A Segunda Revolução Industrial: Impactos e Transformações

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A Expansão da Revolução Industrial

A Ligação Ciência-Técnica

  • Os primeiros avanços da indústria fizeram-se com maquinismos simples, concebidos por artesãos ou pequenos empresários que se aplicaram no melhoramento dos seus instrumentos e técnicas de trabalho.
  • Em meados do século XIX, esta situação alterou-se: o progresso técnico transformou a maquinaria industrial em estruturas sólidas. Com a ajuda de institutos e universidades, formaram-se técnicos especializados com a necessária preparação científica.
  • Para vencer a concorrência, as grandes empresas começaram a investir somas enormes em investigação.

Progressos Cumulativos

Série crescente de progressos que resultam da estreita ligação entre a ciência e a técnica.

  • A descoberta de novas formas de energia, novos setores produtivos, novos meios de transporte e a multiplicidade de novos objetos deram origem à Segunda Revolução Industrial.

Novos Inventos e Novas Formas de Energia

A Indústria Siderúrgica e a Indústria Química

  • A siderurgia transformou-se na indústria de ponta da Segunda Revolução Industrial. O progresso mais significativo deu-se em meados do século com a invenção de um conversor capaz de transformar ferro em aço de forma barata e rápida.
  • A indústria química conheceu também grandes avanços com a invenção da violeta de anilina e da alizarina, matérias corantes que revolucionaram a indústria tintureira. A indústria química também desenvolveu inseticidas, fertilizantes e medicamentos.

Novas Formas de Energia

  • Os progressos da industrialização fizeram-se à custa do carvão como força motriz. Em 1913, cerca de 90% da energia produzida na Europa dependia ainda deste combustível.
  • Nas últimas décadas do século, desenvolveram-se as duas fontes de energia que marcariam o nosso tempo: o petróleo e a eletricidade.

A Aceleração dos Transportes

  • Os transportes foram um elemento essencial à industrialização. Tornou-se necessário movimentar, de forma rápida e barata, volumes crescentes de matérias-primas e produtos acabados.

Comboio

Fez a sua aparição em 1830, quando o engenheiro inglês George Stephenson inaugurou a linha Liverpool-Manchester. O êxito desta linha desencadeou uma autêntica febre de construções ferroviárias: em 1914, existiam em todo o mundo cerca de 1 milhão de quilómetros de vias-férreas.

Navio a Vapor

Os navios a vapor foram substituindo os antigos veleiros. A navegação a vapor movimentou capitais avultados, dando origem à constituição de grandes empresas capitalistas. Os progressos da navegação a vapor originaram grandes obras de engenharia, das quais se destacam a abertura dos canais do Suez e do Panamá.

Automóvel

Os êxitos da máquina a vapor foram tão grandes que os inventores tentaram aplicá-la ao transporte rodoviário. Ao iniciar-se o século XX, as principais marcas de automóveis já tinham feito a sua primeira aparição, originando uma nova indústria.

Aviação

Passados dez anos de ensaios com balões e dirigíveis, Orville Wright conseguiu a proeza de voar com um motor a gasolina e hélice (1903). Em 1909, os irmãos Voisin atravessaram o Canal da Mancha num biplano.

Concentração Industrial e Bancária

A Concentração Industrial

Capitalismo Industrial

Tipo de capitalismo que se desenvolveu na segunda metade do século XIX e que se caracteriza por um investimento maciço na indústria.

  • Com o advento da industrialização, a pequena oficina cedeu progressivamente, dando lugar à grande fábrica.
  • No decurso do século XIX, as fábricas mais prósperas transformaram-se em grandes empresas com sucursais e ramificações variadas, envolvendo enormes capitais.
  • A concentração industrial acelerou-se na segunda metade do século e a evolução tecnológica reforçou a supremacia da grande empresa, mais capaz de inovar e, assim, resistir às crises.

Constituíram-se dois tipos de concentrações industriais: as verticais e as horizontais:

Concentração Vertical

Consistiu na integração, numa mesma empresa, de todas as fases da produção, desde a obtenção da matéria-prima à venda do produto.

Concentração Horizontal

Consistiu numa associação de empresas com o objetivo de evitar a concorrência. Para o efeito, acordavam, por exemplo, as quantidades a produzir, os preços de venda ou as datas de colocação no mercado.

