Sociologia Ambiental: Os Paradigmas de Dunlap e Catton
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Dunlap e Catton lançam assim a sua sociologia do ambiente como um desafio radical ao conjunto da comunidade científica da sociologia e ao seu velho paradigma, que consideram incapaz de integrar convenientemente o tipo de problemas insistentemente colocados por diversos sectores e reunidos enquanto ecológicos e ambientais. Os autores vão designar o seu paradigma/Visão Antropocêntrica Dominante das Ciências Sociais por HEP 1 e 2.
O Paradigma Antropocêntrico Dominante (HEP)
Premissas Paradigmáticas da HEP:
- Os humanos têm uma herança cultural acumulada, distinta da herança genética, sendo diferentes das outras espécies.
- Os factores sociais e culturais (incluindo a tecnologia) são grandes determinantes das ações humanas.
- Os ambientes sociais e culturais são, por excelência, o contexto da ação humana, sendo o ambiente biofísico pouco relevante.
- A cultura é cumulativa, e o progresso tecnológico e social não tem limites, encontrando-se sempre uma solução para os problemas sociais.
Segundo os autores, a visão comum de “isenção humana”, partilhada pelas comunidades sociológicas, teria sido modelada pelas teorias do progresso na sociologia e pela experiência eufórica do tecnicismo industrial americano. Contudo, esta visão estaria comprometida nos dias de hoje pela natureza dos problemas ecológicos colocados à escala global.
O Novo Paradigma Ambiental (NEP)
Assim, Dunlap e Catton propõem o seu novo paradigma, o NEP (New Environmental Paradigm), considerado por alguns uma tentativa polémica de reorientar a sociologia. Este paradigma sublinha a dependência dos ecossistemas por parte das sociedades humanas. Sem negar as características excecionais da nossa espécie, não isentam o ser humano dos princípios ecológicos e das influências e constrangimentos ambientais. Assim, os autores defendem que não existe nenhuma oposição entre o ethos societal e o ethos ambiental, mas sim interação e influência mútua.
Características do NEP:
Este conjunto de características em que se baseia o NEP enfatiza as características inegavelmente excecionais do ser humano, mas simultaneamente sublinha a força das leis ecológicas no enquadramento da atividade humana:
- Embora possuam características excecionais (cultura, tecnologia...), os seres humanos vivem com várias outras espécies, todas elas envolvidas no ecossistema global de forma interdependente.
- As ações humanas são influenciadas pelos factores sociais e culturais, pela relação de causa-efeito e de feedback na natureza.
- Os seres humanos vivem e são dependentes de um ambiente biofísico limitado, o que provoca fortes constrangimentos físicos e biológicos nas ações humanas.
- Apesar da criatividade humana e das suas potencialidades extrapolarem os limites da capacidade de carga do planeta, as leis ecológicas devem ser contempladas.
Implicações do NEP:
A proposta do NEP implica:
- O fim da visão do mundo onde o ser humano teria um estatuto de salvaguarda e isenção absoluta.
- A conceção das causas dos problemas ambientais baseada na integração sistémica de factores biofísicos, sociais e culturais, tais como população, tecnologia, sistema social, sistema cultural e sistema de personalidades, que os autores desenvolvem num modelo de análise sobre interações entre ambiente e sociedade.
O Complexo Ecológico de Catton e Dunlap
Catton e Dunlap falam numa interdependência recíproca de todos os factores e dão forma ao seu complexo ecológico, através do qual se equaciona a relação multicausal das interações entre população, tecnologia e organização social, e que tanto serve à explicação das “causas” da degradação ambiental como das “consequências” ambientais sobre a sociedade.