Sintomas Comuns e Intervenções: Guia de Cuidados Paliativos

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Astenia e Fadiga: Compreensão e Gestão

A astenia ou fadiga caracteriza-se por uma sensação persistente de cansaço e esgotamento, desproporcional à atividade realizada, sem causa aparente, e debilidade generalizada. Contribui para a perda progressiva da capacidade funcional.

Causas da Astenia e Fadiga

  • Alterações endócrinas
  • Falta de nutrientes (anorexia e vómitos)
  • Infeção
  • Alterações musculares
  • Desidratação
  • Alterações do sono
  • Distresse emocional (ansiedade, depressão)
  • Fármacos

Tratamento da Astenia e Fadiga

  • Promover higiene do sono, técnicas de relaxamento e controlo de estímulos.
  • Corticosteroides
  • Acetato de megestrol
  • Metilfenidrato (psicofármaco)
  • Modafinil (psicofármaco)

Intervenções na Astenia e Fadiga

  • Investigação da etiologia.
  • Corrigir causas não relacionadas com cancro.
  • Informar o doente e família sobre o sintoma e estabelecer objetivos realistas.
  • Favorecer a verbalização de dúvidas e receios.
  • Desenvolver estratégias de adaptação.
  • Reduzir o sintoma se não for possível eliminá-lo.
  • Estabelecer objetivos realistas e acessíveis para não causar frustração.

Anorexia: Perda Significativa do Apetite

A perda significativa do apetite é um sintoma comum em diversas condições.

Causas da Anorexia

  • Alimentos pouco apetitosos
  • Alteração do paladar
  • Dispepsia
  • Náuseas ou vómitos
  • Obstipação
  • Boca inflamada; mucosite
  • Dor
  • Ansiedade

Intervenções na Anorexia

  • Escutar os receios dos familiares.
  • Oferecer refeições fracionadas, segundo as preferências alimentares, os hábitos e as intolerâncias.
  • Servir pequenas quantidades em pratos pequenos.
  • Aproveitar os momentos de desejo de comer.
  • Evitar odores intensos a comida.
  • A alimentação é um hábito social; geralmente, a pessoa come melhor se sentada à mesa e com roupa adequada.
  • Com a evolução natural da doença, a ingestão oral tende a diminuir; pequenos pedaços de gelo, bebidas frias ou até humedecer a mucosa oral podem ser suficientes para alguns doentes.
  • As medidas farmacológicas garantem habitualmente pouco sucesso, pelo que deve ser dada ênfase à explicação do sintoma, às medidas de adaptação à situação e ao reforço de que a ingestão alimentar forçada não traz qualquer benefício para o doente.

Obstipação: Dificuldade na Evacuação Intestinal

A obstipação caracteriza-se por dificuldade persistente para evacuar, uma sensação de esvaziamento incompleto e/ou movimentos intestinais pouco frequentes. Deve ser prevenida para evitar situações mais complicadas como a oclusão intestinal.

Intervenções na Obstipação

  • Controlar diariamente a hidratação, estimulando a ingestão hídrica, e verificar a dieta para que esta favoreça os alimentos ricos em fibras e com propriedades laxantes e restrinja os com propriedades obstipantes.
  • Criar condições favoráveis ao respeito dos hábitos de eliminação, como a privacidade.
  • A imobilidade deve ser evitada, reforçando e incentivando a prática do exercício físico, realçando os seus benefícios; se tal não for possível, favorecer as mudanças de posição.
  • Passados mais de 3 dias da última evacuação, considerar o recurso a supositórios de bisacodil ou glicerina.
  • A massagem abdominal visa o conforto e a diminuição da dor local provocada pelas cólicas, ajudando também a progressão do bolo fecal e das fezes no tubo digestivo.

Dispneia: Sensação Subjetiva de Falta de Ar

A dispneia é uma sensação subjetiva de falta de ar e dificuldade respiratória.

Causas da Dispneia

  • Causas suscetíveis de correção (infeções respiratórias, DPOC, TEP - tromboembolismo pulmonar, IC, etc.).
  • Causas secundárias ao processo tumoral.

Intervenções na Dispneia

  • O doente deve permanecer acompanhado.
  • Proporcionar um ambiente arejado, com abertura de janela ou a colocação de ventoinha.
  • Uso de leque, se agradável para o doente.
  • Elevação da cabeceira da cama.
  • Humidificação do ambiente.

Fármacos para Dispneia

  • Benzodiazepinas
  • Opioides

Náuseas e Vómitos: Definição e Manejo

Náusea é uma sensação desagradável associada ao tubo digestivo alto, frequentemente acompanhada da sensação de vómito iminente. Vómito corresponde ao ato final de um processo complexo que termina com a expulsão forçada pela boca de conteúdo gastrointestinal.

Causas de Náuseas e Vómitos

  • Fármacos
  • Alterações metabólicas
  • Obstipação
  • Disfunção do SNC
  • Causas psicológicas

Tratamento de Náuseas e Vómitos

  • Considerar a rotação de opioides.
  • Rever a terapêutica e suspender fármacos que possam estar na origem do problema.
  • Estabelecer a correção das alterações metabólicas.
  • Instituir a profilaxia da obstipação.
  • Considerar radioterapia ou corticoterapia no caso de existirem metástases cerebrais.
  • O uso da sonda nasogástrica deve reservar-se para obstruções completas com grande distensão abdominal.

Intervenções em Náuseas e Vómitos

  • Manter um ambiente confortável e evitar os odores dos alimentos.
  • Garantir tranquilidade e evitar o clima de tensão.
  • Fazer pequenas refeições, mais frequentes.
  • Reduzir a quantidade de alimentos.
  • Optar por dietas com baixo teor de gorduras, frias e com pouco sabor.
  • Tentar usar alimentos secos.
  • Garantir ingestão adequada de líquidos.
  • Manter uma boa higiene oral.

Hemorragia: Gestão e Apoio ao Doente e Família

A hemorragia é um sintoma muito angustiante para o doente, para o familiar/cuidador e para o profissional, devido à sua visibilidade, à imprevisibilidade do resultado e ao receio de que cause a morte.

Intervenções na Hemorragia

  • Decidir, em equipa, quem informar na família e se o doente também deve ser informado.
  • Ponderar o nível mais adequado de cuidados.
  • Face à hipótese de um evento hemorrágico, apurar a vontade do doente/família/cuidador quanto ao tratamento a instituir, ao local onde será tratado e à instituição de medidas invasivas.
  • Explicar tratamentos disponíveis, riscos e resultados esperados, na perspetiva de adequar expectativas à realidade.
  • Identificar os desejos/sentimentos do doente/família/cuidador sobre a possibilidade de sedação paliativa.
  • Estabelecer com o doente/família/cuidador o plano de intervenção na crise a fim de reduzir o nível de ansiedade. Fornecer o material para dar resposta à situação de crise.
  • Esclarecer a família/cuidador sobre as medidas a adotar para diminuir o impacto visual da hemorragia.
  • Preparar a família/cuidador para a hipótese do falecimento do doente devido a hemorragia maciça.
  • Fornecer os contactos telefónicos necessários.

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