Subjetividade e Gestão de Pessoas

Classificado em Psicologia e Sociologia

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O psicólogo Fernando González Rey, ao buscar compreender a subjetividade, brinda-nos com um importante ensinamento a respeito deste conceito. É claro que toda a sua produção apresenta várias definições e especificidades, mas vamos tentar trazer um pouco daquilo que o autor compreende por este termo.

Subjetividade, para González Rey (2005), refere-se a um processo que é plurideterminado, em constante desenvolvimento, é também contraditório e sensível à qualidade dos momentos atuais, e tudo isso tem um papel essencial nas diferentes escolhas do ser humano. Assim, é inaceitável caracterizar a subjetividade por meio de construções universais e padronizadas, uma vez que a subjetividade, ao ser flexível, versátil e complexa, permite que o homem seja capaz de produzir permanentemente processos culturais que modificam seu modo de vida, o que, por sua vez, conduz à reconstituição da subjetividade.

Perceba que definição rica e, ao mesmo tempo, complexa é a subjetividade! Um processo em contínua construção, que nos envolve e nos transforma a todo momento e também contribui para transformar o outro e o mundo à nossa volta.

A subjetividade é um termo que vem ganhando espaço na gestão de pessoas, por meio de profissionais interessados em buscar compreender um pouquinho mais a respeito do homem trabalhador, com o objetivo de contribuir de maneira genuína com a satisfação e qualidade de vida nas relações de trabalho.

Alguns autores que pesquisam o mundo do trabalho incluem na história dos modelos de gestão de pessoas a dimensão da subjetividade, como é o caso de Davel e Vergara (2001, p. 50), que relatam o seguinte:

A gestão de pessoas nas organizações não deveria resumir-se a um conjunto de políticas e práticas, tampouco ser definida como somente responsabilidade de um departamento ou de uma função. Assim, propõe-se [...] que ela seja concebida como uma mentalidade, uma forma constantemente renovada de pensar a atuação e a interação humana na organização, reconhecendo o que é uno e múltiplo no ser humano, mostrando como todo fenômeno estudado é perpassado pela subjetividade, reafirmando o papel da pessoa, de sua experiência e do simbólico nas organizações e, ao mesmo tempo, restituindo a pessoa a seu quadro sócio-histórico.

As organizações de trabalho constituem-se como espaço de interação e relação, onde o ser humano manifesta suas potencialidades e seus fazeres, acompanhados de suas expectativas, anseios, sentimentos, valores, dificuldades etc. Com isso, a subjetividade do homem também é construída em meio ao universo de seu trabalho e das relações que nele são edificadas. Diante disso, torna-se urgente incluir o conceito de subjetividade na gestão de pessoas dentro das organizações, conforme nos advertem Gondim, Souza e Peixoto (2013, p. 346):

A subjetividade é um conceito que se polariza com a objetividade, sendo descrita como a condição natural de interioridade humana que permite apreender o mundo e construir-se a si mesmo. Por se tratar de seres sociais, a interioridade se constrói no processo de interação. A dialética entre o que se apresenta ao homem e como ele o representa e o interpreta é o princípio lógico da construção de uma subjetividade que é continuamente ressignificada ao longo da vida pessoal, social e profissional. Incluir a subjetividade na gestão de pessoas significa reconhecer e respeitar o caráter multidimensional e o papel ativo de cada um na construção de sua relação com o trabalho.

Assista ao vídeo a seguir para refletirmos, de forma resumida, o que vimos até agora sobre o conceito de subjetividade.

WEB 4 -

Gestão por Competências

Dando continuidade em nossa primeira unidade da webaula 4, estudar a subjetividade nos dias de hoje, incluindo o cenário das organizações de trabalho, é buscar compreender a produção de novos modos de ser, pensar e agir, isto é, as subjetividades emergentes, cuja produção é social e histórica (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008).

