Roteiro de Estudo: Bases Fisiológicas do Comportamento

Classificado em Medicina e Ciências da Saúde

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1) Dor: Conceito, Tipos e Vias

Dor: É uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a um dano tecidual real ou potencial.

Tipos de Dor

  • Dor nociceptiva ou fisiológica: Caracterizada por ser aguda, requerer uma estimulação intensa e ser transitória.
  • Dor patológica ou crônica: Caracterizada pela ausência do estímulo nóxio e associada a inflamações do tecido periférico.
  • Dor neuropática: Acontece devido a uma lesão de um nervo periférico ou de lesão central e manifesta-se como dor espontânea parecida com choques, hiperalgesia (dor grave produzida por estímulos nociceptivos leves) e alodinia (dor produzida por estímulo não doloroso). É aquela decorrente de uma lesão primária ou disfunção do sistema nervoso (é também uma dor caracterizada como crônica).

Vias Nervosas da Dor

Sabe-se que a dor é conduzida por um trato de fibras denominadas espinotalâmicas anterior lateral. O sistema límbico e áreas relacionadas à emoção vão receber diretamente o estímulo doloroso, ascendendo em direção ao tálamo pelo ETAL, tomando 2 caminhos: 1º para o sistema límbico em direção a áreas emocionais e 2º para a substância reticular (que regula a dor, a vigília e o sono), estrutura multifuncional localizada no tronco encefálico e tálamo, com a função de ativar ou diminuir a atividade cerebral. A importância dessa estimulação é provocar um estado de hiperalerta que facilita procurar a região afetada, cuidá-la e também evitar novo acontecimento na inter-relação social.

Centros Antinociceptivos

A partir da substância reticulada descem fibras que promovem o semi-bloqueio da entrada do estímulo doloroso na medula, amenizando a dor. Esse sistema é interligado com outras áreas encefálicas que se denomina no conjunto sistema anti-nociceptivo ou sistema endógeno do controle da dor; a endorfina é um dos seus neurotransmissores. Localiza-se no sistema nervoso dos mamíferos e tem função de propagação analgésica.

2) Motricidade: Reflexos e Áreas Motoras

Motricidade: Capacidade de realizar movimento e determinar a contração muscular, assim como a capacidade de expressar emoções e sentimentos.

Níveis de Motricidade

  • Motricidade automática: Modo involuntário, de iniciativa autônoma, mas não consciente, relacionada às emoções e vontades.
  • Motricidade voluntária: Ligada às emoções e pode ser escolhida.
  • Motricidade Reflexo-involuntária: Não se tem controle sobre ela, não está relacionada às emoções e sim a estímulos recebidos.

Reflexo: Reação motora produzida por sinal sensorial.

Tipos de Reflexos

  • Reflexos medulares: São aqueles que se organizam do receptor sensitivo (informação sensorial aferente) à medula (projeções descendentes), e daí ao nervo motor, sem qualquer intervenção do cérebro.
  • Reflexo de estiramento: Regula a contração muscular, são enviados sinais para a medula espinhal e o sinal reflexo volta ao músculo (contração e movimento).
  • Reflexo de flexão e marcha: É uma tentativa de proteção, onde as terminações livres sobre a pele vão detectar o estímulo.

Tronco Encefálico e Motricidade

Aí se encontra o aparelho vestibular (conjunto de órgãos do ouvido interno responsável pela manutenção do equilíbrio). É constituído de 3 canais semi-circulares dispostos em 3 planos paralelos diferentes, contendo um líquido, a linfa, que se movimenta detectando o movimento da cabeça; há mais 2 estruturas, o utrículo e sáculo, que detectam movimentos lineares; detector capaz de detectar mudanças de posição.

Cerebelo e Coordenação Motora

Localiza-se na região posterior do tronco cerebral e é constituído por estruturas que se supõe. É classificado em:

  • Arquicerebelo: Relacionado ao equilíbrio; origem: núcleos vestibulares.
  • Paleocerebelo: Sensibilidade tátil que nos dá a percepção de partes do nosso corpo.
  • Neocerebelo: Movimentos delicados e finos feitos por sua coordenação.

Núcleos da Base

Exercem um efeito regulatório sobre a coordenação motora.

