Grandes Temas da História Mundial: Da Antiguidade Tardia ao Século XXI

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1. A Crise do Império Romano e a Transição para a Idade Média

A Escravidão e a Crise Econômica na Antiguidade Tardia

Altura máxima de expansão do Império: Séculos I e II (Trajano, Adriano, Marco Aurélio).

Na crise do terceiro século, houve um declínio, mas não o desaparecimento total. As primeiras incursões bárbaras e os ataques às cidades levaram ao declínio urbano. O governo central tornou-se fraco, gerando incerteza nas comunicações e queda no comércio e na produção artesanal, resultando na decadência urbana das cidades.

Ao mesmo tempo, ganharam importância as unidades de produção rural (vilas ou villae). Estas eram autossuficientes (autarquia) e autônomas. Isso se tornou uma saída para muitos cidadãos urbanos (artesãos desempregados) e pequenos proprietários que, fugindo dos altos impostos, se tornaram colonos em grandes domínios. Eles eram livres, não pagavam impostos, e trabalhavam em troca de uma porção da produção e proteção contra a insegurança.

Mas, eventualmente, seriam ligados à terra (Reforma de Diocleciano, 297), tornando-se servos da gleba (colonato), perdendo mais liberdade e aumentando as obrigações para com o Senhor (Dominus).

A escassez de escravos devido à alforria e a falta de novas conquistas (prisioneiros), o mau desempenho e o perigo de distúrbios no sistema favoreceram a mudança: o recrutamento de colonos em grandes propriedades (o prelúdio do feudalismo). A escravidão continuou, mas nunca mais seria a base da economia. A partir de então, a economia rural e urbana (com exceções) entrou em decadência, tornando-se autossuficiente.

2. O Surgimento do Cristianismo

Jesus de Nazaré (+30): Há pouca informação histórica. Apresenta-se como "o Messias" (libertador do povo judeu). Contesta a Lei de Moisés e critica os ortodoxos (Fariseus), gerando inimizade da hierarquia religiosa judaica (Caifás). Foi acusado de blasfêmia, mas também de ser inimigo de Roma ("Rei dos Judeus"), sendo executado pelos romanos.

Seus seguidores, os Cristãos, eram inicialmente uma divisão do judaísmo. Mas com a atuação de Saulo de Tarso (São Paulo), houve a aceitação dos "gentios" (não-judeus) no Conselho de Jerusalém (48). A Igreja se organizou (Cartas, viagens por todo o império).

A hostilidade dos judeus favoreceu a dispersão por todo o império (Universalismo Cristão). A difusão foi lenta, especialmente no Oriente e em Roma. O desprezo pelas religiões politeístas (pagãs) e a recusa em adorar o imperador geraram problemas e perseguições (Nero, 64; Décio, 250; Diocleciano, 303-311).

  • Noções básicas do Cristianismo: Evangelhos, a mensagem de Jesus. Amor a Deus e ao próximo. Bem-aventuranças (caridade, humildade, amor fraterno), à espera do Juízo Final. Sacrifício de Jesus, o Filho de Deus, para a salvação da humanidade.
  • Organização da Igreja: No início, era muito democrática, com conselho de presbíteros e diáconos. Com o tempo, houve mais hierarquia e concentração de poder pelo bispo (episcopos), chefe da diocese (coordenação com outros bispos e subordinação progressiva ao bispo de Roma, o Papa).

3. O Edito de Milão

Após a grande perseguição de Diocleciano (303-311), houve guerra civil pelo poder imperial entre Constantino e Maxêncio. A Batalha da Ponte Mílvia (312) resultou na vitória de Constantino, após seu "sonho ou visão". Constantino e Licínio, os dois Augustos, assinaram o Edito de Milão (313), garantindo liberdade religiosa e direitos iguais para os cristãos.

Houve o retorno das terras expropriadas e a abolição do culto estatal (adoração do imperador). Constantino, até sua morte em 337, favoreceu os cristãos. Convocou o Concílio de Niceia (325), que estabeleceu o Credo, mas manteve ambiguidades (também levantou templos pagãos). Só aceitou o Batismo no final de sua vida (mas a Igreja o considera quase um santo).

Depois de Constantino, a Igreja ganhou cada vez mais influência e poder (com exceção do curto reinado de Juliano, "o Apóstata", 361-363). Teodósio proclamou o Cristianismo como religião oficial do império, condenou as "heresias" como o Arianismo (380) e proibiu os cultos pagãos (391).

4. Divisão do Império

Considera-se que a crise começou com a morte de Cômodo (192). O chamado império começou com a "Crise dos 5 anos" (193-197) e a dinastia dos Severos (197-235). Os imperadores eram militares, e o período terminou com a violenta e curta "Anarquia Militar". A partir dos Severos, os imperadores tentaram estabelecer a hereditariedade, com mais poder aparente, mas a anarquia se consolidou (235-284), agravando a crise.

Diocleciano (285-305) tentou uma solução com sua grande reforma, buscando impor ordem. Estabeleceu o poder absoluto (o "Dominato"): os cidadãos tornaram-se "súditos" e o Senado perdeu toda a importância. O poder era também divino (o que gerou o problema da perseguição aos cristãos). Ele nomeou todos os cargos. Separou o poder civil do militar. Os camponeses foram obrigados a permanecer na terra (colonato da gleba), e os artesãos formaram comunidades obrigatórias (collegia) para abastecer o exército. Os ofícios tornaram-se hereditários e obrigatórios.

Houve uma reorganização do Estado, com nova divisão administrativa (101 províncias e 12 distritos ou dioceses), e descentralização. Fortalecimento e expansão das fronteiras no Leste. Estabeleceu a Tetrarquia: dois imperadores "Augustus", cada um governando com um corregente ou "César". Diocleciano governava o Leste, capital Nicomédia, com Galério; Maximiliano governava o Ocidente, capital Milão, com Constâncio. Oficialmente, havia unidade; na prática, separação. Roma deixou de ser a capital. A Tetrarquia previa um governo de 20 anos e a substituição dos Augustos pelos Césares. Diocleciano e Maximiliano renunciaram em 305. O conjunto de soluções foi implementado, mas o problema continuava a crescer.

A partir de 312, Constantino tornou-se imperador do Ocidente. Entre 324 e 337, foi o único imperador (a Tetrarquia desapareceu), reunificando o império. Fundou Constantinopla como nova capital em 330.

A partir de 395, com a morte de Teodósio, ocorreu a divisão final do império. O Ocidente, com capital em Ravena, sobreviveu apenas até 476 (81 anos) em meio a um declínio político, militar e econômico absoluto, e ocupado pelos bárbaros.

A maior força da parte oriental (econômica, coesão interna do cristianismo, localização estratégica de sua capital, Constantinopla, e a capacidade de seus líderes) a protegeria da invasão. O Império Romano do Oriente sobreviveria, tornando-se o Império Bizantino, até 1453. Seu auge foi no século VI, com Justiniano, que praticou o "Cesaropapismo" e tentou a expansão territorial no Mediterrâneo (tentativa de reconstruir o Império Romano). A partir do século VII, perdeu muitos territórios para os muçulmanos. Declínio, mas sobrevivência até 1453 (queda de Constantinopla para os Turcos).

5. As Invasões Bárbaras

Os "bárbaros" eram povos estrangeiros, especialmente os germânicos da Europa Central e Setentrional (alemães do norte, oeste e leste).

Até o século III, o Limes (fronteira Reno-Danúbio) era forte e as legiões romanas mantinham os bárbaros sob controle (embora estes quisessem entrar no império). A partir do século III, a crise política e econômica enfraqueceu os romanos, levando às primeiras incursões bárbaras. Em 254, godos, sármatas, suevos e alemães foram expulsos, mas os romanos acabaram cedendo a Dácia aos Visigodos (271) e o norte da Gália aos Francos (268-278).

Mas as grandes invasões só ocorreram no século V, após a divisão final do Império. Desde o final do século IV, a pressão dos Hunos do leste destruiu o reino Ostrogodo no sul da Rússia, provocando grandes migrações de povos germânicos para o oeste.

Os Visigodos foram admitidos no império como federados (376), mas se rebelaram e derrotaram os romanos em Adrianópolis (378).

Em 406, Suevos, Vândalos e Alanos romperam o Limes do Reno, que era protegido por leis federais dos Francos, e não resistiu. Houve saques e destruição na Gália. Em 408, pularam os Pireneus e se estabeleceram na Espanha e no Norte da África. Roma controlava apenas a Itália, Sicília e pouco mais.

Os Visigodos, vindos do Oriente, também invadiram a Itália e saquearam Roma (410, Alarico). Após um acordo, foram removidos para o sul da Gália. Como aliados de Roma, expulsaram Vândalos e Alanos da Hispânia, mas acabaram ficando. O norte e centro da Gália foram ocupados por Francos, Alemães e Burgúndios. A Grã-Bretanha foi invadida pelos Anglos e Saxões. Finalmente, Burgúndios e Ostrogodos ocuparam a Itália.

Destaca-se o aparecimento, por volta de 450, dos Hunos de Átila, que se moveram de leste a oeste. Constantinopla pagou tributo. Depois de invadir a Gália, Francos e Romanos, aliados aos Visigodos, derrotaram Átila nos Campos Cataláunicos (451). Os Hunos se retiraram para a Hungria.

Como resultado de todas essas invasões, o Império Romano do Ocidente desapareceu em 476, quando Odoacro depôs Rômulo Augusto, o último imperador.

  • Causas das Invasões Bárbaras: Muito complexas. Conhecemos apenas a versão romana. As mais aceitas são:
  • Desejo de riquezas e melhores terras romanas.
  • Possível superpopulação germânica.
  • Possível mudança climática.
  • Chegada dos Hunos do leste.
  • Fraqueza romana (os romanos desenvolveram bárbaros "romanizados" fracos).
  • Divisão do Império (sacrifício do Ocidente).

6. Conflitos Civis e os "Foederati"

Houve conflitos civis em Roma desde a sua criação. Alguns eram sociais, como a ascensão dos italianos (91-89 a.C.) para obter a cidadania, as guerras contra Mitrídates (88-63 a.C.) ou as revoltas de escravos muito importantes, como a de Eunoe, 1ª Guerra Servil (136-132 a.C.) e a de Espártaco (73-71 a.C.).

Mas a maioria dos conflitos civis foram lutas pelo poder: a guerra civil entre Pompeu e César (49-46 a.C.), a guerra entre Otávio e Marco Antônio (32-30 a.C.). Em 193, após a morte de Cômodo, o ano dos 4 imperadores, houve guerra entre eles. Durante a "Anarquia Militar" (235-305), também foram frequentes as lutas pelo poder entre os "candidatos" a imperador. Após a Tetrarquia, Constantino obteve o poder após derrotar os exércitos de Maxêncio (312) e Licínio (324).

A partir do século IV, o crescente autoritarismo dos imperadores e o forte aumento da carga fiscal causaram um êxodo das cidades para o campo. Muitos se tornaram colonos nas grandes fazendas, mas outros se dedicaram ao banditismo e à pirataria, juntando-se a grupos de escravos rebeldes, como o caso dos Bagaudas na Gália e no norte da Espanha, ou se integrando aos invasores bárbaros.

Os Foederati: A partir do século IV, foi autorizado o estabelecimento de algumas tribos germânicas nos confins do Império como "federadas" de Roma. Recebiam anuidade em troca de assumir a defesa da fronteira do império.

Em 376, Valente autorizou o assentamento dos Visigodos como federados, mas eles se rebelaram e derrotaram os romanos em Adrianópolis, onde o próprio imperador romano morreu.

O Tratado ou Foedus era um contrato político que obrigava os germânicos a ajudar militarmente o Império Romano. Em troca, instalavam-se nos territórios concedidos (hospitalitas). Um terço das terras era cedido aos germânicos em usufruto, e não em propriedade. Visigodos, Ostrogodos, Vândalos e Francos seriam federados. Para garantir o cumprimento do acordo, os chefes germânicos entregavam seus filhos aos romanos como reféns. Este sistema terminou em fracasso no século V, quando os bárbaros perceberam a fraqueza de Roma e sua incapacidade de reagir.

7. A Formação dos Reinos Bárbaros e o Fim do Império do Ocidente

Os povos germânicos federados constituíram reinos independentes nos territórios que ocuparam. A forma de Estado era muito diferente do conceito romano (as tribos germânicas eram grupos de homens livres, guerreiros, liderados por um chefe eleito). As relações com a população romana seriam difíceis devido à segregação racial e às diferenças religiosas (os bárbaros eram arianos).

Os reinos germânicos mais significativos estabelecidos sobre o antigo Império Romano do Ocidente são:

  • Reino Vândalo (429-534): Genserico. Depois de serem expulsos da Espanha pelos Visigodos, estabeleceram-se no Norte da África (Cartago), organizando um império marítimo e atacando Roma em 455. Os romanos (Belisário) destruíram este reino em 534, incorporando-o ao seu império.
  • Reino Visigodo (419-507, cap. Tolosa; 507-711, cap. Toledo): Eurico. Primeiro estabelecidos no sul da Gália, entraram na Hispânia para expulsar Vândalos e Alanos. Em 507, foram derrotados pelos Francos em Vouillé, sendo expulsos da Gália, restando-lhes apenas a Hispânia (exceto a Galiza, reino Suevo por um tempo). O reino visigodo seria destruído pelos muçulmanos em 711.
  • Reino Franco: Federados desde 358. Unidade das tribos com Clodoveu (482-511), que conquistou toda a Gália. Sua conversão ao catolicismo (497) facilitou a fusão galo-romana e germânica, criando uma esfera unitária, muito forte pela sua coesão interna. O reino Merovíngio evoluiria para o Império Carolíngio e posterior.
  • Reino da Borgonha (443-534): Gundobald, na área atual da Suíça e Lyon. Conquistado pelos Francos em 534.
  • Reino Ostrogodo: Teodorico "o Grande". Situado na Itália e na região do Adriático (493-553), após destruir o reino de Odoacro. Muita tensão com a população romana e segregação racial. Rivalidade com os Francos. Foi destruído pelos romanos (535-553) para incorporá-lo ao seu império. Mais tarde, outras tribos germânicas, os Lombardos (Alboíno), ocuparam o norte da Itália, afastando os bizantinos e estabelecendo um novo reino (568-774).

A data de 476 d.C. é considerada o fim definitivo do Império Romano do Ocidente, quando Odoacro, mercenário germânico a serviço do último imperador de Roma, depôs Rômulo Augusto e estabeleceu um reino pessoal na Itália, enviando todos os símbolos imperiais para Constantinopla. Por convenção, considera-se que desta forma termina a Idade Antiga e começa a Idade Média.

TEMA 2: O Feudalismo

1. Conceito e Origem do Feudalismo

Entendemos o feudalismo como o sistema político, econômico e social baseado nas relações de serviço e proteção (feudais) que eram prestadas, respectivamente, pelo vassalo ao senhor e pelo senhor ao vassalo.

Surgiu na Europa no início da Idade Média, após a queda do Império Romano do Ocidente, e se consolidou entre os séculos X e XIII.

A crise urbana causada na época do Império Romano pelas invasões bárbaras levou a um processo de ruralização que resultou no surgimento das relações de senhorio. Muitos camponeses livres e ex-trabalhadores urbanos desempregados pediram proteção a um latifundiário e ficaram em um estado de semiliberdade.