Saiba mais

Vamos compreender um pouco mais a respeito da subjetividade a partir da ótica da Psicologia sócio-histórica. Para isso, leia com atenção um trecho da obra de Bock, Furtado e Teixeira (2008, p. 76-77):

Para a Psicologia sócio-histórica, sujeito e mundo são, assim, âmbitos distintos, mas criados no mesmo processo. Ao interferir de modo transformador sobre o mundo material, o ser humano estará se constituindo e construindo o mundo que tem à sua volta. Sujeito e mundo não são âmbitos antagônicos, como pensam algumas teorias. Sujeito e mundo se completam e se referem um ao outro. Ao conhecer um ritual de um grupo social, poderemos conhecer muito de sua forma de subjetivação. Ao conhecer as ideias e os projetos de um ser humano, poderemos saber sobre sua sociedade e suas formas de vida. A Psicologia é uma ciência do mundo subjetivo, mas isso não quer dizer que o material de seu trabalho esteja apenas "dentro" dos sujeitos. Um psicólogo que pensa assim tem no mundo cultural e social muitos elementos para saber da dinâmica dos sujeitos que ali vivem. Podemos então falar de subjetividade individual e subjetividade social, pois os fenômenos sociais estão, de forma simultânea, dentro e fora dos indivíduos, isto é, estão na subjetividade individual e na subjetividade social. A subjetividade deve ser compreendida como: um sistema integrador do interno e do externo, tanto em sua dimensão social, como individual, que por sua gênese é também social. A subjetividade não é interna nem externa: ela supõe outra representação teórica na qual o interno e o externo deixam de ser dimensões excludentes e se convertem em dimensões constitutivas de uma nova qualidade do ser: o subjetivo. Como dimensões da subjetividade, ambos (o interno e o externo) se integram e desintegram de múltiplas formas no curso de seu desenvolvimento, no processo dentro do qual o que era interno pode converter-se em externo e vice-versa. (GONZÁLEZ-REY, 1997, p. 37-53). A subjetividade individual representa a constituição da história de relações sociais do sujeito concreto dentro de um sistema individual. O indivíduo, ao viver relações sociais determinadas e experiências determinadas em uma cultura que tem ideias e valores próprios, vai se constituindo, ou seja, vai construindo sentido para as experiências que vivencia. Esse espaço pessoal dos sentidos que atribuímos ao mundo se configura como a subjetividade individual. A subjetividade social é exatamente a aresta subjetiva da constituição da sociedade. Refere-se "ao sistema integral de configurações subjetivas (grupais ou individuais), que se articulam nos distintos níveis da vida social.". Op. cit. Assim, para a Psicologia sócio-histórica, não há como compreender um indivíduo sem conhecer seu mundo. Para compreender o que cada um de nós sente e pensa e como cada um de nós age, é preciso conhecer o mundo social no qual estamos imersos e do qual somos construtores; é preciso investigar os valores sociais, as formas de relação e de produção da sobrevivência de nosso mundo, e as formas de ser do nosso tempo. Para facilitar a compreensão dessas noções básicas da Psicologia sócio-histórica, sugerimos que reflita sobre o que sente, pensa e como age, identificando em seu mundo social os espaços nos quais essas formas configuram, pois, com certeza, é nelas que você busca matéria-prima para construir sua forma particular de ser. Mesmo sem perceber, você as reforça ou reconstrói diariamente, atuando para que elas se mantenham. Há um movimento constante que vai de você para o mundo social e que lhe vem desse mesmo mundo. [...]. Vamos nos humanizando em um processo permanente.

Agora que já discutimos o conceito de subjetividade e pudemos fazer uma breve reflexão da grandeza do ser humano, é o momento de falarmos sobre as competências, articulando-as a este conceito. Considerando a subjetividade um processo que não cessa de se modificar, pois as experiências da vida sempre trarão novos elementos para transformá-la, também devemos pensar no conceito de competências sob a luz da complexidade e magnitude do ser humano, levando em conta não só aquilo que ele traz naquele momento, mas aquilo que ele pode vir a ser, lembrando

que as dimensões individual, social, cultural e histórica influenciam significativamente em sua forma de viver.

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