Revoluções Políticas: 1776-1848
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Tema 2: As revoluções políticas (1776-1848)
1. A primeira ruptura: a Revolução Americana
As origens do conflito
No século XVIII, a Grã-Bretanha tinha colônias no leste da América do Norte, as chamadas Treze Colônias. A Revolução Americana é o conflito entre os colonos da Nova Inglaterra e a Grã-Bretanha, que culminou na independência da primeira.
A origem do problema tem uma base econômica. A Grã-Bretanha estava interessada em obter matérias-primas da América do Norte.
Nas colônias governava o Pacto Colonial, que concedia autonomia considerável para os colonos. Os colonos deviam pagar impostos para a Grã-Bretanha, mas quase nunca o faziam.
Isso acabou gerando o conflito dos impostos. O Rei George III tentou estabelecer entre 1764 e 1766 várias leis para regular os impostos coloniais, mas a resposta das colônias foi de protesto e boicote de mercadorias britânicas.
Em 1773, o governo britânico estabeleceu as Tea Acts, pelas quais procuraram monopolizar o comércio do chá, o que poderia arruinar os comerciantes norte-americanos. Estes, disfarçados de índios, atacaram um navio britânico carregado de chá no porto de Boston (Boston Tea Party). Em resposta, os britânicos bloquearam o porto de Boston e retiraram todos os direitos de Massachusetts, a região onde Boston se situa.
A Guerra da Independência (1775-1783)
Em 1774, representantes das Treze Colônias reuniram-se no Primeiro Congresso na Filadélfia, que elaborou uma declaração de direitos e começou o primeiro movimento de armas. A derrota britânica em Lexington (1775) deu um novo impulso para a insurgência.
Politicamente, Thomas Jefferson escreveu a Declaração dos Direitos da Virgínia (1776). Estabelece os princípios da soberania nacional, a separação de poderes e o sufrágio, e foi a base da Declaração da Independência Americana, assinada em 4 de julho de 1776.
Os colonos tinham o apoio militar da França e da Espanha. O desenvolvimento da guerra entrou na sua fase decisiva com as vitórias dos colonos em Saratoga (1778) e Yorktown (1781). Isto levou à assinatura da Paz de Versalhes (1783), em que a Grã-Bretanha reconheceu a independência norte-americana.
O legado da Revolução Americana
A Constituição de 1787 organizou a nova ordem política. O presidente controlava o poder executivo. George Washington foi o primeiro presidente dos EUA. O poder legislativo ficou com o Congresso, que era composto de duas câmaras, a Câmara dos Deputados e o Senado. O poder judicial ficou com os tribunais. A Suprema Corte controlava para que as leis e ações do governo não violassem a Constituição.
2. A eclosão da Revolução Francesa
A situação na França antes da Revolução
No início de 1789, a França era uma grande potência que vivia sob as regras do Antigo Regime.
- Uma sociedade estamental sobreviveu.
- Aprofundou-se a crise econômica, que foi constante desde 1780. A crise afetou principalmente os preços dos produtos básicos.
- O déficit do Tesouro, que aumentou com as despesas da guerra americana.
- Houve uma crise política. O rei Luís XVI foi perdendo o apoio entre o povo.
A reunião dos Estados Gerais
Entre 1783 e 1788 era necessária uma reforma para que os privilegiados pagassem impostos.
O rei convocou uma reunião em 1787 com os privilegiados, mas estes recusaram-se a pagar impostos.
Ao rei só restava como alternativa convocar os Estados Gerais.
Antes da reunião de cada estamento nos Estados Gerais elaborou-se uns cadernos de queixas, onde se refletiam as suas propostas e problemas. Os cadernos do terceiro estado mostraram um profundo descontentamento com o Antigo Regime.
Na primavera de 1789 os Estados Gerais reuniram-se em Versalhes.
O início da Revolução Francesa
Nos Estados Gerais, a nobreza e o clero queriam votar por estamento.
Os representantes do terceiro estado passaram a chamar-se Assembleia Nacional, considerando-se os únicos com legitimidade para representar a França.
