Resumo: SUS, Saúde Coletiva e Estudos Epidemiológicos
Classificado em Formação e Orientação para o Emprego
Escrito em em português com um tamanho de 15,62 KB
SUS: Sistema Único de Saúde
Princípios do SUS
Doutrinários ou Éticos
- Universalidade: A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantindo acesso universal e igualitário.
- Equidade: Tratar desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades, com o objetivo de diminuir disparidades e garantir que todos tenham as mesmas oportunidades de alcançar o mais alto nível de saúde.
- Integralidade: Atenção integral à saúde, considerando o indivíduo como um todo e abrangendo ações de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação.
Organizacionais ou Operativos (Diretrizes)
- Descentralização Político-Administrativa: Com comando único em cada esfera de governo (federal, estadual e municipal), com ênfase na municipalização dos serviços e ações de saúde.
- Regionalização e Hierarquização: Organização dos serviços de saúde em redes regionalizadas e hierarquizadas, de acordo com os níveis de complexidade tecnológica, para garantir o acesso e a integralidade da assistência.
- Participação Social (ou Controle Social): Participação da comunidade na gestão do SUS, através dos Conselhos de Saúde e das Conferências de Saúde.
Legislação Fundamental
Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde)
Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Define as atribuições de cada esfera de governo:
- União: Define políticas e diretrizes nacionais.
- Estados: Coordenam e complementam as ações em nível regional.
- Municípios: Executam as ações e serviços de saúde.
Lei nº 8.142/90 (Participação Social e Transferências Intergovernamentais)
Dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área da saúde.
- Conselhos de Saúde: Caráter permanente e deliberativo, com reuniões mensais. Controlam os gastos e a execução das políticas de saúde.
- Conferências de Saúde: Realizadas a cada 4 anos para avaliar a situação da saúde e propor diretrizes para a formulação da política de saúde.
Requisitos para recebimento de transferência regular e automática de recursos (fundo a fundo) por número de habitantes:
- Fundo de Saúde
- Conselho de Saúde atuante
- Contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento
- Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS)
- Plano de Saúde
- Relatórios de gestão periódicos
Normas Operacionais Básicas (NOB)
NOB-SUS 01/91
Primeira norma operacional, com foco na centralização e no município como mero prestador de serviços. Pagamento por produção de serviços.
NOB-SUS 01/93
Avançou na municipalização da gestão da saúde. Introduziu as Comissões Intergestores Bipartite (CIB - entre Estado e Municípios/COSEMS) e Tripartite (CIT - entre Ministério da Saúde, Estados/CONASS e Municípios/CONASEMS). Regulamentou a transferência de recursos.
NOB-SUS 01/96
Consolidou a gestão plena da atenção básica pelo município. Introduziu o Piso da Atenção Básica (PAB), com uma parte fixa e uma variável, destinada a incentivar programas como:
- Saúde da Família
- Saúde Bucal
- Saúde no Sistema Penitenciário
- Vigilância Alimentar e Nutricional
- Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ)
- Agentes Comunitários de Saúde
- Saúde Indígena
- Controle do Tabagismo
- Academia da Saúde
Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS)
NOAS-SUS 01/2001 e 01/2002
Foco na regionalização organizada da assistência, ampliação do PAB e busca por maior equidade nos recursos e no acesso aos serviços de saúde, especialmente os de média e alta complexidade.
Pacto pela Saúde (2006)
Acordo tripartite com três componentes:
Pacto em Defesa do SUS
Mobilização social em defesa dos princípios do SUS e dos direitos dos usuários.
Pacto de Gestão
Fortalecimento da gestão compartilhada e solidária entre as três esferas de governo (União, Estados e Municípios) e aprimoramento do financiamento.
Pacto pela Vida (Prioridades)
- Saúde do Idoso
- Controle dos cânceres de colo de útero e de mama
- Redução da mortalidade infantil e materna
- Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias (com ênfase em dengue, hanseníase, tuberculose, malária e influenza)
- Promoção da Saúde
- Fortalecimento da Atenção Básica (com ênfase na Estratégia Saúde da Família - ESF)
- Saúde do Homem
- Saúde do Trabalhador
- Saúde Mental
- Atenção integral à pessoa com deficiência
- Atenção integral às pessoas em situação ou risco de violência
- Controle das hepatites virais e da AIDS
- Saúde Bucal
Financiamento do SUS
Fontes de recursos: Orçamento da Seguridade Social, União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
Lei Complementar nº 141/2012 (Regulamenta a Emenda Constitucional nº 29/2000)
Define os percentuais mínimos de investimento em saúde:
- União: Montante aplicado no ano anterior, corrigido pela variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB).