A Concentração Bancária

  • Os bancos desempenharam um papel primordial no crescimento económico do século XIX.
  • O sistema bancário integrou-se na dinâmica do mundo industrial: na segunda metade do século registou-se um forte crescimento, acompanhado da diminuição do número de instituições.
  • Os bancos participaram diretamente no desenvolvimento industrial, injetando capitais próprios nas empresas, sobretudo nos setores da siderurgia e dos transportes.

A Racionalização do Trabalho

Estandardização

Uniformização dos artigos produzidos através do fabrico em série, que possibilita a produção em massa.

Taylorismo

  • F. W. Taylor publica a obra Princípios de Direção Científica da Empresa, onde expõe o seu método para otimização do rendimento da fábrica.
  • O taylorismo assentava na divisão máxima do trabalho, selecionando-o em pequenas tarefas elementares e encadeadas. A cada operário caberia executar, repetidamente, apenas uma destas tarefas, que o trabalhador seguinte continuava. Isto dava origem a uma poupança de tempo e à produção de objetos iguais (estandardizados).

Fordismo

  • Em 1913, para a produção do seu Modelo T, Henry Ford introduziu na fábrica uma linha de montagem concebida segundo os princípios rígidos do taylorismo.
  • Como forma de compensar a dureza do trabalho e incentivar os operários, Ford aumentou os salários. Ao elevar os ordenados, o nível de vida dos trabalhadores aumentou, permitindo-lhes comprar um automóvel, que a empresa disponibilizava em suaves prestações, recuperando, assim, parte do montante despendido nos salários.

A Geografia da Industrialização

A Hegemonia Inglesa

  • A Inglaterra detinha, em meados do século XIX, um grande avanço sobre os restantes países: a sua indústria, fortemente mecanizada, permitia-lhe abastecer o mundo com têxteis, artefactos metálicos e bens de equipamento a preços sem concorrência.
  • Ao abrir o século XX, depois de quase 150 anos de supremacia económica, a Inglaterra viu-se ultrapassada pelos EUA, sua antiga colónia.

A Afirmação de Novas Potências

A França

Segunda potência a arrancar, a França manteve um ritmo industrializador contínuo, mas lento. Numa época em que a energia dependia do carvão, este país encontrava-se em desvantagem: as poucas jazidas que possuía eram pobres e mal situadas. Entre os entraves contava-se também a larguíssima base agrícola do país.

Entre 1901 e 1913, verificou-se um período de grande dinamismo nos setores da eletricidade, do automóvel, do cinema e da construção.

A Alemanha

A principal característica do processo industrializador alemão foi o seu dinamismo. Os alemães lançaram-se decididamente na grande indústria, privilegiando os setores do carvão, do aço e dos caminhos de ferro. Mais tarde, arrancaram com os setores da química, da construção naval e da eletricidade.

No fim do século, os produtos siderúrgicos alemães faziam forte concorrência aos produtos ingleses.

Os Estados Unidos da América

Indústria Têxtil

Tal como em Inglaterra, foi o setor têxtil que alimentou as primeiras indústrias, prosperando rapidamente devido à política económica protecionista.

Indústria Siderúrgica

O grande dinamizador do crescimento económico foi o setor siderúrgico, no qual a United States Steel Corporation se tornou líder da siderurgia mundial.

Outros Setores

Desenvolveram-se também outros setores, nomeadamente os setores energéticos mais modernos: a eletricidade e o petróleo. Pouco depois, foi a vez da indústria automóvel, que ao mesmo tempo fez expandir e prolongar o setor siderúrgico, utilizado para a sua fabricação.

O Japão

O impulso industrializador do Japão ficou a dever-se, sobretudo, ao Estado, que promoveu a entrada de capitais e técnicos estrangeiros e financiou a criação de novas indústrias, às quais concedeu exclusivos e outros privilégios.

Para o êxito do arranque japonês, alicerçado nos setores da siderurgia, da construção naval e do têxtil da seda, contribuiu também o intenso crescimento demográfico.

A Permanência de Formas de Economia Tradicional

A História do século XIX foi dominada pela Revolução Industrial; no entanto, a evolução não se processou num ritmo único, e as novas formas económicas coexistiram durante muito tempo com as técnicas e os sistemas de produção antigos.

