Saúde Bucal Abrangente: Hábitos, Prevenção e Profissionais

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Hábitos Alimentares e Saúde Bucal

Ataque Ácido: Há necessidade de 30 minutos até que o pH retorne ao valor neutro. A ingestão de açúcar produz pH ácido ao esmalte dentário por até 20 minutos. Uma pessoa que ingeriu em horários distintos do dia 5 porções de carboidratos sujeitou-se a cerca de 100 minutos de ataque ácido, aumentando muito o risco de novas cáries.

Estudos de Vipeholm

  1. O açúcar exerce fator local sobre a superfície dos dentes na etiologia da cárie;
  2. O amido não é tão cariogênico como a sacarose;
  3. A quantidade de açúcar não é de primordial importância;
  4. A forma física (potencial retentivo) dos doces é crítica;
  5. A frequência de consumo de sacarose é fator primordial na atividade de cárie.

Razões para Não Consumir Dieta Balanceada

  • Econômica;
  • Problemas de alimentação no próprio lar, ou de conceitos errôneos sobre alimentação infantil;
  • Crianças procuram copiar pessoas mais velhas;
  • Família com bons hábitos alimentares tem chances maiores de incorporá-los às crianças.

Benefícios da Amamentação Natural para a Criança

  • Correto padrão de respiração;
  • Correto posicionamento da língua sobre as arcadas dentárias, estimula o vedamento labial, crescimento das arcadas e a posição correta dos dentes sobre a arcada;
  • Obtenção de adequado tônus muscular orofacial, crescimento e função de mastigação, deglutição e fonação;
  • Perfeita estimulação sensorial, motora dos órgãos fonoarticulatórios, propiciando bom desenvolvimento da fala;
  • Deglutição correta.

A partir de 14 meses, o leite já é um alimento dispensável.

Mudanças na Dieta Alimentar

  • Dieta líquida
  • Semissólida
  • Período de acomodação
  • Dieta familiar
  • Extrafamiliar

Finn foi o primeiro autor que descreveu a relação entre o hábito de alimentação infantil contendo leite ou bebidas açucaradas na hora de dormir, com a presença de cáries extensas nos dentes anterossuperiores.

Custos da Mamadeira

  • Contaminação bacteriana;
  • Percepção dos pais sobre segurança;
  • Impacto econômico e ecológico;
  • Tempo.

Riscos para a Criança

  • Infecção de vias respiratórias;
  • Redução do contato com a mãe;
  • Cárie de acometimento precoce;
  • Estresse.

Cárie de Acometimento Precoce (CAP)

Também conhecida como cárie de mamadeira ou cárie rampante. Caracterizadas por destruição extensa e rápida dos incisivos superiores e primeiros molares, causada pelo líquido cariogênico que fica parado sobre os dentes durante o sono da criança. Acomete dentes decíduos e permanentes. Causas: grande exposição à dieta cariogênica e infecção precoce por bactérias cariogênicas.

Leite Materno

  • Baixo teor proteico;
  • Alto teor calórico (lactose);
  • 50% das calorias são fornecidas por gordura.

Sucos e Chás

  • Motivação dos pais para usar: aliviam a dor;
  • Previnem resfriados;
  • Acalmam;
  • Matam a sede.

Alimentos Complementares

(Não só leite)

  • Aspectos nutricionais;
  • Diversificação do paladar;
  • Estímulo à mastigação;
  • Estímulo à deglutição voluntária;
  • Habituar a criança a texturas mais sólidas;
  • Estimular o uso das mãos, colher e copo.

Regras Básicas de Alimentação (Rust)

Rust propôs 6 regras básicas para problemas de alimentação em crianças saudáveis:

  1. Alimentos não devem ser forçados;
  2. Desencorajar alimentação fora das refeições principais;
  3. Discussões devem ser eliminadas, suborno não deve ser usado;
  4. Evitar consumo excessivo de leite, após o segundo ano de vida;
  5. Evitar consumo excessivo de carboidratos refinados;
  6. A hora da refeição deve ser um acontecimento familiar agradável, o alimento deve ficar situado em segundo plano, resultando em benefícios nutricionais, relaxamento de tensões.

