iniciou com o chamado Grito de Yara. O General Martínez Campos foi enviado para a colónia caribenha com a tarefa de combater os rebeldes e negociar um acordo com eles. Em 12 de fevereiro de 1878, foi assinada a Paz de Zanjón, na qual foram concedidos aos cubanos os mesmos direitos dos espanhóis, pelo que a paz chegou à ilha.

  • O Sistema Político: Teoria e Prática

O ciclo da Restauração consolidou a Revolução Liberal, com a adoção progressiva de uma série de leis que haviam sido propostas pela primeira vez durante o Sexénio. A Restauração foi o planeamento dos possíveis líderes dos diversos setores da sociedade, o pacto foi alcançado com a Igreja e, pela primeira vez no século XIX, o exército ficou fora do jogo político.

  • A Ideologia de Cánovas

Cánovas era um homem prático na política e confiava mais no sucesso particular das ideias do que na pureza das abordagens. Acreditava que princípios como o país, a monarquia, a dinastia histórica, a liberdade, a propriedade e o governo comum do rei com as Cortes eram inquestionáveis e, portanto, tinham de fazer parte da Constituição. Consequentemente, argumentava que os setores que não os aceitassem não poderiam ser acomodados no sistema. Mas, exceto por estas razões, os outros problemas do Estado podiam ser objeto de debate político. Com esta atitude, o novo regime conseguiu reunir a maioria da classe política.

2.2. A Constituição de 1876

Embora os conservadores fossem os que mais cediam às propostas da oposição, o resultado foi que, para além dos princípios básicos que Cánovas considerava, como a monarquia Bourbon ou o governo do rei juntamente com as Cortes, os principais temas ideológicos em que se opunham os dois partidos dinásticos, os conservadores e os liberais, foram negociados.

As diferenças mais significativas centravam-se no conceito de soberania, no sistema eleitoral (os conservadores propunham o sufrágio censitário, os liberais defendiam o sufrágio universal masculino) e no Estado confessional.

Algumas dessas divergências foram resolvidas por um desenho esquemático dos elementos que deixava a sua especificidade para legislação posterior. Assim, cada governo poderia adotar a fórmula que melhor se adaptasse às suas ideologias. Um exemplo é o artigo 27, que se refere à eleição para o Congresso dos Deputados.

Em termos de religião, chegou-se a uma solução de tolerância mútua. Por um lado, o Estado declarava-se religioso e comprometia-se a manter a religião católica; por outro lado, os liberais conseguiram a liberdade de consciência.

Grande parte do conteúdo expresso na Constituição de 1876 já constava na de 1869, e em alguns aspetos não introduziu qualquer alteração. A diferença fundamental reside no papel e nos poderes que estão ligados à monarquia: o rei era o chefe do governo, com poderes para escolher os seus ministros, apresentar projetos de lei às Cortes e também tinha o direito de veto.

2.3. Atuação: Direito e Caciquismo

A Restauração significou um regresso à sociedade liberal moderna, mas com novas formas de fazer política. Tratava-se de evitar o confronto. Para isso, era necessário conciliar os monárquicos, assegurar a submissão do exército à autoridade civil, aproximar-se da Igreja, ganhar a confiança da pequena nobreza, mas essa confiança só seria alcançada se os governos garantissem a estabilidade. Todos os esforços do sistema canovista foram nesse sentido e isso refletiu-se nas medidas legislativas, destinadas a reforçar o controlo da estabilidade, e determinou o resultado das eleições, que garantiram a continuidade no poder dos dois partidos que comandavam a política da Restauração.

A Constituição de 1876 permitia que cada governo legislasse de acordo com as suas ideias, mantendo o respeito pelo trabalho que havia sido feito antes pelo adversário. Os governos conservadores aprovaram a Lei Eleitoral de 1878, de caráter censitário; os governos liberais aprovaram leis sobre a liberdade de reunião e de expressão.

A Lei de Imprensa previa os julgamentos por júri (1888), o Código Civil e a Lei Eleitoral do sufrágio universal masculino (1890).

Durante a Restauração, independentemente do tipo de votação, as eleições não eram transparentes. O mecanismo político era sempre o mesmo: se um primeiro-ministro era forçado a renunciar, o rei pedia a formação de um novo governo ao líder da oposição, que dissolvia as Cortes e convocava eleições, que ganhava sempre por maioria absoluta e que eram organizadas pelo Ministério do Interior, em colaboração com os prefeitos, governadores provinciais e caciques das vilas e cidades.

