Temas e Estilo: Ricardo Reis e Alberto Caeiro
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1. A Natureza e a Brevidade da Vida em Ricardo Reis
No poema de Ricardo Reis, a natureza tem um papel essencial no desenvolvimento do pensamento do sujeito poético, funcionando como uma metáfora para a brevidade da vida. As rosas, associadas ao mito de Adónis, representam a fragilidade da existência humana, pois nascem e morrem rapidamente. A referência ao sol e a Apolo reforça a ideia de que, tal como as flores, a vida humana é curta e inevitavelmente sujeita à morte.
O verso “façamos nossa vida um dia” sugere a filosofia do carpe diem (expressão latina que significa “aproveita o dia”), incitando o sujeito a viver o presente, consciente da fugacidade da vida. Assim, a natureza reflete a nossa mortalidade e a urgência de aproveitar o tempo limitado que temos. Esta visão também se relaciona com o estoicismo, que valoriza a aceitação da morte e a busca por uma vida serena, focada no presente e no controlo das nossas ações.
2. Aceitação Serana da Morte
Nos últimos quatro versos, Ricardo Reis transmite a ideia de que a vida é curta e que devemos aceitá-la com tranquilidade. Em vez de tentar viver intensamente, o sujeito poético sugere que devemos aproveitar o pouco tempo que temos de forma calma, sem nos preocuparmos demasiado. A noite, mencionada antes e depois, simboliza a morte, algo inevitável e presente em toda a nossa vida. Assim, ao dizer que “o pouco que duramos” é tudo o que temos, ele nos convida a viver com serenidade, aceitando a morte como parte natural da existência.
3. O Uso do Plural e a Partilha da Filosofia
A mudança da primeira pessoa do singular para a primeira pessoa do plural nos versos 9 e seguintes mostra uma alteração na forma como o sujeito poético vê a vida. No início, ele fala de forma mais pessoal e pensativa, a partir da sua própria visão sobre a vida e a morte. A partir do verso 9, o uso do plural (“façamos”, “sabemos”) mostra que ele quer partilhar esse pensamento com os outros, envolvendo o leitor ou Lídia numa reflexão conjunta sobre a brevidade da vida e a necessidade de aceitação. Essa mudança também demonstra o desejo de aconselhar, convidando o outro a refletir sobre a efemeridade do tempo e da morte de forma mais coletiva.
5. Alberto Caeiro: O Sensacionismo e a Rejeição do Pensamento
Para Caeiro, as sensações (principalmente a visão, mas também o tato e a audição) são a única forma verdadeira de conhecer o mundo. Ele defende que ver além do que os olhos captam é uma especulação, uma forma de distorcer a realidade. Caeiro não quer entender os sentidos ocultos das coisas, porque acredita que:
“O Mundo não se fez para pensarmos nele / (Pensar é estar doente dos olhos)”.
Para ele, a visão é a melhor maneira de conhecer o real, sem as complicações do pensamento, que apenas atrapalham a experiência direta da natureza.
6. Características Formais da Poesia de Caeiro
No poema de Alberto Caeiro, há várias características formais que se destacam, refletindo a sua valorização da espontaneidade e da simplicidade:
- Rejeição das regras poéticas tradicionais: O poema não segue rimas nem métrica fixa, aproximando-se do verso livre. Caeiro opta por uma escrita sem regras. Exemplo: “Eu não tenho filosofia: tenho sentidos…”.
- Linguagem simples e direta: O vocabulário é acessível, sem palavras difíceis ou complicadas, conferindo ao poema um tom informal e familiar. Exemplo: “Pensar é estar doente dos olhos.”