Revolução Industrial: Economia, Sociedade e Trabalho
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Hegemonia Inglesa e o Poder Industrial
A hegemonia inglesa destacava-se por:
- Uma indústria fortemente mecanizada, que lhe permitia abastecer o mundo de têxteis, artefactos metálicos e bens de equipamento;
- Uma densa malha de ferrovias que assegurava eficazmente a circulação interna;
- A maior frota mercante do planeta (cerca de 35% da tonelagem mundial), conferindo-lhe o primeiro lugar nos circuitos do comércio intercontinental;
- O poderio económico que gerava uma constante acumulação de capitais, aplicados pelos empresários ingleses um pouco por todo o mundo;
- A supremacia financeira dos britânicos, que fez da libra esterlina a moeda-padrão, usada como referência nas trocas internacionais.
França: Desafios e Industrialização
França: Forte instabilidade político-social de finais do século XVIII e inícios do século XIX (Revolução Francesa, conflitos político-ideológicos e guerras civis e externas).
Condições estruturais pouco propícias:
- Predominância de um setor agrário preso a estruturas tradicionalistas;
- Abundância de fontes de energia e de combustíveis tradicionais (água e madeira) e escassez de carvão;
- Limitado consumo interno e mercado interno ainda não formado.
Industrialização Francesa: Etapas e Crescimento
- 1820 – Desenvolvimento em torno das indústrias têxteis e da exploração do carvão;
- 1840 – Arranque das siderurgias do Creuzot e da metalurgia, com investimentos estrangeiros;
- 1860 – Expansão das linhas férreas, que levou à criação do mercado interno;
- Final do século – Desenvolvimento das instituições financeiras e aparecimento de empresas industriais ligadas ao setor automóvel.
Alemanha: Ascensão Industrial e Tecnológica
A Alemanha tornou-se um império forte, focado na inovação e tecnologia, com uma indústria em expansão.
Condições para o Desenvolvimento Alemão
- Políticas: 1834 – criação do Zollverein (união aduaneira); 1870 – vitória na Guerra Franco-Prussiana; 1871 – união política com a proclamação do II Reich.
- Crescimento demográfico – mão de obra disciplinada;
- Abundância de recursos naturais (lenhite, hulha, ferro);
- Fortalecimento do sistema financeiro (união da indústria e da banca);
- Aliança da indústria à ciência e à técnica;
- Proteção do Estado.
Fatores da Industrialização Alemã
- Investimento inicial nas indústrias pesadas do ferro e do aço, na extração da hulha e da lenhite, na produção de carvão;
- Desenvolvimento da construção naval e expansão dos caminhos de ferro;
- Desenvolvimento, no final do século, das indústrias químicas e de eletricidade.
Fatores do Crescimento Económico dos EUA
- Abundância de recursos naturais: terras férteis, extensas florestas, rios, metais preciosos, petróleo;
- Acelerado crescimento demográfico em resultado de uma forte imigração de origem europeia de gente preparada e empreendedora;
- Agricultura moderna e mecanizada voltada para a produção em massa e para a exportação;
- Clima social aberto, livre e dinâmico;
- Mercado interno em constante expansão;
- Pautas protecionistas, reforçadas a partir de 1870.
Livre-Cambismo e Protecionismo
Livre-cambismo é um modelo de mercado no qual a troca de bens e serviços entre países não é afetada por restrições do Estado. O Livre-cambismo é contrário ao protecionismo, que é a política económica que pretende restringir o comércio entre países. As trocas podem ser restringidas pela aplicação de taxas e tarifas alfandegárias, quotas e subsídios, subvenções ou subsídios às exportações, legislação e leis antidumping. Esta política económica visa proteger a indústria nacional em detrimento da concorrência estrangeira. O exemplo máximo é dado pela Grã-Bretanha, no século XIX.
Debilidades do Livre-Cambismo
O livre-cambismo mostrava-se um obstáculo aos países menos desenvolvidos em termos de indústria, e mesmo para as indústrias mais desenvolvidas era um problema porque havia crises cíclicas (crises causadas pela superprodução), que levavam a novas crises de superprodução. No período de crescimento, quando a procura se sobrepõe à oferta, os preços sobem. Para combater estes obstáculos, instalam-se mais e ampliam-se as indústrias e recorre-se ao crédito que se especulava na bolsa. Em breve, por falta de previsão financeira e excesso de investimentos, o que mais tarde viria a criar mais crises de superprodução, fazendo as empresas suspender o fabrico e proceder à redução dos salários e ao despedimento de trabalhadores.
