Revoluções de 1830 e 1848: Liberalismo, Nacionalismo e Socialismo

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1. Introdução

A reação europeia, conduzida pelo Congresso de Viena e pela Santa Aliança, não conseguiu estancar o movimento revolucionário iniciado na segunda metade do século XVIII. As revoluções da América luso-espanhola foram bem-sucedidas, e a Grécia libertou-se do jugo turco.

Por volta de 1830, nova onda revolucionária abalou a Europa: na França, Carlos X (autoritário), sucessor de Luís XVIII, foi obrigado a abdicar do poder; a Bélgica, dominada pela Holanda, rebelou-se, proclamando sua independência; na Itália, as associações revolucionárias impuseram uma Constituição; na Alemanha, eclodiram movimentos liberais constitucionalistas; a Polônia tentou obter sua independência.

Essas revoluções provocaram um golpe violento na reação representada pela Santa Aliança, aniquilando-a. Além disso, são caracterizadas por marcar o aparecimento de ideias republicanas e o surgimento dos primeiros agrupamentos políticos socialistas.

Em 1848, a bandeira da revolução voltou a agitar a Europa. Atingiu a França, Alemanha, Áustria e Itália, sendo esse período marcado pela intensificação do socialismo e pela vitória final da reação em toda a Europa por volta de 1850.

2. A Primavera dos Povos

De um modo geral, são três as forças das Revoluções de 1848: o liberalismo, contrário às limitações impostas pela monarquia absoluta; o nacionalismo, que buscava unir politicamente os povos de mesma origem e cultura; o socialismo, força nova, surgida nos movimentos de 1830, que pregava a igualdade social mediante reformas radicais.

Além disso, outros fatores podem ser arrolados para explicar o problema. Entre 1846 e 1848, as colheitas na Europa Ocidental e Oriental foram péssimas. Os preços dos produtos agrícolas subiram violentamente e a situação das classes inferiores piorou.

Ao mesmo tempo, verificava-se uma crise na indústria, particularmente no setor têxtil. O aumento da produção ocasionou a superprodução. A crise na agricultura diminuiu ainda mais o consumo dos produtos manufaturados em razão do empobrecimento dos camponeses. A paralisação das atividades fabris resultou em dispensa dos trabalhadores e redução nos salários, exatamente quando os preços dos gêneros de primeira necessidade subiam vertiginosamente.

Os recursos financeiros dos países europeus foram carreados para a aquisição de trigo da Rússia e dos Estados Unidos. Isto afetou os grandes empreendimentos industriais e a construção das estradas de ferro, em franco progresso na ocasião. A paralisação das atividades nesses setores arrastou outros, provocando uma estagnação econômica geral.

A crise variou de país para país. Na Itália e na Irlanda, foi mais agrária; na Inglaterra, Alemanha e França, industrial. A miséria gerou o descontentamento político. A massa dos camponeses e proletários passou a reclamar melhores condições de vida e maior igualdade de recursos.

No fundo, constituíam ideias socialistas, mas, como não existia um partido socialista organizado que pudesse orientar essas classes, coube aos liberais e nacionalistas, formados pela burguesia esclarecida, exercer a oposição ao governo, contando com o apoio da massa, sem orientação própria.

  • França

Luís Felipe fora colocado no trono da França pela Revolução de 1830, representando os ideais da burguesia e tendo por objetivo conciliar a Revolução com o Antigo Regime (monarquia).

A oposição popular ao regime era manifesta. Em 1834, deu-se a insurreição dos operários de Lyon. As tendências republicanas ganhavam adeptos por intermédio das várias sociedades políticas fundadas com este propósito.

A oposição não era somente popular. Havia muitos partidários da volta de Carlos X, exilado desde 1830. Os antigos correligionários de Napoleão Bonaparte acercavam-se de Luís Napoleão, seu sobrinho.

O partido socialista opunha-se ao governo, propondo reformas. Seus líderes, Louis Blanc, Flocon e Ledru-Rollin, iniciaram, em 1847, uma campanha em todo o país, visando à reforma eleitoral. A forma encontrada para a difusão da campanha foram os banquetes, nos quais os oradores debatiam a questão.

Em 22 de fevereiro, o ministro Guizot proibiu a realização de um banquete, o que provocou a eclosão da revolta. Surgiram as barricadas nas ruas com o apoio de elementos da Guarda Nacional. A revolta ganhou vulto. Guizot foi demitido em favor de Thiers, que nada resolveu. A Câmara foi invadida, e os deputados fugiram. Luís Felipe abdicou. O governo provisório foi organizado e proclamou a Segunda República da França, com a participação de burgueses liberais e socialistas. Em 23 de abril, realizou-se a primeira eleição na Europa com voto universal masculino, direto e secreto.

A crise econômica, entretanto, não foi debelada; pelo contrário, agravou-se. O governo provisório, a fim de ofertar trabalho aos desempregados, criou as “oficinas nacionais", empresas dirigidas e sustentadas pelo Estado. O pagamento dos salários era coberto com a elevação dos impostos, o que redundou em crise maior.

