A Teoria da Rotulação na Criminologia: Conceitos e Evolução
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A Teoria da Rotulação na Criminologia: Mudando o Foco
Não como teorias criminológicas anteriores: um estudo sobre as causas do comportamento criminal.
A Teoria da Rotulação estuda o processo pelo qual a sociedade (ou suas instituições: Parlamento, juízes, polícia, mídia) condena alguns comportamentos e cria estereótipos de criminosos.
Áreas de Interesse
- O processo de definição do crime e do infrator.
- A hipótese da identidade do agressor.
- Estatísticas Criminais.
1. O Processo de Definição do Crime e do Infrator
O processo de criminalização da conduta:
- Criação do Direito Penal (Parlamento)
- Execução da Lei Penal (Polícia)
- Aplicação da Lei Penal (juízes)
- Mídia: intervenção em três fases.
O crime ocorre quando um comportamento é interpretado, definido e registrado como um crime.
Pessoas que são rotuladas como criminosos:
A categoria do agressor não coincide com o agressor:
- Há pessoas que, apesar de não terem quebrado as regras, são definidas como desviantes (ex: ciganos).
- Há pessoas que, apesar de quebrarem as regras, não são definidas como desviantes (ex: jovens de classe média que ocupam o espaço público).
Conclusão sobre a Identidade do Autor:
O autor é uma criação do sistema penal, isto é, o resultado da aplicação de rótulos a certas pessoas que são diferentes das outras, não por violarem a lei, mas porque:
- Foram processadas pelo sistema de justiça criminal;
- Saíram dele com o rótulo de criminoso.
O Que Acontece com o Estigmatizado?
Ao ser isolado do mundo convencional, ele se liga ao mundo do desviante e, portanto, forja uma identidade. Resultado:
- Neutraliza sua ligação com as normas sociais;
- Repudia pessoas convencionais;
- Aprende a se comportar de forma desviante, etc.
2. A Hipótese da Identidade do Agressor
O processo penal é uma "cerimônia de degradação social".
Desvio Primário vs. Desvio Secundário:
- DP (Desvio Primário): O indivíduo comete uma primeira infração e é punível. Se continuar a cometer crimes e ser punido, é rotulado.
- DS (Desvio Secundário): Depois de assumir a "nova identidade" (autor), este rótulo proporciona a continuidade da "carreira criminal".
O Desvio Primário (DP), ou seja, a primeira infração (ou antes de ser "rotulado"), depende de vários fatores: psicológicos, aprendizagem situacional.
O Desvio Secundário (DS) aparece quando essas ações são repetidas e envolvem um processo penal. É possível que haja uma "reorganização da personalidade do indivíduo". Assim, o indivíduo se identifica com o desvio. Desde então, seu comportamento não é explicado pelas causas (DP), mas por esta nova identidade.
3. Estatísticas Criminais
- As estatísticas não captam todos os eventos.
- Não refletem a realidade "do crime", mas a forma como as instituições constroem o crime.
- Portanto, as estatísticas devem fornecer mais informações sobre as instituições de controle do que sobre o crime em si.
A desconfiança nas estatísticas leva a reforçar outras ferramentas de pesquisa: estudos de vitimização, pesquisas de autoavaliação.
Consequências para a Política Criminal
- Descriminalização
- Desinstitucionalização, Desencarceramento
- Direito Penal Mínimo
- Alternativas à prisão
Comentários Críticos
- O rótulo não cria o crime, mas é imposto a quem viola a lei.
- O rótulo pode ser usado para fazer uma pessoa desistir do crime?
- O rótulo é uma condição necessária ou suficiente para um indivíduo cometer crimes?
- Não há atos que sejam intrinsecamente censuráveis (ou penais)?
Evolução Atual da Teoria da Rotulação
Características Gerais:
- Últimos 20 anos.
- Inexistência de propostas mais diversificadas do que a original.
- Não considera que a reação social possa explicar o crime em si.
- A teoria da rotulação é considerada parte de um fenômeno penal mais abrangente.
- Hipótese não testável por métodos quantitativos.
Exemplo de Explicação Detalhada:
- Aqueles que cometem crimes e, portanto, sofrem condenações (especialmente se estão na prisão) têm mais dificuldade em abandonar a carreira criminosa, mesmo que queiram.
- Isso ocorre porque estão imersos em uma "cadeia de adversidade" ou um "acúmulo de desvantagem".