Mercado Internacional e Divisão do Trabalho
Houve um crescimento acentuado do comércio mundial, devido ao contínuo aumento da produção e aos progressos nos transportes e nas comunicações. A Inglaterra teve uma posição dominante devido ao seu avanço industrial e à sua enorme frota mercantil. A Alemanha, França e os EUA eram os responsáveis por metade das trocas efetuadas e eram praticamente as fábricas do mundo, pois eram responsáveis por 70% da produção industrial. Forneciam produtos industriais e adquiriam produtos agrícolas e matérias-primas aos países menos desenvolvidos.
Agudização das Diferenças e o Livre-Cambismo
Nem todas as pessoas aceitaram a chegada da liberdade económica. Políticos, industriais e grandes proprietários, que defendiam a liberdade política, desconfiavam da livre circulação de mercadorias.
Porém, esta corrente livre-cambista era muito forte na Grã-Bretanha, berço de alguns teóricos como Adam Smith e David Ricardo.
Ricardo defendia que a liberdade comercial iria levar ao desenvolvimento e à riqueza de todo o mundo.
Peel baixou os direitos de entrada de alguns produtos, fazendo com que as taxas alfandegárias também baixassem.
Entre 1850 e 1870, o livre-cambismo já dominava a Europa e os Estados Unidos baixaram as taxas aduaneiras. O comércio internacional apresentou um forte crescimento.
Racionalização do Trabalho: O Taylorismo
Com o aumento da concorrência, as empresas começaram a pensar em produzir com qualidade e a baixo preço.
Taylor publica a obra Princípios de Direção Científica da Empresa, onde expunha o seu método para melhorar o rendimento da fábrica. Este método ficou conhecido por Taylorismo.
O Taylorismo assentava na divisão máxima do trabalho, selecionando-o em pequenas tarefas elementares e encadeadas. Cada operário executava repetidamente uma das tarefas que o operário seguinte continuava. Tinham um tempo mínimo para executar tal tarefa, e assim o cronómetro entrava nas fábricas. Este trabalho retirava qualquer criatividade e todo o seu saber que o trabalhador pudesse ter, resultando assim numa produção maciça de objetos iguais em termos de volume, qualidade e preço. Foi o construtor de automóveis Henry Ford que pôs em prática o Taylorismo.
Na fábrica foi introduzida uma linha de montagem seguindo os métodos que Taylor inventou. Devido ao árduo esforço físico aplicado a este trabalho forçado, Taylor aumentou os salários. Esta medida aumentou a qualidade de vida dos trabalhadores e isto permitiu-lhes possuir um automóvel. Foi criada uma forma nova de gerir grandes empresas. Os métodos taylorizados provocaram uma grande contestação por parte dos sindicatos e também de grandes intelectuais. Era criticada a racionalização excessiva do trabalho que retirava toda a dignidade ao trabalho, transformando o trabalhador num mero autómato, escravo de uma cadeia de máquinas.
Explosão Demográfica e Transformações Sociais
O século XIX registou por todo o mundo, particularmente na Europa, um extraordinário aumento demográfico, a ponto de se falar em “explosão demográfica” (regime demográfico de transição).
Crescimento Populacional e Diminuição da Mortalidade
O crescimento populacional (mais forte nos países de maior desenvolvimento industrial e cultural, como a Inglaterra, a Holanda e a Bélgica, seguida da França do Norte e da Alemanha) foi causado, numa primeira fase, pelo acentuado recuo da mortalidade – enquanto a natalidade permanecia elevada.
A diminuição da mortalidade é explicada fundamentalmente pela melhoria geral das condições de vida, resultante dos seguintes fatores:
- Do desenvolvimento económico produzido pela Revolução Industrial e suas implicações na produção agrícola, na revolução dos transportes e no alargamento dos mercados internos;
- Da melhor alimentação, o que fortaleceu o organismo humano, permitindo-lhe reagir com maior sucesso às doenças e às epidemias, ainda frequentes;
- Do desenvolvimento científico-técnico, que permitiu o avanço da Medicina, com progressos na farmacologia e na vacinação;
- Dos progressos na higiene individual e coletiva (difunde-se o uso do sabão e do vestuário em algodão, a prática do banho torna-se mais regular e estabelecem-se redes de saneamento público).