Córtex Motor

O córtex motor se localiza na área anterior ao sulco central do cérebro e tem como funções controlar e coordenar a motricidade voluntária. O do hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo e vice-versa.

3) Emoções: Tipos, Teorias e Estruturas

Emoção: É o conjunto de reações relacionadas a uma sensação; possui substratos neurais que organizam tanto respostas a estímulos quanto a sua percepção.

Tipos de Emoções

  • Primárias: Relacionadas às necessidades imediatas como alimentação, obtenção de água, sexo.
  • Secundárias: Estados mais discriminativos e complexos como ansiedade, prazer, amor, dependentes de fatores socioculturais.
  • Emoção de fundo: Relacionada ao bem e mal-estar como a calma e a tensão.

Componentes da Emoção

  • Cognição: Percepção consciente das emoções.
  • Afeto: Percepção de si e dos outros.
  • Motivação: O desejo de agir.
  • Alterações: Somáticas e viscerais, expressão.

Exemplos de Emoções

  • Ira: Fúria, revolta, raiva.
  • Medo: Fobia e pânico.
  • Amor: Amizade, paixão.
  • Vergonha: Culpa, mágoa.

Teorias das Emoções

  • A teoria de James-Lange: Para percebermos uma excitação, precisamos vivenciar a emoção; estímulo - órgão sensorial - tálamo - sistema límbico - reações.
  • A teoria de Cannon-Bard: Propunha que vivenciamos emoções mesmo que nenhuma mudança fisiológica ou respostas sejam produzidas; estímulo - tálamo - córtex - sistema límbico - reação corporal.
  • A teoria bifatorial ou cognitiva: Estímulo - tálamo - córtex - sistema límbico - tálamo - sistema límbico - reação corporal, ou seja, concorda tanto com Cannon-Bard, quanto com James-Lange.

Circuito de Papez

Papez acreditava que as emoções eram primeiramente determinadas pelo córtex cingulado e depois por áreas corticais; as aferências sensoriais eram percebidas pelo hipotálamo, seguiam para o tálamo anterior e depois iam para o giro do cíngulo que ia para o neocórtex (riqueza emocional) e/ou voltava para o hipocampo (experiência emocional) que voltava para o hipotálamo (expressão visceral da emoção); estímulos ambientais - neocórtex - sistema límbico - comportamento de sobrevivência.

É um circuito fechado que une as estruturas límbicas, tais quais são: giro do cíngulo, hipocampo, fórnix, corpos mamilares, fascículo mamilotalâmico e núcleos talâmicos anteriores, que representam a direção predominante dos impulsos nervosos e que formam o substrato neural para expressão e experiência emocional.

Amígdala e Emoções

Está relacionada com a sensação de medo e agressão, alerta do organismo; disparador do medo e da ansiedade.

Lesão Bilateral da Amígdala

Mudanças emocionais, ignora o medo e a ira nas outras pessoas, diminui agressividade, não sente medo e ansiedade, preserva sentimento de alegria, prazer.

Reações Emocionais Condicionadas

Podem ser condicionadas, pois a amígdala responde à aprendizagem afetiva.

Sistema Límbico

Função psíquica de avaliar a situação, os fatos e eventos da vida e realizar a integração do sistema nervoso, endócrino e imunológico.

Hipotálamo e Emoções

O papel do hipotálamo é integrar respostas comportamentais, endócrinas e autonômicas necessárias à sobrevivência, ou seja, a homeostasia comportamental é responsável pelo comportamento de defesa, reprodutor, alimentar e ingestão hídrica; formar respostas de alerta generalizado, principalmente quando há execução de comportamentos motivados; é também o centro da saciedade, que está ligado à preservação do indivíduo e da espécie. A parte lateral dele relaciona-se às emoções do prazer e raiva e as partes mais medianas estão relacionadas com a aversão, desprazer e também ao riso incontrolável.

Hipocampo e Emoções

O papel do hipocampo na regulação do comportamento emocional, na participação da memória e aprendizado, na regulação das atividades viscerais e endócrinas, destacando a secreção do ACTH.

Córtex Pré-frontal e Emoções

Ele é responsável pela organização do indivíduo, sua função é relacionada na escolha de melhores estratégias comportamentais para situações, na manutenção da atenção, controle do comportamento emocional e afetivo; quando em conjunto com o hipotálamo e o sistema límbico, relaciona as responsabilidades sociais. Está localizado na região mais anterior do lobo frontal.