O Feudalismo como Sistema Político e Militar: O desmembramento do Império Carolíngio levou ao enfraquecimento do poder real e à necessidade de compartilhar o poder entre o rei, que detinha o título de primum inter pares (primeiro entre iguais), e os senhores locais, que tinham plena autonomia política, econômica e judicial em seus territórios (feudos). Nominalmente, os senhores eram vassalos do rei.

Mas a verdadeira fidelidade era a que tinham sobre o povo comum (servos) que devia trabalhar e pagar tributos em troca da proteção de suas vidas. Os servos podiam trabalhar a terra do senhor em troca de trabalho pessoal ou tributo (em dinheiro ou em espécie).

O senhor feudal, em troca das terras recebidas do rei, tinha que proteger os moradores do senhorio, administrar a justiça e representar a Coroa. Por sua vez, era obrigado a dar ao rei Auxilium (ajuda militar) e Consilium (conselho).

O rei reservava para si uma parte do reino para administrá-lo diretamente (os bens reais da monarquia). Os perigos políticos e militares do sistema feudal eram o potencial de guerras entre nobres e a possível rebelião dos nobres contra a monarquia.

2. Bases Socioeconômicas da Sociedade Feudal

A sociedade feudal baseava-se nos seguintes aspectos:

  • a) Uma grande hierarquia social (a pirâmide feudal): No topo, o rei, cuja autoridade era de origem divina, embora na prática nem sempre fosse maior do que o poder da nobreza. Na próxima etapa, os grandes senhores feudais da alta nobreza, que realmente detinham o poder. Abaixo, a pequena nobreza, muitas vezes gerenciando porções dos feudos dos grandes senhores. Abaixo, os cavaleiros, soldados profissionais que não tinham vassalos. Na base da pirâmide, os servos (o nível da aldeia, na sua maioria camponesa).
  • b) Sociedade predominantemente rural: Devido à deterioração urbana e do comércio.
  • c) Sociedade violenta: Guerras entre nobres, revoltas aristocráticas contra o rei.
  • d) Sociedade não muito complexa, simples e estamental: Caracterizada pelos "três estados": Oratores (clero), Bellatores (senhores, nobreza, "guerreiros") e Laboratores (aqueles que trabalham, os camponeses que devem contribuir para a manutenção dos outros dois estados).
  • e) Importante papel da Igreja: Sociedade teocrática? A ordem social era "legitimada por Deus". Monopolização da cultura (mosteiros).

3. O Ressurgimento das Cidades e Comércio Medieval

O desenvolvimento mais significativo da Baixa Idade Média na Europa foi o renascimento da vida urbana. As antigas cidades romanas só sobreviveram na Itália; no resto da Europa, a sociedade era esmagadoramente rural (sem cidades até depois do ano 1000).

A partir do século XI, nasceram muitas cidades que surgiram após o estabelecimento de comerciantes e artesãos perto de um núcleo fortificado ou "burgo". Eventualmente, esta palavra acabou nomeando a nova cidade criada, e seus habitantes foram chamados de "burgueses".

Os burgos eram principalmente centros especializados na produção industrial e na troca de bens (artesanato, comércio). Sua proliferação revelou o progresso experimentado na sociedade europeia no que diz respeito à divisão do trabalho. O campo enviava seus excedentes agrícolas para as cidades, e nelas adquiria os produtos de que necessitava.

A expansão urbana foi irregular na Europa. Muito importante na Holanda e no norte da Itália, mas insignificante em outras áreas, como a Escócia.

Em qualquer caso, as cidades cresceram ao longo da Baixa Idade Média, e a população aumentou com a chegada constante de imigrantes que buscavam trabalho e liberdade ("O ar da cidade torna livres"). Portanto, houve a necessidade de erguer novas muralhas.

A expansão das cidades levou ao desenvolvimento tanto da produção artesanal quanto do comércio.

Todos aqueles que trabalhavam no mesmo ofício formavam uma corporação. Embora oficialmente tivessem um propósito de ajuda mútua e religiosa, com o tempo, tornaram-se associações para defender seus interesses e garantir a qualidade dos produtos que fabricavam (grêmios). Dentro de cada ofício, havia três etapas ou categorias: mestres, oficiais e aprendizes.

O setor mais característico da indústria da Baixa Idade Média foi o têxtil, de lã e, em menor medida, de linho, algodão e seda. O processo de produção costumava ser disperso (campo e cidade).

Comércio Medieval: O crescimento da produção industrial impulsionou o crescimento do comércio. As trocas eram necessárias em uma sociedade que começava a se especializar. As transações eram feitas não só entre as cidades e seu entorno rural, mas também se desenvolveu o comércio de longa distância, graças, entre outros fatores, à paz restaurada nas estradas, à melhoria das vias e ao aumento da cunhagem de moedas a partir do século XII, o que estimulou muito a expansão mercantil. Juntamente com o mercado local (diário) ou regional (semanal), nasceram as feiras.

4. Ascensão da Burguesia Comercial

Com o renascimento das cidades, surgiu um mundo de atividade incessante, onde o papel do dinheiro se tornava cada vez mais importante. Os protagonistas eram os habitantes dos burgos, ou seja, a burguesia, que incluía grandes e pequenos comerciantes, mestres de ofício, e simples oficiais, e até mesmo aqueles dedicados a profissões emergentes. O problema da burguesia era encaixar-se na sociedade estamental fechada e arcaica medieval, pois se dedicavam a atividades produtivas, mas não estavam relacionadas diretamente ao trabalho da terra, nem sua condição se assemelhava à dos servos da gleba.

Podemos especificar a existência de cinco grupos urbanos:

  1. Empresários: Comerciantes ricos, que cada vez mais tentavam imitar os modos de vida da nobreza e que logo se dedicariam à política, formando o "Patriciado Urbano".
  2. Comerciantes e Artesãos: Membros das "corporações". Distinção entre mestres artesãos, oficiais e aprendizes.
  3. Proletariado Urbano: Muito heterogêneo. São pessoas assalariadas que trabalham para artesãos e comerciantes; as condições de vida são geralmente duras.
  4. Homens de Estudo: Aparecem, especialmente a partir do século XIII, devido à atividade das universidades. São advogados, funcionários públicos, intelectuais, professores, médicos, acadêmicos.
  5. Excluídos: Judeus, leprosos, hereges, doentes, sem-teto, loucos, bruxas, órfãos. Estavam sujeitos a ataques severos, mas também à caridade. Isolados em "guetos", leprosários, hospitais.

5. Crise do Feudalismo

Em meados do século XIV, este novo mundo começou a entrar em crise devido à perda de colheitas, epidemias e fome. A mortalidade disparou (um em cada três europeus morreu) e os modos de vida foram afetados.

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Esse processo resultou em um tempo de grandes revoluções e guerras, como a Guerra dos Cem Anos. Com tantas crises, buscaram-se explicações religiosas; pensava-se ser um castigo divino, para o qual se recorreu a formas extremas de penitência. Ao mesmo tempo, houve grandes mudanças na Igreja.

gif, txrplz2%%

gif, txrplz4%% A grande crise do final da Idade Média foi devida ao crescimento populacional, más colheitas, fomes, guerras e às terríveis epidemias que devastaram a Europa.

6. O Estilo Românico e Gótico: Duas Mentalidades no Mundo Medieval

O Românico e o Gótico foram basicamente dois estilos artísticos internacionais. Diz-se que a arte românica simboliza a sociedade rural e feudal, enquanto o gótico se apresenta como o protótipo das cidades europeias, da classe média e do comércio. Assim, o estilo românico e, mais tarde, o gótico, são manifestações do progresso geral da sociedade europeia.

Era impensável nos séculos anteriores alocar quantias substanciais de dinheiro para a construção de igrejas. Até mesmo o desenvolvimento do ofício de pedreiro deve ser enquadrado no contexto da crescente divisão do trabalho. A evolução da técnica de construção, com instrumentos e máquinas para elevar pedras, explica a febre de construção que se viveu na Europa desde meados do século XI.

O Estilo Românico dominou os séculos XI e XII. Seu caráter internacional tem muito a ver com o propósito centralizador da Reforma Gregoriana. Sua divulgação também está relacionada com o auge das peregrinações. Os edifícios românicos, de forte caráter religioso, têm uma presença marcante nas áreas urbanas. Os templos ofereciam aos fiéis muitos elementos para o desenvolvimento da educação religiosa, nomeadamente através das esculturas do tímpano e dos capitéis.

O estilo românico evoluiu para formas ornamentadas. O retorno à simplicidade pregada pelos monges brancos (Cistercienses) também afetou a área dos edifícios religiosos. Portanto, os primeiros mosteiros cistercienses eram construções simples, mas a adição de novas soluções arquitetônicas fez deles o precedente mais claro para o Gótico, que também adquiriu um caráter internacional, estendendo-se por todos os cantos do cristianismo.

O estilo gótico teve evolução significativa, tanto na arquitetura quanto na escultura que decorava os edifícios. No gótico, predominam as janelas sobre o maciço, o que equivale ao triunfo da luz. Os edifícios ganharam altura, atirando-se para o céu. As esculturas se destacaram por sua tendência naturalista. O gótico tem uma estreita ligação com as cidades e, em muitos casos, com as necessidades das organizações da sociedade civil (municípios, leilões, entretenimento).

No século XV, a arte gótica adotou formas decorativas ornamentadas. Mas talvez tenha sido no campo da pintura onde se alcançaram resultados espetaculares. Deve-se notar que esta emergência final da arte gótica foi contemporânea da origem da arte renascentista italiana, um reflexo do Humanismo no campo das artes plásticas.

TEMA 3: O Nascimento do Mundo Moderno

1. O Surgimento da Impressão

Durante a Idade Média, a difusão da cultura era limitada. A educação baseava-se no uso de armas, e o baluarte da cultura eram apenas os mosteiros, cujas bibliotecas preservavam livros antigos.

Sob a égide destas escolas, a cultura era acessível a uma minoria da população. Uma das atividades dos monges era copiar livros à mão, por isso eram chamados de escribas. A invenção da imprensa foi um avanço enorme, pois também poderia liberar o momento em que a esfera científica, literária e artística contribuíram para a expansão do conhecimento humano. Mas, na realidade, é discutível se a imprensa foi uma invenção ou descoberta. Foi usada pelos chineses quase mil anos antes. A revolução foi o uso de tipos móveis, atribuído a L. Coster e aperfeiçoado mais tarde por Gutenberg. O papel começou a ser usado, substituindo o pergaminho.

Introduzida por mercadores alemães, a imprensa chegou à Espanha, sendo utilizada para imprimir em latim, castelhano e catalão.

A Descoberta da América

Entre os séculos XV e XVI, começou a manifestar-se uma mudança na mentalidade dos europeus: o desejo por reconhecimento, glória e riqueza. Isso, juntamente com as características dos sistemas econômicos (mercantilismo), levou à exploração geográfica e, assim, às grandes descobertas e conquistas.

Espanha e Portugal tinham a necessidade de encontrar novas rotas para o Oriente. Aproveitando sua proximidade com o Oceano Atlântico, começaram a procurar maneiras de levá-los à Ásia para a comercialização de especiarias, produtos de luxo e todos os tipos de mercadorias. Sem imaginar a existência de outro continente entre a Europa e a Ásia, e com a firme convicção de que a Terra era redonda, o navegador Cristóvão Colombo teve a ideia de cruzar o Oceano Atlântico para o oeste para supostamente chegar à China e ao Japão.

A descoberta da América por Cristóvão Colombo em 1492 marcou a dominação europeia do mundo através da criação de impérios coloniais (Espanhol e Português).

2. O Fim do Império Bizantino e o Surgimento do Império Turco

2.1. O Fim do Império Bizantino

Originado na "divisão de Teodósio" (395), o Império Romano do Oriente recebeu o nome de Império Bizantino, com sua capital em Bizâncio, a antiga Constantinopla. O auge político, econômico e militar ocorreu durante o reinado de Justiniano (527-565) no século VI, que recuperou grande parte do antigo Império Romano (todo o Norte da África, Itália, ilhas e sul da Península Ibérica).

O declínio começou pouco depois, coincidindo com o advento do Islã. Os muçulmanos ocuparam todo o Oriente Médio (Síria, Palestina, Egito entre 635 e 642) e penetraram na Anatólia, cercando Constantinopla duas vezes (674-678 e 717-718), mas não conseguiram conquistá-la. Pouco tempo depois, os bizantinos perderam grande parte da Itália (Ravena caiu em 751). Os conflitos políticos e religiosos (Guerra das Imagens) e o desvio de algumas das "Cruzadas" enfraqueceram ainda mais o império, mas ele sobreviveu até o século XV, quando os Turcos Otomanos o conquistaram, ocupando Constantinopla em 1453.

2.2. O Surgimento do Império Turco

Os Turcos são um povo nômade originário da Ásia Central. A primeira onda Turca chegou ao Oriente Médio no século XI, islamizada, conquistando a Terra Santa e, com sua intolerância, levando à organização das "Cruzadas".

Mais tarde, no século XIII, os Mongóis expulsaram tribos turcas da Ásia Central, movendo-as para a Anatólia. Seriam os Turcos Otomanos, que iniciaram uma grande expansão territorial às custas dos bizantinos, estabelecendo sua capital em Brussa.

Os Turcos foram gradualmente conquistando territórios balcânicos europeus: em 1389, a Batalha de Kosovo, a conquista da Sérvia e Bulgária, chegando ao Danúbio. Sucessivas "Cruzadas" organizadas pelos cristãos europeus foram derrotadas. O Império Bizantino, reduzido à cidade de Constantinopla, resistiu por meio século, em parte devido aos problemas dos Turcos com os Mongóis em sua fronteira oriental.

Finalmente, em 1453, Constantinopla caiu após um cerco terrível (com uso de artilharia), nas mãos do Sultão Maomé II, que a tornou capital do Império Turco Otomano, com o nome de Istambul. Neste momento, os Turcos conquistaram a maior parte do sudeste da Europa, chegando ao centro do continente.

3. Mudança do Eixo Comercial: Mediterrâneo para Atlântico

Até o final do século XV, a economia europeia limitava-se a dois focos: o norte da Itália e a Holanda. Com as descobertas geográficas da Idade Moderna, especialmente na América, as mudanças econômicas seriam de primeira ordem. A explosão comercial revitalizou a costa atlântica da Europa, de onde chegavam os carregamentos e as mercadorias exóticas. Lisboa e Sevilha monopolizaram o comércio com as colônias espanholas e portuguesas, enquanto Antuérpia garantia a distribuição dos produtos no resto da Europa. Enquanto isso, o comércio no Mediterrâneo foi muito reduzido pelo bloqueio turco do Oriente Médio e pela pirataria Barbaresca.

Este aumento comercial foi motivado pelo progresso espetacular nos transportes, mas também pela formação progressiva de unidades estatais maiores que favoreceram o comércio interno através de maior segurança e pedágios menos abusivos. Mas foi o comércio internacional que teve maior peso, graças à abertura de novos continentes, ao crescimento populacional e, portanto, à demanda por produtos, e ao incentivo dos grandes lucros que podiam ser alcançados.

