Tempo e Espaço em 'Os Santos Inocentes' de Delibes
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Tempo
O Tempo Histórico
Não existe uma data explícita que indique a maioria, mas no segundo livro, encontramos uma referência a locais históricos. Para ridicularizar o desejo de comunhão de Nieves, o Mestre Iván disse: "A culpa não é deles, a culpa é do concílio que os prejudica". Refere-se ao Concílio Vaticano II, que ocorreu em Roma por três anos (1962-1965). Além disso, o uso de tratores, a migração maciça para as cidades e o início da mecanização do campo apontam para os anos sessenta. A maioria dos eventos da história se passa nos anos sessenta.
Tempo Textual
A subjetividade com que Delibes utiliza o tempo intensifica o sentimento de muitos elementos temáticos do romance, ocorrendo em dois períodos distintos:
- Um tempo (especificamente, concentrado) da maioria dos eventos importantes, e outro (atrasado, diferido) para o resto dos acontecimentos.
- Um ponto no tempo onde os episódios quebram a rotina e expressam o tempo normal na rotina da exploração.
Tempo dos Acontecimentos
Como podemos ver, a história dos acontecimentos finais é feita de forma linear e em um curto espaço de tempo, o que determina o ritmo rápido da ação:
- Os acidentes de Paco, a sua substituição pelo secretário Azarías, a morte de Milana e a morte do segundo cavalheiro Iván, que ocupam o sexto e quinto livros. Eles ocorrem em um curto espaço de tempo: três semanas.
A história dos episódios anteriores é feita com liberdade no uso do tempo:
- Fatos distantes essenciais para justificar o desfecho. O ritmo é mais lento.
Espaço
O espaço em que se situa o romance de Delibes, Os Santos Inocentes, não pertence à Castela das fazendas, mas sim a uma propriedade onde a hierarquia social é muito presente.
A Paisagem da Fazenda
A propriedade divide-se em duas áreas:
A) A Área Natural
A área natural é de grande porte, exigindo que os guardas obedeçam ao tratador. É uma terra de trabalho, onde parte dela é dedicada à agricultura, sem grande importância. Outra parte é dedicada à caça. Mas a fazenda é um grande cenário de caça para o gozo da pequena nobreza e seus convidados.
B) A Área de Habitação
Que reúne os moradores da fazenda:
- É um local fechado, protegido por um muro e uma porta que, por regulamento, deve ser aberta para o curral (espaço aberto), onde os funcionários se reúnem para celebrar a chegada da Marquesa. É cercado por casas para os trabalhadores e edifícios que abrigam os animais.
- Dentro, há três edifícios principais:
- Casa Grande: a casa dos proprietários da fazenda, desabitada, exceto pelos curtos períodos em que recebem seus respectivos proprietários.
- La Casa de Arriba: onde vivem o gerente, Don Pedro, e sua esposa Dona Purita.
- A Pequena Capela: onde o bispo celebra a Missa da Primeira Comunhão.
Papel Significativo do Espaço
- É um fator essencial para oferecer coesão aos episódios.
- Revela a estrutura hierárquica das grandes propriedades, onde cada elemento da paisagem evidencia as diferenças sociais das pessoas que por ela transitam.
- Representa uma dupla atitude do homem em relação à natureza. A vida do camponês é resignada e feliz, em perfeita harmonia com a terra. Os donos da propriedade, no entanto, só a visitam para se divertir ou para controlar os negócios.
- Em suma, a natureza é tratada como um elemento que molda o caráter humilde do romance. Azarías vive de uma maneira comparável à dos animais. Paco, o Baixo, é como um cão farejador, essencial ao seu mestre. A menina tem uma vida menos sensível do que os animais da quinta: não sente, não reage... apenas grita de forma estridente. As personagens femininas da família de Azarías não se identificam com a natureza, pois desenvolvem seu trabalho em espaços confinados. É o que acontece com Regula e Nieves, que nunca param de trabalhar no serviço doméstico.