Aconselhamento Dietético (Nizel)

Segundo Nizel, indicaríamos aconselhamento dietético nas seguintes condições:

  • Pacientes com cárie de acometimento precoce;
  • Crianças com aparelho ortodôntico;
  • Pacientes que sofreram surto agudo de cáries em período relativamente curto (6 meses);
  • Começam a apresentar cáries em superfícies geralmente imunes (faces proximais de incisivos inferiores);
  • Apresentam no fundo de cavidades cariosas dentina amolecida, indicativo de processo muito rápido de lesão.

Adolescentes e Hábitos Alimentares

Ocorrem mudanças emocionais e fisiológicas que podem afetar hábitos alimentares, explicáveis por motivos psicológicos, sociais, influência de amigos, rebeldia, busca de autonomia e identidade, aumento do poder de compra, costume de comer fora de casa.

Fatores que Influenciam o Comportamento Alimentar

O que determina o comportamento alimentar de adolescentes é:

  • Necessidade de aceitação grupal, deixando-se levar por modismos;
  • Quebra de padrões com necessidade de reger seus próprios comportamentos;
  • Preocupação com a aparência;
  • Vulnerabilidade às propagandas.

Nessa fase, é necessária a combinação de hábitos alimentares: grande substituição de refeições por lanches. Consumir um alimento de cada grupo alimentar (reguladores, energéticos, construtores, energéticos extras) em cada refeição sem pensar em reduzir calorias.

Alimentos Reguladores

Legumes, frutas, verduras, que fornecem vitaminas, minerais, fibras.

Alimentos Construtores

Leite e derivados responsáveis pela construção e reparação de tecidos.

Alimentos Energéticos

Farinhas, tubérculos, massas, geradores de energia que o organismo precisa para suas funções normais.

Alimentos Energéticos Extras

Responsáveis pelo isolamento térmico, transporte de vitaminas e energia. Ex: chocolates.

Nesta fase, a combinação de hábitos saudáveis é necessária:

  • Praticar exercícios físicos com moderação;
  • Fazer de 3 a 5 refeições diárias;
  • Evitar dietas - fazer planejamento alimentar com médico.

O Papel dos Pais

Os pais necessitam:

  • Compreensão;
  • Informação;
  • Reafirmação positiva;
  • Melhora na autoestima.

Fluoretação das Águas

Dean: 1,0 ppm de flúor na água reduz em 60% a cárie dentária. A fluoretação é um método simples, não há necessidade de equipamentos sofisticados. É adicionado à água, respeitando a média de temperaturas máximas da região nos últimos 5 anos. A fluoretação da água de abastecimento é eficaz porque tem grande alcance populacional, promovendo em pessoas de diferentes níveis socioeconômicos, raças, sexos, religiões, idades, efetiva redução da incidência de cárie dentária. A proteção conferida pelo flúor ingerido durante a mineralização dos dentes não é permanente.

Ação do Flúor: Antigamente vs. Atualmente

  • Antigamente: O flúor sistêmico dava resistência ao dente em função da formação de fluoroapatita durante a odontogênese.
  • Atualmente: A ação mais importante é após a erupção dos dentes, com participação do flúor no processo de cárie, agindo nos fenômenos de desmineralização e remineralização do esmalte.

Com flúor, o pH < 4,5 desmineraliza. Sem flúor, o pH só desmineraliza abaixo de 4,5. A ingestão de água fluoretada entre a 14ª semana de vida intrauterina e os 10 anos de idade proporciona a incorporação de flúor à estrutura dentária, período de mineralização dos dentes - desde os incisivos centrais decíduos até os terceiros molares.

Risco de Fluorose

É um efeito sistêmico. O grau dependerá da concentração de flúor no sangue. Apenas dentes em processo de formação do esmalte dental estão sujeitos à fluorose; dentes formados no mesmo período devem apresentar o mesmo grau de alteração. Assim, a idade de risco para o desenvolvimento de fluorose em dentes permanentes anteriores é dos 20 aos 30 meses de idade. Origina-se durante a amelogênese (período de formação do esmalte).

Sinais Clínicos da Fluorose

  • Opacidade do esmalte;
  • Estrias esbranquiçadas nos estágios leves e moderados;
  • Rugosidades muito pigmentadas em estágios severos.