- Estados e Distrito Federal: 12% da arrecadação dos impostos.
- Municípios: 15% da arrecadação dos impostos.
Atenção Básica (AB)
Também conhecida como Atenção Primária à Saúde (APS), é a porta de entrada preferencial do sistema.
Princípios da AB
- Primeiro Contato: Ser a porta de entrada do sistema.
- Longitudinalidade: Acompanhamento do paciente ao longo do tempo.
- Integralidade: Abordagem integral das necessidades de saúde.
- Coordenação do Cuidado: Articulação com os outros pontos da rede de atenção.
- Enfoque Familiar: Considerar a família como unidade de cuidado.
- Orientação Comunitária: Atuação voltada para as necessidades da comunidade.
- Competência Cultural: Respeito às diversidades culturais.
Estratégia Saúde da Família (ESF)
Ações Estratégicas Prioritárias:
- Controle da Tuberculose
- Saúde da Mulher (incluindo pré-natal, parto e puerpério, planejamento familiar)
- Controle do Diabetes Mellitus
- Saúde Bucal
- Vigilância Nutricional e combate à desnutrição infantil
- Controle da Hanseníase
- Controle da Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)
- Saúde do Idoso
- Saúde da Criança (acompanhamento do crescimento e desenvolvimento)
Equipe Multidisciplinar Mínima:
Médico, enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfermagem, e agentes comunitários de saúde (ACS - geralmente de 4 a 6 por equipe, dependendo da população adscrita).
Saúde Coletiva: Indicadores e Coeficientes
Coeficientes Epidemiológicos
Coeficientes de Morbidade
- Prevalência: (Número de casos existentes de uma doença em um dado momento ÷ População total no mesmo período) x Fator (ex: 100, 1.000). Mede a força com que subsiste a doença na coletividade.
- Incidência: (Número de casos novos de uma doença em um período ÷ População exposta ao risco no mesmo período) x Fator. Mede a frequência com que surgem casos novos de uma doença na coletividade.
Coeficiente de Mortalidade Geral
(Número total de óbitos em um período ÷ População total no mesmo período) x 1.000. Indica o risco de morte na população estudada.
Coeficiente de Mortalidade Materna
(Número de óbitos por causas maternas em um período ÷ Número de nascidos vivos no mesmo período) x 100.000. Principais causas: hipertensão arterial (eclâmpsia/pré-eclâmpsia), hemorragias, infecções puerperais.
Coeficiente de Mortalidade Infantil (CMI)
(Número de óbitos em menores de 1 ano em um período ÷ Número de nascidos vivos no mesmo período) x 1.000. Principais causas gerais: afecções perinatais, malformações congênitas, doenças do aparelho respiratório.
Componentes do CMI:
- Mortalidade Neonatal: Óbitos ocorridos do nascimento até 27 dias completos de vida (0-27 dias).
- Precoce: 0 a 6 dias de vida.
- Tardia: 7 a 27 dias de vida.
- Mortalidade Pós-neonatal: Óbitos ocorridos de 28 dias de vida até 1 ano incompleto (364 dias). Principais causas: doenças infecciosas e parasitárias (como diarreias e pneumonias), causas externas, e ainda malformações congênitas e afecções respiratórias.
Coeficiente de Natimortalidade
(Número de nascidos mortos com idade gestacional ≥ 22 semanas ou peso ≥ 500g em um período ÷ Total de nascidos [vivos + mortos] no mesmo período) x 1.000.
Coeficiente de Mortalidade Perinatal
(Número de natimortos com IG ≥ 22 semanas + Óbitos neonatais precoces [0-6 dias] em um período ÷ Total de nascidos vivos + Natimortos com IG ≥ 22 semanas no mesmo período) x 1.000.
Coeficiente de Letalidade
(Número de óbitos por determinada doença em um período ÷ Número de casos diagnosticados da mesma doença no mesmo período) x 100. Indica o risco de morrer pela doença entre aqueles que a contraíram.
Índices Epidemiológicos
Índice de Mortalidade Proporcional (IMP)
(Número de óbitos por uma causa específica ou grupo etário em um período ÷ Número total de óbitos no mesmo período) x 100. Mostra a participação percentual de uma causa ou grupo etário no total de óbitos.
Índice de Swaroop-Uemura
(Número de óbitos em pessoas com 50 anos ou mais em um período ÷ Número total de óbitos no mesmo período) x 100. Indica o nível de saúde de uma população. Níveis de desenvolvimento sanitário:
- 1º (Elevado): ≥75%
- 2º (Médio): 50% a 74,9%
- 3º (Baixo): 25% a 49,9%
- 4º (Muito Baixo): <25%
Curva de Nelson Moraes (Mortalidade Proporcional por Idade)
Analisa a distribuição proporcional dos óbitos por faixas etárias, refletindo o nível de saúde da população. Tipos de curva e níveis de saúde correspondentes:
- Tipo I (N): Nível de saúde muito baixo (alta mortalidade infantil e por doenças transmissíveis).