No mundo rural, mantinham-se vivas as velhas práticas e utensílios que frequentemente remontam à Idade Média. O camponês agarrava-se aos direitos comunitários e reagia violentamente contra inovações agrícolas.

Na indústria, as formas de economia tradicional tardaram a desaparecer e o artesão manteve-se ativo, sobretudo nos ofícios que requerem gosto, minúcia e criatividade.

A Agudização das Diferenças

A Confiança nos Mecanismos Autorreguladores do Mercado: O Livre-Cambismo

Livre-Cambismo

Sistema que liberaliza as trocas internacionais. No sistema livre-cambista, o Estado deve abster-se de interferir nas correntes do comércio, pelo que os direitos alfandegários, a fixação de contingentes e as proibições de entrada e saída devem ser abolidos.

Entre 1850 e 1870, a tendência livre-cambista dominou a Europa e mesmo os Estados Unidos, que sempre protegeram a sua indústria, baixaram as tarifas aduaneiras. O comércio internacional conheceu, então, um período de forte crescimento.

As Debilidades do Livre-Cambismo e as Crises Cíclicas

Crise Cíclica

Estado periódico de agudo mal-estar e de mau funcionamento da economia. Ao contrário das crises nas economias pré-industriais, que eram sobretudo de escassez, nas economias industriais é provocada por fenómenos de superprodução.

Mesmo nas nações desenvolvidas, o ritmo económico era abalado por crises cíclicas, que faziam retrair os negócios e provocavam numerosas falências. Estas crises, que sucediam numa periodicidade de 6 a 10 anos, eram de um tipo completamente novo em relação às crises de escassez do Antigo Regime: eram crises de superprodução.

Por falta de previsão financeira e excesso de investimentos, a tendência da indústria de se instalar e ampliar inverte-se:

  • Os stocks acumulam-se nos armazéns (superprodução);
  • Os preços baixam a fim de dar saída às mercadorias acumuladas;
  • Suspendem-se os pagamentos aos bancos, os créditos e os investimentos financeiros;
  • O desemprego crescente faz diminuir o consumo e a produção decai ainda mais.

O Mercado Internacional e a Divisão do Trabalho

Ao longo do século XIX, o comércio mundial cresceu aceleradamente com o aumento da produção e os progressos dos transportes e das comunicações.

Favorecida pelo avanço industrial, a Inglaterra dominou as trocas comerciais, sendo a França a segunda, mas que foi ultrapassada pela Alemanha e pelos Estados Unidos da América.

Os “quatro grandes” tornaram-se as “fábricas do mundo”, responsáveis por mais de 70% da produção industrial.

Cerca de 1850, estava consolidado este sistema de trocas desigual, que ainda hoje se mantém e que perpetua a diferença entre os países desenvolvidos e o mundo atrasado que lhe fornece as matérias-primas.

A Explosão Populacional, Expansão Urbana e Migrações

A Explosão Populacional

Entre 1800 e 1914, a população mundial duplicou. Nesse processo de crescimento, a Europa ocupou um lugar de destaque: enquanto a África e a Ásia tiveram um acréscimo populacional de 1/3, a Europa mais do que duplicou, sendo, por isso, o seu crescimento mais rápido e intenso do que o resto do mundo.

Se nos lembrarmos que foi aos efetivos europeus que se deveu a colonização do Norte e Sul da África, da América Latina e da Austrália, mas também da América do Norte, então poderemos comparar a explosão populacional a uma “explosão branca”.

Os Motivos da Explosão Populacional Europeia

O primeiro facto a ter em conta ao analisarmos a explosão populacional diz respeito ao decréscimo da mortalidade.

Embora a mortalidade infantil permanecesse elevada e apesar de o recuo da mortalidade ser mais tardio na Europa Oriental e Meridional, o facto é que a baixa mortalidade pôs fim ao modelo demográfico do Antigo Regime. Tal pode ser explicado por uma melhor higiene, uma melhor alimentação e pelos progressos da medicina.

No que se refere à melhor higiene, devemos considerar:

  • A nível individual: a mudança mais frequente de vestuário;
  • A nível público: a construção de esgotos e de instalações para abastecimento de água potável. De salientar, também, a utilização do tijolo nas construções, substituindo a madeira, que era pasto de ratos e doenças.

Melhor Alimentação

A disponibilidade de géneros, em quantidade e qualidade, e o progresso dos transportes surgiram como poderosos travões às crises de abastecimento e às terríveis fomes.