Além da dosagem de flúor, outros fatores interferem na severidade da doença: baixo peso corporal, taxa de crescimento esquelético e períodos de remodelamento ósseo constituem fases de maior absorção de flúor; estado nutricional, alteração da atividade renal e da homeostase do cálcio também são condições relevantes. As faixas etárias da primeira e segunda infância são consideradas de maior risco à ingestão do flúor sistêmico. Quando a criança começa a cuspir, pode usar pasta com flúor e, a partir dos 6 anos, pode usar flúor para bochecho. Se o paciente estiver em risco ou atividade de cárie, a aplicação tópica profissional de flúor é recomendável sem qualquer risco de aumentar a fluorose:

  • 1,2 ppm provoca fluorose muito leve em 14 a 16% das crianças;
  • 1,8 ppm provoca 40 a 50% de fluorose leve;
  • 2,0 a 2,3 ppm provoca 60 a 70% de fluorose moderada;
  • 4,0 ppm provoca 75% de fluorose moderada e severa;
  • 8,0 a 14,0 ppm provoca 80% de fluorose severa.

Fluoretação no Brasil

Na década de 90, cerca de 50% da população residente em zona urbana era beneficiada pelo flúor. No Norte do Brasil, a prevalência de cárie é de 89,5% na população da faixa de 15 a 19 anos, segundo levantamento realizado pelo Ministério da Saúde, em 2003. 20% da população brasileira já perdeu seus dentes, e outros 45% não têm acesso regular à escova de dente. Um dos fatores que mais contribuem com as estatísticas é a má qualidade da água disponibilizada aos brasileiros. A primeira cidade brasileira a contar com o processo de fluoretação foi Baixo Guandu, no Espírito Santo, em 1953. Dez anos depois, constatou-se redução em torno de 62,3% no índice de cáries em crianças de seis a 14 anos na cidade. Logo após, tivemos a fluoretação das águas de Marília (SP) e Taquara (RS).

A Lei Federal nº 6.050, regulamentada pelo Decreto nº 76.872 de 22/12/1975, determinou a obrigatoriedade de fluoretação das águas em todos os municípios com estação de tratamento.

Compostos Utilizados na Fluoretação

Quatro compostos à base de flúor mais utilizados na fluoretação de águas de abastecimento público são:

  • Fluorsilicato de sódio;
  • Ácido fluossilícico;
  • Fluoreto de sódio;
  • Fluoreto de cálcio ou fluorita.

O Fluoreto de Sódio (NaF) é o composto mais utilizado mundialmente, mas é de custo elevado no Brasil, sendo os mais utilizados o fluorsilicato de sódio (Na2SiF6) e o ácido fluossilícico (H2SiF6).

Equipamentos Utilizados

Devem adaptar-se às condições e necessidades locais da rede de abastecimento; sendo eficazes, seguros e precisos em todas as condições climáticas.

Sistema de Saturador

A solução de fluoreto de sódio a 4%, preparada antecipadamente, é injetada, com o auxílio de uma bomba, na fonte de distribuição de água, na concentração desejada.

Sistema de Alimentador a Seco

O fluoreto de sódio ou fluorsilicato em pó é colocado em uma cuba ou depósito de alimentação para ser dissolvido; um mecanismo automático mantém o aporte de flúor em um nível adequado à quantidade de água a ser abastecida.

Sistema de Alimentador de Soluções

Há uma bomba volumétrica, que permite adicionar uma quantidade de ácido hidrofluossilícico proporcional à quantidade de água tratada.

Fluoretação em Santa Catarina (SC)

Em 1982, foi aprovada a Lei nº 6.065, estabelecendo a fluoretação de águas em Santa Catarina. Início em Brusque, seguido de Campos Novos e Joaçaba. Para as águas de abastecimento, a faixa ótima de flúor atualmente aceita é de 0,7 a 1,2 ppm. A CASAN recomenda 1 ppm como sendo a concentração ótima de flúor na água de abastecimento público para todo o estado. Os níveis de flúor mais baixos são nas zonas de temperaturas mais elevadas, e os mais altos nas temperaturas mais baixas.

Substâncias Antiplaca

Antimicrobianos: Agem na adesão primária dos microrganismos, podem agir controlando a formação de placa dental através de algumas estratégias:

  • Prevenindo ou reduzindo a adesão primária e/ou subsequente de colonizadores bacterianos na superfície dental;
  • Prevenindo ou inibindo o crescimento e proliferação de microrganismos na superfície dental;
  • Prevenindo ou inibindo a formação da matriz da placa dental;
  • Modificando a bioquímica da placa com redução da formação de produtos citotóxicos;
  • Modificando a ecologia da placa, formando uma microbiota menos patogênica.

