Sociedade Islâmica: Legitimidade, Estrutura e Expansão

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4. Legitimidade Islâmica e Ideologia

Toda organização precisa de legitimidade social. Essa legitimidade é oferecida pela ideologia. Legitimação: um conjunto de razões que explicam que a organização é "natural" no pressuposto de que todo o universo tem uma ordem, e todos devem se adaptar.

A ideologia é frequentemente projetada em uma teoria do conhecimento, ou seja, uma explicação do mundo e do papel dos seres humanos nele. A teoria do conhecimento foi desenvolvida inicialmente pela filosofia, mas, a partir da Idade Média, entrou em conflito aberto com a religião.

A ideologia islâmica clássica (séculos VI-XI) foi baseada essencialmente no emanacionismo, que defendia a eternidade do mundo e uma emanação permanente da Causa Primeira.

O Deus da revelação do Alcorão, para essa teoria, pode ser equiparado à Causa Primeira. Mas o problema é que essa teoria também considera a matéria como princípio gerador, e como tal, eterna. Isso questionava a criação de toda a existência por Deus, princípio defendido pela religião islâmica (incluindo o Cristianismo). Os grandes teóricos islâmicos do primeiro período (Ibn Sina, Al-Farabi) consideravam, por isso, que a religião era válida apenas para o povo, enquanto os governantes deveriam confiar na emanação, da qual se poderia inferir que a autoridade era legítima acima da lei revelada. Seguiram-se também, como princípios para a lei, a opinião pessoal e o esforço pessoal de interpretação, que eram a prova da hegemonia do privado.

Entre os séculos XI e XII, um ajuste foi concebido dentro da própria estrutura da ideologia islâmica. Teólogos como Al-Ghazali deram à religião um papel dominante em todos os níveis. Filósofos como Ibn Tufail procuraram conciliar a revelação com a filosofia, ou seja, o conhecimento pela fé com o conhecimento pelo esforço pessoal e raciocínio lógico. Essa configuração foi mantida até a virada dos séculos XIX e XX. A partir do século XIX, o capitalismo se impôs, quebrando esse modelo e transformando a sociedade. Mesmo no campo jurídico, permaneceu uma forte ligação com os supostos princípios da lei islâmica. Setores religiosos só começaram a adquirir uma influência significativa no final do século X. A crise política do século XI trouxe à tona a questão da legitimidade do poder e facilitou a penetração das propostas "refrescantes" de Al-Ghazali.

5. Sociedade Tribal

Muitos pesquisadores acreditam que a sociedade existente em Meca, no tempo de Maomé, era uma sociedade tribal, e que a estrutura básica deste tipo de sociedade ainda existia mais tarde, não só na Arábia, mas se aplicava em muitos territórios conquistados. A existência de grupos tribais em Al-Andalus, o grau de continuidade desses grupos ao longo do tempo e o nível do seu impacto na formação de Al-Andalus foram parte de qualquer discussão séria sobre a história deste período. As sociedades tribais são baseadas em sua articulação em tribos. Tribos são grupos sociopolíticos compostos por grandes confederações e divididos em clãs e linhagens. Os indivíduos pertencentes a um clã não conseguem estabelecer claramente a linha de ancestrais que os conectam ao fundador teórico. As linhagens descendem em linha direta. Os clãs pertencem a famílias extensas, abrangendo vários graus de parentesco. Nas linhagens, os membros pertencem apenas ao mesmo grau de relacionamento mais próximo.

Do ponto de vista socioeconômico, uma sociedade tribal frequentemente se caracteriza pela propriedade comunal, especialmente da terra. Isso torna a organização produtiva estável, e as mudanças devem ser tomadas por consenso, integrando todos os elementos envolvidos. As sociedades tribais também são chamadas segmentares, aquelas em que a organização política é baseada no equilíbrio dos clãs. Elas não reconhecem a legitimidade das estruturas políticas sobre a tribo. Todos esses fatores conferem aos grupos tribais uma resistência pacífica à absorção por outro tipo de sociedade.

6. Relações de Parentesco

Há muitas maneiras pelas quais a sociedade estabelece relações de parentesco, que são divididas em agnáticas e cognáticas. O parentesco agnático prevalece na linha masculina (patrilinear) e feminina (matrilinear). Os matrilinares são mais raros. No parentesco cognático, os descendentes pertencem às famílias de ambos os pais. A sociedade também pode ser exogâmica ou endogâmica. Na primeira, o casamento deve ocorrer fora do grupo familiar, embora os níveis de proibição variem em outras sociedades. Nas sociedades endogâmicas, os casamentos tendem a ocorrer dentro do grupo. Essas sociedades tendem a aceitar a poligamia. É considerado particularmente honroso para elas tanto a captura de mulheres estrangeiras pela força, quanto o prestígio de serem suficientemente respeitadas por outras linhagens a ponto de estarem em uma posição dominante sobre elas. As mulheres nunca pertencerão ao grupo do marido; sim, seus filhos pertencerão, fortalecendo o grupo, enquanto a saída de mulheres o enfraquece. Isso supera as dificuldades e os riscos de degeneração genética. O "ideal" de um grupo é ter o poder ou o prestígio necessário para absorver outras mulheres, sem abrir mão de nenhuma das suas, aumentando assim constantemente a sua força, enquanto a perda de mulheres levaria ao seu desaparecimento.

Entre os árabes, sobreviveram relações agnáticas, embora os laços tribais já estivessem em processo de dissolução na época da conquista. Indivíduos e grupos começaram a se articular e a estabelecer relações com base em sua posição dentro das instituições do Estado.

7. Unificação e Expansão do Império Islâmico

Maomé havia conseguido unificar a maior parte da Arábia e, como resultado, pôde começar a preparar ataques contra os impérios Bizantino e Sassânida. Após sua morte, muitas tribos não aceitaram que os grupos de Meca e Medina exercessem o poder e romperam alianças. Os primeiros califas reagiram contra a secessão, descrita como apostasia, e em uma rápida série de campanhas forçaram as tribos rebeldes à sua submissão, unificando a Arábia. Entre a morte de Maomé (632) e o início do século VIII, os árabes formaram um império que se estendia do Irã ao sul da França.

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