Córtex Pré-frontal e Decisões

Quando essa área sofre uma lesão, os pacientes são incapazes de decidirem adequadamente, apesar de racionalmente estarem cientes de qual seria a melhor decisão. Nossas decisões são baseadas nas nossas antecipações emocionais e enfatizam que as emoções não só atrapalham nossas decisões, como também ajudam para que elas ocorram adequadamente.

4) Aprendizado e Memória

Aprendizado e memória (tipos de memória, bases fisiológicas), reflexos condicionados.

Conceito de Memória

É o processo cognitivo mediante o qual se pode integrar, reter e recuperar a informação e recordar o que aprendemos.

Classificação da Memória por Tempo

  • Memória sensorial: Tem origem nos órgãos dos sentidos, e se a informação por ela adquirida não for processada, perde-se; se for, encaminha-se para a memória de curto prazo.
  • Memória de curto prazo: É o armazenamento da informação por um período de alguns segundos após o desaparecimento do estímulo.
  • Memória de longo prazo: É alimentada pelos materiais da memória de curto prazo que são codificados com símbolos que possibilitam preservar a informação durante dias, meses, anos e até a vida toda; ela é ilimitada.

Classificação da Memória por Modalidade

  • Memória declarativa: Armazena fatos, informações e episódios (memória semântica - conhecimentos gerais e memória episódica - autobiográfica).
  • Memória procedimental: Constituída pela capacidade motora, pelas habilidades, hábitos e condicionamento.

Reflexos Condicionados

É uma resposta aprendida a um estímulo inadequado; resulta da associação entre estímulos e respostas e da qual resulta uma mudança de comportamento.

5) Comportamento Reprodutivo

Comportamento reprodutivo - visão geral.

O comportamento sexual é um comportamento motivado e envolve mecanismos neurais e é influenciado por fatores não biológicos, como fisiológicos e comportamentais. A atividade sexual é um fenômeno cíclico, sazonal e depende da maturação e regressão periódica das glândulas sexuais. O comportamento sexual e reprodutivo é regulado através de hormônios lançados na corrente sanguínea pelas glândulas sexuais e pela hipófise anterior.

Hormônios Principais

  • Liberadores de gonadotrofinas.
  • Hormônio inibidor da liberação da prolactina (início e manutenção do leite materno).

Em decorrência de distúrbios endocrinológicos ocorrem casos ambíguos de definição sexual.

Diferenças Sexuais no Comportamento

Os machos têm maior sensibilidade do que as fêmeas. Machos exploram menos ambientes novos, também manifestam mais reações de congelamento frente a estímulos desconhecidos. Os machos apresentam maior quantidade de serotonina no sistema límbico do que as fêmeas. O cérebro especificado como macho por androgênios produzidos pelos testículos na fase perinatal determina o comportamento emocional masculino com um nível mais alto de estresse e medo. O cérebro especificado como fêmea pode controlar a organização do comportamento emocional feminino com um nível mais baixo de medo e uma menor sensibilidade ao estresse da vida social.

Hipotálamo e Comportamento Sexual

O hipotálamo é uma estrutura crítica na integração do comportamento sexual. A lesão desta área promove uma redução acentuada do comportamento sexual.

A área pré-óptica hipotalâmica apresenta algumas características estruturais dimórficas que servem de base morfológica no SNC para a diferenciação do comportamento sexual.

Amígdala e Comportamento Sexual

Outra estrutura importante na organização do comportamento sexual é a amígdala, a qual parece exercer uma influência inibitória sobre a atividade sexual.

6) Comportamento Alimentar

Comportamento alimentar - visão geral.

Ingestão Alimentar

Os animais ingerem alimentos para o gasto diário e também para armazenar, se um dia precisarem; a quantidade ingerida varia de acordo com o centro da fome e da saciedade de cada espécie, assim como são influenciados por:

Fatores Internos

  • Nível de glicemia.
  • Nível de aminoácidos e gordura no sangue.
  • Distensão do estômago.
  • Sinalização emocional (consciente e inconsciente).

Fatores Externos

  • Tempo.
  • Odor do alimento.
  • Visão.