Clorexidina

Amplo espectro antibacteriano, atingindo bactérias Gram-positivas e Gram-negativas, fungos e alguns vírus. Solução para bochecho, gel, verniz; além de estar presente na composição de dentifrícios, goma de mascar, solução para irrigação subgengival. A concentração varia de 0,12% a 0,2%, duas vezes ao dia, prevenindo o desenvolvimento da placa supragengival e gengivite. A Clorexidina reage com o flúor e nenhum dos dois acaba dando efeito; usar longe das escovações, dar 2 horas de intervalo depois de escovar o dente. O flúor é um elemento negativo e a clorexidina positivo (competem). Juntos, eles se combinam e perdem a propriedade de prevenção de cáries.

Reações Adversas da Clorexidina

  • Pigmentação em uso contínuo pode ocorrer nos dentes, em restaurações e no dorso da língua;
  • As manchas marrom-escuras observadas depois de bochechos com clorexidina podem ser explicadas pela formação de sulfetos de ferro (a mancha não é no dente e sim, na película adquirida que está adsorvida aos dentes);
  • Sabor desagradável (bochechos);
  • Ausência de paladar;
  • Descamação da língua e sensibilidade oral;
  • As manchas são facilmente removidas por uma profilaxia dentária.

Benefícios da Clorexidina na Saúde Oral

  • Ação intensa contra Streptococcus mutans;
  • Efeito prolongado: mudança do perfil bacteriano da placa;
  • Diminuição na atividade de enzimas proteolíticas na dentina;
  • Prevenção da desmineralização na dentina;
  • Diminuição na atividade de enzimas proteolíticas nos tecidos periodontais;
  • Diminuição na prevalência de gengivite.

Propriedades do Flúor e da Clorexidina

  • Flúor:
    • Remineraliza esmalte e dentina;
    • Ação intensa em pH ácido;
    • Ação antimicrobiana em altas concentrações;
    • Inibe a atividade da enzima enolase nos S. mutans;
    • Efeito de curta duração: fluoreto de cálcio;
    • Utilização: baixa concentração durante toda a vida.
  • Clorexidina:
    • Previne desmineralização da dentina;
    • Ação intensa em pH neutro;
    • Ação antimicrobiana em baixa concentração;
    • Efeito prolongado: teoria da placa específica de Loesche. Mudança no perfil microbiano da placa;
    • Utilização: poucas aplicações (até diminuir risco/atividade).

Indicação do Uso da Clorexidina

  • Paciente de alto risco/atividade;
  • Somente durante a fase de tratamento preventivo;
  • Aplicação profissional: verniz de clorexidina gel (1%);
  • Aplicação pelo paciente: só flúor, escovação, bochecho.

Triclosan

Espectro antimicrobiano tópico, sintético, não iônico, derivado do fenol, de uso relativamente recente. Desorganiza a membrana celular e inibe enzimas da membrana. Utilizado em soluções e dentifrícios, às vezes com citrato de zinco e um copolímero. É compatível com fluoreto de sódio e monofluorofosfato de sódio, dois dos sais mais utilizados em dentifrícios. Nas soluções e pastas dentais pode ser encontrado de 0,05% a 2%. Amplo espectro antimicrobiano, ativo contra microrganismos Gram-positivos e Gram-negativos, e fungos. Só amplia o efeito, não inibe nem clorexidina nem flúor, bactericida.

Óleos Essenciais (Compostos Fenólicos)

Listerine é um antisséptico bucal em cuja composição estão incluídos óleos essenciais, entre eles o Timol, Eucaliptol, Salicilato de Metila e Mentol. Os óleos essenciais fazem a desorganização geral da membrana celular, inibem enzimas bacterianas e reduzem a produção de lipopolissacarídeos. Alguns estudos demonstraram que esse produto promove redução significante de agregação interespécies. Este produto não tem carga e como efeitos adversos podemos citar a sensação de queimação e gosto ardido. É disponível em veículo com 26,9% de álcool e pH 5. Recomenda-se usá-lo, através de bochechos de 30 segundos, duas vezes ao dia. Mandel mostra que Listerine diminui a placa bacteriana em 20 a 34% e a gengivite em 28 a 34%. De Paola et al. concluíram que o bochecho com antisséptico Listerine resultou numa diminuição de bactérias que foi sustentado por mais de sessenta minutos. Esta redução sugere que este bochecho antisséptico pode ter uso como bochecho pré-operatório para diminuir o nível de microrganismos produzidos durante o procedimento clínico. Este produto é aceito pela ADA para controle de placa bacteriana e gengivite.