Dentro do eixo Atlântico, o comércio das Índias Ocidentais (América) superou o das Índias Orientais (Ásia). Havia uma diferença fundamental: a América fornecia ouro e prata à Europa; a Ásia, no entanto, absorvia esses metais preciosos, pois em troca comprava muito poucas exportações.

Para reduzir o risco do comércio americano (naufrágios, pirataria), foram utilizados seguros marítimos e instituídas sociedades por ações, que podiam superar as maiores adversidades financeiras.

4. Monarquias Autoritárias e Absolutas. O Antigo Regime

4.1. Monarquias Autoritárias e Absolutas

Durante a Idade Média, as monarquias eram fracas, controladas por uma nobreza poderosa. A partir do final do século XV, a autoridade real se fortaleceu muito, o que se manifestou em:

  1. Autonomia do Rei contra o Papa.
  2. Burocratização da monarquia.
  3. Perda de importância dos órgãos parlamentares medievais (redução das convocações das Cortes).
  4. Desenvolvimento de um incipiente capitalismo urbano que gerava renda para os monarcas (impostos reais).
  5. Criação de exércitos reais que impunham a autoridade do rei acima da dos nobres.
  6. Estabilização das fronteiras.
  7. O rei era "pela graça de Deus", uma base ideológica que tornava a monarquia inquestionável.

Os reis ganharam muito poder sobre o que tinham na Idade Média, mas ainda precisavam de algumas instituições medievais, como as Cortes, para conseguir dinheiro, e tinham que respeitar jurisdições e instituições. Falamos então de Monarquia Autoritária.

Com o tempo, as monarquias autoritárias tornaram-se Monarquias Absolutas. Assim, o rei, como reflexo do poder divino, tinha poder absoluto. Nomeava magistrados, administrava a justiça e dirigia tanto a política interna quanto a externa. Não estava sujeito a nenhum controle e não compartilhava a soberania com ninguém, pois seu poder econômico tornava desnecessário convocar as Cortes ou o Parlamento, e também não respeitava os direitos e privilégios usufruídos por algumas regiões. O rei era o Estado, e a vontade de seus súditos estava sujeita à sua própria.

  • Embora os reis absolutos tivessem todo o poder em suas mãos, na prática eram aconselhados por algumas instituições, como o "Conselho de Estado". A administração local estava nas mãos de governadores e prefeitos nomeados pelo rei. Eles implementavam as disposições legislativas, mantinham a ordem, dirigiam as obras públicas, etc. Finalmente, uma legião de funcionários e burocratas encarregados de executar as ordens reais, cobrar impostos, fazia funcionar a complexa máquina estatal.

4.2. Os Parlamentos do Antigo Regime

Eles são de origem medieval. Eram um reflexo do modelo de sociedade existente: a Sociedade Estamental. Os três estados eram representados nestes parlamentos: nobreza, clero e povo comum, que enviavam representantes ou "deputados".

Apesar do desequilíbrio entre eles (a nobreza e o clero juntos geralmente representavam 5% da população, e o povo comum mais de 90%), o voto era por estado, ou seja, cada estado tinha um voto, independentemente do número de representantes presentes ou da porcentagem da população que representavam.

O papel dos parlamentos ou cortes era limitado e não deve ser confundido com o do parlamento atual (democraticamente eleito por sufrágio universal e com poder legislativo). Eles só tinham alguns poderes em matéria fiscal, sendo convocados pelo rei em situações excepcionais, e ratificavam os novos reis. Mas, mesmo assim, os reis absolutos tentaram marginalizar os parlamentos e só recorriam a convocá-los em situações extremas (aumento de impostos, subsídios).

TEMA 4: O Século XVIII e o Fim da Sociedade do Antigo Regime

1. Características da Sociedade do Antigo Regime

Antigo Regime: Termo usado pelos revolucionários franceses para se referir aos dias anteriores ao início da Revolução Francesa. Seria a característica política, social e econômica das monarquias da Europa antes da Revolução Francesa, desde o início da decadência do sistema feudal até as revoluções liberais e a Revolução Industrial.

Seus fundamentos políticos eram a Monarquia Absoluta, a Sociedade Estamental e o papel social da Igreja. Durante este período, as formas econômicas capitalistas (em formação) lutaram com o sistema senhorial até sua tributação final na época da Revolução Industrial.

  • Monarquia Absoluta: Modelo monárquico que confere poderes ilimitados aos reis. De acordo com Montesquieu, existem três poderes: legislativo, executivo e judicial. O "Rei Absoluto" exercia os três e não tinha que prestar contas a ninguém por suas ações (somente a Deus). Hoje, no entanto, há divisão de poderes.
  • Sociedade Estamental: Modelo de sociedade característico da Idade Média e Moderna. Estruturada em "estados", grupos sociais definidos por suas idiossincrasias, hábitos e função social. Havia três estados:
  1. Nobreza ou Aristocracia (de sangue ou cavalaria).
  2. Clero ou Igreja (Alto e Baixo, Regular e Secular).
  3. Povo Comum, Estado Plano ou Terceiro Estado. Composto por pessoas de características muito diferentes: burgueses (empresários urbanos), artesãos, agricultores, camponeses sem terra, servos, setores marginais.

A nobreza e o clero são considerados "classes privilegiadas", pois não precisam pagar impostos e podem desempenhar papéis importantes na administração. O Povo Comum ou Terceiro Estado está fora da estrutura de poder e tem que sustentar, pagando impostos, os outros dois estados.

2. Características Gerais do Iluminismo

Poderia ser definido como o movimento filosófico, literário e científico desenvolvido na Europa e suas colônias, que demonstrou uma importante modernização cultural.

Ideias Essenciais do Iluminismo:

  • Razão: É a única maneira de chegar à verdade.
  • Progresso: Deve ser alcançado através da Ciência, em combinação com a técnica.
  • Natureza: É a fonte de tudo o que é verdadeiro, real e autêntico.
  • Felicidade: É um bem ao qual todo homem tem direito e um fim em si mesmo. A política é considerada a "arte de fazer as pessoas felizes."

Embora a Ilustração tenha se limitado a pequenos setores da sociedade, seus defensores sempre tentaram espalhar suas ideias, utilizando:

  • Sociedades científicas, academias literárias e artísticas, apoiadas pelo governo.
  • Sociedades de Amigos do País, estabelecidas normalmente nas principais cidades e capitais provinciais.
  • Salões, encontros ou reuniões de eruditos para tratar de vários temas.

3. Autores Mais Importantes do Iluminismo

Antecedentes: Podem ser encontrados na Inglaterra e Holanda durante o século XVII.

Foi desenvolvida na obra dos seguintes autores:

  • Montesquieu: Teorizou sobre a divisão de poderes.
  • Voltaire: Investigou a liberdade de pensamento e pediu uma nova religião que substituísse a revelada.
  • Rousseau: Destacou o estudo da natureza e as relações sociais entre os homens.
  • John Locke: Figura principal. Em seus "Dois Tratados sobre o Governo", defendeu a separação de poderes pelo exercício de um governo parlamentar que garantisse as liberdades individuais e substituísse a monarquia absoluta.

O Pensamento Econômico tomou forma em duas novas tendências:

  • Mercantilismo: Escola de pensamento econômico que colocava a riqueza de um estado na posse de metais preciosos.
  • Fisiocracia: Argumentava que a riqueza de um estado podia ser encontrada na natureza, mais precisamente na agricultura.

Os defensores do Liberalismo acreditavam que a riqueza não residia na acumulação de metais ou na agricultura, mas na liberdade. O Estado não deve intervir na atividade econômica, devendo deixar total liberdade à iniciativa privada.

TEMA 5: As Revoluções Burguesas

1. A Revolução Norte-Americana e a Ascensão dos Estados Unidos

A rebelião das colônias que a Inglaterra tinha na América do Norte foi a primeira revolução burguesa e o precedente de outras posteriores (Revolução Francesa, das colônias americanas da Espanha, etc.). Sua importância reside no fato de que, pela primeira vez, foi implementada de forma real e concreta uma organização política liberal baseada nos fundamentos ideológicos do Iluminismo.

As 13 Colônias antes da Revolução: Em meados do século XVIII, a Grã-Bretanha possuía 13 colônias na costa atlântica da América do Norte. As 8 do Norte baseavam sua força na indústria e no comércio e eram lideradas por uma burguesia rica. As 5 do Sul eram agrícolas (plantações de algodão, arroz e tabaco trabalhadas por escravos negros) e sua classe dominante era composta principalmente por ricos proprietários de terras. Dependiam da Coroa Britânica (o rei era George III), gozavam de pouca autonomia e os governadores britânicos eram a autoridade máxima. Não tinham representação no Parlamento britânico, e era precisamente lá que se decidiam as questões importantes que lhes diziam respeito, como a fiscalidade. A ausência de participação política gerou inquietação entre os colonos, ávidos por alcançar algum grau de autonomia.

Causas da Revolução das 13 Colônias: Desde meados do século XVIII, houve uma série de fatores estruturais (economia dependente, falta de autonomia política) que prejudicaram as relações entre colonos e Metrópole.

O Estopim para a Revolta: Ocorreu após a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) que a Inglaterra travou com a França. Este conflito levou a uma crise econômico-financeira do Estado que a Coroa tentou amenizar recorrendo à concorrência econômica forçada aos colonos na forma de novos impostos.

Um desses impostos foi a Lei do Selo ou "Stamp Act" (1765), um selo fiscal na aquisição de documentos oficiais e da imprensa. A oposição das colônias a este imposto, que consideravam abusivo, forçou a Coroa a retirá-lo.

No entanto, mais tarde, em 1767, foram estabelecidos os Atos Townshend, que cobravam impostos sobre papel, vidro, chumbo e chá.

Dada a reação violenta dos colonos, a Coroa decidiu retirar todas as acusações, exceto a do chá, o que causou o chamado "Boston Tea Party" (1773).

Em setembro de 1774, foi realizado um congresso na Filadélfia (Pensilvânia), que promoveu a colaboração das colônias contra as ações britânicas. Ainda não se defendia a independência da metrópole, e a reunião limitou-se a uma série de exigências expressas através de uma Carta de Direitos e Agravos.

A Guerra de Independência das 13 Colônias: A guerra começou em abril de 1775 com a Batalha de Lexington e apresentou as seguintes características: envolveu dois pontos de vista militar diferentes. Por um lado, o exército colonial britânico, reforçado por 7.000 mercenários, ao qual se juntaram várias tribos indígenas. No papel, era muito superior aos colonos, mas a remoção de suas bases logísticas afetou sua eficácia.

Por outro lado, a força armada improvisada dos colonos, inicialmente desorganizada, mas convertida ao longo do tempo por George Washington em um instrumento militar efetivo.

Foi uma guerra de caráter internacional. A partir de 1778 (após o pedido de ajuda do cientista Benjamin Franklin), as potências absolutistas França (Lafayette) e Espanha intervieram em apoio à jovem República. Seu objetivo era enfraquecer a Inglaterra. A Holanda também interveio.

A guerra se desenvolveu em várias fases. Após uma primeira fase favorável à Grã-Bretanha, o conflito mudou de rumo após a vitória dos colonos em Saratoga (1777). A Batalha de Yorktown (1781) decidiu o desfecho do conflito, que terminou em 1783 após a assinatura da Paz de Versalhes, na qual a Grã-Bretanha reconheceu a independência de suas colônias.

A Criação de um Novo Estado: O novo Estado surgido da revolução optou por um conjunto de valores e instituições inspirados no liberalismo e no Iluminismo, que mais tarde se espalhariam para outros países.

Uma série de privilégios garantidos estabeleceu que ninguém, no momento do nascimento, tem uma série de direitos individuais naturais e intransferíveis: vida, liberdade, propriedade, igualdade, o direito de derrubar um governo injusto (soberania nacional), a defesa legal (habeas corpus), e a liberdade de expressão, associação, imprensa e religião. Estes direitos foram estabelecidos na Declaração da Independência (Filadélfia, 4 de julho de 1776), escrita por Jefferson, e na Declaração dos Direitos da Virgínia (1776).

2. A Revolução Francesa

O processo conhecido como Revolução Francesa viu a queda do Antigo Regime em um dos países mais poderosos do mundo. O impacto de tal conflito não se restringiu à França, mas serviu de referência para aqueles que na Europa conspiravam contra a monarquia absoluta e lutavam pela abolição das desigualdades do feudalismo.

A Crise do Antigo Regime na França: O processo se manifestou através de uma crise social e estatal que levou ao colapso do absolutismo. As ideias do Iluminismo tiveram um papel importante neste conflito. A crise econômica que atingiu o país durante os anos 80 acelerou o processo.

O conceito iluminista poderia ser definido como um movimento filosófico, literário e científico desenvolvido na Europa e suas colônias durante o século XVIII ("Século das Luzes"). Representou uma importante modernização cultural e a tentativa de transformar as estruturas obsoletas do Antigo Regime.

Ideias Essenciais do Iluminismo: Podem ser resumidas da seguinte forma: A Razão é a única maneira de obter a verdade, o Progresso, a Natureza e a Felicidade.

Essas ideias seriam incorporadas em diferentes áreas do pensamento: política, social, socioeconômica, cultural, etc.

  • John Locke defendeu a separação de poderes.
  • Montesquieu teorizou sobre a divisão de poderes.
  • Voltaire explorou a liberdade de pensamento e pediu uma nova religião.
  • Rousseau enfatizou o estudo da natureza e as relações sociais entre os homens.

Consequências:

  • Queda do Absolutismo: Uma das reformas produzidas pela revolução foi a substituição da monarquia absoluta pela monarquia parlamentar e pela república.
  • Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão: Embora não tenha sido uma consequência direta, ocorreu no decurso da Revolução e foi um dos primeiros eventos desencadeados por ela.
  • Nacionalização dos Bens da Igreja: Os problemas financeiros levaram a França à nacionalização das propriedades da Igreja. Com sua venda, pensava-se resolver os problemas econômicos do Estado.

A Revolução Francesa teve muitas consequências, de grande porte (como a queda do absolutismo) ou menos importantes (como a implementação de um sistema de pesos e medidas uniforme em toda a França). Os resultados da Revolução foram, em geral, bons, exceto pela separação da Igreja Católica francesa. A maioria destas consequências causou melhorias sociais, econômicas e políticas na França. Assim, no cômputo geral, podemos dizer que a Revolução Francesa foi muito benéfica para a França. Os ideais revolucionários tornaram-se parte da plataforma de reformas liberais na França e na Europa no século XIX e serviram como motor ideológico da independência nos países latino-americanos no século seguinte, permanecendo até hoje como chaves para a democracia.

TEMA 6: A Revolução Industrial

A) O Caso Britânico

Revolução: Mudança súbita e repentina.

Revolução Industrial: Mudanças bruscas e repentinas de caráter econômico. Processo que consiste na passagem de um sistema de produção artesanal para outro industrial (produção em massa). Começa na Grã-Bretanha durante o século XVIII e continuará no século XIX, preferencialmente na França, Bélgica, Alemanha, EUA e Japão.

Caracteriza-se por:

  1. A substituição do homem por máquinas.
  2. A substituição da força animal pela mecânica.
  3. Novas matérias-primas:
  • a) Fontes de energia: carvão (substituindo a madeira).
  • b) Materiais viáveis (algodão, ferro).