Além disso, a ingestão alimentar é fundamental para a manutenção da homeostase.

Hipotálamo e Ingestão Alimentar

Assemelha-se a um transdutor, ou seja, mantém a homeostase do organismo através da ativação e desativação do comportamento de busca pelo alimento do animal.

Centros da Fome e Saciedade

O centro da saciedade é o hipotálamo ventromedial, ele é ativo; a lesão desse centro provoca o aumento na ingestão de alimentos e no peso corporal; já a estimulação elétrica desse centro causa saciedade, inibindo o comportamento alimentar. O centro da fome é o hipotálamo lateral, ele é passivo; a lesão desse centro causa cessação da ingestão de alimento e líquido e pode causar até a morte por inanição.

Regulação da Ingestão Alimentar

  • Curto prazo: Fatores que sinalizam o momento de parar de comer, ou seja, a regulação da ingestão alimentar.
  • Longo prazo: Fatores que regulam o peso corpóreo.

Alimentação e Custo

Ocorre uma variação do volume de comida quase desvinculada de ajustes homeostáticos, obedecendo ao custo da refeição e ocorre também uma variação da massa corpórea. Assim sendo, quando o acesso à comida é de baixo custo, come-se pouco e frequentemente, já quando o acesso é de alto custo, ingere-se volumes enormes, talvez em uma só refeição.

Distúrbios Alimentares

  • Obesidade: Caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura, excedendo 10% do peso padrão. Há uma predisposição familiar genética à obesidade, e a falta de exercícios físicos pode agravá-la, assim como os fatores psicológicos são associados como principal causa.
  • Anorexia: Caracteriza-se por um comportamento dirigido à perda de peso, medo da obesidade, insatisfação com a imagem corporal e manuseiam de modo diferente e escondem alimentos, ou até mesmo são capazes de induzir ao vômito. Pode levar à morte devido à desnutrição, ou a um tumor na região hipotalâmica.

Sede

A procura de água, ingestão hídrica.

Centro da Sede

O centro da sede se localiza no hipotálamo; quando é estimulado pelo aumento de concentração de íons no sangue (osmolaridade plasmática) ou diminuição do volume de sangue (volume vascular), provoca a desidratação intracelular, levando o indivíduo a beber.

Hormônio Antidiurético (HAD)

A perda de água ativa circuitos hipotalâmicos que promovem a liberação de hormônio antidiurético (HAD) para a hipófise posterior e daí para a circulação sanguínea. Aumenta a permeabilidade das células dos rins à água, promovendo a reabsorção de líquidos.

7) Sono, Vigília e Atenção

Sono, vigília e atenção - bases fisiológicas, tipos.

Sono

Funções do Sono

  • Restaurar a atividade cerebral.
  • Aprendizado e memória.
  • Evolutiva.

Consequências da Privação do Sono

  • Aumento dos distúrbios de sono.
  • Alterações cognitivas, comportamentais, hormonais, neuroquímicas.
  • Reduz a longevidade.