Exemplos de Substâncias Antiplaca

  • Clorexidina (Bochechos, Géis, verniz) - Periogard 0,12% e Plack-Out 2%;
  • Triclosan (Bochechos) - Plax;
  • Óleos essenciais (bochechos) - Listerine.

Substâncias Naturais

  1. Tomilho: Antisséptico, antiespasmódico, vermífugo e anti-helmíntico. Suas folhas têm 2 a 2,5% de óleos essenciais, principalmente timol e cimol.
  2. Camomila: Efeito calmante, é também indicada na medicina popular contra as dores de dente, de cabeça, de ouvido, dentre outros.
  3. Sálvia: Excelente desinfetante, adstringente e eficiente contra gengivite e periodontite.
  4. Própolis: Propriedades antimicrobiana, anti-inflamatória, hipotensiva, antitumoral, cicatrizante e antisséptica relatada por diversos trabalhos científicos.
  5. Malva: Propriedades calmantes, expectorantes e anti-inflamatórias.
  6. Xilitol: Adoçante artificial. Não cariogênico. Inibe o crescimento e metabolismo do S. mutans e da placa dental.

Selantes Dentários

Reduzir a extensão e a severidade das cáries de fóssulas e fissuras na superfície oclusal e lisa. Os selantes oclusais foram desenvolvidos por Cueto e Buonocore (1965) especificamente para prevenir cáries nas regiões de cicatrículas e fissuras profundas. O desenvolvimento dos selantes de fóssulas e fissuras foi baseado na descoberta de que o esmalte condicionado com ácido fosfórico aumentava a retenção dos materiais resinosos e melhorava a integridade marginal. O poder preventivo dos selantes depende da capacidade de retenção sobre as superfícies oclusais às quais foram aplicados, pois sua ação é mecânica.

Efeitos dos Selantes

  • Selar mecanicamente as cicatrículas e fissuras com um material ácido-resistente;
  • Anular o habitat preferido pelo S. mutans e outros microrganismos cariogênicos;
  • Permitir uma melhor limpeza das regiões de cicatrículas e fissuras.

Tipos de Selantes

  • Poliuretano (não usado): Desvantagem de apresentar instabilidade química e toxicidade.
  • Cianoacrilatos (não usado): Biodegradabilidade, dificuldade de polimerizar com camadas finas e baixa resistência à abrasão.
  • Selantes de BIS-GMA ou diacrilato de uretano: Geralmente polímeros que podem ser autopolimerizáveis (endurecem por uma reação exotérmica normalmente entre 1 e 2 minutos) ou fisicamente polimerizáveis. A polimerização fotoativada (luz visível) é frequentemente o método mais utilizado para polimerizar o selante.

Benefícios do Selante Fotopolimerizável

  • O material selador endurece de 10 a 20 segundos;
  • Não precisa misturar resinas, eliminando a incorporação de bolhas de ar que podem ocorrer nas reações químicas;
  • A viscosidade do selante permanece a mesma durante a infiltração nos poros do esmalte condicionado;
  • O selante não endurece até que seja fotopolimerizado.

As partículas de carga oferecem aos selantes maior resistência ao desgaste. Existem selantes com flúor. Estes liberam flúor por curtos períodos. As superfícies lisas são mais beneficiadas pelo tratamento com fluoretos do que as regiões de cicatrículas e fissuras; a técnica do selamento, quando empregada com o flúor, pode apresentar um grande efeito na redução do índice de cárie oclusal. Há também o cimento de ionômero de vidro como selante. Vários estudos têm indicado uma taxa de retenção muito baixa deste material; contudo, o nível de prevenção de cárie se assemelha aos selantes à base de BIS-GMA.

Materiais Seladores

Opacos, corados e transparentes. Não foram mostradas diferenças entre selantes opacos, tintos ou transparentes no que diz respeito à taxa de retenção e prevenção de cáries.