Medicina

A medicina conheceu avanços decisivos. Difundiu-se a vacina antivariólica de Jenner e outras vacinas e soros que debelaram o tifo, a cólera, a raiva e a difteria. Operou-se com anestesia e praticou-se mais largamente a desinfeção e a antissepsia.

Esperança Média de Vida

Todos estes progressos permitiram aos europeus contar com uma maior esperança de vida. Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial e nos países mais tocados pela industrialização, 50 anos era a média de vida, o que significava um aumento de 10 a 15 anos em apenas meio século.

Taxa de Natalidade

À exceção da França, as taxas de natalidade mantiveram-se elevadas ou decresceram lentamente durante o século XIX. Só após 1870, a natalidade declinou, dando início ao regime demográfico moderno.

A Expansão Urbana

A população urbana conheceu um impulso decisivo no século XIX. De facto, as cidades cresceram em número, em superfície e em densidade populacional, sendo a urbanização mais significativa nos países industrializados e nos países novos.

Os Motivos

A expansão urbana oitocentista foi corolário da expansão demográfica e das transformações económicas. Na verdade, as cidades expandiram-se porque se verificou um crescimento natural das populações. Aos seus efeitos somaram-se os do êxodo rural, provocado pelas transformações da agricultura, pela industrialização e pelo favorecimento dos transportes.

Mas a fuga do campo para a cidade não significou somente uma redistribuição geográfica das populações. As mudanças repercutiram-se, também, na estrutura profissional: o setor primário recuou, enquanto o secundário e o terciário cresceram.

A imigração é outro fator do crescimento urbano no século XIX. Trabalhadores da Escócia ou da Irlanda instalaram-se nas cidades industriais da Inglaterra. Polacos trabalharam nas minas francesas ou na bacia do Ruhr. Quanto aos Estados Unidos, ficaram célebres as suas cidades cosmopolitas, como Chicago e Nova Iorque.

Os Problemas

Mal preparadas para receber multidões, as cidades não possuíam os adequados sistemas sanitários, redes de distribuição de água ou serviços de limpeza das ruas. Nos bairros populares, superpovoados, uma população numerosa vivia na miséria e promiscuidade. Famílias inteiras acumulavam-se em habitações lúgubres e insalubres, que se resumiam a um único compartimento.

Manifestações de desregramento e delinquência completavam o quadro negro da vida urbana. Na cidade eram comuns os nascimentos ilegítimos e os divórcios mostravam-se duas vezes mais numerosos. A prostituição, a mendicidade, o alcoolismo e a criminalidade faziam parte do quotidiano.

O Novo Urbanismo

Grandes trabalhos de urbanismo foram levados a cabo nas cidades europeias e americanas do século XIX.

Em Paris, ficaram célebres os planos do Barão Haussmann de engrandecer e embelezar a cidade. Paris é um exemplo de uma cidade que cresceu e se urbanizou em extensão, extravasando as muralhas.

Nos Estados Unidos, a urbanização processou-se em altura, criando uma paisagem característica de arranha-céus.

De uma forma geral, o centro tornou-se o local mais cuidado, para onde convergem as grandes obras de renovação, onde existem zonas verdes cuidadosamente arranjadas, a pavimentação é esmerada nas ruas e passeios, a água potável abunda, tal como a rede de esgotos e saneamento.

No fim do século XIX, o núcleo antigo das cidades já não tinha condições para albergar as vagas sucessivas de populações que aí ocorriam. As rendas subiram e o alojamento faltou. Sempre que possível, anexaram-se terrenos circundantes, onde, no meio da desordem, se acumulavam habitações, fábricas, etc. Esta foi a origem dos subúrbios.

Migrações Internas e Emigração

Vastas correntes migratórias atravessaram o século XIX, no período que decorre entre 1850 e 1914.

Migrações Internas

Algumas dessas correntes processaram-se no interior do mesmo país, sendo, pois, designadas de migrações internas.

Cabem nesta categoria:

  • As deslocações sazonais de trabalhadores entre zonas rurais com um calendário agrícola desfasado;
  • Os fluxos migratórios dos campos para as cidades, isto é, o êxodo rural. As dificuldades da agricultura e os efeitos da industrialização exerceram, desde 1850, uma autêntica pressão na população rural.