Distúrbios do Sono

  • Insônia: Sono insuficiente; a pessoa acorda frequentemente durante a noite; ansiedade, depressão, sedativos e tranquilizantes são fatores que contribuem para a insônia.
  • Hipersonia: É a desordem do sono não REM, é o despertar dormindo; são hipersonias:
    • Sonambulismo: Estágio 3 e 4 do sono, é próprio de pessoas ansiosas.
    • Terror noturno: É o acordar subitamente acompanhado de alterações autonômicas, como falta de ar, palpitação e pânico. A criança chora dormindo.
    • Enurese noturna: Fazer xixi na cama.
  • Apneia do sono: Patologia que ocorre quando o paciente para de respirar várias vezes durante a noite; pode ter causas:
    • Periféricas: Amígdala ou úvula grande. Uma das características é o ronco. O uso de bebidas alcoólicas, obesidade, obstrução nasal, facilitam esse tipo de apneia.
    • Central: Falta de estimulação conveniente do centro respiratório; causa uma sonolência intensa, eleva a pressão arterial e causa alteração da memória.
  • Narcolepsia: Doença caracterizada por episódios de sono recorrentes de curta duração - a pessoa adormece subitamente; provoca perda do tônus muscular (cataplexia), paralisia do sono e alucinações hipnagógicas (crises de sonhos durante a vigília); causas: falta de um neurotransmissor denominado orexina; a orexina excita o córtex para manter o indivíduo acordado; está localizada no hipotálamo; o tratamento é feito com medicamentos como modafinil e anfetamina.
  • Distúrbio comportamental do sonho: Caracteriza-se por comportamento violento, com perda da atonia muscular; decorre de uma alteração das regiões do tronco encefálico responsáveis pela atonia do sono REM; comum em pessoas com mais de 60 anos; não é pesadelo.
  • Paralisia do sono: É a sensação de não conseguir movimentar o corpo após o despertar; decorre de um despertar parcial durante o sono REM, persistindo a atonia muscular em estado de vigília.
  • Alucinações hipnagógicas: Ocorrem ao despertar ou ao adormecer e se caracterizam por alucinações visuais ou auditivas, como se a pessoa estivesse sonhando acordado; decorrem de um despertar de sono REM, com sensações de sono no estado de vigília; são aquelas alucinações que acontecem quando está quase dormindo e sonha que está caindo e aí você acorda.
  • Sonhos Épicos: Caracterizam-se por serem cansativos, grandiosos e difíceis; a pessoa acorda relatando que o seu sono não foi reparador e dizendo ter sonhado a noite inteira, o que a faz despertar cansada.
  • Pesadelos: São sonhos com forte conteúdo emocional, geralmente desagradáveis.
  • Estados dissociados: São quadros em que a pessoa confunde sono, sonho e realidade; estados dissociados podem ser a expressão máxima de um distúrbio comportamental do sono REM e também podem estar associados à narcolepsia.

Estágios do Sono

  • Estágio 1: Representa a transição entre o estado de vigília e o sono; ainda se está consciente, sendo possível repetir partes do que foi dito no ambiente; os movimentos oculares são lentos e intermitentes; redução do tônus muscular; ocupa 5% do tempo total de sono.
  • Estágio 2: Decréscimo do grau de atividade dos neurônios corticais; cessação quase completa dos movimentos dos olhos; é mais difícil acordar o indivíduo, porque ele já dormiu; ocupa de 45% a 55% do tempo total de sono.
  • Estágio 3: Movimentos oculares raros; tônus muscular diminui progressivamente.
  • Estágio 4: É o mais profundo; acordar um indivíduo durante esse estágio é difícil.
  • Sono REM: É uma dessincronização cortical resultante da ativação da formação reticular mesencefálica; assemelha-se ao estado de vigília, pois apesar de ser um estado de sono profundo, observa-se um eletroencefalograma semelhante ao da vigília, porém com desaparecimento do tônus muscular; o indivíduo apresenta máxima hipotonia da musculatura esquelética, exceto pelas oscilações da posição dos olhos, dos membros, dos lábios e da cabeça; tem como principal característica a presença de sonhos; movimentos oculares rápidos; abalos musculares.

Sono e Sonhos

O sono é composto por duas fases alternantes: sono REM e sono não REM.

Arquitetura do Sono

O sono não REM é dividido nos estágios 1, 2, 3 e 4, e ocorre na primeira parte da noite; o sono REM ocorre na segunda metade da noite e distribui-se em quatro a seis ciclos com duração média de 90 minutos cada; a presença de sonhos é a principal característica do sono REM.

Ritmos Circadianos

A melatonina está relacionada ao ritmo claro-escuro e, em consequência, ao ritmo vigília-sono; ela proporciona um horário regular de sono; seu aumento induz ao sono.

Distúrbios do Ritmo Circadiano

  • Atraso de fase: Situações em que alguns indivíduos tendem a dormir tarde e acordar tarde.
  • Avanço de fase: Tendências a dormir e acordar cedo.
  • Jet lag: Fusos horários diferentes.

Núcleo Supraquiasmático

Está localizado no hipotálamo e é responsável pela interpretação de claro e escuro; dá uma rotina de dia e de noite, sono e vigília; o núcleo supraquiasmático cicla mesmo quando as conexões neurais são eliminadas ou quando os núcleos são mantidos em cultura e possuem ritmos próprios. Porém, pode-se sincronizar aos ritmos ambientais externos com as oscilações fotoperiódicas; durante o dia, a retina estimula o núcleo supraquiasmático cujos neurônios são inibitórios. Como consequência, os neurônios do núcleo paraventricular deixam de estimular os neurônios pré-ganglionares simpáticos da medula e a produção de melatonina é baixa durante o dia.

