Sofistas vs. Filósofos: Retórica e Verdade
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A relação entre os Sofistas e a ordem democrática ateniense é a seguinte: era necessário preparar os jovens para a vida pública. Daí surgem os sofistas, professores itinerantes que se dedicavam ao ensino dos jovens mediante uma remuneração. Protágoras, Górgias e Hípias foram os sofistas mais destacados.
O que são Sofistas? Dominavam a arte de persuadir pela palavra, dotados de habilidade linguística. Eles centravam o seu ensino na forma e não no conteúdo, ensinando a técnica do discurso, triunfando em função de cada um.
Sócrates e Platão não podiam aceitar este relativismo da verdade, nem esta valorização da retórica como arte do discurso persuasivo em detrimento da sabedoria, daí eles criaram uma visão depreciativa dos sofistas. Para o Sofista, a retórica é a técnica de persuadir para ganhar um dado auditório a favor da sua opinião. Para os filósofos (Sócrates, Platão), a argumentação só pode servir na busca da verdade. A retórica digna, ou uma boa argumentação, é aquela que serve o filósofo na busca da verdade. A Verdade e o Bem são ideias que convêm à filosofia. O discurso como instrumento de poder é próprio dos Sofistas e o discurso como instrumento de verdade é próprio dos filósofos.
Sofistas | Filósofos |
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Professor itinerante que se faz pagar pelos seus serviços. | Amante, desinteressado, do saber |
Centrado na forma do discurso | Centrado no conteúdo do discurso |
Procura o discurso eficaz (retórica) | Procura a verdade (sabedoria) |
Ensina uma técnica | Procura a verdade absoluta |
Baseia-se em opiniões e aparências | Baseia-se na Verdade e no Bem |
Com Aristóteles, a retórica torna-se um saber entre outros, uma disciplina que não faz uso do mesmo tipo de provas que as ciências teóricas, e que se ocupa do que é verossímil. Aristóteles conseguiu libertar a retórica da má reputação, podendo fazer-se um bom e um mau uso da retórica.
Podemos assim distinguir dois usos da retórica: a persuasão e a manipulação. A Persuasão é a prática do discurso que tem como finalidade levar alguém a mudar de ideias, mas pressupondo a livre adesão do auditório à tese que o orador pretende que seja acolhida por ele. A Manipulação é a prática abusiva do discurso - abusiva na medida em que obriga o receptor a aderir a uma dada mensagem. Dentro da manipulação existem dois tipos: a dos afetos, que apela à emoção e aos sentimentos do receptor, e a cognitiva, que opera por falsificação do conteúdo do discurso. O único problema da manipulação é que muitas das vezes nós a consentimos, por exemplo, quando estamos a ser seduzidos e consentimos a manipulação.
RETÓRICA BRANCA E RETÓRICA NEGRA:
- BRANCA - Procura pôr a descoberto os procedimentos da retórica negra, sendo crítica, lúcida e consciente das diferentes formas e dos diferentes problemas que envolvem a comunicação.
- NEGRA - Corresponde a um uso ilegítimo do discurso porque visa enganar, iludir e manipular o interlocutor.
A argumentação é fundamental para a atividade filosófica, que procura uma visão integrada do real, uma compreensão da realidade no seu todo, do ser, dedicando-se à busca da verdade.
Existem diferentes discursos sobre a realidade (filosóficos, científicos, políticos, religiosos) e a cada um deles corresponde uma interpretação do ser ou da realidade que pretende ser verdadeira. A Filosofia socrático-platônica exigia encontrar a Verdade - Única, Absoluta e Universal, capaz de dizer uma realidade absoluta, perfeita e imutável - e, por isso, criticava fortemente a retórica sofística, por dar espaço ao subjetivismo e ao relativismo. Atualmente, perante a diversidade dos discursos, a razão não é mais entendida como a faculdade humana detentora (a priori) de conhecimentos definitivos e unívocos, mas como faculdade humana plural, portadora de conhecimentos plurívocos e o mais próximo possível da verdade. Assim, uma nova concepção da racionalidade - uma racionalidade argumentativa.
A gnosiologia é a disciplina filosófica que estuda o conhecimento. Incide sobre as relações entre o sujeito e o objeto, procurando esclarecer criticamente os problemas que essas relações suscitam, como os problemas relativos à origem e aos limites do conhecimento.
Para que haja conhecimento, é necessário que existam dois elementos: o sujeito - aquele que conhece - e o objeto - aquilo que é conhecido. Sem nenhum destes, o conhecimento seria impossível. Entre estes elementos existe uma relação de correlação. O sujeito interage com a realidade, e é daí que o conhecimento cresce.
TIPOS DE CONHECIMENTOS:
- Saber fazer - É o conhecimento prático, ligado à capacidade, aptidão ou competência para fazer alguma coisa. Ex: saber cozinhar.
- Saber que - É o conhecimento que tem por objeto pensamentos ou proposições verdadeiras. Ex: 1+1 = 2.
- Conhecimento por contacto - É o conhecimento direto de alguma realidade: pessoas, lugares. Ex: conhecer Veneza - ou seja, já esteve lá.
A linguagem e o pensamento encontram-se unidos, e nenhum deles se pode manifestar independentemente, sob a forma "pura". Por outro lado, a linguagem está implicada no processo do conhecimento do mundo, da reflexão sobre o conhecimento e da comunicação dos seus resultados. O conhecimento do tipo "saber que" é sinônimo do conhecimento proposicional.
Só as proposições verdadeiras é que permitem que se estabeleça uma relação adequada entre o sujeito cognoscente e a realidade. No conhecimento proposicional, existe uma relação entre um sujeito e um objeto, sendo esta relação chamada de crença. Podemos definir a crença como a atitude de adesão a uma determinada proposição, sendo ela verdadeira. O conhecimento parte de uma convicção do sujeito relativa ao objeto. A CRENÇA É UMA CONDIÇÃO NECESSÁRIA AO CONHECIMENTO, e podem ser verdadeiras ou falsas. A verdade e a falsidade da crença dependem de alguma coisa exterior à própria crença. Esta, sendo uma condição necessária para o conhecimento, não é uma condição suficiente. Para além da crença, a verdade é também uma condição necessária do conhecimento. Mas mesmo assim, o conhecimento não se reduz à simples crença verdadeira, é necessária uma justificação para acreditar na crença, tendo a necessidade de ter provas, razões ou evidências para justificar tal crença. Sendo assim, as CONDIÇÕES DO CONHECIMENTO, em 1º a CRENÇA, em 2º a VERDADE, em 3º a JUSTIFICAÇÃO.
Platão encontra a definição tradicional do conhecimento: o conhecimento é uma CRENÇA VERDADEIRA JUSTIFICADA. Segundo esta definição, que é tripartida, o conhecimento (episteme) inclui a crença (doxa), a verdade (aletheia) e a justificação (logos). O saber equivale à opinião verdadeira, logo o conhecimento identifica-se com a opinião/crença verdadeira.
CONCLUSÃO: Crença, Verdade e Justificação - são necessárias para que haja conhecimento; isoladamente, nenhuma é suficiente. "Se uma pessoa tiver uma crença sobre um determinado assunto, se a mesma for verdadeira e se tiver boas razões para fazer com que ela seja verdadeira, então essa pessoa tem todas as condições necessárias e suficientes para ter conhecimento."