A Espanha oficial distanciava-se cada vez mais da Espanha real e o sistema foi desacreditado pela prática de distorções eleitorais e caciquismo. Este foi o instrumento que permitiu à classe política fortalecer as relações com os grupos sociais e económicos dominantes e dominar o sistema político. A alternância de poder entre liberais e conservadores significou uma continuação tranquila da Restauração, apesar da violação sistemática do sistema eleitoral e do declínio do republicanismo após a experiência frustrante da Primeira República, que o empurrou para a marginalização política. A mudança de partido político no governo implicava a destituição de um grande número de funcionários partidários do governo cessante, que ficavam desempregados, os chamados "cessantes".

  • Nacionalismos Periféricos

O liberalismo espanhol do século XIX baseava-se numa ideia central do Estado e da nação. Mesmo entre os democratas e os republicanos predominava o sentido centralista. No entanto, os carlistas defendiam uma ideia de Espanha como união de territórios e a manutenção dos seus forais. Dentro do republicanismo federal, havia uma ideia de Espanha como uma união de Estados livremente associados. O sistema da Restauração consagrou o centralismo.

Nesta situação, os movimentos de valorização cultural e linguística adquiriram gradualmente conotações políticas. Assim surgiu o regionalismo, como um movimento de abertura de formas de governo nos territórios com a sua própria língua, identidade e tradições enraizadas. No País Basco, Catalunha e Galiza, a sua base social era a pequena burguesia, os camponeses e setores do clero.

3.1. O Regionalismo e o Nacionalismo Catalão

Desde 1830, existia um movimento cultural emergente: a Renaixença, que abrangia diferentes campos da atividade intelectual. Em torno deste movimento, foram atraídas e parecem expectativas sociais muito diferentes. Estas aspirações regionais eram conhecidas como regionalismo, nacionalismo e nacionalismo catalão.

O carlismo e o federalismo também estão nas origens do catalanismo. Os carlistas aspiravam à recuperação das instituições tradicionais. Os federais foram a maioria nas eleições de 1869.

Após a queda da República em 1874 e a derrota carlista em 1876, foi desenvolvido um regionalismo pré-nacionalista por Valentí Almirall.

Almirall foi o criador do catalanismo moderno de orientação federalista. Para superar e unificar as diferentes posições da burguesia, defendeu o respeito e a promoção dos costumes tradicionais dos distritos em relação à divisão artificial em províncias. Para que a Catalunha recuperasse a sua personalidade, fundou em 1882 o Centro Catalán, organização patriótica que se colocaria acima dos partidos e uniria a burguesia conservadora e a federal.

Em 1887, os conservadores fundaram a Liga de Catalunya e, por ocasião dos Jogos Florais e da Exposição Universal de Barcelona, apresentaram à rainha regente, Maria Cristina, um programa regionalista, mantendo a fidelidade à monarquia e procurando uma ampla autonomia.

Em 1891, no Centro e na Liga, graças aos esforços de Prat de la Riba, foi fundada a União Catalanista. Na sua primeira assembleia de 1892, foram elaboradas as Bases de Manresa para a constituição regional catalã.

3.2. Os Primórdios do Nacionalismo Basco

Surgiu a partir da defesa dos forais e as suas bases estavam na maior parte do clero, no campesinato e na pequena burguesia. A abolição dos privilégios em 1876 gerou um sentimento de derrota e idealização do passado, do qual se manteve a recuperação integral como uma reivindicação dos forais. Os perdedores da guerra sonhavam com um País Basco agrícola, em oposição ao fenómeno urbano e à sua indústria, para os quais a defesa dos forais equivalia a defender a essência do basco. Os seus inimigos eram o governo liberal espanhol e a imigração.

Sabino Arana recolheu e reformulou estas ideias que flutuavam na sociedade: para um povo diferente (raça e, sobretudo, língua diferentes), a recuperação total dos forais significava recuperar a plena soberania, ou seja, a independência. O lema era "Deus e lei velha". O primeiro é porque o nacionalismo era tradicionalista e fundamentalista católico, e o segundo, anti-industrialização, liberalismo, socialismo e Espanha.

Em 31 de julho de 1895, foi fundado o Partido Nacionalista Basco (PNV), com uma declaração antiespanhola. Mas o partido não evoluiu enquanto se apoiava apenas na pequena burguesia de Bilbao. Com a entrada, em 1898, de armadores como De la Sota, o PNV expandiu a sua base para uma burguesia mais moderna e industrial.

