A Revolução Industrial (1750-1870): Causas, Características e Difusão Global

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A Revolução Industrial (1750-1870): Uma Mudança no Mundo Industrial

Este período, entre 1750 e 1870, marcou uma transformação profunda no mundo, impulsionando o Ocidente a superar as limitações de crescimento econômico do Antigo Regime, tornando-se as nações mais poderosas e ricas do mundo.

Por que a Revolução Industrial na Europa: A Grande Divergência?

A Grande Divergência (ou Milagre Europeu) refere-se ao processo pelo qual o mundo ocidental superou as limitações de crescimento econômico do Antigo Regime, tornando-se as nações mais poderosas e ricas do mundo.

Causas da Grande Divergência

A grande diferença pode ser atribuída à intervenção governamental, geografia e tradições consuetudinárias (costumes mais antigos destas aldeias). Mas, por que a Europa foi mais progressista do que outras áreas?

  • Fatores Climáticos e Geográficos: Localização natural e recursos.
  • Fatores Religiosos e Filosóficos: Visão sobre como organizar a sociedade.

Os três primeiros são considerados facilitadores simples do processo, enquanto os dois últimos são os fundamentos. A Europa pré-industrial desponta como a área onde as liberdades individuais atingiram um nível maior, através da existência de instituições políticas e culturais (universidades), e de uma justiça codificada (aprovação por escrito) para autoridades públicas que fariam cumprir essas leis. A Inglaterra foi a pioneira.

A Revolução Industrial na Grã-Bretanha

Por que a Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra? Este país reuniu mais rapidamente do que outros países europeus o maior número de condições favoráveis para o crescimento:

  1. Clima moderado.
  2. Abundantes recursos hídricos (o país de água).
  3. Recurso estratégico importante: o carvão.

Os países com carvão estavam em posição de se desenvolver. A Grã-Bretanha foi capaz de desenvolver sua própria cultura e sistema político-institucional.

Características da Industrialização na Inglaterra

A industrialização na Inglaterra foi marcada por:

  • Mudança Populacional: Derivada da agricultura, indústria e produção para o mercado.
  • Crescimento Acelerado: Fortemente acelerado desde o século XVIII, tornando-se o primeiro país a se desenvolver em meados de 1780.
  • Crescimento Urbano: A população de Londres cresceu rapidamente; em 1751, Londres tinha mais população que o País de Gales, e em 1801, mais que a Escócia.

Avanços Tecnológicos na Indústria Têxtil e Siderúrgica

O grande aumento populacional estimulou avanços tecnológicos na fiação e tecelagem. O primeiro tear mecânico foi inventado em 1785 (final do século XVIII), mas não foi aplicado imediatamente. Esse protótipo foi melhorado e introduzido com sucesso em uma data posterior, no início do século XIX, mas só se tornou de uso generalizado a partir da década de 1830. A razão para essa situação era os baixos salários dos tecelões e a falta de incentivo para introduzir máquinas. A discussão sobre teares e mulas visava aumentar o tamanho (trabalho, capital investido) e a introdução do vapor para mover essas máquinas.

Nesta fase de usinagem do século XIX, houve uma economia significativa de problemas trabalhistas, o que foi adequado para os artesãos deslocados por essas máquinas.

Outra modernização ocorreu no setor do aço (produção de ferro em altos-fornos). Neste setor, a direção da mudança técnica focou na economia de matérias-primas, especialmente combustível. Os dois principais eram carvão e minério de ferro. O problema inglês era o combustível, e a inovação foi substituir o carvão vegetal por outros combustíveis. Em meados do século, não conseguiam sequer abastecer o seu próprio mercado, tendo de comprar a outros países que produziam.

  • 1709: Darby introduziu o carvão nos altos-fornos para produzir ferro-gusa (um tipo de ferro não facilmente utilizável), que teve de ser transformado posteriormente em ferro forjado, mais fácil de trabalhar.
  • 1783-1784: Cort produziu ferro forjado no forno através do processo de "empoçamento" no forno de "reverberação". O empoçamento era o processo para obter a mistura adequada de carvão.

No final do século XVIII, não só as vantagens do carvão vegetal foram superadas, mas esses processos economizaram tempo e multiplicaram a produção. Conclusão: O desenvolvimento do aço foi acompanhado por uma expansão sustentada para as indústrias de metal, que se beneficiaram de importações mais baratas.