O fechamento dessas oficinas fez voltar à rua o proletariado. Tentou-se fazer uma revolução dentro da própria revolução. A Assembleia delegou poderes excepcionais ao general republicano Cavaignac, que abafou violentamente a revolta. Dezesseis mil pessoas foram mortas e quatro mil deportadas. A questão operária foi resolvida segundo os interesses da burguesia.

Em 12 de novembro de 1848, foi promulgada uma nova Constituição. O presidente da República seria eleito por quatro anos, sendo Luís Napoleão o primeiro presidente eleito. Em 1852, deu um golpe político, implantando o Segundo Império da França e assumindo o governo com o título de Napoleão III.

A Revolução de 1848 apresentou a tônica socialista, evidenciando
a importância do proletariado urbano.

  • Itália

A Itália, em 1848, estava dividida em vários Estados, todos eles com governo tipicamente despótico. A crítica a este regime era conduzida pelas sociedades secretas, principalmente a Carbonária. Ao mesmo tempo, reformas liberais visavam à unificação dos Estados italianos. Para tanto, seria preciso expulsar os austríacos que, desde o Congresso de Viena, adquiriram supremacia sobre a Itália.

Em janeiro, deu-se uma revolta no Reino das Duas Sicílias. O rei Fernando II foi obrigado a conceder uma Constituição, o mesmo ocorrendo na Toscana e no Estado papal.

No reino da Lombardia, foi iniciada uma séria oposição aos austríacos. O rei de Piemonte, Carlos Alberto, tomou a liderança da revolta, declarando guerra aos austríacos. Os exércitos austríacos obtiveram duas vitórias (Custozza e Novara), forçando Carlos Alberto a abdicar em favor de seu filho Vítor Emanuel II. A repressão implantada pelos austríacos foi violenta em toda a península. A tentativa liberal e nacionalista dos italianos tinha sido frustrada.

  • Alemanha

A Alemanha, depois do Congresso de Viena, passara a constituir uma Confederação composta de numerosos Estados, cuja política exterior era coordenada por uma Assembleia que se reunia em Frankfurt. A Prússia e a Áustria lideravam esta Confederação. Visando à maior integração entre os Estados germânicos, foi criado em 1834 o Zollverein, espécie de liga aduaneira que liberava a circulação de mercadorias nos territórios dos membros componentes, sem a participação da Áustria.

Esta política econômica estimulou o desenvolvimento industrial, que, por sua vez, acentuou o nacionalismo germânico, o desejo de independência e de união política. O mesmo aspecto liberal e nacionalista que vimos aparecer na Itália também se manifestava lá.

Na Prússia, em 18 de março de 1848, verificou-se extraordinária manifestação popular diante do palácio real, provocando a reação das tropas. O movimento alastrou-se, e Frederico Guilherme, rei da Prússia, teve de se humilhar prometendo uma Constituição ao povo insurgido.

Vários Estados juntaram-se ao movimento, aproveitando a oportunidade para tentar a unificação política. Em março, reuniu-se em Frankfurt uma assembleia preparatória para um Parlamento representativo, que deveria iniciar seus trabalhos legislativos em maio.

Os príncipes alemães aproveitaram-se da divisão entre os revolucionários para retomar o poder abalado. Em novembro de 1848, Berlim foi tomada e a Constituinte dissolvida pelo exército. O movimento liberal foi abafado. A Assembleia de Frankfurt decidiu eleger como imperador o rei da Prússia, que recusou por se considerar rei por vontade de Deus. Propôs, entretanto, aos príncipes alemães, a criação de um império. A Áustria, em 1850, impôs à Prússia o recuo nesses projetos e em qualquer mudança da ordem existente.

  • Áustria

O Império Austríaco dos Habsburgos era muito heterogêneo. Estava composto de alemães, húngaros, checoslovacos, poloneses, rutenos, romenos, sérvios, croatas, eslovenos e italianos. Destes povos, somente os húngaros tinham certa autonomia. Os mais numerosos, húngaros e checos, conscientes de sua individualidade, buscavam reconhecimento imperial.

Os alemães da Áustria reclamavam contra o governo de Metternich. Insurgiram-se estudantes, burgueses e trabalhadores, forçando a queda do chanceler e a convocação de uma Assembleia Constituinte.

Os eslavos seguiram o exemplo. Orientados por Palacky, convocaram uma reunião dos povos eslavos em Praga para 2 de junho. O congresso pan-eslavista foi dissolvido militarmente. Viena foi tomada, formando-se um governo absoluto após ter sido bombardeada e implantando-se um regime de perseguição policial.

3. Cronologia

1848 – Tentativas frustradas da burguesia de realizar as unificações da Itália e da Alemanha.
1850 – Tentativa de unificação por iniciativa da Prússia.
1852 – Nomeação de Cavour para primeiro-ministro de Vítor Emanuel II, rei de Piemonte-Sardenha.
1859 – Combate à Áustria, liderado por Cavour, aliado a Napoleão III.
1860 – Conquista do Reino das Duas Sicílias por Garibaldi.
1864 – Guerra dos Ducados da Prússia contra a Dinamarca.
1866 – Guerra da Prússia contra a Áustria.
1867 – Formação da Confederação da Alemanha do Norte.
1870 – Guerra Franco-Prussiana.
Tomada de Roma pelos italianos.
Início da Questão Romana.
1871 – Proclamação do Império Alemão.

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