Essas mudanças transformaram muitas coisas:

  • A organização da produção (em série).
  • As relações de trabalho (empregador/empregados).
  • A localização dos locais de trabalho (fábricas).
  • A distribuição da população (cidades).

Por que houve a Revolução Industrial e por que na Grã-Bretanha?

Fatores que a originaram e condições que permitiram seu surgimento:

  1. Sistema político controlado pela burguesia.
  2. Mudanças na agricultura britânica: novas leis permitiram os "cercamentos" (enclosures) e acabaram com os "campos abertos" (openfields).

Consequências: a) Migração para as cidades (mão de obra barata: futuros trabalhadores industriais). b) Concentração da terra, mecanização, aumento da produção, o que alimentou uma população crescente e gerou lucros que se tornaram capital disponível para investir na indústria.

3. O crescimento da população (entre 1750 e 1850, a população britânica triplicou). Graças a melhorias na produção de medicamentos, higiene e alimentos. Isso foi muito importante para consolidar a Revolução Industrial, pois forneceu mão de obra barata e, ao mesmo tempo, abundância de consumidores (demanda por produtos industriais). O excesso de população migrou para a América ou colônias.

4. As inovações tecnológicas (invenções, máquinas).

Indústria Têxtil: Para construir máquinas, era necessário muito ferro. Desenvolveu-se, então, a indústria siderúrgica, que envolveu: desenvolvimento da mineração de carvão e mineração de ferro.

A aplicação do vapor ao transporte levou ao aparecimento de:

  • a) A estrada de ferro, que desenvolveu a indústria do aço (vias) e a mineração de carvão (combustível).
  • b) O navio a vapor, que também impulsionou a mineração de carvão.

Ambos permitiram o movimento rápido e barato de matérias-primas e da força de trabalho, consolidando uma maior industrialização. Portanto, esses fatores promoveram o desenvolvimento da Revolução Industrial e, ao mesmo tempo, foram reforçados por ela. São, portanto, causa e consequência.

2. Industrialização da Europa, Estados Unidos e Japão

Extensão do Processo de Industrialização: Depois da Inglaterra, o processo de industrialização se espalhou para o continente europeu (Bélgica, França), mas também para territórios não europeus, como Estados Unidos e Japão.

Na Europa continental, deve-se distinguir entre os países que desenvolveram sua indústria precocemente ("first comers") e aqueles que o fizeram mais tarde, no último terço do século XIX e início do XX.

Os "First Comers": O termo refere-se aos países que seguiram a Inglaterra logo após a industrialização.

  • Bélgica: Após a independência (Revolução de 1830), lançou sua industrialização baseada em vários pilares: a posse de ricos depósitos de carvão, uma agricultura desenvolvida, uma boa rede de transportes (hidrovias, marítimo e ferroviário) e um comércio ativo. Isso permitiu um acúmulo apreciável de capital que foi investido no exterior.
  • França: Beneficiou-se da abundância de minério de ferro e carvão. As principais áreas de desenvolvimento foram Alsácia, Lorena e Lyon. Exportou capital abundante para a Rússia e para a área mediterrânica.
  • Alemanha (Prússia): Antes de sua unificação no último terço do século XIX, a Prússia se destacou como o estado mais dinâmico. Cimentou seu desenvolvimento na abundância de carvão e ferro, na concentração do capital financeiro em empresas bancárias, em uma indústria siderúrgica líder e na indústria química mais poderosa da Europa. A criação de um mercado aduaneiro comum em 1834 (Zollverein) homogeneizou a fragmentada realidade política economicamente.

Países Periféricos: Entre eles, destacam-se Catalunha e Piemonte no Mediterrâneo. No Império Austríaco, Morávia e Boêmia. No norte, Dinamarca e Suécia. No leste, a Rússia. Estes países se desenvolveram mais tarde e de forma mais desigual do que os "first comers".

  • Estados Unidos: A transformação acelerou decisivamente após a Guerra Civil (1861-1865). No final do século XIX, os Estados Unidos haviam alcançado o Reino Unido em potencial industrial. O desenvolvimento do processo mostrou as seguintes características:
  1. A excelência de sua agricultura, que serviu para estimular a indústria por seu alto grau de mecanização.
  2. O dinamismo do mercado, tanto interno quanto externo, ajudado pelo vasto território do país.
  3. A construção de uma complexa rede de ferrovias, que permitiu e incentivou a conquista do Oeste.
  4. A implementação ativa de inovações tecnológicas no sistema de produção.
  5. Uma forte concentração empresarial.
  • Japão: Sua industrialização foi parceira das mudanças sociais e políticas que desmantelaram as estruturas feudais no último terço do século XIX, patrocinadas pela instituição imperial ("Meiji" ou Luz). As etapas iniciais da industrialização do Japão foram associadas principalmente à indústria têxtil (algodão e seda). A transformação baseou-se em:
  1. O patrocínio estatal que substituiu a iniciativa privada, promovendo a construção de ferrovias e criando o sistema bancário.
  2. A existência de uma grande mão de obra barata e muito disciplinada, cuja exploração dos camponeses levou à acumulação de capital que financiou a indústria.
  3. A rápida assimilação da tecnologia ocidental e o uso da educação como ferramenta essencial na formação de pessoal especializado. Texto
  4. A criação de grandes grupos industriais (Zaibatsu), muito competitivos, com produção em massa voltada para a exportação.

No início do século XX, em apenas três décadas, o Japão havia se tornado uma grande potência econômica, política e militar, como evidenciado pela Guerra Russo-Japonesa de 1905.

3. As Ideologias do Movimento Operário

3.1. Socialismo Utópico

Apareceu na primeira metade do século XIX. Foram os primeiros teóricos do movimento operário. Condenavam a injustiça da sociedade industrial, mas em geral, não eram revolucionários (exceto Babeuf e Blanqui). Acreditavam que podiam coexistir com o capitalismo, que desapareceria ao mostrar as "virtudes" do socialismo. Projetavam sociedades "ideais" que buscavam a igualdade social.

Os exemplos mais importantes são:

  • Charles Fourier: Promoveu os "falanstérios", grupos comunitários onde a propriedade era coletiva, e homens, mulheres e crianças compartilhavam todas as tarefas.
  • Étienne Cabet: Projetou "Icária", a terra da liberdade e igualdade absoluta, onde tudo era comum. Sua tentativa falhou na América Central.
  • Robert Owen: Aplicou suas teorias em sua fábrica "New Lanark", promovendo educação integral, cooperação e desenvolvimento das pessoas.
  • Louis Blanc: Defendia o sufrágio universal para suprimir o sistema capitalista. Propôs oficinas nacionais cooperativas lideradas pelo Estado.

Outros, como Babeuf, Saint-Simon e Blanqui, acreditavam que a igualdade só poderia ser alcançada através de uma ação violenta de uma minoria com uma ditadura revolucionária.

A Revolução de 1848, "A Primavera dos Povos", teve um grande impacto no Movimento Operário. Foi o primeiro confronto burguês-trabalhador. Aprenderam com a derrota. Seria, portanto, na segunda metade do século XIX que se consolidariam as duas grandes ideologias do movimento operário: o Marxismo e o Anarquismo.

3.2. Marxismo (Socialismo Científico)

Karl Marx e Friedrich Engels são os teóricos, publicando obras como: "O Manifesto Comunista" (1848) e "O Capital" (1867). A teoria marxista baseia-se em três pilares:

  1. Análise do Passado: A luta de classes (oprimidos contra opressores) é o motor da História.
  2. Análise do Presente: Analisa o funcionamento do sistema capitalista. Exploração, injustiça (mais-valia) e a tendência à concentração de capital (as empresas mais fortes engolem as menores), levando a uma crise final inevitável.
  3. Projeto Futuro: A sociedade comunista (igualitária) será alcançada através da conquista do poder político pelos trabalhadores. Os trabalhadores devem destruir a sociedade capitalista através da revolução e criar uma nova sociedade sem classes, na qual tudo é propriedade do Estado. Para alcançar este ideal, haveria primeiro um período de transição de "ditadura do proletariado".

3.3. Anarquismo

Conjunto doutrinário menos estruturado que o Marxismo. A primeira referência seria Pierre Joseph Proudhon, que acreditava que a propriedade era um roubo e rejeitava o Estado como instituição. Defendia um sistema social baseado no autoemprego e na federação de associações independentes, apostando no mutualismo para superar o capitalismo. O objetivo da luta coletiva é alcançar a plena liberdade do indivíduo.

A partir daqui, o pensamento "libertário" se expressou através de várias tendências que partiam da rejeição de qualquer tipo de autoridade e propunham a anarquia como modelo de sociedade, baseada em três princípios básicos:

  1. Exaltação da liberdade individual no quadro da solidariedade entre todos os membros da sociedade.
  2. Crítica à propriedade privada e defesa da propriedade coletiva.
  3. Oposição a qualquer organização hierárquica, principalmente o Estado.

Para destruir a ordem burguesa, havia diferentes opiniões, mas todas partiam da rejeição da ação política e da confiança na espontaneidade das massas. O russo Mikhail Bakunin desenvolveu ideias anarquistas no âmbito da Primeira Internacional (AIT).

Desde 1880, o anarquismo se subdividiu em duas correntes: o anarco-terrorismo (a favor da "ação direta") e o anarco-sindicalismo.

TEMA 7: Movimento Operário e Feminismo

1. O Feminismo

A sociedade industrial e o liberalismo não trouxeram mudanças significativas para o status político, jurídico e econômico das mulheres. Elas continuaram a ser discriminadas em relação aos homens. Abriu-se apenas o caminho para o trabalho feminino em fábricas e minas, mas em condições de extrema exploração e discriminação salarial em relação aos seus colegas.

Por outro lado, a mulher tinha vetado o acesso a áreas profissionais de maior responsabilidade e ao ensino superior, sendo relegada, no caso da burguesia, ao lar.

O liberalismo afetou o status dos homens, que primeiro alcançaram o sufrágio censitário e, mais tarde, o universal. As mulheres foram excluídas de ambos os sistemas por um longo tempo.

Estas foram as circunstâncias que levaram, a partir da segunda metade do século XIX, ao nascimento do movimento sufragista, que reivindicava o direito de voto para as mulheres como precursor do feminismo, ou seja, para alcançar a plena igualdade de direitos com os homens. O movimento sufragista não estava enraizado nas grandes massas e era mais forte nas mulheres da classe média urbana que tinham um grau de educação. As trabalhadoras avançavam suas próprias reivindicações de classe, além de seus interesses como mulheres. As camponesas, devido à baixa escolaridade, à dedicação total ao trabalho, à falta de tempo livre e ao isolamento, foram as últimas e as mais relutantes em aderir aos movimentos de emancipação.

Os principais porta-vozes do movimento sufragista e, mais tarde, do feminismo, foram os britânicos e americanos, seguidos pelos escandinavos e holandeses.

Figuras conhecidas no movimento pela emancipação das mulheres foram a britânica Emmeline Pankhurst e outra ativista conhecida, Emily Davison. Na Espanha, destacou-se Concepción Arenal.

O ponto de viragem decisivo na consciência social das mulheres foi dado na Primeira Grande Guerra. Em 1920, foi autorizado o voto a todas as mulheres britânicas que haviam completado 20 anos.

TEMA 8: O Colonialismo e o Imperialismo até a Primeira Guerra Mundial

1. Teoria do Imperialismo

Imperialismo: Conceito muito antigo (Império Romano). Regime de domínio de um Estado sobre outro ou outros. Termo usado inicialmente para a dominação colonial europeia da África e Ásia (séculos XIX e XX), mas também mais tarde para as políticas intervencionistas dos EUA e da URSS, sem mencionar as doutrinas imperialistas europeias de ideologias fascistas. As relações de domínio são de base econômica, política, social e cultural, e estão ligadas ao capitalismo monopolista (2ª Revolução Industrial).

Colonialismo: Posse e uso de terras conquistadas pelas potências industriais, com controle político, econômico e social. O colonialismo é o instrumento do imperialismo para o exercício de seu domínio sobre certos territórios em um determinado momento da história (1870-1950).

Causas: No século XIX, dois grandes eventos: Revolução Industrial e dominação europeia.

  1. Motivos Econômicos: A necessidade de matérias-primas e mercados exclusivos.
  2. Razões Políticas.
  3. Razões Tecnológicas.
  4. Razões Ideológicas: Ânsia de descoberta e expansão da religião, civilização e cultura, filantropia, pressão populacional.

A Ideologia do Imperialismo: Desde 1848, houve o crescimento do nacionalismo conservador e agressivo, e do racismo. Crença na superioridade branca. Uma multidão de teorias: Britânicas (Kipling, Carlyle, Dilke, Rhodes, Salisbury) sobre a responsabilidade da raça caucasiana de ser mestra/senhora e escrava, e que as nações vivem e morrem. Francesas (Beaulieu, Gobineau), "Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas".

A oposição política ao imperialismo dentro da metrópole era muito menor (marxista).

2. Equilíbrio Europeu de Bismarck

Otto von Bismarck (1815-1898): Chanceler da Prússia desde 1862 e do Império Alemão (II Reich) de 1871 a 1890. É o construtor da nova Alemanha e seu promotor da unificação sob a liderança da Prússia. Derrotou a Áustria (1866), que se opunha à unificação, e a França (1870), destruindo o Segundo Império Francês e alcançando a união dos estados do sul da Alemanha à Prússia, formando o Império Alemão, ou Segundo Reich, com o Kaiser Guilherme I.

Internamente, realizou reformas sociais progressivas que ajudaram a suprimir o Movimento Operário, ao mesmo tempo que tentava fazer um Estado laico, enfrentando os católicos.

Na política externa, pela firmeza na direção do Império Alemão, é conhecido como o "Chanceler de Ferro", praticando uma política de equilíbrio europeu baseada em tratados e alianças com a Áustria, Prússia e Grã-Bretanha, a fim de isolar a França internacionalmente. Também foi o organizador da "Conferência de Berlim" (1884-85), que aprovou a divisão colonial da África, conseguindo algumas colônias para a Alemanha. As diferenças com o novo Kaiser Guilherme II levaram à sua demissão em 1890.

3. A Expansão Colonial: O Reparto da África

Conflitos entre as Potências Imperialistas: Durante o século XIX, à medida que a expansão colonial progredia, surgiram disputas entre as potências imperialistas em sua tentativa de controle territorial, política e militarmente de grande parte da África, Ásia e Oceania.

Com o intuito de evitar tais conflitos, em 1884, reuniram-se em Berlim representantes de 12 países europeus, mais os EUA e a Turquia, para finalizar as respectivas posições na divisão da África.

Esta conferência foi uma tentativa de atenuar, através da diplomacia, as disputas que envolviam a competição imperialista no continente. Também foram discutidas outras questões, como a segurança do Congo Belga sob o domínio pessoal do Rei Leopoldo II e a resolução das tensões causadas pelas aspirações sobrepostas da França e da Grã-Bretanha sobre o Egito.

O Congresso ou Conferência de Berlim cingiu-se exclusivamente a questões relacionadas com o continente Africano, deixando de lado as demais áreas de projeção imperialista. Acelerou o processo de partilha, realizado poucos anos depois (exceto Libéria e Abissínia), não havendo território na África que se subtraísse à dominação europeia.