- Maior quantidade (e melhor qualidade) de produtos;
- Melhoria nos transportes, que evita falta de abastecimento e fomes.
Êxodo Rural e Urbanização
O maior crescimento populacional levou a uma maior expansão. O êxodo rural foi impulsionado pelas transformações na agricultura e pela industrialização.
- Favorecido pelos transportes;
- Homens partem para as cidades;
- Desemprego (mecanização e alargamento dos pastos);
- Queda dos preços agrícolas;
- Decadência dos artesanatos rurais.
Nos centros urbanos, surgiram pequenos rendeiros e proprietários, jornaleiros e profissionais de modestos ofícios.
A cidade atraía devido a mais emprego (fábricas, portos, caminhos de ferro, armazéns ou casas burguesas) e melhores salários.
Imigração.
O habitante da cidade também procurava promoção – ser bem-sucedido profissional, social e pessoalmente.
Problemas da Urbanização
- A cidade não tinha condições para receber tantas pessoas (falta de sistemas sanitários, redes de distribuição de água potável ou serviços de limpeza das ruas);
- Bairros superpovoados;
- População vivia na miséria e promiscuidade;
- Grandes epidemias (mortalidade infantil elevada);
- Mães ocupadas com trabalho nas fábricas;
- Desregramento e delinquência eram frequentes;
- Prostituição, mendicidade, alcoolismo e criminalidade;
- Na cidade, greves, manifestações e revoluções da classe operária.
O Urbanismo e a Reorganização Urbana
O rápido crescimento económico e populacional das cidades transformou os espaços urbanos e alterou a vida citadina de modo quase caótico. Os primeiros problemas foram: a falta de espaço e de habitação. Desenvolveu-se por isso a construção em altura, substituindo as velhas mansões familiares da burguesia por prédios de rendimento. As classes mais pobres e as recém-chegadas ocuparam os subúrbios ou arredores da cidade, onde os bairros novos se desenvolveram devido à proximidade das fábricas ou centrais de transporte (ferroviário ou rodoviário). Erguidos à pressa, os novos bairros refletiam todas as carências:
- Deficiente construção em série, descaracterizada e monótona;
- Sem conforto nem estética;
- Ruas sem pavimento, lamacentas e imundas;
- Ausência de esgotos, saneamento e iluminação pública.
Mas a sobrelotação citadina trouxe, principalmente, problemas de saneamento e de saúde pública, assim como problemas sociais e psicológicos causados pelas más condições de vida e miséria. Estes problemas fizeram nascer nas cidades, pelos finais do século XIX, uma nova disciplina social – o urbanismo –, cujo objetivo era a organização planeada da área habitável das cidades, de modo a resolver, de forma eficaz e agradável, os problemas gerados.
O centro urbano tornou-se, então, no espaço exclusivo do poder económico e político.
Bairros Operários e Migrações
Os bairros operários foram, sem dúvida, os mais carenciados: erguidos nas zonas industriais, envoltos no fumo das fábricas; possuíam habitações pequenas, mal divididas.
A Europa foi o continente que registou maior mobilidade populacional, favorecido por múltiplos fatores (crescimento demográfico, transformações económicas, progressos nos transportes terrestres e marítimos). Este dinamismo migratório europeu teve consequências importantes a nível interno e mundial:
- Provocou grandes alterações na geografia humana;
- Favoreceu os encontros étnicos e culturais;
- Exerceu fortes influências no desenvolvimento económico e sociocultural das regiões.
As principais correntes migratórias internas da época foram: as migrações regionais e o êxodo rural em direção aos centros urbanos.
A migração para as grandes cidades foi, normalmente, uma migração definitiva e envolveu sobretudo as camadas jovens e daí as suas implicações: diminuição da população rural, decadência da agricultura, envelhecimento da população camponesa e atraso do mundo rural.
Liberalismo Político e a Sociedade de Classes
O liberalismo político, triunfante em quase todos os Estados europeus no século XIX, instituiu um novo tipo de sociedade, baseado na igualdade jurídica de todos os cidadãos perante a lei, no respeito pelos direitos naturais dos homens e pela liberdade individual em todos os setores. Este novo tipo de sociedade – a que se convencionou dar o nome de sociedade de classes – aceita como únicas diferenças as resultantes do poder económico, das capacidades individuais e da profissão de cada um. Admite, deste modo, a mobilidade ascensional e descensional. O nascimento perde importância como critério de diferenciação social, como acontecia na sociedade de ordens do Antigo Regime.