O Domínio Britânico no Comércio Mundial

Em meados do século XVIII, a Grã-Bretanha era um importante exportador de lã (69% das exportações). Era um novo tipo de país exportador, com produtos coloniais da América, Ásia, etc., para a Europa. A partir de 1801, com o início do processo de industrialização, a estrutura do comércio mudou: a Grã-Bretanha tornou-se importadora de alimentos, começando a importar cereais. Os têxteis de algodão representavam 40% das exportações, enquanto a lã caiu. As exportações de produtos siderúrgicos começaram a ser sentidas. A Grã-Bretanha tornou-se a "oficina do mundo" de algodão e produtos têxteis e siderúrgicos. Estes eram para o mercado interno, mas logo se expandiram para a Europa. Com o tempo, a importância do mercado europeu diminuiu em relação ao resto do mundo. Essa produção para esses mercados foi caindo e, em vez disso, os mercados emergentes da América Latina e do Oriente (Índia) tornaram-se mais relevantes.

Razão para a Mudança no Comércio

Antes, compravam; agora, compravam seus próprios produtos. Destinavam as suas produções aos seus cidadãos. Substituíram o mercado europeu, sacrificando o preço do produto, que caiu, e, portanto, tiveram de reduzir a qualidade do produto.

Impacto no Transporte e Urbanização

Do ponto de vista econômico, a demanda de pessoas que viviam nas cidades proletarizadas aumentou. Era necessário adaptar o trabalho à vida urbana e estimular os mercados para suprir as cidades. Para isso, foi preciso expandir e melhorar os sistemas de transportes. Este período envolveu um aumento persistente nos transportes.

Principais sistemas de transporte (Fontana e Cameron):

  • Rede Rodoviária: Durante a segunda metade do século XVIII, o desenvolvimento da rede rodoviária introduziu novas técnicas de construção, que seriam desenvolvidas no início do século XIX.
  • Vias Navegáveis Interiores: As vias navegáveis interiores mais importantes (rios) e portos máximos impulsionaram a construção de canais. O boom expansivo de canais atraiu mais investimentos privados. Houve uma mudança na quantidade de veículos pesados da estrada para os canais.
  • Navegação Costeira e Exterior: Ambas cresceram com base na infraestrutura portuária existente. Os portos antigos eram incapazes de suportar o volume, o que levou a investimentos em novos portos.
  • Transporte Ferroviário: Desenvolveu-se durante esta fase, contribuindo para o desenvolvimento do comércio e promovendo uma grande demanda na metalurgia.

A estrada de ferro (caso britânico) teve duas funções principais:

  • Função de Negócios: Reduziu o tempo e o custo do transporte de carga, estabelecendo uma rede ferroviária que ligava vários pontos.
  • Função Industrial: A construção da ferrovia impulsionou intensamente o desenvolvimento da indústria metalúrgica e siderúrgica.

Conclusão sobre Transportes: Os sistemas de transporte tornaram-se mais rápidos, seguros e pouparam trabalho. A resistência à tração (deslocamento do cavalo para a máquina) e todos esses sistemas tornaram-se mais baratos. Isso gerou um duplo benefício: para o consumidor e para as empresas (pelo funcionamento desses transportes). Favoreceu o consumo generalizado e maior poupança para as empresas, que também usavam outros produtos. As empresas favorecidas não precisariam mais armazenar grandes estoques de produção e, portanto, aumentariam seus estoques de capital, que seriam dedicados a investir na atividade produtiva.

A Difusão da Industrialização na Europa e EUA

A Primeira Revolução Industrial (1750) e a inclusão de outros países da Europa Ocidental (1870).

Fatores da Difusão Industrial

A difusão da industrialização foi influenciada por:

  • Recursos Naturais Abundantes: Recursos que também impulsionaram a Revolução Industrial Inglesa, como carvão, ferro, água e energia hidráulica. A adesão tardia de outros países ao processo industrial é explicada pela falta desses recursos. Países como a Itália e a Suécia não tinham carvão, e a tecnologia que permitiu a substituição do carvão surgiu apenas após 1870.
  • Avanços na Agricultura: A agricultura incorporou mudanças que facilitaram o desenvolvimento industrial. Isso exigiu uma transformação na agricultura, passando para uma agricultura voltada para o comércio, com a eliminação dos direitos feudais, o que promoveu essa mudança.
  • Tradição Industrial Anterior: Os setores protagonistas da Primeira Revolução Industrial (têxteis e siderurgia) já eram líderes em algumas partes da Europa pré-industrial.
  • Localização Geográfica: Para alguns países que seguiram o exemplo da Inglaterra, a proximidade com a ilha (Inglaterra) foi uma vantagem, facilitando contatos técnicos, transferência de trabalho e importação de maquinaria.
  • Elementos que Facilitaram a Transformação Tecnológica: A inovação tecnológica de base, fomentada por experiência em literatura científica, viagens de negócios, contatos técnicos e espionagem industrial. A tecnologia evoluiu, inicialmente mais ligada ao ofício, mas eventualmente cada vez mais à ciência e às instituições políticas.
  • Estabilidade Política para o Crescimento Econômico: Os Estados-nação passaram a basear seu poder não apenas no exército ou na marinha, mas cada vez mais na força de seu poder industrial. A industrialização emergiu como a forma mais eficaz de ampliar o estado. Todos esses aspectos geraram externalidades positivas.