Apesar das tentativas de canalizar pacificamente o processo, a luta imperialista agravou-se na primeira década do século XX, sendo a véspera da Primeira Guerra Mundial. Destacam-se dois conflitos:

  • Guerra Anglo-Boer (1899-1902).
  • O Incidente de Fachoda (1898-1899).

4. O Impacto do Colonialismo

Consequências do Imperialismo:

Para as Áreas Dominadas (Colônias)

  • Demográficas: Em geral, a população aumentou como resultado da diminuição da mortalidade, causada pela introdução da medicina ocidental moderna e pela persistência de altas taxas de natalidade. Isso resultou em um desequilíbrio entre população e recursos.
  • Econômicas: A implementação da exploração econômica dos territórios ocupados exigiu o estabelecimento de infraestrutura mínima. Assim, foram criados portos, ferrovias e rodovias concebidos para proporcionar uma saída para as matérias-primas e produtos agrícolas destinados à metrópole.
  • Sociais: A burguesia da metrópole, composta por comerciantes, funcionários e proprietários de terras, ocupou os níveis mais altos da sociedade colonial.
  • Políticas: O maior ou menor grau de dependência das colônias em relação à metrópole foi determinado pelo tipo de organização administrativa imposta.
  • Culturais: O Imperialismo causou a perda de identidade dos povos indígenas e impôs as normas de educação, conduta e mentalidade dos colonizadores. A língua dos governantes (especialmente Inglês e Francês) foi imposta, levando a um forte grau de aculturação. A religião cristã (católica, anglicana ou protestante) deslocou as crenças pré-existentes em muitas partes da África ou se fundiu com elas, dando origem a crenças de natureza sincrética.
  • Geográficas: Os mapas políticos foram alterados com a criação de fronteiras artificiais que não tinham nada a ver com a configuração étnica existente.
  • Ecológicas: A introdução de novos métodos de cultivo e espécies vegetais e animais inéditas causou profundas alterações ou a destruição absoluta dos ecossistemas naturais.

Para as Metrópoles

  • Do ponto de vista econômico: O Imperialismo ajudou a estimular a industrialização nas áreas onde era fraca e favoreceu sua consolidação onde já existia. De qualquer forma, o principal objetivo da metrópole era obter matérias-primas abundantes e baratas e colocar os produtos fabricados pelas indústrias nas colônias.
  • Do ponto de vista internacional: Foi uma fonte inesgotável de tensões e conflitos (a crise marroquina é um exemplo) que culminaram com a eclosão da Primeira Guerra Mundial.

TEMA 9: A Primeira Guerra Mundial: Causas e Consequências

1. Causas da "Grande Guerra"

No início do século XX, a crescente rivalidade entre as potências europeias:

  • a) Entre a França e a Alemanha pela guerra de 1870 (Alsácia, Lorena).
  • b) Entre a Áustria-Hungria e a Rússia pela "questão dos Balcãs".
  • c) Entre a Grã-Bretanha e a Alemanha pela forte rivalidade econômica e comercial.
  • d) E, em geral, entre todas as potências industriais pela crescente competição por matérias-primas e mercados para seus produtos industriais, gerando conflitos coloniais.

Além disso, havia graves problemas nacionais:

  • No Império Austro-Húngaro (tchecos, eslovacos, sérvios na Bósnia).
  • Na Rússia (poloneses, finlandeses, povos do Báltico, povos do Cáucaso e da Ásia Central).
  • Na Grã-Bretanha (irlandeses).

Estas tensões levaram a uma série de alianças entre as potências que acabaram configurando dois blocos opostos:

  • A Tríplice Aliança, ou Potências Centrais: Alemanha, Áustria-Hungria e Itália.
  • A Tríplice Entente: Grã-Bretanha, França e Rússia.

Assim, entre 1900 e 1914, houve uma escalada militar, uma autêntica "corrida armamentista" nesses países, conhecida como a "Paz Armada".

O nacionalismo sérvio nos Balcãs (com o apoio russo à Sérvia) foi a causa imediata ou "gatilho" da guerra, especificamente o atentado de Sarajevo, onde foi assassinado o arquiduque Francisco Ferdinando (herdeiro do Império Austro-Húngaro) e sua esposa por Gavrilo Princip, um estudante nacionalista pró-sérvio (28 de junho de 1914).

2. Consequências da Guerra

  • Surgiu o conceito de "guerra total", até então desconhecido, ou seja, toda a economia dos países beligerantes se concentrou exclusivamente no apoio à guerra.
  • Os números bateram todos os recordes conhecidos: 60 milhões de mobilizados, 8 milhões de mortos, 16 nações participantes.
  • Um armistício foi formalizado no "Tratado de Versalhes" (Versalhes, Saint-Germain, Trianon, Neuilly e Sèvres, assinados entre vencedores e perdedores em diferentes países), que implicou a modificação do mapa da Europa:

Desapareceram os Impérios Austro-Húngaro, Otomano (Turco) e Russo. Em seu lugar, surgiram novos estados independentes: Polônia, Tchecoslováquia, os "Bálticos", Finlândia, Iugoslávia (a partir da Sérvia).

A Alemanha, severamente punida no "Tratado de Versalhes", perdeu territórios (Alsácia e Lorena para a França, Eupen e Malmedy para a Bélgica, territórios coloniais para a França e Grã-Bretanha, territórios orientais para a Polônia) e se tornou uma república (República de Weimar) após passar por uma revolução ("Espartaquista"). Foi condenada como culpada da guerra e teve que pagar grandes indenizações monetárias aos vencedores, o que afetaria muito sua economia. A Alemanha foi "humilhada" em Versalhes, e a sociedade alemã geraria um forte "desejo de vingança".

  • Criação da Liga das Nações (SdNB).

TEMA 10: A Revolução Russa

1. A Rússia Czarista

No início do século XX, a Rússia era o país mais atrasado da Europa e ainda mantinha um sistema de "Antigo Regime". Essencialmente agrária, com pouca indústria. A terra estava em poucas mãos, gerando miséria entre os camponeses sem terra, enquanto os trabalhadores industriais nas cidades eram sistematicamente explorados.

É por isso que as ideias revolucionárias do movimento operário (Anarquismo, às vezes violento, e Marxismo) tomaram forma. Os marxistas, defensores da luta de classes e mais fortes nas cidades, fundaram em 1898 o Partido Trabalhista Social-Democrata Russo, mas logo se dividiu em duas correntes:

  • Mencheviques (minoria): A favor de fazer uma revolução burguesa antes de implementar o socialismo.
  • Bolcheviques (maioria): A favor de fazer a revolução socialista e ser liderada pelo proletariado. Destaque para Vladimir Ilich Ulianov (Lenin).

Apesar da situação lamentável no país, o Czar se aventurou em guerras: 1904-1905, Guerra Russo-Japonesa. Derrota humilhante da Rússia, mais pobreza e miséria. Isso provocou protestos, como o "Domingo Sangrento" (manifestação pacífica em frente ao Palácio de Inverno em São Petersburgo liderada por Gapon e violentamente reprimida pela polícia czarista). Isso causou a extensão de uma revolta popular, a Revolução de 1905, que foi brutalmente reprimida. O Czar fez algumas concessões tímidas, como a criação de uma espécie de parlamento, a Duma, muito controlada, e uma tentativa frustrada de reforma agrária (Ministro Stolypin).

2. A Revolução de 1917

Apesar da precária situação econômica, a Rússia, devido às alianças internacionais do Czar, participou da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Isso causou uma enorme mobilização da população e recursos, o que afetou ainda mais a pobreza, a fome e o sofrimento. Além disso, houve perdas para os alemães. Os protestos sociais aumentaram e, em fevereiro de 1917, a revolta eclodiu em Petrogrado (antiga São Petersburgo). O Czar ordenou a repressão do Exército sobre os rebeldes, mas os soldados se recusaram a enfrentar o povo e se juntaram à revolta. É a "Revolução de Fevereiro", que levou à criação dos Sovietes (assembleias ou comitês de soldados, operários e camponeses).

O Czar abdicou, e o Governo Provisório foi assumido pelo Príncipe Lvov, com papel na Duma. O governo liberal queria fazer grandes reformas burguesas e não queria deixar a guerra mundial. Perdeu o apoio dos Bolcheviques, que controlavam muitos Sovietes. Havia uma dualidade de poderes: Governo e Sovietes.

Em 3 de abril de 1917, Lenin chegou a Petrogrado vindo da Finlândia (estava exilado na Suíça desde a Revolução de 1905) e argumentou que a revolução tinha que superar a fase burguesa e se tornar uma "revolução proletária". Propôs a saída imediata da guerra e a tomada do poder por uma insurreição: as Teses de Abril.

Lvov perdeu força e foi substituído por Alexis Kerensky, um socialista moderado, que visava grandes reformas, mas não a saída da guerra. Isso o colocou contra os Bolcheviques, e Lenin teve que fugir e se esconder. Em agosto, um general czarista, Kornilov, tentou um golpe contrarrevolucionário. Kerensky precisou dos Sovietes para derrotá-lo. Isso deu prestígio aos Sovietes à custa do próprio Kerensky.

Em 10 de outubro de 1917, o Comitê Central dos Bolcheviques, com o consentimento de Lenin, decidiu pela insurreição imediata contra a postura de continuar a colaboração com Mencheviques e Kerensky.

Em 25 de outubro (7 de novembro no calendário ocidental), os marinheiros da base de Kronstadt se levantaram contra o governo. Ao mesmo tempo, elementos bolcheviques organizados (Guarda Vermelha) ocuparam lugares estratégicos na capital e invadiram o Palácio de Inverno. Kerensky fugiu.

Os Bolcheviques no poder assinaram a paz com a Alemanha e decidiram, entre outras coisas:

  • Dividir a terra entre os camponeses.
  • Controlar as fábricas pelos trabalhadores.
  • Controlar o Estado sobre a economia.

Os Bolcheviques criaram um Estado forte, controlado por um partido único, o Partido Comunista, e instituíram a ditadura do proletariado para se defenderem do capitalismo. Lenin tornou-se o líder do novo estado.

3. Consolidação da Revolução: De Lenin a Stalin

O país foi renomeado em 1922, passando de Império Russo para União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Os primeiros anos foram muito difíceis, pois, uma vez terminada a PGM, os czaristas (Russos Brancos), com a ajuda das potências capitalistas (EUA, Reino Unido), tentaram recuperar o poder e acabar com o primeiro estado socialista do mundo. Nesta "Guerra Civil", foram derrotados pelo novo Exército Vermelho.

Após a guerra, Lenin decidiu retirar o chamado "Comunismo de Guerra" e permitir alguma liberdade econômica para melhorar as condições de vida: é a NEP (Nova Política Econômica).

Após a morte de Lenin (1924), houve a luta pelo poder entre Trotsky (organizador do Exército Vermelho e defensor da extensão global da revolução) e Stalin. Este último assumiu o poder e eliminou todos os rivais. Trotsky teve que fugir (foi assassinado no México por agentes de Stalin em 1940).

Stalin lançou uma ditadura pessoal feroz com controle absoluto da sociedade ("Czar Vermelho"). Pôs fim à NEP para evitar o perigo de retorno ao capitalismo e estabeleceu a política de Planos Quinquenais para a industrialização e modernização da URSS. Nos anos trinta, houve uma sangrenta depuração interna do Partido Comunista (os famosos "expurgos"). O governo soviético apoiou o lado republicano durante a Guerra Civil Espanhola e concentrou a maior parte do esforço na derrota do fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Após sua morte, em 1953, sua figura seria questionada, e os líderes soviéticos iniciariam o processo de "desestalinização".

4. Consequências da Revolução

  • Internas: Desaparecimento do Império Russo e estabelecimento de um sistema de natureza socialista inspirado no marxismo, a URSS, com a "ditadura do proletariado" e o partido único. Na economia, houve a transição do capitalismo para o socialismo, desaparecendo a propriedade privada e o controle estatal em todos os aspectos da economia.
  • Externas: A Rússia assinou a paz separada com a Alemanha, deixando a Tríplice Entente. Removeu a "frente oriental" da PGM. Pela primeira vez na história, as teorias marxistas de revolução e poder, levadas pelas massas proletárias para acabar com o capitalismo (que parecia uma utopia), foram implementadas com sucesso em um país, que era também o mais extenso em terra. Isso causou medo no capitalismo global, levando à intervenção militar das potências capitalistas na "Guerra Civil" após a revolução para fazê-la fracassar. Os líderes soviéticos convocaram a Terceira Internacional (Comintern), o que implicou a cisão dos socialistas marxistas (partidários da participação nas instituições democráticas) e dos comunistas (simpatizantes de fazer uma revolução e tomar o poder pela força). Criação de partidos comunistas em todo o mundo, causando pânico entre a burguesia, que não hesitaria em apoiar os fascistas para impedir o perigo revolucionário. Após a Segunda Guerra Mundial, a URSS se tornaria uma superpotência política e militar, liderando o "mundo comunista", juntamente com outros países onde a revolução triunfaria (China, 1949).

TEMA 11: O Período Entre Guerras e a Ascensão dos Totalitarismos

1. O Crash de 1929 e Suas Consequências

A Crise de 1929 e a Depressão dos Anos 30: O crash da Bolsa de Valores de Nova York em outubro de 1929 inaugurou um período marcado por uma profunda recessão que durou toda a década de Trinta e teve graves repercussões não só em termos econômicos, mas também sociais e políticos. Partiu de um inchaço significativo na produção, distúrbios no mercado de trabalho e contribuiu para a exaltação do ultranacionalismo, do fascismo e do autoritarismo.

Causas da Crise de 1929: O crash de Wall Street foi causado por uma série de fatores gerados há algum tempo e que perturbavam fortemente a economia dos EUA:

  • Superprodução.
  • Especulação.
  • Inflação de crédito.
  • Dependência das economias europeias.

Consequências da Crise de 1929: As repercussões da crise de 29 foram de vários tipos:

  • Econômicas: A influência exercida pela economia dos EUA sobre o mundo após a Primeira Guerra Mundial facilitou a rápida internacionalização da crise. As principais manifestações foram: crise financeira, falência de muitos bancos, deflação, paralisação do comércio mundial, diminuição da renda nacional, desemprego crescente e crise do modelo econômico liberal.
  • Sociais: O efeito social mais óbvio foi o desemprego crescente em nível mundial. O número de desempregados foi avaliado em pelo menos 40 milhões. Aqueles que mantiveram seus empregos sofreram um corte significativo em seus salários. As tendências demográficas sofreram alterações significativas: aumento da mortalidade e estagnação do crescimento populacional. A estrutura social foi alterada pelo empobrecimento das classes sociais mais baixas, particularmente os trabalhadores, e as classes médias também foram severamente afetadas. As desigualdades sociais foram acentuadas, levando a uma massa de despossuídos.
  • Políticas: O fracasso do liberalismo clássico em evitar a crise e, uma vez desencadeada, em enfrentá-la, levou ao surgimento de ideologias nacionalistas e totalitárias que se enraizaram em alguns países: Alemanha e Itália são os exemplos paradigmáticos, embora houvesse muitos outros (Áustria, Polônia, Iugoslávia, etc.). Em outros lugares, houve tendências filofascistas (Grã-Bretanha, Bélgica, França), mas esses movimentos não tiveram impulso suficiente para ganhar o poder.

