Da Revolução Industrial à Sociologia de Durkheim

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A Questão Social na Revolução Industrial

A semente que semeais...

As condições de trabalho durante a Revolução Industrial eram extremamente difíceis. Tabelas e números mostravam o progresso: a produção de algodão, ferro e carvão subiu aos céus. No entanto, os ricos ficavam cada vez mais ricos, e os pobres, cada vez mais pobres, desligados dos meios de produção.

Os artesãos, que antes tinham uma vida digna, viram-se na miséria devido à introdução das máquinas. Além disso, trabalhavam em situações precárias, sob as ordens e a supervisão de um capataz. Se descumprissem as ordens, estariam sujeitos a penalidades e multas.

Muitos dos males da época, como a exploração por companhias, incluíam a obrigação de comprar e dormir em armazéns pertencentes às próprias empresas. As empresas pagavam os menores salários possíveis. Como os pais não conseguiam sustentar a casa sozinhos, as crianças, por serem menores e receberem ainda menos, foram obrigadas a trabalhar para ajudar suas famílias.

O Trabalho Infantil e as Condições de Vida

As crianças trabalhavam como adultos, tendo que ficar de pé o tempo todo, o que resultava em muitos acidentes. Eram, por vezes, obrigadas a levar seus irmãos mais novos para ajudar, pois, caso contrário, teriam que pagar a alguém para auxiliá-las.

Com a superlotação das cidades, as moradias tornaram-se precárias. Alguns dormiam em porões que não eram adequados nem para armazenamento de lixo, muito menos para moradia. Os ricos não se importavam com o que acontecia: as muitas mortes, doenças e o trabalho infantil. Na maioria das vezes, nem pensavam nisso e, quando o faziam, consolavam-se com o raciocínio de que "tinha que ser assim". Tentava-se fazer os membros das classes trabalhadoras acreditarem que era prazeroso ser pobre, que era uma dádiva.

A Revolta dos Luditas

Os trabalhadores colocaram na cabeça que as máquinas eram as inimigas, pois elas haviam roubado o trabalho do homem. Desesperados, chegaram à conclusão de que teriam que destruir as máquinas. Elas foram destruídas, queimadas e esmagadas. Esses destruidores de máquinas eram chamados de luditas.

Porém, os ricos agiram com rapidez e recorreram à lei. O parlamento aprovou uma lei que penalizava com a morte quem danificasse as máquinas.

A Emergência do Pensamento Capitalista e Imperialista

Com a destruição do feudalismo, criou-se a nova sociedade capitalista, estruturada no lucro e na produção ampliada de bens. Milhares de empresas não acompanharam o crescimento e foram à falência.

Com as novas crises de superprodução, a Europa voltou-se para países com baixíssimo custo de matéria-prima e mão de obra, como na África e na Ásia. A conquista, a dominação e a transformação da África e da Ásia pela Europa exigiam justificativas que ultrapassassem os interesses económicos imediatos. A "civilização" era oferecida, mesmo contra a vontade dos dominados, como forma de elevar seu estado "primitivo" a um nível mais desenvolvido.

A partir de uma interpretação distorcida das ideias de Darwin (Darwinismo Social), criaram-se conceitos para o estudo das diferentes sociedades e etnias. Essa teoria era aplicada para justificar que algumas sociedades eram "incapazes" de transformar o ambiente em favor da sua adaptação e sobrevivência. Hoje, percebe-se a complexidade da cultura humana. Admite-se que o entendimento de como essa lei age deve basear-se em critérios amplos, flexíveis e relativos, que deem conta da maravilhosa diversidade da cultura humana.

A Sociologia de Émile Durkheim

O Fato Social

O fato social é o objeto central da teoria sociológica de Émile Durkheim, constituindo-se em qualquer forma de indução sobre os indivíduos que é tida como algo exterior a eles, tendo uma existência independente e estabelecida em toda a sociedade, sendo esta caracterizada pelo conjunto de fatos sociais estabelecidos.

Também se define o fato social como uma norma coletiva com independência e poder de coerção sobre o indivíduo.

Características do Fato Social

Segundo Émile Durkheim, os Fatos Sociais constituem o objeto de estudo da Sociologia, pois decorrem da vida em sociedade. O sociólogo francês defende que estes têm três características principais:

  • Coercitividade: característica relacionada com a força dos padrões culturais do grupo que os indivíduos integram. Estes padrões culturais são tão fortes que obrigam os indivíduos a cumpri-los.
  • Exterioridade: esta característica transmite o fato de esses padrões de cultura serem "exteriores aos indivíduos", ou seja, virem do exterior e serem independentes das suas consciências.
  • Generalidade: os fatos sociais existem não para um indivíduo específico, mas para a coletividade. Podemos perceber a generalidade pela propagação das tendências dos grupos pela sociedade, por exemplo.

Para Émile Durkheim, fatos sociais são "coisas". São maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo e dotadas de um poder coercitivo. Não podem ser confundidos com os fenómenos orgânicos nem com os psíquicos; constituem uma nova espécie de fatos. São exemplos de fatos sociais: regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros, maneiras de agir, costumes, etc.

A Objetividade do Fato Social

Durkheim procurou definir o método de conhecimento da sociologia. Para ele, toda a explicação científica exige que o pesquisador mantenha uma certa distância e neutralidade em relação aos fatos. Os seus valores e sentimentos pessoais poderão distorcer a realidade. O sociólogo deverá manter-se neutro perante o fato observado.

Durkheim dizia que, para haver um bom resultado, o sociólogo deveria encarar os fatos sociais como "coisas". Com essa visão, pretendia garantir o sucesso das ciências exatas, bem como a definição da sociologia como ciência, acabando de vez com os "achismos" que interpretavam de maneira distorcida a realidade social.

Toda a teoria sociológica de Durkheim pretende demonstrar que os fatos sociais têm existência própria e independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em particular. Mesmo havendo a "consciência individual", poderão ser notados no interior de qualquer grupo ou sociedade formas padronizadas de conduta e pensamento. Essa constatação está na base do que Durkheim chamou de consciência coletiva, ou seja, é o "conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade" que "forma um sistema determinado com vida própria". Tal consciência coletiva não se baseia na consciência individual, mas sim em toda a sociedade.

Anomia

É o estado de uma sociedade caracterizada pela desintegração das normas que regem a conduta dos homens e asseguram a ordem social; anarquia; ilegalidade.

O Estudo sobre o Suicídio

O suicídio foi um exemplo de aplicação do método sociológico, e a sua importância é notável ainda atualmente, não só por isso, mas também pelo fato de, como afirma Giddens, pouco se ter avançado no estudo sobre o tema depois de Durkheim.

Um ponto importante observado no livro é o estado de anomia — conceito já construído anteriormente e aplicado pelo autor agora em outro contexto. Durkheim enxerga além das causas que seriam mais óbvias (o suicídio egoísta e o altruísta) e desenvolve o conceito de suicídio anômico.

Apesar de alguns pontos que podem ser contestados na teoria de Durkheim, não podemos negar o brilhantismo com que realizou o seu trabalho, e nem os críticos de sua obra o negam. O seu trabalho foi um modelo de integração de teorias e dados e surpreendeu as pessoas de seu tempo pelo seu pioneirismo na produção de trabalhos sociológicos científicos.

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