Emigração

Todavia, a maior corrente migratória do século XIX foi constituída pela emigração, que rompeu fronteiras e galgou os mares. Na Ásia, vários milhares de chineses alcançaram o Sudeste do continente e avançaram para a América. Dentro da Europa, os italianos deslocaram-se para a Suíça, Alemanha, Áustria e França.

A Europa teve o maior fluxo emigratório que a História jamais conheceu. Quarenta milhões de homens dirigiram-se, ao longo do século XIX e até 1914, para os Estados Unidos, Canadá, América Latina, Austrália, Nova Zelândia, África do Norte, África do Sul, Sibéria e regiões do Cáucaso. Operou-se uma extraordinária “explosão branca” a nível mundial.

Desde 1845-1850, verificaram-se verdadeiras partidas em massa, favorecidas, para o efeito, pela revolução dos transportes marítimos e pela propaganda das companhias de navegação e agências de viagens.

Os Motivos

  • Motivos demográficos e económicos: Uma Europa densamente povoada com uma precária distribuição dos recursos, uma agricultura pouco compensadora e um insuficiente desenvolvimento industrial incitava os seus filhos à partida, como fuga à proletarização.
  • Motivos políticos e religiosos: Tiveram, também, a sua quota-parte no causal emigratório europeu. Movimentos revolucionários fracassados expulsaram polacos, franceses e alemães, enquanto os judeus russos fugiram aos pogroms de fins do século. A uma Europa envelhecida e com perda de potencial contrapôs-se uma América pujante, dinâmica e empreendedora.

A Emigração Portuguesa

Na segunda metade do século XIX, Portugal teve uma assinalável participação no surto emigratório europeu. Na década de 1870, 10 mil portugueses deixaram anualmente o país, número que saltou para 18 mil na década seguinte.

Tal como nos restantes países mediterrâneos, em Portugal a industrialização e a urbanização ténues não absorviam a população excedentária. Em 1900, 80% da população vivia ainda em freguesias rurais e vilas.

A emigração constituiu, em Portugal, uma forma de fuga à fome e à miséria, numa tentativa desesperada de resistência à proletarização.

Unidade e Diversidade da Sociedade Oitocentista

Uma Sociedade de Classes

Sociedade de Classes

Tipo de sociedade que se generaliza no mundo ocidental desde o século XIX. Caracteriza-se pela unidade do corpo social, na medida em que os indivíduos, nascidos livres e iguais em direitos, dispõem do mesmo estatuto jurídico.

Fundamentalmente, eram dois os grandes grupos sociais ou classes em que se dividia a sociedade oitocentista: a burguesia e o proletariado. Separava-os o trabalho produtivo manual nas fábricas e no campo, excluído pelos burgueses e reservado aos proletários.

No entanto, a situação revelava-se bem mais complexa, particularmente no tocante à burguesia. A diversidade de estatutos económico-profissionais e de padrões culturais, bem como a mobilidade e a rearrumação constante dos seus elementos, levam-nos a considerar a burguesia como um grupo social heterogéneo, preenchido por uma hierarquia de classes.

A Condição Burguesa: Heterogeneidade, Valores e Comportamentos

A Alta Burguesia Empresarial e Financeira

A imagem-tipo do burguês do século XIX aplica-se na perfeição à alta burguesia empresarial e financeira.

Graças à concentração do poder económico, do poder político e do poder social, a alta burguesia usufruiu de uma notável hegemonia. O poder económico resultou do controlo dos meios de produção e das grandes fontes de riqueza.

De um modo geral, esse poder perpetuava-se em determinadas famílias, que constituíam autênticas dinastias de banqueiros, industriais, homens de negócios e grandes proprietários.

Aventurando-se nos meandros da vida política, a alta burguesia consolidou o seu poder económico. Sempre que possível, os grandes empresários criavam grupos de pressão e, inclusive, alcandoravam-se a lugares cimeiros da administração pública, como deputados, ministros e até presidentes da República.

Quanto ao poder social, a alta burguesia exercia-o através do ensino, da imprensa, do lançamento de modas. Difundindo os seus valores e comportamentos, influenciava a opinião pública, que, assim, melhor acolhia as suas iniciativas.

A Formação de uma Consciência de Classe Burguesa

Os valores que a alta burguesia apresentava eram muito parecidos com os da velha aristocracia titular. A imitação da aristocracia passava pela compra de propriedades, garantia de respeitabilidade.