- Tipo II (L): Nível de saúde baixo (transição, com redução da mortalidade em crianças de 1-4 anos).
- Tipo III (U): Nível de saúde regular (mortalidade elevada em menores de 1 ano e em maiores de 50 anos).
- Tipo IV (J): Nível de saúde elevado (baixa mortalidade infantil, predominância de óbitos em idosos por doenças crônico-degenerativas).
Estudos Epidemiológicos e Medidas de Efeito
Interpretação de Medidas de Associação (como Risco Relativo - RR e Odds Ratio - OR):
- = 1: Sem associação (o fator não aumenta nem diminui o risco do desfecho).
- > 1: Fator de risco (o fator aumenta o risco do desfecho).
- < 1: Fator de proteção (o fator diminui o risco do desfecho).
Estudo de Coorte
Acompanha grupos de indivíduos (expostos e não expostos a um fator) ao longo do tempo para observar a ocorrência de um desfecho.
Risco Relativo (RR)
Fórmula: Incidência nos Expostos (Ie) ÷ Incidência nos Não Expostos (Ine).
Interpretação: Quantas vezes o risco de adoecer (ou ter o desfecho) é maior (ou menor) no grupo exposto em comparação com o grupo não exposto.
Risco Atribuível ao Fator (RA) ou Diferença de Riscos
Fórmula: Ie – Ine.
Interpretação: Indica o excesso de risco de adoecer entre os expostos que é atribuível exclusivamente à exposição.
Fração Etiológica nos Expostos (FEe) ou Risco Atribuível Percentual nos Expostos
Fórmula: ((Ie - Ine) / Ie) * 100.
Interpretação: Percentual de casos da doença entre os expostos que pode ser atribuído à exposição. Ou seja, se a exposição fosse eliminada, quantos por cento dos casos nos expostos seriam prevenidos.
Risco Atribuível Populacional (RAP)
Fórmula: Incidência na População Total (Ipop) – Ine.
Interpretação: Indica o excesso de risco de adoecer na população geral que é atribuível à exposição.
Fração Etiológica Populacional (FEp) ou Risco Atribuível Percentual Populacional
Fórmula: ((Ipop – Ine) / Ipop) * 100.
Interpretação: Percentual de casos da doença na população total que pode ser atribuído à exposição. Indica o impacto da remoção do fator de risco na incidência da doença na população.
Estudo de Caso-Controle
Compara um grupo de indivíduos com a doença (casos) com um grupo sem a doença (controles) em relação à exposição passada a um fator de risco.
Odds Ratio (OR) ou Razão de Chances
Fórmula (tabela 2x2: a=casos expostos, b=controles expostos, c=casos não expostos, d=controles não expostos): (a x d) ÷ (b x c).
Interpretação: Quantas vezes a chance de exposição é maior (ou menor) entre os casos em comparação com os controles. Para doenças raras, o OR é uma boa estimativa do RR.
Ensaio Clínico Randomizado (ECR)
Estudo experimental onde os participantes são alocados aleatoriamente para receber uma intervenção (tratamento) ou um controle.
Pode calcular Risco Relativo (RR) e outras medidas de efeito do tratamento.
Redução Relativa do Risco (RRR)
Fórmula: 1 – RR (onde RR é o risco do desfecho no grupo tratado em relação ao controle) OU (Incidência no Controle - Incidência no Tratamento) / Incidência no Controle.
Interpretação: Percentual de redução no risco de ocorrência do desfecho no grupo que recebeu o tratamento em comparação com o grupo controle. Ex: "Quem recebeu o novo tratamento teve uma redução de X% no risco de adoecer em relação ao controle."
Redução Absoluta do Risco (RAR)
Fórmula: Incidência no Controle (Ic) – Incidência no Tratamento/Exposição (Ie).
Interpretação: Diferença absoluta na taxa de eventos entre o grupo controle e o grupo tratado. Ex: "De cada 100 pessoas tratadas nos dois grupos, quem recebeu o novo tratamento teve X eventos a menos do que o controle."
Número Necessário para Tratar (NNT)
Fórmula: 1 ÷ RAR (usar o valor decimal da RAR).
Interpretação: Número de pacientes que precisam ser tratados com a intervenção específica (em vez do controle) durante um determinado período para prevenir um evento adverso adicional (ou alcançar um resultado favorável adicional).