Este atraso pode ser atribuído a fatores físicos naturais e tipos de energia: parte da Europa Ocidental dependia das florestas.

Regime Socioinstitucional e Revolução Burguesa

A preexistência de um regime econômico que facilitou a revolução burguesa. As revoluções burguesas na Europa produziram mudanças políticas e econômicas subsequentes. Os primeiros países industrializados que possuíam pré-condições que facilitaram o acesso à indústria foram:

  • Bélgica (Valônia e Liège)
  • Norte e leste alemão (fronteira com a França)
  • Alguns distritos da Alemanha, como a região da Renânia-Vestfália
  • Centro-oeste e leste americano
Fatores da Expansão Econômica Internacional

Três grupos de fatores ligados à expansão das relações econômicas internacionais:

  1. Internacionalização da Revolução Industrial: Envolveu o desenvolvimento do comércio internacional (matérias-primas e minério de ferro), os processos de urbanização (cidades) e os sistemas de transporte. Dois elementos fundamentais foram o minério de ferro e o carvão, além do desenvolvimento de matérias-primas alimentares e minerais.
Impacto da Urbanização

O crescimento da população nas cidades ocorreu por duas vias: natalidade natural e imigração. As cidades estavam despreparadas para a vida moderna, necessitando de redes de saneamento, canalização, saídas de esgotos, abastecimento de água potável, iluminação e melhorias sanitárias. A cidade tornou-se um local de investimento, representando uma grande capacidade. Pouco a pouco, a cidade melhorou, embora a taxa de mortalidade infantil tenha subido. As cidades inglesas foram modernizadas, como mencionado anteriormente. A evolução dos transportes e redes de transporte adequadas, como envios através de canais e portos, foi crucial.

  1. Despesas de Capital a Nível Internacional: Levaram a investimentos em transporte ferroviário e em novos países (países em desenvolvimento na Europa e, ao mesmo tempo, investimentos em países que desenvolveriam a Segunda Revolução Industrial).
  2. Padrão Econômico e Monetário: A propagação do livre comércio e do padrão-ouro. A criação de um quadro legal e institucional proporcionou maior segurança às decisões dos agentes econômicos. A política de não intervenção estatal nas trocas comerciais internacionais de mercadorias era regulada pelas vantagens de cada país e pela competitividade das empresas.
Exemplos de Acordos Comerciais
  • Zollverein (1833): Tratado de união econômica e união aduaneira na Alemanha.
  • Tratado Cobden-Chevalier (1860): Assinado pela Inglaterra e França, um tratado econômico de livre comércio que multiplicou o valor do comércio.

Padrão Monetário: A referência europeia seria o ouro. Moedas de ouro com o peso de uma libra (século XIX) já estavam em circulação na Inglaterra.

Sistemas Financeiros e Investimento

Sistemas financeiros como seguradoras e bancos atuaram como intermediários para gerar dinheiro e sustentar iniciativas de negócios. As configurações de conta eram feitas através do mercado de ações (mercado de capitais) e bancos.

A Bolsa e o Investimento

Até meados do século XIX, o investimento era limitado a três possibilidades:

  1. Aquisição de terras e propriedades urbanas.
  2. Aquisição de títulos de empréstimo (dívida).

Pouco a pouco, surgiram outras opções de investimento, como o ferroviário (muito seguro) e, em menor escala industrial, parcerias. Mas foi, finalmente, o desenvolvimento da corporação e a defesa jurídica do princípio da responsabilidade limitada que estabeleceram os fundamentos da popularidade do investimento no mercado de ações. As sociedades anônimas (SA) representaram uma mudança significativa no conceito de poupança e investimento, com a administração focada no mercado (participação de mercado).

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