Formação Reticular

A formação reticular influencia quase todos os setores do sistema nervoso central.

Funções da Formação Reticular

  • Controle da atividade elétrica cortical.
  • Sono e vigília.
  • Controle eferente da sensibilidade.
  • Controle da motricidade somática.
  • Controle do sistema nervoso autônomo.
  • Controle neuroendócrino.
  • Integração de reflexos.
  • Centro respiratório e vasomotor.

Controle Cortical, Sono e Vigília

A atividade elétrica do córtex cerebral é regulada pela formação reticular do tronco encefálico; a formação reticular é capaz de ativar o córtex a partir do que se criou o conceito de Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA), importante na regulação do sono e da vigília.

Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA)

O ritmo normal de sono e vigília depende de mecanismos localizados no tronco encefálico; a ação do SARA sobre o córtex se faz através das conexões da formação reticular com os núcleos inespecíficos do tálamo; a formação reticular contém mecanismos capazes de regular o sono de maneira ativa; o sono REM é desencadeado a partir de grupos neurais situados na formação reticular (lócus ceruleus); além da formação reticular, o hipotálamo também está relacionado com a regulação de sono e de vigília.

Estado Crepuscular

Estado intermitente entre a vigília e o sono, evidenciando que dormimos e acordamos aos poucos.

Vigília

É um estado de atenção cortical no qual pode-se registrar o estímulo. O córtex está ativado e não interpreta o estímulo. Vigília é estar acordado sem interpretar os estímulos externos.

Consciência

O córtex está ativado e você interpreta o estímulo. Você sabe o que está acontecendo.

O córtex está temporariamente desativado e você não registra o estímulo.

Sonhos (Atividade Onírica)

Os sonhos são pensamentos que ocorrem durante o sono REM; os sonhos são feitos por informações memorizadas, liberadas por alguns mecanismos passivos ou por mecanismos ativos; os sonhos decorrem de uma ativação do lobo occipital, do lobo parietal, das zonas límbicas e da inativação do lobo frontal.

Teorias sobre Sonhos

  • Freud: Defendeu que os sonhos se originam do inconsciente e traduzem desejos reprimidos.
  • Jung: Considerou os sonhos símbolos que passam através de gerações desde os ancestrais.

Fisiologia da Atividade Onírica

Durante o sonho existem comportamentos com componentes motores e vegetativos; os componentes vegetativos são divididos em:

  • De suporte: Levar mais oxigênio, glicose, ácidos graxos ao sistema nervoso e aos músculos; constituem-se de aumento da frequência cardíaca, pressão arterial, ventilação pulmonar e sudorese.
  • Específicos: Característicos de comportamentos de secreção salivar ao falar, secreção salivar e gástrica, movimentação intestinal ao comer e aumento do fluxo sanguíneo nas mamas e na vagina.

Hemisférios Cerebrais e Sonhos

Durante o sono REM ocorreria dessincronização da atividade elétrica cerebral, o que evidencia a participação dos hemisférios cerebrais durante o sono; durante o sonho ocorreria uma desconexão funcional entre os hemisférios direito e esquerdo, o que explicaria a dificuldade de alguns indivíduos de relatar os sonhos; o hemisfério direito produziria os sonhos que seriam decodificados verbalmente no hemisfério esquerdo; o lobo frontal participaria do processamento do sono.

Teoria da Ativação e Síntese

Os sonhos estão relacionados com um aumento da atividade de sistemas límbicos e estruturas paralímbicas do prosencéfalo; durante os sonhos ativa-se o arco límbico que conecta o corpo estriado ventral, o tálamo anterior e o córtex paralímbico, enquanto o circuito pré-frontal fica ativado apenas em parte; isso pode explicar o porquê das alucinações visuais vívidas, alucinações motoras das emoções, da cognição bizarra e da memória caótica; os sonhos que ocorrem no início do sono teriam significado diferente daqueles que acontecem durante o sono REM; geralmente incorporam experiências do dia e podem ser manipulados por meio de estímulos sensoriais até iniciar o sono.

