Sermão de Santo António aos Peixes: Alegoria, Vícios e Virtudes

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Capítulo 1: Exórdio e Conceito Predicável

Exposição do plano a desenvolver e das ideias a defender.

Conceito Predicável: texto bíblico que serve de tema e que irá ser desenvolvido de acordo com a intenção e o objetivo do autor: "Vos estis sal terrae".

  • Vós diz respeito aos pregadores
  • Sal não deixa corromper
  • Terra diz respeito aos ouvintes

Na terra há muitos pregadores, no entanto, a corrupção é cada vez maior...

O Sal Não Salga: Críticas aos Pregadores

  • Os pregadores não pregam a palavra de Deus
  • Os pregadores não fazem o que dizem
  • Os pregadores pregam-se a eles próprios

A Terra Não se Deixa Salgar: Críticas aos Ouvintes

  • Os ouvintes não prestam atenção à mensagem
  • Os ouvintes imitam o que o pregador faz
  • Os ouvintes servem-se a si próprios em vez de servirem a Deus

Segundo Cristo, os pregadores que não pregam devem ser postos de parte "...metidos debaixo dos pés..." e sofrer com o desprezo.

Santo António mostrou o que se deve fazer quando a terra não se deixa salvar: mudar de público. "Mudou o púlpito e o auditório...". Este salgou não só a terra, mas também o mar.

Os capítulos que se seguem correspondem ao desenvolvimento da obra (confirmação), sendo compostos pelos louvores e as repreensões feitas aos homens através dos peixes...

  • Os pregadores são o sal que impede a corrupção;
  • A terra está corrupta;

Conclusão do Capítulo 1

Os pregadores não são o verdadeiro sal.

Assim: Pregadores e Ouvintes

Pregadores

  • O sal não salga
  • Não pregam a doutrina
  • Dizem uma coisa e fazem outra
  • Pregam-se a si

Ouvintes

  • A terra não se deixa salgar
  • Não querem receber a doutrina
  • Querem imitar as ações
  • Servem os seus apetites

Razões e Propostas

Razões:

  • Se o sal que não salga é inútil

Propostas:

  • Deve ser deitado fora

Razões:

  • Se o pregador desrespeita a doutrina e dá mau exemplo

Propostas:

  • Deve ser desprezado

Capítulo II: A Alegoria do Sermão

O sermão é uma alegoria porque os peixes são metáfora dos homens, as suas virtudes são por contraste metáfora dos defeitos dos homens e os seus vícios são diretamente metáfora dos vícios dos homens. O pregador fala aos peixes, mas quem escuta são os homens.

Os peixes ouvem e não falam. Os homens falam muito e ouvem pouco.

O pregador argumenta de forma muito lógica. Partindo de duas propriedades do sal, divide o sermão em duas partes: o sal conserva o são, o pregador louva as virtudes dos peixes; o sal preserva da corrupção, o pregador repreende os vícios dos peixes. Para que fique claro que todo o sermão é uma alegoria, o pregador refere frequentemente os homens.

Recursos de Estilo e Argumentação

O pregador utiliza articuladores de discurso (assim, pois...), interrogações retóricas, anáforas, gradações crescentes, antíteses, etc.

Virtudes que Dependem de Deus

Virtudes Naturais dos Peixes

  • Foram as primeiras criaturas criadas por Deus
  • Foram as primeiras criaturas nomeadas pelo homem
  • São os mais numerosos e os maiores
  • Obediência, quietação, atenção, respeito e devoção com que ouviram a pregação de Santo António
  • Não se domam
  • Não se domesticam
  • Escaparam todos do dilúvio porque não tinham pecado

Recursos de Estilo no Sermão

  • A antítese Céu/Inferno, que repete semanticamente a antítese bem/mal, está ligada quer à divisão do Sermão em duas partes, quer às duas finalidades globais do mesmo.
  • A apóstrofe refere diretamente o destinatário da mensagem e do pregador, aproximando os dois polos da comunicação: emissor e receptor.
  • A interrogação retórica como meio de convencer os ouvintes.
  • A personificação dos peixes associada à apóstrofe e às atitudes dos mesmos.
  • A gradação crescente na enumeração dos animais que vivem próximos dos homens, mas presos.
  • A comparação, "como peixes na água", tem o caráter de um provérbio que significa viver livremente.

Santo António foi muito humilde, aceitando sem revolta o abandono a que foi votado por todos, ele que conhecia a sua sabedoria. O pregador pretende condenar os homens que possuem vícios opostos às virtudes dos peixes.

Capítulo III: Peixes Exemplares e Vícios Humanos

O Peixe de Tobias: Santo António como Curador

  • Sarou a cegueira do pai de Tobias
  • Lançou fora os demónios
  • Alumiava e curava as cegueiras dos ouvintes
  • Lançava os demónios fora de casa

A Rémora: Santo António e o Domínio das Paixões

  • Pega-se ao leme de uma nau
  • Prende a nau e amarra-a
  • A língua de Santo António domou a fúria das paixões humanas: Soberba, Vingança, Cobiça, Sensualidade

O Torpedo: Santo António e a Conversão

  • Faz tremer o braço do pescador
  • Não permite pescar
  • 22 pescadores tremeram ouvindo as palavras de Santo António e converteram-se

O Quatro-Olhos: O Pregador e a Visão Espiritual

  • Defende-se dos peixes
  • Defende-se das aves
  • O peixe ensinou o pregador a olhar para o Céu (para cima) e para o Inferno (para baixo)

A língua de Santo António teve a força de dominar as paixões humanas, guiando a razão pelos caminhos do bem; foi o freio do cavalo porque impediu tantas pessoas de caírem nas mais variadas desgraças.

As Naus dos Vícios Humanos

Nau Soberba

  • Velas, vento
  • Inchadas
  • Desfazer, rebentavam

Nau Vingança

  • Artilharia, bota-fogos
  • Abocada, acesos
  • Corriam, queimariam

Nau Cobiça

  • Gáveas
  • Sobrecarregada, aberta
  • Incapaz de fugir

Finalidade das Interrogações Retóricas

  • Convencer os ouvintes.

Comentário sobre a Imagem do Quatro-Olhos

  • Usadas sempre com a finalidade de chamar a atenção dos ouvintes para as várias tentações que precisam ser evitadas.

Os olhos deste peixe (Quatro-Olhos) demonstram a importância de estar consciente do nosso caminho ao mesmo tempo que almejamos chegar mais alto. Olhos ao mesmo tempo no céu e no inferno, sem descurar a realidade terrena.

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