O Romance no Século XX: Tendências, Técnicas e Evolução
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Tendências e Evolução do Romance no Século XX
Durante todo o século XX, coexiste um romance comercial, voltado para o público em geral, que continua as premissas do realismo do século XIX. Entre suas características, destacam-se:
- Presença de um narrador onisciente: Frequentemente, esse narrador guia o leitor, interpreta e sugere a direção da obra.
- Narrativa linear: Os acontecimentos são narrados em ordem cronológica.
- Estrutura clássica: A história se encaixa na divisão tradicional de apresentação do problema, desenvolvimento, complicações e desfecho, que resolve a situação.
- Foco no personagem ou na trama: A obra se concentra na análise psicológica e comportamental de um personagem ou na narração de uma série de incidentes que prendem o leitor, recorrendo a vários meios de intriga.
- Estruturas de gênero: É comum a apresentação de estruturas de gênero, como ficção histórica, autobiográfica, policial ou ficção científica.
Em confronto com esse tipo de romance, surge outro tipo de narrativa, impulsionada pelo espírito inovador característico do século, com o objetivo de romper com a forma de narrar iniciada no século XIX. Essa linha é responsável pela evolução do gênero, e muitas de suas contribuições foram posteriormente incorporadas por obras mais comerciais.
O romance do século XX pode ser dividido em dois períodos, separados pela Segunda Guerra Mundial:
- Antes da guerra: Caracterizado pelo afastamento da forma narrativa realista e pela influência do espírito de vanguarda. Há também uma preocupação comum com questões existenciais e religiosas.
- Após a guerra: A experimentação técnica diminui. A realidade social e os relatos voltam a prevalecer como referência principal. Com o passar do tempo, começam a surgir romances que se afastam do problema social e da relativa simplicidade técnica. A produção de romances aumenta, estende-se a todos os cantos do mundo e multiplicam-se as tendências e gêneros.
Novas Técnicas Narrativas
Paralelamente ao romance mais tradicional, surge uma narrativa preocupada em encontrar novas formas de contar histórias. As técnicas utilizadas incluem:
- O argumento: O romance não se limita à narração da sequência de eventos; estes servem como pretexto para abordar preocupações temáticas e técnicas textuais.
- Elementos não narrativos: É comum encontrar elementos como anúncios, relatórios policiais, processos judiciais, etc.
- Descrição: O romance explora as possibilidades da descrição, que não é mais utilizada apenas para situar a ação no espaço e no tempo.
- O narrador: O narrador onisciente perde força, e ganha peso a narrativa em primeira pessoa, com narradores céticos, que parecem ignorar a história ou que jogam com o leitor, incentivando-o a interpretar e tirar suas próprias conclusões.
- Monólogo interior e perspectivismo: O papel reduzido do narrador leva à emergência da opinião expressa pelo monólogo interior do personagem. O perspectivismo também é comum, com o narrador atuando como um guia que dá acesso a diferentes fontes de informação sobre o evento.
- Personagens: O herói típico é um personagem problemático, em conflito com seu ambiente e consigo mesmo. Ao lado dele, abunda o personagem coletivo, que reflete a agitação do mundo moderno. Os personagens são definidos por suas próprias ações e palavras.
- Estrutura fragmentada: As obras apresentam uma estrutura fragmentada, acumulando diferentes perspectivas, modalidades textuais e linguísticas, e tramas de natureza diversa, que o leitor deve organizar.
- Ruptura da estrutura clássica: A organização clássica da narrativa é dividida em três partes, seja pela ausência de desfecho, seja porque o final da história retoma o início, no que se chama estrutura circular.
- Contraponto: A técnica do contraponto, que consiste no relato de ações paralelas com uma tênue relação entre elas, é o princípio estrutural escolhido por alguns romancistas.
- Espaço e tempo: São amplamente utilizadas a concentração das histórias em um espaço limitado (uma cidade) ou em um curto período de tempo. Há também a quebra da ordem cronológica do romance realista, incluindo interrupções temporárias.