Sofistas vs. Sócrates: Política e Moral na Atenas Antiga
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A Influência dos Sofistas na Política Ateniense
Após a vitória sobre os persas nas Guerras Médicas, sob a liderança militar do estratega Péricles, as classes mais baixas de Atenas viram o seu acesso à política aumentar, talvez como recompensa pela sua inestimável contribuição para o exército. Até então, a participação política era reservada aos membros da aristocracia. A cidade-estado ateniense caracterizava-se pela democracia direta. Embora seja verdade que os direitos civis e políticos eram restritos, excluindo uma parte significativa da população, a discussão sobre os assuntos da pólis fazia parte da vida quotidiana dos cidadãos, para quem a política representava algo essencial.
Os sofistas eram um grupo de mestres que, em troca de grandes honorários, se dedicavam a ensinar os jovens atenienses que necessitavam dos seus serviços e aptidões para atuar profissionalmente na política. Os seus ensinamentos incluíam conhecimentos de leis, história e filosofia, mas focavam-se especialmente nas artes relacionadas com o discurso público, como a retórica e a dialética.
A consequência do movimento sofista foi tripla:
- Profissionalização da política: Transformou-a numa atividade especializada.
- Exaltação da elite económica e social: Apenas os mais ricos podiam pagar pelos ensinamentos dos sofistas.
- Instrumentalização da política: A política tornou-se um instrumento linguístico e de dominação, esquecendo os seus objetivos primordiais: a busca pela justiça e pela verdade.
Sócrates: Oposição ao Relativismo Sofista
O Filósofo e o seu Método
Sócrates nasceu em Atenas no ano 470 a.C. Pertencente ao mesmo ambiente cultural e filosófico dos sofistas, combateu-os vigorosamente. Com eles, partilhava o interesse pelo homem e pelas questões político-morais, ligando-as ao problema da linguagem. As características do seu método de diálogo eram a ironia, frequentemente expressa numa atitude de modéstia, e a maiêutica. Cidadão exemplar, foi acusado de impiedade e condenado à morte no ano 399 a.C.
Sócrates diferenciava-se fundamentalmente dos sofistas em três aspetos:
- Não cobrava pelos seus ensinamentos.
- O único método válido para si era o diálogo.
- Adotava uma atitude antirrelativista, defendendo a sua teoria do intelectualismo moral.
Sócrates Contra o Relativismo Moral
O relativismo, atitude geral dos sofistas, estendia-se aos conceitos morais. Sócrates não estava satisfeito com essa perspetiva. Ele pensava que, se cada um entendesse o bem e o justo de maneira diferente, a comunicação e o entendimento mútuo tornar-se-iam impossíveis. Por conseguinte, era necessário definir com precisão os conceitos morais e políticos para restabelecer o diálogo.
O Intelectualismo Moral
Costuma-se distinguir duas grandes áreas de conhecimento: o teórico (meramente contemplativo) e o prático (destinado à ação). Este, por sua vez, divide-se em conhecimento produtivo (poiesis), focado em objetos (conhecimento técnico), e conhecimento que visa à ação para regular o comportamento (praxis) individual e social (conhecimento político-moral).
A relação entre estes tipos de conhecimento foi discutida de formas muito diferentes pelos filósofos gregos. Sócrates, por sua vez, sempre tomou o conhecimento produtivo, o técnico, como modelo para a sua teoria do conhecimento moral.