Passos de Aplicação do Selante

  1. Profilaxia prévia;
  2. Isolamento absoluto ou relativo do dente;
  3. Secar;
  4. Condicionamento ácido;
  5. Lavar e secar a superfície condicionada;
  6. Aplicação do selante;
  7. Verificação para testar a resistência do selante e detectar possíveis soluções de continuidade;
  8. Verificar oclusão e eliminação de contatos prematuros.

OBS: A retenção do selante na superfície dentária ocorre por meio de embricamento mecânico obtido pelo condicionamento ácido. Esse procedimento origina microporosidades no esmalte. A solução ácida tem ação bactericida. Para a realização do condicionamento, utiliza-se o ácido fosfórico de 35 a 37% (gel ou solução) durante 15 segundos. O ácido deve ser levado a todas as regiões que se pretende selar. A lavagem com spray de ar e água deve ser realizada após o condicionamento ácido por 30 segundos, deixando o esmalte de coloração branca e opaca, livre de óleo ou umidade. Na aplicação do selante, recomenda-se que se percorra com a ponta da sonda exploradora todo o selante, a fim de quebrar a tensão superficial do material, diminuindo a incorporação de bolhas. Se bolhas forem encontradas durante a avaliação, uma segunda aplicação deve ser realizada. A avaliação da oclusão deve ser realizada com o auxílio de papel carbono, seguida da possível remoção com broca.

O que Evitar na Aplicação de Selantes

  • Contaminação da superfície com saliva, principalmente após condicionamento ácido, quando os poros do esmalte estão alargados;
  • Formação de bolhas de ar no selante;
  • Demora na colocação de selantes autopolimerizáveis, pois não aderem quando já estão entrando em fase de tomada de presa;
  • Selamento de superfícies cariadas.

Uso e Indicação de Selantes

A seleção dos dentes para aplicação de selantes depende mais da atividade de cárie do paciente do que das condições de um dente individualmente. São selados pacientes com dentes recém-irrompidos apresentando cicatrículas e fissuras profundas e clinicamente livres de cáries, as quais são difíceis de serem limpas com escovação diária. É indicado o selamento em pacientes que apresentam dificuldades motoras para a adequada higienização de seus dentes.

Contraindicações para Aplicação de Selantes

  • Pacientes com prevalência de cárie baixa ou muito baixa;
  • Se o dente erupcionou há cerca de um ano ou mais, está hígido e apresenta anatomia satisfatória (fissuras não muito profundas, sem manchas).

Deve-se levar em conta a determinação do risco do paciente: experiência de cárie; padrão de uso dos serviços odontológicos; uso de serviços preventivos; história médica (exemplo: xerostomia).

Determinação do Risco de Dentes Individuais

Selar de Acordo com:

  • A morfologia do sulco e da fissura;
  • O nível de atividade de cárie;
  • O padrão de cárie.

Não Selar:

  • O dente que não pode ser isolado;
  • Restauração proximal que envolve sulcos e fissuras;
  • Se a expectativa de vida de um dente decíduo é curta.

Avaliação Periódica dos Selantes

Os selantes devem ser avaliados regularmente, em especial porque sua taxa de reaplicação é maior nos primeiros seis meses. Considerar a utilização de selantes de maneira seletiva e em associação com a aplicação de flúor, orientação sobre dieta e técnicas de higienização.

Recursos Humanos em Odontologia

A odontologia é uma consequência da evolução e de dois fatores:

  • Processo de urbanização e industrialização da sociedade que acompanha o desenvolvimento econômico;
  • O aumento da ocorrência da doença cárie dental.

A cárie dental se transforma em um problema de saúde pública. As técnicas de cura para os problemas de saúde bucal agora dependem dos especialistas. Agrava-se com a urbanização, pois nas cidades se perde o contato com a terra, a natureza e seus remédios. Em 1884, foram criados os primeiros cursos de odontologia no Brasil, nos estados do Rio de Janeiro e Bahia.

Em teoria, um curso universitário e uma Faculdade de Odontologia, em particular, existem para:

  1. Captar os conhecimentos empíricos que se encontram esparsos no seio da população;
  2. Analisar, identificar o que é correto e conferir conteúdo científico;
  3. Reunir esse material com as técnicas e princípios já estudados externamente, formando um novo e mais evoluído conhecimento;
  4. Devolver a nova cultura a toda a população, fazendo com que os seus problemas se resolvam melhor e mais rápido.