Passava também pelas férias em estâncias de moda, assistência às corridas de cavalos, receções e bailes, que eram outros tantos sinais exteriores do seu êxito.

Aos poucos, porém, a alta burguesia criou consciência de classe, reconhecendo-se como um grupo autónomo que comungava de atitudes e valores específicos. O culto da ostentação foi cedendo lugar perante o enaltecimento do trabalho, do estudo, da poupança, da moderação e da prudência.

No fomento das virtudes burguesas, a família assumia um papel de relevo. O êxito individual e a mobilidade social ascendente eram apontados pela alta burguesia nas carreiras prodigiosas de alguns dos seus elementos, verdadeiros self-made-men.

Proliferação do Terciário e Classes Médias

As classes médias apresentavam-se como um mundo heterogéneo composto por milhões de indivíduos, sem contacto com o trabalho manual, mas também sem controlarem os grandes meios de produção.

A classe média ilustrava na perfeição a mobilidade ascensional da nova sociedade de classes.

A classe média era constituída, em primeiro lugar, pelos pequenos empresários da indústria. Seguiam-se os possuidores de rendimentos, os donos de bens fundiários, de imóveis, de obrigações e ações que lhes asseguravam colocações sólidas de capital.

Foi pela proliferação do terciário e dos serviços que as classes médias deveram o seu incremento.

A necessidade de distribuir a riqueza produzida fez crescer os empregos comerciais: patrões grossistas ou retalhistas, transportadores, empregados de loja ou grande armazém, vendedores.

Quanto às profissões liberais (por conta própria), estavam os advogados, médicos, farmacêuticos, engenheiros, notários, intelectuais, artistas. O saber científico conferia-lhes autoridade e estatuto.

Conhecidos por colarinhos-brancos, os empregados de escritório encontravam colocação nas repartições estatais, nas grandes firmas industriais, nos bancos, nas companhias de seguros.

Quanto aos professores, podemos dizer que foram uma profissão de sucesso em finais do século XIX. Oriundos, frequentemente, do campesinato, ilustravam essa mobilidade social tão cara às classes médias e à sociedade burguesa.

Conservadorismo das Classes Médias

Embora portadoras da ideologia do progresso, em nome da qual se promoveram, as classes médias eram socialmente conservadoras.

O sentido da ordem, do estatuto e das convenções, o respeito pelas hierarquias marcaram para sempre as classes médias, tal como o gosto pela poupança que lhes assegurava o conforto material e até pequenos luxos.

Junto das classes médias respirava-se respeitabilidade e decência – afinal, os pilares da moral burguesa. No seio da família desenvolviam-se as virtudes públicas e privadas: o gosto pelo trabalho, pelo estudo e o sentido da responsabilidade; a moral austera e o culto das aparências.

Condição Operária e Propostas Socialistas

Proletariado

Segundo a terminologia marxista, significa a classe operária que, sem meios de produção, vende a sua força de trabalho (manual) em troca de um salário.

Condições de Trabalho

O proletariado constituía uma mão de obra não qualificada, mais sujeita à arbitrariedade e à exploração.

No seu local de trabalho, o operário defrontava-se com um ambiente inóspito: frio glacial no inverno e calor sufocante no verão; má iluminação; falta de arejamento; barulho ensurdecedor; riscos de acidente; ausência de vestiários, sanitários e cantinas; horário de refeições praticamente inexistente; horário de trabalho de 12 a 16 horas diárias, sem feriados, férias e, até, descanso dominical; salários de miséria.

Condições de Vida

Caves húmidas ou sótãos abafados, alugados a preços especulativos, eram as suas habitações. Nelas tudo faltava: luz, higiene e salubridade.

Por sua vez, a alimentação mostrava-se insuficiente e desequilibrada. Esgotados pelo trabalho, quase sem horas de sono, mal alojados e subnutridos, os operários constituíam um terreno favorável à propagação de doenças.

O alcoolismo, a prostituição, a delinquência e a criminalidade completavam o quadro da miséria e da sordidez.

O Movimento Operário: Associativismo e Sindicalismo

Associativismo

Traduziu-se na criação de associações de socorros mútuos, também denominadas mutualidades ou sociedades fraternas. Através de quotizações simbólicas dos filiados, acudiam aos necessitados, na doença, na morte, na velhice, no desemprego ou durante as greves.