Novas Teorias Relacionadas:
- A Teoria da Criminalização Secundária
- A Teoria do Acomodamento a Imagens Estereotipadas
- A Teoria da Vergonha Reintegrativa
- A Teoria do Desafio
1. A Teoria da Criminalização Secundária
Zaffaroni / Alagia / Slokar
- A administração do sistema de Justiça atua seletivamente.
Criminalização Secundária vs. Criminalização Primária:
- CP (Criminalização Primária): definição legislativa de crimes.
- CS (Criminalização Secundária): o trabalho policial e judicial.
Aspectos da Criminalização Secundária:
- O número de leis penais (criminalização primária) não significa que seja possível processar todos os atos criminosos.
- Assim, a impunidade é a regra, e a prisão e condenação são a exceção.
- Para isso, a polícia e os juízes devem "escolher".
- Nem todos os indivíduos e nem todos os crimes têm a mesma chance de serem "marcados" pelo sistema de justiça criminal.
Quem é selecionado pelo sistema de justiça criminal?
- Os crimes mais grosseiros (mais fáceis de detectar e processar);
- Os indivíduos que têm menos poder e são mais vulneráveis (que são menos capazes de se proteger).
- Assim, crimes de colarinho branco, fatos complexos e cometidos por pessoas com poder tendem a não ser perseguidos.
Construção do Estereótipo:
- A criminalização secundária termina por construir um estereótipo de quem é infrator.
- Cria-se a ideia de que os verdadeiros criminosos são aqueles que respondem ao estereótipo (que geralmente são vulneráveis).
Críticas:
- Os crimes que são julgados também afetam as classes mais baixas (e, portanto, não se pode dizer que só protege os poderosos contra os mais vulneráveis).
- Há um certo consenso sobre quais comportamentos devem ser perseguidos com maior ênfase, por exemplo, crimes contra pessoas (homicídio, lesão, estupro, roubo, etc.).
2. A Teoria do Acomodamento a Imagens Estereotipadas
Thomas Scheff
- Nas sociedades contemporâneas, há sempre um estereótipo construído socialmente do desvio.
- Esta imagem é construída através da mídia, interações com pessoas, etc.
- Assim, doentes mentais ou outros desviantes são vistos como perigosos e a serem temidos.
- Esta imagem é fixa nas mentes de todos.
- Assim, quando se trata de desvio, cada pessoa associa a ele uma série de características construídas socialmente.
- A chave reside na reação social ao ato de rotulação.
Que um ato seja marcado depende:
- Quantidade e visibilidade da infração;
- O poder do infrator;
- Tolerância da comunidade.
3. A Teoria da Vergonha Reintegrativa
John Braithwaite
- Quando a reação social a um ato criminoso ativa no seu autor uma vergonha que o reconcilia com a sociedade, em vez de estigmatizá-lo, ele tende a não retornar ao crime.
Diante de um crime, a sociedade pode impor dois tipos de vergonha:
- Desintegrativa: o estigma. A reação é negativa, por meio de cerimônias de degradação.
- Reintegrativa (Braithwaite): a reação negativa (culpa) é seguida pela aceitação da comunidade. São cerimônias de readmissão.
Aspectos Adicionais:
- A ideia é baseada no modelo de educação familiar.
- É feito para ver que algo está errado e não deve ser repetido.
- A eficácia dependerá do tipo de sociedade: sociedades muito desiguais têm uma estrutura que favorece a humilhação e o estigma.
4. A Teoria do Desafio
Sherman
- A reação social a uma violação é fundamental para a reincidência ou para o abandono da prática ofensiva pelo indivíduo.
- Estes autores consideraram analisar se o tratamento que um indivíduo recebe da administração da justiça criminal pode influenciar o comportamento criminal futuro.
- Por exemplo, alguém que é tratado corretamente ao ser preso e durante o processo penal, e a quem é aplicada uma sanção que considera justa, pode ter sua reincidência influenciada.
A Teoria do Desafio gira em torno de 4 conceitos-chave:
- Legitimidade: sanções legítimas tendem a ter efeitos preventivos no futuro.
- Laços sociais: os efeitos de uma condenação injusta (para o autor) dependerão dos laços sociais.
- Vergonha: a vergonha deve contribuir para o abandono do delito.
- Orgulho: pode surgir de forma negativa a uma sanção injusta.
Conclusão sobre a Evolução Atual
A evolução atual da Teoria da Rotulação inclui o desenvolvimento de teorias relacionadas, como:
- A Teoria da Criminalização Secundária
- A Teoria do Acomodamento a Imagens Estereotipadas
- A Teoria da Vergonha Reintegrativa
- A Teoria do Desafio