Esta sociedade de classes encontrava-se dividida em três estratos:
- Classe alta (associada à alta burguesia, a grande burguesia empresarial e financeira);
- As classes médias;
- A classe baixa (o proletariado).
A alta burguesia (grupo relativamente homogéneo) ocupava-se de atividades industriais e comerciais, assim como de financeiras e políticas. As Revoluções Agrícola e Industrial e o triunfo do Liberalismo proporcionaram a esta burguesia o poder económico e político.
As classes médias proliferam com o surto urbano e o consequente aumento do setor terciário (comércio e serviços ligados à educação, aos transportes, ao saneamento, etc.), assim como com o alargamento da instrução (a escolaridade primária obrigatória e gratuita torna-se algo comum nos países industrializados).
A classe baixa (o proletariado) era o grupo social constituído por aqueles que tinham como único meio de subsistência a venda da sua força de trabalho, visto não terem acesso económico à propriedade. A redução dos trabalhadores à condição de proletários foi uma consequência das transformações operadas no processo produtivo, agrícola e industrial, sob o signo do liberalismo económico e do capitalismo industrial.
Marxismo: Análise da Sociedade e História
O processo histórico é marcado pela dialética – pela sua constante evolução/transformação – e é à realidade exterior que cabe o papel transformador das ideias e dos homens.
A infraestrutura, a realidade económica, desempenha o papel de motor da história, pois é ela que determina as relações sociais e até as relações políticas, bem como a ideologia (moral, religião, cultura…), ou seja, a superestrutura.
As relações sociais são movidas por interesses antagónicos que conferem ao processo histórico a sua dinâmica própria – a dinâmica da luta de classes.
A evolução das sociedades resume-se a uma sucessão de modos de produção:
- Esclavagismo – exploração do trabalho escravo;
- Feudalismo – exploração do trabalho dos servos;
- Capitalismo – exploração da mais-valia do trabalho proletário.
Sindicatos e a Luta pelos Direitos Laborais
Os sindicatos eram associações de trabalhadores criadas para a defesa dos seus interesses profissionais, recorrendo, se necessário, à greve. Funcionavam com base no pagamento de quotas pelos seus membros. Eram associações de trabalhadores das indústrias que tinham por objetivo lutar pela contratação coletiva de melhores salários e melhores condições de trabalho.
As principais vitórias dos sindicatos foram:
- Direito à negociação de contratos coletivos de trabalho que garantissem e estipulassem as condições de horários, descansos semanais, faltas, férias, assistência na doença e nos acidentes laborais;
- Direito à higiene e salubridade nos locais de trabalho;
- Nascimento do sistema de segurança social, para apoio económico e proteção aos trabalhadores na velhice, no desemprego e na doença;
- Regulamentação do direito à greve;
- Aparecimento das primeiras leis de proteção ao trabalho feminino e infantil, nomeadamente nas minas.
Socialismo Utópico: Propostas de Reforma Social
As propostas de reforma económica e social dos socialistas utópicos passavam pela recusa da violência, pela criação de cooperativas de produção e de consumo ou pela entrega dos assuntos de Estado a uma elite de homens esclarecidos que governariam de molde a proporcionar maior justiça social.
Socialismo Científico e Movimento Operário
O socialismo foi a primeira ideologia a analisar a História, o Estado e a Economia do ponto de vista do operariado. A partir de 1870-80, começa a ser visível a influência do socialismo científico sobre o movimento operário, estabelecendo-se uma aliança mutuamente benéfica:
- O socialismo forneceu ao movimento operário: uma ideologia estruturada em bases científicas; um sistema de análise da realidade social, política e económica; uma metodologia de ação (revolução, ditadura do proletariado…) e ajudou a reforçar a união entre todos os trabalhadores independentemente da profissão ou nacionalidade.
- O movimento operário proporcionou ao socialismo a base de apoio e a força suficiente para alcançar o poder.
Internacionalismo Operário e Associações
No final do Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels apelavam ao internacionalismo operário, isto é, à união e à solidariedade entre os trabalhadores de todo o mundo, para que o capitalismo pudesse ser derrubado. Surgiram assim as Associações Internacionais de Trabalhadores que foram determinantes na caminhada do socialismo revolucionário para a liderança do movimento operário.