Cinco etapas de comportamento que têm caracterizado a Odontologia, segundo Chave, em escala crescente:

  1. Ocupação indiferenciada, com pessoal leigo;
  2. Diferenciação ocupacional, leigos exclusivamente dedicados à Odontologia;
  3. Inicial de Profissionalização, com duas categorias em disputa: a dos Profissionais com pelo menos dois anos de cursos e a dos Práticos, que desapareceriam na quinta etapa;
  4. Intermediária de Profissionalização, já com Auxiliares e Protéticos;
  5. Avançada de Profissionalização, com Especialistas. A classe tem seu prestígio consolidado e aceita delegar algumas tarefas a pessoal de nível técnico.

Uma vez identificadas as tarefas pelos níveis de complexidade, cada uma deve ser atribuída a pessoas com o correspondente nível de formação técnica. Quando isso não é feito, dois resultados podem ser inevitáveis:

  1. Uma redução nas possibilidades de acesso aos serviços disponíveis, devido ao encarecimento da atividade;
  2. Perda da qualidade do serviço prestado, devido à inadaptação entre o tipo de recurso humano utilizado e o tipo de tarefa que lhe foi dada.

Tipos de Recursos Humanos

1- Cirurgião-Dentista

Em alguns países, forma-se em saúde geral e depois especializa-se em saúde bucal. Quanto à duração do curso universitário de Odontologia e da ênfase dada ao seu conteúdo, existem três alternativas principais no mundo atual:

  • Em países industrializados, onde a cárie dental está sendo controlada, há uma política de redução de oferta de vagas, fechando-se escolas, embora alguns utilizem o artifício de aumentar a duração dos cursos. O currículo volta-se cada vez mais para a prevenção e para a atenção secundária e terciária, com a periodontia, ortodontia e a estética ganhando espaço, ao contrário do que ocorre com a endodontia;
  • Em regiões pouco desenvolvidas, com grande escassez de mão de obra, formam-se profissionais em dois anos no máximo. Tempo suficiente para aportar os conhecimentos científicos necessários ao núcleo de serviços básicos, enfatizando a cirurgia, dentística e prótese;
  • No mundo em desenvolvimento, com altos índices de cárie e grande número de odontólogos (América Latina), torna-se inevitável a contenção da expansão de cursos e vagas, objetivando pelo menos igualar o crescimento profissional ao crescimento populacional. O currículo, com mínimo de 4 anos, pode ser alongado com a intenção de retardar o ingresso de mão de obra excedente no mercado. Centra-se no combate aos problemas básicos como a cárie dental e a doença periodontal, destacando-se na área clínica o ensino da endodontia.

2- Terapeuta Dental

Pessoal capacitado a prestar cuidados odontológicos básicos e rotineiros, como restaurações, profilaxias, em geral a crianças pré-escolares e a escolares de primeiro grau, em instituições públicas, sob supervisão do cirurgião-dentista. Em muitos países, o que se considera um terapeuta dental na verdade corresponde a um cirurgião-dentista de formação curta.

3- Protesista

Técnicos de laboratório de prótese que recebem autorização legal para fazer próteses removíveis diretamente em paciente, sem necessidade de prescrição ou supervisão de um cirurgião-dentista. São conhecidos na Dinamarca, Finlândia, Canadá, EUA e Austrália.

4- Técnico em Saúde Bucal

Pessoal auxiliar formado em cursos regulares, que executa sob supervisão direta do CD, basicamente profilaxia, prevenção e, em alguns países, colocação de restaurações em cavidades já preparadas. Competem as seguintes atividades, além das estabelecidas para os auxiliares em saúde bucal:

  1. Participar do treinamento e capacitação de Auxiliar em Saúde Bucal e de agentes multiplicadores das ações de promoção à saúde;
  2. Participar das ações educativas, atuando na promoção da saúde e na prevenção das doenças bucais;
  3. Participar na realização de levantamentos e estudos epidemiológicos, exceto na categoria de examinador;
  4. Ensinar técnicas de higiene bucal e realizar a prevenção das doenças bucais por meio da aplicação tópica do flúor, conforme orientação do cirurgião-dentista;
  5. Fazer a remoção do biofilme, de acordo com a indicação técnica definida pelo cirurgião-dentista;
  6. Supervisionar, sob delegação do cirurgião-dentista, o trabalho dos auxiliares de saúde bucal;
  7. Realizar fotografias e tomadas de uso odontológicos exclusivamente em consultórios ou clínicas odontológicas;
  8. Inserir e distribuir no preparo cavitário materiais odontológicos na restauração dentária direta, vedado o uso de materiais e instrumentos não indicados pelo cirurgião-dentista;
  9. Proceder à limpeza e à antissepsia do campo operatório, antes e após atos cirúrgicos, inclusive em ambientes hospitalares;
  10. Remover suturas;
  11. Aplicar medidas de biossegurança no armazenamento, manuseio e descarte de produtos e resíduos odontológicos;
  12. Realizar isolamento do campo operatório;
  13. Exercer todas as competências no âmbito hospitalar, bem como instrumentar o cirurgião-dentista em ambientes clínicos e hospitalares.