2. Fascismo e Nazismo

O período entre guerras (1919-1939) foi de instabilidade na Europa. Os problemas (desejo de vingança, "Grande Depressão", desestabilização social pela Revolução Russa) implicaram o surgimento gradual de regimes autoritários, em detrimento da democracia, especialmente na Europa Oriental e Central. Eram ditaduras conservadoras apoiadas por militares, latifundiários e pela Igreja. Neste contexto de crise da democracia, que só sobreviveu onde era mais forte (GB, França, Escandinávia), surgiram as ideologias fascistas, que chegaram ao poder pela força na Itália (Fascismo Italiano) e na Alemanha (Nazismo).

Características das Ideologias Fascistas (em geral): O Fascismo foi um movimento político fundado na Itália por Benito Mussolini, mas se estendeu a outros movimentos contemporâneos. É uma "reação violenta e autoritária contra a expansão da democracia e do socialismo". As principais características são:

  1. Caráter profundamente autoritário e antidemocrático.
  2. Uso da violência estatal para substituir qualquer oposição.
  3. Rejeição do princípio de igualdade entre os cidadãos.
  4. Negação da soberania popular e do direito de voto. Rejeição do parlamentarismo.
  5. Não tolerância da separação de poderes.
  6. Defesa da intervenção em todas as esferas da vida pública e privada.
  7. Defesa da autarquia para proteger a produção nacional.
  8. Exaltação da figura do líder carismático, concentrando todos os poderes. Misticismo, cenário pessoal grandioso.
  9. Sociedade dominada pela elite e pelos eleitos, tudo enquadrado em organizações fascistas (partido, sindicato, organizações juvenis, infantis, femininas, de veteranos). A intenção é superar as divisões sociais e estabelecer a unidade da nação.
  10. Acusação de partidos de classe e sindicatos (trabalhadores). Sindicalismo ligado ao estado corporativo.
  11. Componente racista (especialmente o Nazismo). A raça é um fator unificador da nação. Todo ultranacionalismo está ligado a um fanatismo.
  12. No campo cultural, é contrário ao racionalismo, exaltando os elementos irracionais do comportamento humano (obediência cega, fanatismo).
  13. Cultura da violência. Exalta a guerra (instrumento de progresso histórico) e rejeita o pacifismo. Isso se traduz em relações internacionais muito agressivas e em um imperialismo expansionista (irredentismo).

As Origens do Nazismo: Em 1923, o Partido Nazista realizou seu primeiro congresso, então com cerca de 20.000 membros. Nesse mesmo ano, houve a invasão franco-belga da região alemã do Ruhr, supostamente para salvaguardar o pagamento de certas reparações de guerra que a Alemanha não havia cumprido. O nacionalismo alemão, exacerbado pelo governo, desencadeou uma onda de protestos e sabotagem contra os ocupantes.

A Ascensão do Nazismo: Nas eleições de maio de 1928, os nazistas ganharam apenas 12 cadeiras no Parlamento, enquanto a esquerda obteve uma vitória clara. Meses depois, ocorreu o crash da Bolsa de Nova York, com dramáticas consequências para a Alemanha. A crise econômica e social deu oxigênio aos nazistas.

Em 1930, nas eleições, o NSDAP (Partido Nazista) contava com 107 deputados, representando cerca de 6,5 milhões de votos (18% do eleitorado), o que significou seu primeiro grande sucesso nas urnas. Em frente, 4,5 milhões de eleitores deram sua confiança aos comunistas, que colocaram 77 deputados no Parlamento. A polarização da vida política alemã já era um fato.

O Estado Nazista: O novo parlamento surgido das urnas em março de 1933 deu a Hitler um decreto de poder total por quatro anos. Isso significou a aniquilação do regime democrático e da atividade partidária. A morte do Presidente Hindenburg, em agosto de 1934, selou o destino da República de Weimar, que foi substituída por uma nova estrutura de estado, o Terceiro Reich (Terceiro Império Alemão), de significado totalitário e sujeito à ditadura pessoal de Adolf Hitler.

Hitler tornou-se Chefe de Estado, mantendo o cargo após a morte de Hindenburg, através de um referendo que lhe concedeu 88% de votos favoráveis.

A ação do Terceiro Reich foi resolvida nos seguintes domínios:

  • Política: A ação política realizada por Hitler se materializou na criação de um regime totalitário, que eliminou do campo social e político qualquer vestígio de oposição.
  • Econômica: Desde a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha representou uma desaceleração econômica significativa. Durante o pós-guerra, as dificuldades foram agravadas pelo gasto de grandes somas em indenizações aos vencedores da guerra.
  • Social: O Nazismo manteve o capitalismo como sistema econômico e social. Hitler contou com o grande empresariado para aumentar e consolidar o poder, enquanto à classe trabalhadora coube a tarefa de reconstrução da economia alemã, abalada após a Grande Guerra e a Crise de 1929.
  • Ideológica: A base da ideologia nazista era a questão racial. Hitler, em seu Mein Kampf, falava da existência de raças superiores e raças inferiores. O povo alemão pertencia ao primeiro grupo. Para evitar a contaminação e preservar a pureza racial, era necessária uma segregação completa. A raça judaica era estimada como especialmente perigosa, sendo qualificada como degenerada e causadora de grande parte dos males da Alemanha.

TEMA 12: Causas e Consequências da Segunda Guerra Mundial

1. Causas

  • a) Tratado de Versalhes (1918-1919): Injusto, sem reconciliação, humilhação, ressentimento.
  • b) A crise econômica, "Grande Depressão": Instabilidade nacional.
  • c) A ascensão do Fascismo e sua política de expansão pela força.
  • d) Iniciativa Nazista contra a fraqueza das democracias (política de apaziguamento).

Política Alemã de "Fatos Consumados":

  • 1935: Serviço militar obrigatório. Anexação do Sarre.
  • 1936: Remilitarização da Renânia, criação do Eixo Roma-Berlim-(Tóquio), "Pacto Anti-Comintern". Intervenção na Guerra Civil Espanhola.
  • 1938: Março, Anschluss (anexação da Áustria). Setembro, "Conferência de Munique", anexação dos Sudetos tchecos. Outubro, desaparecimento da Tchecoslováquia.
  • 1939: 16 de março, anexação da Boêmia e Morávia. 23 de março, anexação de Memel (Lituânia). Abril, a Itália ocupa a Albânia; exigências alemãs sobre Danzig na Polônia. Agosto, Aliança (secreta) Germano-Soviética de Não-Agressão. 1 de setembro, invasão alemã da Polônia. Começa a Segunda Guerra Mundial.

2. Consequências da Guerra

2.1. O Impacto Demográfico

50 milhões de mortes (metade soviéticas), 35 milhões de feridos e 3 milhões de desaparecidos. A metade das vítimas são civis (bombardeios, represálias, fome, extermínio).

2.2. O Impacto Econômico

Devastação nas zonas de combate, especialmente na Europa Oriental. Também no Japão. Forte crescimento econômico nos países neutros e nos EUA. Intervencionismo estatal na "reconstrução".

2.3. O Impacto Moral

Trauma moral dos campos de extermínio, da bomba atômica. Barbárie na civilização ocidental? Os japoneses. "Crimes contra a Humanidade" (Nuremberg).

2.4. As Conferências de Paz

Desde 1941, Carta do Atlântico (EUA-Grã-Bretanha). 1943, Conferência de Teerã (EUA, URSS e GB). Fevereiro de 1945, Conferência de Ialta (partilha e desnazificação da Alemanha, novas fronteiras da Europa). Julho-agosto de 1945, Conferência de Potsdam (qualificações). 1946, Conferência de Paris, tratados de paz com os países menores.

2.5. A Criação da ONU

Necessidade de substituir a Liga das Nações. "Conferência de São Francisco" (abril-junho de 1945). 46 países fundadores. Objetivos: manutenção da paz e segurança, não ingerência nos assuntos internos, direito à autodeterminação dos povos. Estrutura: Assembleia Geral, Secretário Geral, Conselho de Segurança. Também Conselho Econômico e Social, UNICEF, UNESCO, Tribunal de Haia.

TEMA 13: A Política de Blocos e a Guerra Fria

1. O Mundo em Dois Blocos

Após a Segunda Guerra Mundial, as diferenças entre as principais potências mundiais ficaram claramente refletidas. Graças a isso, o planeta se dividiu em dois blocos muito diferentes: os aliados dos EUA, defensores do capitalismo, e os países na órbita da União Soviética, sob regimes comunistas.

Esta distinção levou à Guerra Fria, na qual a característica dominante nas relações internacionais entre os EUA e a URSS era a desconfiança mútua, o que levou a um clima de tensão global. Essa política de acusações mútuas e medo obrigou a maioria dos países a tomar partido, formando dois poderosos blocos militares: a OTAN (que inclui EUA e seus aliados) em 1949 e o Pacto de Varsóvia (União Soviética e seus aliados) em 1955.

2. A Guerra da Coreia (1950-1953)

A primeira vítima da Guerra Fria foi o povo coreano. Pela primeira vez, o confronto entre o bloco ocidental e o bloco comunista se tornou realidade em uma "guerra quente".

A Guerra da Coreia tem suas origens na divisão em duas zonas de ocupação deste antigo protetorado japonês após a derrota do regime de Tóquio em 1945. Separadas pelo paralelo 38, a ocupação americana e soviética deu origem a dois regimes radicalmente opostos: Coreia do Norte, uma ditadura comunista pró-soviética sob a mão de ferro de Kim Il Sung, e Coreia do Sul, uma ditadura de direita pró-americana sob a liderança de Syngman Rhee. Quando as forças de ocupação se retiraram em 1948 (URSS) e 1949 (EUA), dois estados antagônicos se enfrentavam.

O conflito começou com a agressão da Coreia do Norte em junho de 1950, o que provocou a intervenção dos EUA em setembro daquele ano. Em outubro, as tropas chinesas entraram na península, em apoio à Coreia do Norte, o que levou à estabilização das frentes desde 1951.

Para quebrar esse impasse tático, o General MacArthur, chefe das tropas dos EUA lutando sob a bandeira da ONU na Coreia, chegou a propor o uso da bomba atômica e o ataque à China. Estas propostas precipitaram a reação do Presidente Truman, que o substituiu pelo General Ridgway em abril de 1951. Repetiu-se o que já havia sido visto no bloqueio de Berlim: durante a Guerra Fria, as duas superpotências foram prudentes quando vislumbraram a possibilidade de um confronto direto entre as duas.

A Guerra da Coreia deu dimensão global à Guerra Fria e fez da Ásia um de seus principais cenários. Depois, um conflito colonial e a Guerra da Indochina, iniciada em 1946, na qual os guerrilheiros Viet Minh lutavam contra o poder colonial francês, conflitos que se incorporaram à Guerra Fria.

3. A Guerra do Vietnã

Conflito na Indochina que ocorreu entre meados dos anos cinquenta e meados dos anos setenta, que confrontou os EUA e o governo do Vietnã do Sul, por um lado, contra o Vietnã do Norte e os guerrilheiros comunistas que operavam no Vietnã do Sul, por outro. A guerra acabou se estendendo também ao Laos e ao Camboja. A Guerra do Vietnã foi a mais longa da história americana; este país representou uma experiência de fracasso e frustração, sendo, sem dúvida, a falha mais grave dos EUA na Guerra Fria.

O início do envolvimento americano remonta ao início dos anos cinquenta, quando apoiou a tentativa desesperada da França de manter sua presença colonial na Indochina contra as forças comunistas Viet Minh. A derrota francesa e o Acordo de Genebra de 1954, que consagrou a divisão do Vietnã em dois, levaram ao apoio de Washington ao regime anti-comunista de Ngo Dinh Diem no Vietnã do Sul, enfrentado pelo Vietnã do Norte, apoiado pela URSS.

Em 1964, a situação era desesperadora para o Vietnã do Sul. Os EUA, citando como justificativa o incidente de Tonkin ao seu destróier Maddox em 2 de agosto de 1964, iniciaram uma intervenção aberta. Passaram de 4.000 soldados dos EUA em 1962 para quase 500.000 em 1967. O bombardeio maciço, o uso de agentes químicos, a crueldade da guerra transmitida pelos meios de comunicação tornaram a política dos EUA extremamente impopular no Terceiro Mundo, no bloco comunista e em partes significativas do público ocidental. Dentro do país, a oposição à guerra se espalhou entre os movimentos juvenis que se ligavam contra o sistema, como o movimento "hippie".

TEMA 14: Descolonização e o Terceiro Mundo

1. A Descolonização

Após a Segunda Guerra Mundial, a maioria das colônias europeias alcançou sua independência, essencialmente entre 1945 e 1965. Havia causas comuns, mas importantes diferenças na forma de alcançar a independência (pacífica ou violenta).

Causas da Descolonização:

  • a) O enfraquecimento da metrópole: Segunda Guerra Mundial, perda de legitimidade, intelectuais e sociedade da metrópole contra. Além disso, a Carta da ONU reconheceu o "direito à autodeterminação dos povos". Finalmente, as grandes potências (EUA e URSS) eram contra o colonialismo, especialmente a URSS (futuro novo aliado).
  • b) A formação do anticolonialismo: Contato desigual de civilizações, pilhagem do território, progressiva consciência dos nativos. Desde 1920, o Comintern advogava pela insurreição anticolonial e anti-imperialista para enfraquecer o Ocidente capitalista.
  • c) Os movimentos nacionalistas: Começaram as guerras. Durante os anos 20 e 30, evoluíram das elites nativas para integrar também as massas sob a direção de um líder carismático. Queriam a independência, e não a autonomia. Ex: CNI, Nehru e Gandhi. Após a SGM, muitos se tornaram "movimentos de libertação nacional".

2. O Terceiro Mundo

Resultado da descolonização. O termo Terceiro Mundo foi cunhado pelo economista francês A. Sauvy. Designa os países situados entre os dois blocos, ocidental e socialista, e que têm em comum serem subdesenvolvidos. Nem todos são resultado da descolonização, mas ganham essa identidade e consciência. Demandas socioeconômicas em nível global. África, Ásia e América Latina.

a) O Terceiro Mundo e as Relações Internacionais: A Conferência de Bandung e o Movimento dos Não Alinhados.

Os novos estados independentes reuniram-se em Bandung (Indonésia) em 1955, como "expressão da revolta moral contra a dominação europeia" (L. S. Senghor). Ganharam consciência e identidade como um bloco. Carta de 10 pontos que:

  • Condenava a segregação racial e o colonialismo.
  • Objetivo: independência para todos os territórios coloniais.
  • Luta contra o subdesenvolvimento por meio da cooperação internacional.
  • Proposta de formar um terceiro bloco, neutro, não alinhado, para promover a convivência pacífica entre os blocos ocidental e socialista (não houve unanimidade).