Sindicalismo

Consistiu na criação de associações de trabalhadores para defesa dos seus interesses profissionais. Os operários contribuíram com as necessárias quotas e os sindicatos propunham-se a lutar pela melhoria dos salários e das condições de trabalho, recorrendo, se necessário, à greve, como forma de pressionar a entidade patronal.

As Propostas Socialistas de Transformação da Sociedade

Socialismo

Teoria, doutrina ou prática social que defende a supressão das diferenças entre as classes sociais, mediante a apropriação pública dos meios de produção e a sua distribuição mais equitativa.

As propostas socialistas desenvolveram-se, ainda, na primeira metade do século XIX e tiveram como objetivos comuns a denúncia dos excessos da exploração capitalista, a erradicação da miséria operária e a procura de uma sociedade mais justa e igualitária.

O Socialismo Utópico

O socialismo utópico distinguiu-se pelas suas propostas de reforma económica e social, que passavam pela recusa da violência, pela criação de cooperativas de produção e de consumo ou pela entrega dos assuntos do Estado a uma elite de homens esclarecidos que governariam de modo a proporcionarem uma maior justiça social.

P.-J. Proudhon, o mais ousado dos socialistas utópicos, defendia a abolição da propriedade privada, que considerava “um roubo”, e do próprio Estado, que classificava de desnecessário.

O Marxismo

O socialismo marxista retira o nome do alemão Karl Marx que, juntamente com o seu compatriota Friedrich Engels, publicou, em 1848, o Manifesto do Partido Comunista. Esta obra marcou de forma profunda o socialismo e a história, na medida em que foi portadora de uma nova conceção de sociedade e esteve na origem de inúmeros movimentos revolucionários ao longo do século XX.

Explicou a luta de classes pelas condições materiais de existência e fez dela o verdadeiro motor da história.

Ao analisarmos o modo de produção capitalista, Marx salientou que ele repousa na mais-valia. Isto é, o salário do operário não corresponde ao valor do seu trabalho, mas apenas ao valor dos bens de que ele necessita para sobreviver, pelo que a exploração do operário é o lucro do burguês capitalista.

Para o efeito, tornava-se necessário que o proletariado, organizado em sindicatos e, especialmente, em partidos, conquistasse o poder político e exercesse a ditadura do proletariado. Esta mais não seria que uma etapa a anteceder e preparar a verdadeira sociedade socialista – o comunismo –, uma sociedade sem classes, sem propriedade privada, sem “exploração do homem pelo homem”.

Os Afrontamentos Imperialistas: O Domínio Europeu

Zonas de expansão europeia nos finais do século XIX e início do século XX:

  • Grã-Bretanha: Acalentava o projeto de dominar o território africano do Cairo ao Cabo; ocupava os territórios da Índia, Austrália e Canadá; exercia influência sobre a China e tinha também Hong Kong.
  • França: Ocupou territórios no norte e centro africanos (por exemplo, Marrocos, Argélia, Tunísia), na Ásia (Indochina) e na América (Antilhas francesas).
  • Império Alemão: Possuía territórios em África e exercia influência na Ásia Menor e na Península Arábica.
  • Rússia: Zonas como a Geórgia, Azerbaijão e procurou estender a sua influência ao Extremo Oriente.

A expansão europeia inscreve-se numa estratégia de controlo de uma vasta extensão territorial com vista à satisfação das necessidades económicas das metrópoles e à afirmação de uma pretensa superioridade cultural.

O exemplo mais evidente de imperialismo e colonialismo (domínio de um povo sobre outro, a vários níveis: político, económico, social e cultural).

Conferência de Berlim

Os chefes de Estado europeus repartiram, entre si, o território africano sem atender às fronteiras definidas pelos povos nativos e impuseram o seu domínio a todos os níveis (económico, político, militar).

Definiram ainda que a colonização só poderia assentar no princípio da ocupação efetiva, isto é, já não bastava ter descoberto ou conquistado o território para ter direito a possuí-lo (direito histórico); era preciso que, nos territórios por eles ocupados, mostrassem que eram capazes de “assegurar” a existência de uma autoridade suficiente para respeitar os direitos adquiridos (nomeadamente, ter meios para efetivamente explorar esses territórios).

O Imperialismo é uma consequência da industrialização.

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