§ 1º Dada a sua formação, o Técnico em Saúde Bucal é credenciado a compor a equipe de saúde, desenvolver atividades auxiliares em Odontologia e colaborar em pesquisas.

Art. 6º É vedado ao Técnico em Saúde Bucal:

  1. Exercer a atividade de forma autônoma;
  2. Prestar assistência direta ou indireta ao paciente, sem a indispensável supervisão do cirurgião-dentista;
  3. Realizar, na cavidade bucal do paciente, procedimentos não discriminados no art. 5º desta Lei; e
  4. Fazer propaganda de seus serviços, exceto em revistas, jornais e folhetos especializados da área odontológica.

Parágrafo único. A supervisão direta se dará em todas as atividades clínicas, podendo as atividades extraclínicas ter supervisão indireta.

5- Auxiliar em Saúde Bucal

Art. 9º Compete ao Auxiliar em Saúde Bucal, sempre sob a supervisão do cirurgião-dentista ou do Técnico em Saúde Bucal:

  1. Organizar e executar atividades de higiene bucal;
  2. Processar filme radiográfico;
  3. Preparar o paciente para o atendimento;
  4. Auxiliar e instrumentar os profissionais nas intervenções clínicas, inclusive em ambientes hospitalares;
  5. Manipular materiais de uso odontológico;
  6. Selecionar moldeiras;
  7. Preparar modelos em gesso;
  8. Registrar dados e participar da análise das informações relacionadas ao controle administrativo em saúde bucal;
  9. Executar limpeza, assepsia, desinfecção e esterilização do instrumental, equipamentos odontológicos e do ambiente de trabalho;
  10. Realizar o acolhimento do paciente nos serviços de saúde bucal;
  11. Aplicar medidas de biossegurança no armazenamento, transporte, manuseio e descarte de produtos e resíduos odontológicos;
  12. Desenvolver ações de promoção da saúde e prevenção de riscos ambientais e sanitários;
  13. Realizar em equipe levantamento de necessidades em saúde bucal; e
  14. Adotar medidas de biossegurança visando ao controle de infecção.

Art. 10. É vedado ao Auxiliar em Saúde Bucal:

  1. Exercer a atividade de forma autônoma;
  2. Prestar assistência, direta ou indiretamente, a paciente, sem a indispensável supervisão do cirurgião-dentista ou do Técnico em Saúde Bucal;
  3. Realizar, na cavidade bucal do paciente, procedimentos não discriminados no art. 9º desta Lei; e
  4. Fazer propaganda de seus serviços, mesmo em revistas, jornais ou folhetos especializados da área odontológica.

6- Protético

É uma categoria auxiliar que, mediante prescrição do odontólogo, confecciona próteses dentárias em laboratório. Está presente em todos os países onde a profissão odontológica alcançou status universitário. No Brasil, diferencia-se o pessoal “sênior” e “júnior” sob os títulos respectivos de “Técnico e Auxiliar de Laboratório de Prótese Odontológica”.

7- Agente Comunitário

Pessoal de nível auxiliar ou técnico que trabalha em comunidades isoladas onde não existam recursos formais de atenção odontológica, sob supervisão do CD ou TD, prestando cuidados primários de saúde à população local. Vem sendo utilizado em regiões com escasso pessoal profissional e crescentes problemas dentais, proporcionando cuidados preventivos e tratamento emergencial às doenças de maior ocorrência entre a população.

8- Práticos

Os Empíricos ou Dentistas Práticos (DP) compõem o setor informal da mão de obra odontológica, reunindo pessoas sem treinamento ou capacitação em cursos regulares. O exercício de suas atividades é considerado ilegal no Brasil e em muitos outros países.

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