O Movimento dos Não Alinhados: Bandung é o início do Movimento dos Países Não Alinhados, que cresceria para mais de 90 países (2/3 da humanidade). Primeira Conferência em Belgrado (setembro de 1961). Convocada por Tito, Nasser e Nehru. Participaram 25 países. Critérios básicos: independência política, apoio aos movimentos de libertação nacional, e não abertura a qualquer aliança com uma grande potência ou instalação de bases estrangeiras. Convidavam todos os países a se juntarem a eles. Depois disso, haveria outras conferências no Cairo (1964), Lusaka (1970), Argel (1973). Dificuldades de detalhe, prioridade às questões de desenvolvimento econômico.

Desde o desaparecimento da URSS e do bloco comunista em 1991, o papel das organizações não alinhadas parece ter perdido relevância na política internacional, no entanto, a organização não desapareceu e as reuniões continuaram. Outras organizações regionais surgiram no espírito do não alinhamento, como a OUA, a Liga Árabe, a OEA, mas o principal instrumento do Terceiro Mundo acabou sendo a ONU (especialmente a Assembleia Geral).

b) Fatores Econômicos: Ajuda e Dívida.

Os novos países independentes tiveram que enfrentar grandes problemas: econômicos, tecnológicos e educacionais. Precisavam de capital e técnicos, mas os países desenvolvidos só ajudavam em troca de influência política e econômica ("neocolonialismo"). A ajuda vinha sob a forma de empréstimos ou doações. Grande parte dessa ajuda era desperdiçada em luxos desnecessários de regimes corruptos e guerras.

TEMA 15: Evolução da Segunda Guerra Mundial aos Anos Noventa

1. O Mundo Ocidental: Mudança Social e Cultural

Após a Segunda Guerra Mundial, a maioria dos países ocidentais consolidou sistemas políticos democráticos. A consolidação da democracia na Europa Ocidental está intimamente relacionada com a rápida reconstrução econômica do pós-guerra (o "Plano Marshall" para evitar a expansão do comunismo).

Estes países estabeleceram uma relação especial de cooperação política e militar com os EUA (OTAN) e relações econômicas entre si (CECA, CEE).

Apenas os países do sul da Europa ficaram de fora da democracia, mantendo ditaduras: Portugal (Salazarismo, 1928-1974), Grécia (Coronéis, 1967-1974) e Espanha (Franquismo, 1939-1975).

Ao contrário do espectro político bipartidário americano, na Europa é multipartidário e com um sistema eleitoral mais proporcional (exceto GB). As forças que dominam o cenário político europeu desde a Segunda Guerra Mundial podem ser classificadas em três grandes tendências: 1) Conservadores e Democratas; 2) Partidos Socialistas ou Trabalhistas; 3) Partidos Comunistas.

Nos anos cinquenta e sessenta, houve migração, com os principais fluxos do sul da Europa para as áreas industriais em países como Suíça, Alemanha Ocidental, França e Suécia.

Desde 1950, houve um longo período de prosperidade, aumentando a produtividade. A estrutura setorial da economia mudou (mais serviços e menos indústria e agricultura). Aumento notável nos padrões de vida. Incorporação da Europa Ocidental a uma sociedade de consumo que emulava o modelo americano.

Outra característica foi a intervenção na economia ("Planejamento"). Objetivo: superar deficiências em nível regional e setorial, correspondendo ao aumento da qualidade de vida. Resultado: menos períodos de recessão econômica, melhorias de infraestrutura. Também aumentaram os benefícios sociais (seguridade social, financiamento público de Educação, Saúde e Cultura), o "Estado de Bem-Estar Social" (Welfare State).

Relacionadas a essas mudanças sociais, encontramos a plena incorporação das mulheres no local de trabalho e, a partir dos anos setenta, as mudanças no modelo de família (mais divórcios, menos filhos, legalização de contraceptivos, legalização do aborto, homossexualidade, adultério), um novo conceito de relacionamento pessoal, emocional, sexual e familiar.

A Revolução de 1968: A propagação na Europa de uma sociedade de consumo e a homogeneização ideológica da maioria das forças políticas fizeram com que nos anos sessenta surgissem muitos movimentos de protesto com jovens e estudantes que, desencantados com esta "sociedade do bem-estar", muito consumista, não se sentiam representados pelos principais partidos políticos e defendiam mudanças no sistema.

Haveria, portanto, grupos de esquerda, decepcionados com a política soviética, que optariam pelo trotskismo ou maoísmo. A expressão mais radical ocorreu com a revolta francesa de Maio de 1968, que marcou o movimento da juventude. Politicamente, a incidência dessa revolta foi de curta duração, mas causou uma transformação cultural duradoura; as liberdades, as relações pessoais e familiares mudaram radicalmente. Os jovens ganharam uma nova importância, e seus valores alternativos (liberdade sexual, música beat, novas roupas, respeito ao meio ambiente natural) mergulharam na sociedade.

Nos EUA, houve um grande protesto social. Luta por direitos civis dos negros (Luther King, Malcolm X) e contra a intervenção na Guerra do Vietnã. O protesto da juventude se materializou no nascimento do movimento hippie, que defendia a não-violência, a liberdade sexual, o uso de drogas, a vida comunitária, roupas novas.

Além disso, os movimentos de libertação das mulheres (Women's Lib) denunciaram o sexismo na sociedade e exigiram direitos e oportunidades iguais.

Também na primavera de 1968, ocorreu um movimento de protesto dentro do bloco Comunista: a "Primavera de Praga", uma tentativa de democratização da Tchecoslováquia duramente reprimida pelos soviéticos.

2. Comunidade Econômica Europeia (CEE) à União Europeia (UE)

Com o início da "Guerra Fria" (1947) e o perigo de propagação do comunismo na Europa destruída e pobre, os EUA aplicaram a "Doutrina Truman" (deter o comunismo) e lançaram o "Plano Marshall" de ajuda financeira. Dois requisitos: livre comércio ocidental e democracia.

  • Para administrar o Plano Marshall, foi criada em 1948 a OECE (Organização Europeia de Cooperação Econômica). No mesmo ano, foi criado o BENELUX (união aduaneira).
  • Em 1949, foi criada a OTAN e o Conselho da Europa (para promover a cooperação política entre os Estados europeus).
  • Maio de 1950, "Declaração Schuman", proposta para gerir em conjunto a produção franco-alemã de carvão e aço.
  • 1951, Tratado de Paris, que criou a CECA (Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), composta por França, Alemanha Ocidental, Itália e Benelux (os 6). Sucesso econômico.
  • 1957, Tratado de Roma, que instituiu a CEE (Comunidade Econômica Europeia) e a EURATOM (energia atômica). Objetivo: criar um mercado comum, avançando em direção à unidade política através de instituições supranacionais, com legislação obrigatória para os Estados membros. Além disso, livre circulação de bens, capital e trabalho, uma tarifa única, harmonização das políticas econômicas e uma política agrícola comum.

Evolução e Expansão da CEE:

  • 1973: Incorporação do Reino Unido, Irlanda e Dinamarca. Mudança de nome: CE (Comunidade Europeia). UE-9.
  • 1981: Incorporação da Grécia. UE-10.
  • 1986: Incorporação da Espanha e de Portugal. UE-12.

Em 1986, o Conselho de Ministros aprovou o Ato Único Europeu. Criando um espaço social, econômico e único para todos os Estados membros. Processo de desenvolvimento econômico e monetário europeu. Ratificação do Tratado de Maastricht (1991) que estabelece a União Europeia (UE) com os seguintes objetivos: 1) Começar a culminação da união econômica e monetária dos Estados membros. 2) Conseguir uma unificação política. 3) Adoção de medidas sociais comuns a todos os cidadãos europeus. 4) Cidadania comum para seus residentes.

  • 1995: Adesão da Áustria, Suécia e Finlândia (UE-15).
  • 1995: Tratado de Schengen, desaparecem os controles nas fronteiras internas, exceto Reino Unido e Irlanda.
  • 1999: Criação do Banco Central Europeu (referido no Tratado de Maastricht). Fixa as taxas de câmbio entre as moedas e a conversão das moedas nacionais para a moeda única: Euro (€), para aqueles que cumpriram os critérios de convergência econômica estabelecidos no Tratado de Maastricht. Em janeiro de 2002, entrou em vigor (Reino Unido, Dinamarca e Suécia preferiram ficar de fora).
  • Outubro de 1997: Tratado de Amsterdã, revisão de Maastricht. Caminho aberto para a expansão.
  • Dezembro de 2000: Tratado de Nice, que altera a Comissão e o Parlamento em face de novos membros.

Desde a queda do comunismo (1989-1991), muitos dos antigos países comunistas solicitaram a entrada na UE. Assim, em maio de 2004, juntaram-se: Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Rep. Tcheca, Eslováquia, Hungria, Eslovênia, Malta e Chipre (UE-25). Está prevista a adesão da Bulgária e da Romênia em 2007, e foram abertas negociações sobre a futura adesão da Croácia e da Turquia.

As Instituições da UE: 1) Assembleia ou Parlamento. 2) Conselho de Ministros. 3) Comissão Europeia. 4) Conselho Europeu. 5) Tribunal de Justiça. 6) Tribunal de Contas. 7) Comitê Econômico e Social. 8) Comitê das Regiões. 9) Banco Europeu de Investimento. 10) Fundo Social Europeu. 11) Banco Central Europeu.

3. Mudanças no Bloco Socialista: A Perestroika

O Stalinismo consolidou-se na URSS após a Segunda Guerra Mundial. Instalação na Europa Oriental (ocupada por tropas soviéticas) de regimes comunistas, "democracias populares", controlados pela URSS através do Cominform e, mais tarde, do Pacto de Varsóvia (1955). A Iugoslávia de Tito não aceitou este controle.

Desde 1949, houve a extensão do triunfo da revolução comunista na China (Mao Zedong) e do Comunismo por outros territórios asiáticos (Coreia, Indochina). Ameaça ao Ocidente, tensão, "Guerra Fria".

Stalin morreu em 1953. Revisão e condenação do Stalinismo na URSS. Nikita Khrushchev, novo líder soviético. Liberalização relativa, mas sem ceder terreno, de modo que a revolta anticomunista na Hungria em 1956 foi severamente reprimida pelos soviéticos.

A "revisão" do Stalinismo e as questões fronteiriças causaram a cisão entre URSS e China (contra a Albânia).

Em 1964, Khrushchev foi substituído por Leonid Brezhnev (1964-1982). Seu longo período foi caracterizado pela estagnação tanto nas reformas políticas quanto nas mudanças econômicas. Continuou a defender a tese da "soberania limitada" para os países "satélites" da Europa Oriental (intervenção na Tchecoslováquia em 1968 e supressão da reforma na Polônia em 1980).

Brezhnev morreu em 1982 e foi substituído por Yuri Andropov (1982-1984) e Konstantin Chernenko (1984-1985), muito velhos e com uma linha sólida (ditadura centralista e "Gerontocracia").

Em 1985, Mikhail Gorbachev chegou ao poder, muito mais jovem e vendo a necessidade de reformas econômicas e políticas.

Reformas de Gorbachev: A reforma baseou-se na Glasnost (transparência) e na Perestroika (reestruturação). Seriam as palavras de ordem. Visava reformar o conhecimento e a participação do povo.

Os três principais problemas a resolver eram: 1) Atraso econômico e estagnação. 2) Política, ditadura, dissidência. 3) Manutenção da unidade territorial do Estado.

As soluções propostas por Gorbachev foram:

  1. Dado o atraso e a estagnação, visava aumentar o rendimento e a produção (introdução de incentivos, dando autonomia às empresas). Pretendia que os bens soviéticos fossem competitivos no mercado internacional.
  2. Na arena política, visava amenizar o monopólio do PCUS e promover novas formas de participação política da população. "Glasnost" na imprensa. Propôs uma nova Constituição.
  3. Diante do problema da coesão das Repúblicas (nacionalidades muito diferentes), tentou reestruturar o Estado, buscando um novo Tratado da União, mais participativo.

4. Países Emergentes: Japão e China

Japão: Industrializado desde 1868. Potência imperialista desde o início do século XX, foi derrotado e totalmente destruído no final da Segunda Guerra Mundial. Mas, após alguns anos de extrema pobreza, com assistência técnica e financeira dos EUA, que queriam um aliado na área, entre 1955 e 1973 experimentou o maior crescimento econômico mundial, dobrando o da Europa Ocidental e tornando-se a segunda potência industrial do mundo.

O "milagre japonês" foi possível por:

  1. A elevada taxa de investimento e esforço de inovação tecnológica.
  2. Suas condições específicas de mercado de trabalho (lealdade, disciplina à empresa, produtividade).
  3. A estrutura flexível da empresa (grandes e pequenas empresas).

Apesar de tudo isso, surgiram problemas de poluição ambiental e alta densidade urbana. Durante os anos noventa, sofreu uma grande crise de estagnação econômica, em parte pela concorrência dos "dragões" da Ásia.

China: Após a Segunda Guerra Mundial, e a expulsão dos japoneses, a Guerra Civil foi retomada entre os nacionalistas de Chiang Kai-shek, pró-Ocidente, e os comunistas de Mao Zedong, que finalmente venceram em 1949. Os nacionalistas se retiraram para a ilha Formosa, agora Taiwan.

Mao, o "Grande Timoneiro", instalou um regime comunista delineando sua própria doutrina sobre a revolução camponesa e a sociedade comunista: o Maoísmo. Em 1950, adotou o modelo soviético (coletivização rápida da terra e planejamento econômico que dava prioridade à indústria pesada).

Mas os maus resultados e o distanciamento da URSS desde a morte de Stalin levaram a uma nova estratégia: "O Grande Salto em Frente" (1958-1961). Consistia na complementaridade da agricultura e indústria e visava ligar novas tecnologias com a tradição. Nova forma de organização: a comuna do povo. Mas os resultados foram catastróficos (1959-1961, fome, milhões de mortes) e causaram tensões dentro do PC. Deslocamento de Mao e reorientação econômica.

Mao e seus aliados reagiram violentamente: a Revolução Cultural (1966-1976). Purificação e repressão. Divulgação do "Livro Vermelho".

Após a morte de Mao (1976), houve luta pelo poder e derrota do "Bando dos Quatro" (maoístas). Com Deng Xiaoping, houve a evolução, admitindo certas práticas capitalistas para manter o sistema de partido único, mas a ditadura comunista.

Desde 1989, o país foi liderado por Jiang Zemin e, desde 2002, por Hu Jintao. A China melhorou as relações com o Ocidente, apesar da repressão interna (ex: Tian'anmen), tornando-se, graças ao novo modelo econômico "um país, dois sistemas", em uma grande potência econômica (aderindo ao FMI em 2001). No entanto, a venda de armas e tecnologia europeias para a China preocupa os EUA, pois os chineses mantêm suas ameaças sobre Taiwan, um aliado tradicional dos norte-americanos.

TEMA 16: Os Anos Noventa e o Início do Século XXI

1. Transições na Europa Oriental

No final da Segunda Guerra Mundial, nos territórios europeus ocupados por tropas soviéticas, instalaram-se regimes políticos comunistas controlados pela URSS. Eram "democracias populares", mas o Ocidente as via como "Estados satélites" da URSS (sem independência real). Eram Polônia, Tchecoslováquia, Hungria, Romênia, Bulgária e Alemanha Oriental. Em contraste, a Iugoslávia de Tito e, mais tarde, a Albânia de Enver Hoxha não aceitaram a submissão à URSS.