Sonhos e Neuropsicanálise

Para a neuropsicanálise, os sonhos sofrem influência de fatores externos e internos. Distúrbios orgânicos podem influenciar no teor dos sonhos.

8) Dominância Hemisferial

Dominância hemisferial - conceito e bases fisiológicas.

Assimetria Funcional do Córtex

Os hemisférios cerebrais não são simétricos e as áreas da linguagem estão localizadas apenas do lado esquerdo; o hemisfério esquerdo é o dominante, enquanto o direito exerce um papel secundário.

Hemisfério Esquerdo

Responsável pelo pensamento lógico, pela linguagem, pelo raciocínio matemático.

Hemisfério Direito

Responsável pela criatividade, habilidades artísticas, percepções espaciais e reconhecimento da fisionomia das pessoas.

A assimetria funcional dos hemisférios cerebrais se dá apenas nas áreas de associação, pois as áreas de projeção tanto motoras quanto sensitivas são iguais dos dois lados.

Corpo Caloso

Estabelece conexões entre as áreas simétricas dos dois lados; permite transferência de conhecimento e informações de um lado para outro.

Giro Angular

Transforma as palavras ouvidas, lidas e tateadas em um único código de linguagem; está no hemisfério direito e relaciona-se com a compreensão da leitura.

Léxico Mental

Dicionário interno onde ficam arquivados os vários elementos da linguagem; são informações semânticas, sintáticas e fonológicas necessárias para expressar um pensamento; lesões nessa área do lobo temporal esquerdo correspondem a erros semânticos na linguagem.

Hemisfério EsquerdoFunção GeralHemisfério Direito
Palavras e letrasVisãoGeometria, expressões emocionais
Linguagens e sonsAudiçãoMúsica
ToquePadrões de toque e forma
Movimentos complexosMovimentoMovimentos espaciais
Memória verbalMemóriaMemória não verbal (fatos)
Falar, leitura, escrita, aritméticaLinguagemConteúdo emocional
Habilidade espacialGeometria, direção e distância

9) Funções Corticais: Praxias e Gnosias

Funções corticais - praxias e gnosias.

Praxia

Capacidade de executar os movimentos planejados voluntários e específicos.

Gnosia

Capacidade de aprendizado, percepção e identificação das informações que chegam às áreas sensoriais associativas.

Córtex Cerebral

Funções do Córtex Cerebral

  • Projeção sensorial e cognição.
  • Planejamento e iniciação de movimentos voluntários.
  • Processos mentais complexos (pensamento, raciocínio).
  • Compreensão e expressão da linguagem.
  • Memória e aprendizagem.
  • Experiências emocionais e motivacionais.

Classificação Anatômica

  • Sulcos.
  • Lobos.
  • Giros.

Classificação Filogenética

  • Arquicórtex: Localizado no hipocampo.
  • Paleocórtex: Localizado no úncus e parte do giro hipocampal; os dois primeiros estão ligados à olfação e ao comportamento emocional.
  • Neocórtex: Todo o resto.

Classificação Estrutural

  • Isocórtex: Seis camadas e corresponde ao neocórtex.
  • Alocórtex: Corresponde ao arquicórtex e ao paleocórtex.

Classificação Funcional

Áreas de Projeção (Primárias)

Recebem ou dão origem a fibras relacionadas à sensibilidade e motricidade.

Áreas Sensitivas Primárias
  • Somestésica: Localizada no giro pós-central, chegam impulsos da temperatura, pressão, tato; lesões nessa área causam perda da sensibilidade do corpo do lado oposto ao da lesão.
  • Visual: Localizada nos lábios do sulco calcarino.
  • Auditiva: Localizada no giro de Heschl.
  • Área vestibular: Localizada no lobo parietal, informa sobre a posição e o movimento da cabeça.
  • Olfatoria: Localizada na parte anterior do úncus e do giro parahipocampal.
  • Área gustativa: Localizada na porção inferior do giro pós-central.
Área Motora Primária

Localizada no lobo frontal, principais conexões: tálamo, área somestésica e com as áreas pré-motora e motora, dão origem às fibras responsáveis pela motricidade voluntária.

Áreas de Associação Secundárias

Relacionam-se com a sensação e a motricidade.