Surgiu então a tensão interna entre os defensores da independência e aqueles que procuravam, como objetivo mais viável, a autonomia dentro do Estado espanhol.

Estes últimos, com o seu dinheiro, impuseram-se no controlo do PNV e impuseram uma estratégia autonomista. O PNV começou então a ter algum sucesso nas eleições municipais e, portanto, fixaram-se dentro do PNV as duas tendências que continuarão no futuro: a direção, com as suas reivindicações ao governo central, e a das bases independentistas, que apoiavam a política moderada da sua direção, mas cultivavam a aspiração final à soberania e à independência.

3.3. Outras Expressões do Nacionalismo

Na Galiza, os fundamentos do nacionalismo encontram-se na revitalização da língua literária, com escritores como Rosalía de Castro e Manuel Murguía.

Em 1889, Brañas publicou O Regionalismo, como primeira teorização sobre o problema. Em 1890, acabou por criar o embrião político na Liga Regional Galega. No entanto, este movimento teve um desenvolvimento lento.

Em outras áreas, como a Andaluzia e Valência, também houve correntes mal organizadas e com pouca presença política.

Item 9: Restauração - Política e Crise Social (1898-1931)

1. A Catástrofe de 1898 e a Crise da Restauração

O problema da Restauração tentou resolver os problemas de Espanha realizando uma chamada revolução a partir de cima. Mas o projeto falhou porque os setores representados no poder recusaram-se a renunciar a privilégios políticos ou a admitir qualquer reforma tributária.

O fracasso político da Restauração pode ser dividido em quatro etapas: de 1902 a 1907 (a crise do poder civil e a ascensão do militarismo), de 1907 a 1912 (crise do chamado Pacto de El Pardo), de 1912 a 1918 (Grande Depressão de 1917) e de 1918 a 1923 (colapso do sistema e golpe de Primo de Rivera).

  • Os Problemas de Espanha

No início do século XX, Espanha tinha quatro grandes problemas. Em primeiro lugar, o atraso cultural e económico em relação ao resto da Europa. A distribuição injusta da riqueza favoreceu as reivindicações do movimento sindical e dos trabalhadores agrícolas numa sociedade cada vez mais radicalizada e dividida.

Em segundo lugar, a existência de um regime político corrupto, em que as instituições não representavam o povo e em que as eleições eram fraudulentas, mas que recebia o nome de democracia. A alternância dos partidos dinásticos no poder era artificial.

O terceiro problema era a existência de um exército, com o orgulho ferido pela derrota em Cuba, com material desatualizado e um excesso de comandos que o tornava pouco operacional.

Finalmente, os militares percebiam os nacionalismos periféricos como uma ameaça de desintegração do conceito de pátria.

1.2. O Impacto do Desastre

A perda das colónias espanholas no exterior em 1898 não foi um incidente isolado na Europa. Outros países viveram situações semelhantes.

A França, por exemplo, teve de capitular perante o Reino Unido em Fashoda. Mas, ao contrário dos franceses, a sociedade espanhola viveu a perda das colónias como uma catástrofe. Portanto, esse facto ficou conhecido como um termo que não suporta as diferenças: o Desastre.

Na verdade, o fim do domínio espanhol não envolveu qualquer catástrofe nacional: a monarquia continuou, os partidos dinásticos continuaram a alternar-se no poder, apesar do surgimento gradual de novos partidos que se opunham ao sistema (republicanos e socialistas), e as finanças públicas recuperaram algum equilíbrio, após as grandes despesas que a guerra colonial havia implicado.

O impacto dos acontecimentos de 1898 significou o início de uma nova e progressiva crise do poder do Estado, que se caracterizou por divisões internas nos partidos e instabilidade política. Entre 1901 e 1923, ocorreram 32 mudanças na presidência do governo.

Além disso, o sistema voltou a enfrentar a oposição política e ideológica do movimento operário e das classes médias. Este setor social assimilou as críticas lançadas contra a corrupção política pelos intelectuais da Geração de 98, que formaram a base do renascimento do movimento republicano.

Neste contexto, difundiram-se os valores ideológicos do regeneracionismo, cujo principal impulsionador foi Joaquín Costa. Mas a mensagem regeneracionista era ambígua e não tinha propostas alternativas.

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