Os deputados reunidos no Jogo da Péla, então a Assembleia Nacional foi renomeada para Assembleia Constituinte.
O rei não teve outra escolha senão aceitar esta situação revolucionária.
Em 14 de julho de 1789, os cidadãos parisienses assaltaram a Bastilha. Neste momento, a revolução institucional e a revolução popular correm paralelas.
3. A abolição do Antigo Regime (1789-1792)
Os decretos da Assembleia Constituinte e a Constituição de 1791 acabaram com o Antigo Regime na França.
O trabalho da Assembleia Constituinte (1789-1791)
Em 4 de agosto de 1789, foi decretada a abolição dos direitos feudais. Em 26 de agosto, foi redigida a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Estas duas resoluções representam o fim do absolutismo e o triunfo da revolução liberal.
Após dois anos, a Constituição foi promulgada em setembro de 1791. A Constituição projetou um sistema com as seguintes características:
- O sistema político era uma monarquia parlamentar. Reconheceram-se a soberania nacional e os direitos fundamentais.
- Divisão dos poderes: o poder legislativo nas mãos da Assembleia Nacional, o executivo era exercido pelo rei e o judiciário era controlado pelos tribunais.
- A Assembleia seria eleita por sufrágio censitário.
- Descentralização da administração: a França foi dividida em 83 departamentos e aumentou-se a importância dos municípios.
A Assembleia Legislativa (1791-1792) e a oposição às reformas
A Constituição de 1791 significou o triunfo das propostas da burguesia.
Após a aprovação da Constituição, realizaram-se eleições. Na nova Assembleia predominavam os moderados.
Guerra no exterior e o fim da monarquia
Assustadas com a perspetiva de que a revolução se espalhasse para os seus países, a Áustria e a Prússia declararam guerra contra a França em abril de 1792.
Em 10 de agosto de 1792 a resposta popular à ameaça foi o assalto ao palácio das Tulherias. Isto marcou o fim da monarquia e o estabelecimento da República.
4. A radicalização da Revolução Francesa
Convenção Girondina (1792-1793)
O início da República significou a entrada na fase radical e popular da revolução.
Foram convocadas eleições para uma nova Assembleia, a Convenção Nacional.
A Convenção julgou Luís XVI por traição e em 21 de janeiro de 1793 foi executado na guilhotina. Isto teve dois efeitos: a declaração de guerra das restantes potências, que formaram a Primeira Coligação, e uma revolta realista e ultracatólica na região de La Vendée.
Decidiu-se julgar os contrarrevolucionários, para o qual se estabeleceu um Tribunal Revolucionário e o Comité de Segurança Pública.
A Convenção Montanhesa e o Terror (1793-1794)
O medo da derrota da Revolução levou a um golpe de Estado dos sans-culottes contra os Girondinos em junho de 1793. Os Montanheses assumiram o poder.
Robespierre implantou uma nova ditadura.
Suspendeu a Constituição e aprovou as leis de suspeitos.
Robespierre foi perdendo apoio. Quando tentou uma nova série de detenções, ocorreu o golpe de Estado de 9 de Termidor, após o qual foi julgado e executado.
O Diretório e o fim da Revolução (1795-1799)
Foi criado um governo moderado, que redigiu uma nova Constituição, a Constituição do Ano III.
- Estabeleceu um regime liberal
- Estabeleceu um sistema de sufrágio censitário.
- O poder executivo ficou com um Diretório de cinco membros.
A revolta realista de Vendimiário de 1795 foi travada por Napoleão Bonaparte.
Na campanha italiana de 1796, Napoleão conseguiu acabar com a Primeira Coligação. As potências europeias formaram a Segunda Coligação e, em 1799, a guerra recomeçou.
5. O império napoleônico
O trabalho de Napoleão na França
O Consulado era um regime personalista, que acumulava todo o poder e protagonismo.
Napoleão voltou para a Itália e obteve a vitória, pelo que foi nomeado cônsul vitalício.