Áreas Secundárias Sensitivas

Recebem informações das áreas primárias e as repassam para as áreas de associação terciária; lesões nessa região causam agnosia (perda da capacidade de reconhecer objetos, apesar das vias sensitivas e das áreas de projeção do córtex estarem normais).

Áreas Secundárias Motoras

Adjacentes à área motora primária, lesões nessas áreas podem causar apraxia (incapacidade de executar determinados atos voluntários sem que exista qualquer déficit motor).

  • Área motora suplementar: Conexões com o corpo estriado, tálamo e área motora primária.
  • Área pré-motora: Localizada no lobo frontal, prepara o corpo para realização de movimentos delicados, planeja e analisa as consequências de ações futuras.
  • Área de Broca: Localizada na frente da área motora que controla os músculos relacionados com a vocalização, é responsável pela expressão da linguagem, é aí que as palavras a serem pronunciadas são formadas, está associada à área de Wernicke (compreensão e interpretação da linguagem falada, escrita e tateada), lesões nessa região resultam em déficits de linguagem (afasias: perda da capacidade de falar e incapacidade de compreensão do significado).
Áreas de Associação Terciárias

Recebem e integram as informações sensoriais elaboradas pelas áreas secundárias e são responsáveis pela elaboração de estratégias comportamentais.

Área Pré-frontal

Localizada no lobo frontal, planejamento e análise das consequências de ações futuras, manutenção da atenção, controle do comportamento emocional, capacidade de seguir sequências ordenadas de pensamento, lesões nessa área causam distração, déficit no controle, regulação e integração das atividades cognitivas, desinibição social, falta de julgamento, euforia exagerada e promiscuidade.

Área Temporoparietal

Localizada no lóbulo parietal inferior, integra as informações recebidas das áreas secundárias auditiva, visual e somestésica, permite determinar as relações entre os objetos no espaço, permite imagens do próprio corpo, lesões nessa área podem ocasionar a síndrome da negligência ou inatenção (o paciente ignora a existência da metade oposta do próprio corpo onde houve a lesão).

Áreas Límbicas

Compreendem o giro do cíngulo, giro parahipocampal e hipocampo, estão relacionadas à memória e comportamento emocional.

10) Funções Executivas

Funções executivas - conceito.

Conceito de Funções Executivas

São comandadas pelo Executivo Central que é um componente da memória de trabalho, é responsável pelo planejamento, monitoramento e execução de atividades complexas ou novas para o indivíduo, se localiza nas regiões pré-frontais dos lobos frontais.

Lesões nessa região resultam em perturbação das funções corticais e afetam indiretamente todos os processos cognitivos.

Funções dos Lobos Cerebrais

  • Córtex cerebral frontal: Planejamento das ações futuras e controle dos movimentos.
  • Córtex cerebral parietal: Sensação tátil e imagem corporal.
  • Córtex cerebral temporal: Audição, aprendizado, memória e emoção.
  • Córtex cerebral occipital: Visão.

Lobo Frontal

Funções do Lobo Frontal

  • Memória.
  • Atenção.
  • Planejamento (resolução de problemas).
  • Papel inibitório do comportamento.

Disfunções do Lobo Frontal

  • Déficit de atenção.
  • Síndromes obsessivas (compulsivas, esquizofrenia, depressão).

Divisão do Lobo Frontal

  • Córtex motor: Mediação dos movimentos e relacionado a movimentos voluntários; lesões levam à redução da força e rapidez dos movimentos, paralisia de partes do corpo e diminuição da contração muscular.
  • Córtex pré-motor: Integração dos atos motores e sequências de ações aprendidas; lesão acarreta prejuízo nas habilidades motoras, movimentos descontínuos e incoordenados e interrupção da integridade de componentes motores de atos complexos.
  • Córtex pré-frontal: Planejamento e análise das consequências de ações futuras, manutenção da atenção, controle do comportamento emocional, capacidade de seguir sequências ordenadas de pensamentos; recebe informações do córtex sensorial de associação; conexões com o sistema límbico, córtex pré-motor, formação reticular, hipotálamo, amígdala, hipocampo; lesões podem comprometer estruturas do sistema límbico, alterar a memória, ocasionar distúrbios de humor, conduta, caráter e distúrbios de atenção.

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