Eram ditaduras comunistas e membros da aliança "de Varsóvia". Após a "desestalinização" (1953), houve tentativas de independência que foram neutralizadas e duramente reprimidas pelos soviéticos: Hungria em 1956, Tchecoslováquia em 1968, Polônia em 1980.

A "Perestroika" de Gorbachev também previu a reestruturação das relações da URSS com o resto do mundo socialista, baseada no princípio da independência absoluta, com colaboração, mas sem intervenção da URSS, e na responsabilidade dos diferentes governos pelos problemas de seus estados.

Isso permitiu uma mudança interna muito rápida. Processo de reforma política (alcançando a democracia parlamentar) e econômica (entrada da propriedade privada e das relações de mercado).

Na frente das reformas, a Polônia se destacou. Em 1986, anistia política; em 1988, autorização de empresas privadas; em 1989, eleições livres com a vitória de Lech Walesa ("Solidarnosc") com 80% dos votos. Aproximação aos países ocidentais.

Na Hungria, o próprio governo foi favorável às reformas. Eleições em 1989.

Na Tchecoslováquia, pacto do governo com a oposição (Vaclav Havel), no entanto, em pouco tempo, foi acordada a divisão em dois estados: Rep. Tcheca e Rep. Eslovaca (1993).

Na RDA, resistência do governo de Erick Honecker às reformas. Protestos. O Partido Comunista rebelou-se contra Honecker, que foi destituído. Em 9 de novembro de 1989, o novo governo abriu o "Muro de Berlim". Vitória eleitoral em 1990 dos democrata-cristãos e rápida reunificação com a Alemanha Ocidental (3 de outubro de 1990).

Na Bulgária, os líderes foram deslocados e convocaram novas eleições.

Na Romênia, uma revolta popular em dezembro de 1989 acabou com o sistema de N. Ceausescu, que foi fuzilado.

O Fim do Comunismo na URSS: O processo de reforma de Gorbachev ("Perestroika") era muito complexo e não conseguiu resolver os problemas existentes, que pioraram. Além disso, as reivindicações nacionalistas irromperam com força (repúblicas bálticas, Ucrânia, Cáucaso). Dificuldade de manter unidas pessoas tão diferentes.

Em julho de 1990, primeiras eleições livres. Na Federação Russa, Boris Ieltsin venceu, totalmente a favor do desmantelamento do sistema comunista. Para evitar o processo de desintegração territorial, política e econômica, Gorbachev (Presidente da URSS) propôs um "Novo Tratado da União" (1991). Mas em agosto de 1991, houve uma tentativa de golpe anti-reforma pela maioria hard-line para voltar ao sistema antigo. Gorbachev foi sequestrado, mas Ieltsin enfrentou o golpe, que fracassou por falta de organização e reação popular. Ieltsin se tornou o "herói".

A partir desse momento, os eventos se precipitaram e o projeto de Gorbachev falhou irremediavelmente. Ieltsin ilegalizou o Partido Comunista e todas as repúblicas proclamaram sua independência. Gorbachev tentou criar pelo menos uma Comunidade de Estados Independentes (CEI), mas não teve sucesso e renunciou em 25 de dezembro de 1991, desaparecendo ao mesmo tempo a URSS.

2. Conflito nos Balcãs

Com a desintegração da URSS e o colapso dos regimes comunistas na Europa, o nacionalismo emergiu com uma força incomum nos Balcãs. O pior caso é o da ex-Iugoslávia. Criada como um estado após a Primeira Guerra Mundial e estruturada como uma república socialista, com uma estrutura federal, após a Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia reuniu em um estado seis repúblicas balcânicas: Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Sérvia (esta com as regiões autônomas de Voivodina e Kosovo), todas muito desiguais, com uma população de diferentes etnias, línguas e religiões. Durante o governo ditatorial de Tito, o sistema funcionou, mas após sua morte (1980), entrou em crise, desmembrando o Estado comunista no final dos anos oitenta e criando a Federação Iugoslava, com uma presidência rotativa.

a) A Guerra na Croácia (1991-1992): Eleições livres em várias repúblicas da Federação deram o poder aos mais nacionalistas (Tudjman na Croácia, Milosevic na Sérvia). As diferenças entre as repúblicas acentuaram-se, expressando algumas seus desejos de independência. Em junho de 1991, Eslovênia e Croácia proclamaram a independência, mas o Exército Federal Iugoslavo (liderado pelos sérvios) se opôs. A Eslovênia, sem fronteiras com a Sérvia e sem população sérvia, confirmou sua independência em poucos dias com quase nenhuma baixa, mas na Croácia, onde havia uma importante minoria sérvia, os conflitos armados eclodiram. As regiões sérvias croatas de Krajina e Eslavônia se levantaram contra os croatas, com o apoio do Exército Federal Iugoslavo enviado por Slobodan Milosevic (o presidente da Sérvia). A UE mediou o conflito e em 1992 chegou a um "cessar-fogo" e ao reconhecimento internacional da independência da Croácia e da Eslovênia.

b) A Guerra da Bósnia (1992-1995): Quando o conflito na Croácia mal havia começado, eclodiu na Bósnia. A realidade étnica da Bósnia (muçulmanos 44%, sérvios 35%, croatas 17%) não permitiu uma independência pacífica. O governo bósnio proclamou a independência e a UE a reconheceu imediatamente, assim como a Macedônia (apesar da oposição grega), enquanto a Sérvia e Montenegro, que permaneceram juntos, proclamaram a República da Iugoslávia.

A população sérvia da Bósnia, maioria em certas regiões, não aceitou a independência e declarou guerra ao governo bósnio muçulmano, com o apoio do exército iugoslavo enviado por Slobodan Milosevic. O objetivo era destruir o Estado bósnio e ocupar o máximo de território possível, matando ou expulsando os não-sérvios ("limpeza étnica"). Escândalo internacional. Plano de paz e envio de capacetes azuis (ONU), que falharam (massacre de Srebrenica, 1995). Somente a intervenção dos EUA, com autorização da ONU, acabou com o conflito no verão de 1995. Simultaneamente, o exército croata recuperou, em um ataque surpresa, os territórios da Krajina, expulsando a população sérvia. Negociações de paz e "Acordos de Dayton (1995)". A Bósnia foi dividida em duas entidades políticas autônomas: a Federação Muçulmano-Croata (51% do território) e a Republika Srpska (49%).

c) A Guerra do Kosovo (março-abril de 1999): Região da Sérvia, mas com 90% de população albanesa. Movimento nacionalista albanês desde o final dos anos oitenta, suprimido por Milosevic, que suprimiu a autonomia do pequeno território. O conflito surgiu em 1998 com a atividade guerrilheira do UCK, e Milosevic respondeu com o ataque do exército iugoslavo e das milícias paramilitares sérvias também contra a população civil, iniciando uma nova "limpeza étnica". A opinião pública internacional não pôde tolerar isso. Bombardeio da OTAN em Belgrado e outros alvos sérvios. Cessar-fogo, retirada sérvia do Kosovo e ocupação do território pela KFOR. Desde então, houve "vingança" dos albaneses contra os sérvios. Conflito não resolvido.

Nas eleições de 2000 na Sérvia, e após outra tentativa de fraude eleitoral, a oposição venceu Milosevic. O novo governo sérvio o prendeu e o entregou ao Tribunal Internacional de Justiça em Haia, onde está sendo julgado por genocídio e crimes contra a humanidade. Os conflitos na Iugoslávia demonstraram a fraqueza política e militar da UE e sua dependência dos EUA para resolver um conflito estritamente europeu.

3. O Mundo Islâmico e o Conflito com Israel

No final da Segunda Guerra Mundial, a maior parte do mundo árabe fazia parte dos territórios coloniais dominados pelos franceses (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbano, Síria) e britânicos (Palestina, Jordânia, Sudão e grande parte da Arábia). Os europeus descolonizaram esses territórios a partir de 1946, mas os conflitos se concentraram no caso da Palestina.

Os territórios palestinos, sob domínio britânico desde 1919, eram habitados por árabes (maioria muçulmana, minoria cristã), mas também por uma crescente população judaica que "retornava" às suas origens ancestrais (Sionismo). O impacto moral do "Holocausto" judeu durante a Segunda Guerra Mundial impulsionou a ideia de criar um Estado judeu independente na Palestina, onde grande parte dos judeus do mundo se estabeleceria. A ONU, em 1948, aprovou a divisão política da Palestina em duas áreas, com a criação de Israel em uma, enquanto a outra ficaria sob o poder dos árabes. Estes não aceitaram e atacaram os judeus, que, mais organizados, derrotaram os árabes, estendendo a área originalmente designada pela ONU e ocupando a parte ocidental da cidade de Jerusalém (I Guerra Árabe-Israelense).

O Estado de Israel se consolidou com um sistema democrático, mas só pôde sobreviver graças a uma significativa militarização da sociedade e à criação de um grande e sofisticado exército. Interveio contra o Egito em 1956 na Crise de Suez (II Guerra Árabe-Israelense).

Em 1967, Israel decidiu tomar a iniciativa e atacou os árabes (Egito, Síria, Jordânia) de surpresa, derrotando-os em seis dias (a "Guerra dos Seis Dias" ou III Guerra Árabe-Israelense), e ocupando os territórios palestinos que estavam sob o poder dos árabes (Cisjordânia e Faixa de Gaza), além do Sinai (Egito) e Golã (Síria).

Apesar das resoluções da ONU que advertiam Israel a se retirar dos territórios ocupados, não houve sanções internacionais devido ao apoio incondicional dos EUA no Conselho de Segurança.

Em 1973, os árabes (Egito e Síria) tomaram a iniciativa e atacaram Israel de surpresa (Guerra do Yom Kippur, ou IV Guerra Árabe-Israelense). Quando, superada a surpresa inicial, os israelenses começaram a se reafirmar, o mundo árabe decidiu iniciar uma "guerra econômica" e comprometeu-se a reter o petróleo destinado aos EUA e ao Ocidente, e a reduzir a produção. Os preços do petróleo subiram e o Ocidente sofreu uma grande crise econômica. Finalmente, a ONU recomendou a cessação das hostilidades e o estabelecimento de negociações que levaram a um "cessar-fogo".

Desde 1967, a OLP usou a ação direta e o terrorismo contra Israel e seus interesses como meio de propaganda. Em 1974, abandonou as ações terroristas e foi reconhecida pela ONU como o representante legítimo do povo palestino.

Em 1977, o Egito (Sadat) assinou uma paz separada com Israel, que devolveu o Sinai, quebrando a unidade árabe.

Desde 1987, a OLP organizou a Intifada, movimento de insurreição civil da população árabe nos territórios ocupados por Israel.

O desaparecimento do bloco comunista e a intervenção dos EUA no Kuwait e no Iraque ("Guerra do Golfo") favoreceram as negociações e, no final de 1991, foi convocada a Conferência de Madri para iniciar as negociações entre as partes.

O slogan "terra por paz" levou os palestinos em 1993 ("Acordos de Oslo") à criação de zonas autônomas em Jericó e na Faixa de Gaza, governadas por uma "Autoridade Palestina" liderada por Yasser Arafat, e ao acordo para iniciar um período de transição destinado a alcançar um estado palestino.

O assassinato em 1995 do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin, defensor da retirada israelense pela paz, complicou muito a situação. Após um período de dificuldades com o governo de Netanyahu, não foi possível chegar a um acordo definitivo durante o governo trabalhista de Barak. Desde 2000, a paciência dos palestinos se esgotou (visita provocativa de Sharon à esplanada das mesquitas), e a Segunda Intifada irrompeu, brutalmente reprimida pelo novo governo conservador de Ariel Sharon (Likud), que reocupou todos os territórios palestinos autônomos.

A morte de Arafat em 2005, a doença grave de Sharon e a vitória dos radicais islâmicos do Hamas nas eleições palestinas abriram uma perspectiva incerta.

4. Nova Política, Social e Cultural

Pacifismo: Doutrina política e social que se opõe a todas as formas de ação armada ou violenta e promove a não-participação nelas. Condena a guerra como meio adequado para resolver conflitos, condenando assim o imperialismo, e acredita que a paz permanente entre os estados é uma meta possível e desejável. Promove a objeção de consciência ao serviço militar obrigatório e condena a corrida armamentista (química, bacteriológica, nuclear). No Pacifismo, há diferentes correntes. Algumas visam que o princípio da não-violência se espalhe por toda a sociedade, o que acabaria com todas as formas de coerção e exploração. É um movimento novo (Gandhi, anos 30 e 40; Luther King, anos sessenta), mas tem momentos de expansão no final dos anos sessenta para protestar contra a Guerra do Vietnã e em 1990-91 e 2003 pelo movimento contra a guerra no Iraque.

Ambientalismo: Promove a conservação da natureza para garantir uma vida digna para a espécie humana. Opõe-se ao abuso dos recursos naturais, especialmente em relação a matérias-primas e fontes de energia (necessidade de um "desenvolvimento sustentável") e opõe-se ao uso de instalações nucleares. Os ambientalistas também são pacifistas. Consolidou-se como movimento social e político nos anos setenta e oitenta, com ONGs como Greenpeace e WWF (Adena) e partidos políticos, como Os Verdes alemães.

Feminismo: Como movimento social que defende a igualdade de direitos entre homens e mulheres, e a libertação dos respectivos papéis sociais em uma sociedade patriarcal, tem suas raízes no Iluminismo do século XVIII e na Revolução Francesa (Olympia de Gouges). Ao longo do século XIX, surgiram associações de defesa dos direitos das mulheres, as "sufragistas". No início do século XX, foram concedidos direitos de voto nos países escandinavos, 1919 (Alemanha), 1920 (EUA), 1928 (Reino Unido), 1931 (Espanha). Desde os anos sessenta, a combinação de independência econômica e acesso ao ensino superior para as mulheres deu uma importância extraordinária ao movimento feminista (direito ao aborto, divórcio).

O Movimento Antiglobalização: Nos últimos anos, uma série de movimentos sociais tenta responder criticamente ao modelo social dominante, especialmente contra os grandes desequilíbrios criados pelo controle de alguns países e algumas empresas. A crítica à globalização econômica, que não se preocupa em globalizar os direitos humanos ou o bem-estar social, vem de alguns grupos políticos, mas também de muitas organizações independentes em todo o mundo. Sugerem a necessidade de estabelecer uma ordem social mais justa na qual a liberdade, a justiça, a dignidade e a paz sejam herança. As enormes diferenças que existem entre o mundo desenvolvido e o Terceiro Mundo, e as profundas desigualdades que ocorrem mesmo nos mesmos países ricos, agitam as consciências de um grande número de grupos sociais.

Assim, uma verdadeira frente unida, chamada "movimento antiglobalização" pela mídia, reúne uma série de ONGs (Organizações Não Governamentais). Seu propósito é reunir os cidadãos em todo o mundo em torno de alguns projetos de solidariedade, e este é um dos principais motores de campanhas como a que pede aos países ricos que dediquem 0,7% do PIB à cooperação com os países mais pobres. Também organizaram manifestações impressionantes para coincidir com as cúpulas internacionais do FMI, Banco Mundial, etc., aos quais culpam pela injustiça do mundo. Entre seus líderes mais proeminentes, inclui-se o agricultor francês José Bové.

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