Modernizou as leis através da elaboração do código civil, e reformou a economia francesa, criando o Banco da França e o código comercial. Também promoveu o ensino público.
Napoleão e a Europa
A Grã-Bretanha formou uma Terceira Coligação com a Áustria e a Rússia. Napoleão lançou uma nova campanha, apoiado pela Espanha.
A paz de Tilsit marcou o apogeu do império de Napoleão.
Napoleão decretou o bloqueio continental contra a Inglaterra, todos os países o aceitaram, exceto Portugal, então Napoleão decidiu invadi-lo e, de passagem, invadiu a Espanha em 1808, o que resultou na Guerra da Independência, que duraria cinco anos.
A situação complicou-se quando a Rússia rompeu a aliança com a França e começou a negociar com a Inglaterra, Napoleão decide invadir a Rússia em resposta em 1812, mas foi derrotado.
Formou-se uma Sexta Coligação, que derrotou os franceses na Batalha de Leipzig em 1813, no mesmo ano em que Napoleão foi derrotado na Espanha.
Napoleão abdicou em 6 de abril de 1814, após cem dias voltou ao poder em 1815 e foi derrotado na Batalha de Waterloo, como castigo foi deportado para a ilha de Santa Helena, onde morreu.
6. A Restauração
Após a derrota de Napoleão, iniciou-se uma época de reação antiliberal, que chamamos de Restauração.
O regresso do absolutismo
Durante a época da Restauração voltaram ao poder os monarcas do Antigo Regime.
Os reis promulgaram cartas outorgadas. Este foi o caso do rei Luís XVIII da França, que reinou após a queda de Napoleão.
O Congresso de Viena: a reorganização do mapa europeu
No Congresso de Viena foi modelado o novo mapa europeu. As três principais alterações foram:
- A França voltou às fronteiras que tinha antes da Revolução.
- Reforçaram-se dois estados-tampão para impedir uma possível expansão francesa
- A Áustria, a Prússia e a Rússia ganharam territórios de forma equilibrada.
O Congresso de Viena iniciou o sistema de congressos.
Alianças internacionais contra a revolução
Foram criados dois blocos:
- A Santa Aliança, formada pela Prússia, Rússia e Áustria e, mais tarde, pela França.
- A Quádrupla Aliança, formada pela Grã-Bretanha, Áustria, Prússia e Rússia.
7. A nova vaga revolucionária (1820-1848)
Liberalismo e nacionalismo
Em 1820, 1830 e 1848 houve três ciclos revolucionários na Europa baseados principalmente em duas ideologias: o liberalismo e o nacionalismo.
- O liberalismo da primeira metade do século XIX rejeitava o absolutismo e tentava recuperar os direitos e liberdades reconhecidos na Revolução Francesa.
- O nacionalismo tem as suas origens na expansão napoleônica.
A Revolução Francesa foi o principal motor do liberalismo.
As revoluções de 1820 e 1830
Em 1820, produziu-se a primeira vaga revolucionária:
- O movimento começou na Espanha em 1820 e terminou em 1823 com a intervenção da Santa Aliança.
- Em 1821, os gregos revoltaram-se contra o domínio turco. A revolta terminou com a independência da Grécia em 1828.
Em 1830 surgiu a segunda vaga revolucionária.
- O seu centro foi a França. O rei Bourbon Carlos X tentou acabar com a carta outorgada que Luís XVIII tinha concedido.
- Em Bruxelas houve uma revolta contra o rei da Holanda, que acabou levando à independência da Bélgica em 1831.
As revoluções de 1848
O movimento revolucionário de 1848 caracterizou-se por ter um componente de revolução social e operária.
Tudo começou na França. O regime cada vez mais corrupto e moderado de Luís Filipe sofreu uma revolução em fevereiro que o expulsou da França e proclamou a Segunda República.
Nas eleições triunfou Luís Napoleão Bonaparte, que acabou com a República e proclamou o Segundo Império em 1852.
Apesar do fracasso, as revoluções de 1848 abriram uma nova era política.