Teorias da Comunicação: De McLuhan à Cultura Visual

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Marshall McLuhan: O Visionário da Comunicação

Marshall McLuhan (nascido em 1911, no Canadá) foi um proeminente filósofo e pensador da comunicação. Ele estudou o impacto das novas tecnologias e os efeitos dos meios de comunicação na sociedade. O seu trabalho surgiu como resultado das transformações tecnológicas que rodeiam o ser humano, procurando analisar a sociedade e os efeitos causados pela revolução do computador e das telecomunicações.

O Meio é a Mensagem

McLuhan foi o primeiro a chamar a atenção para a importância do meio que transmite a mensagem, em detrimento da mensagem em si. A sua famosa máxima, "o meio é a mensagem", postula que a forma como enviamos e recebemos informação é mais impactante do que a própria informação. Segundo ele, diferentes meios, independentemente do conteúdo que veiculam, causam efeitos sociais distintos e específicos.

A Galáxia de Gutenberg

Até ao surgimento da televisão, vivíamos na chamada "Galáxia de Gutenberg". Quando Johannes Gutenberg inventou a imprensa, permitiu que o conhecimento fosse mais difundido, superando a tradição oral baseada em lendas e histórias. Contudo, segundo McLuhan, esta inovação também reduziu a comunicação a uma dimensão predominantemente visual.

Os seus pensamentos foram considerados visionários, pois previu o surgimento de meios tecnológicos de informação para acesso de estudantes e antecipou a existência da internet muito antes da sua criação.

Meios Quentes e Frios

  • Meios Quentes: Exigem baixa participação do recetor e focam-se num único sentido com alta definição. Qualquer distração pode levar à perda da mensagem. Exemplos: rádio, fotografia.
  • Meios Frios: Exigem alta participação do recetor e envolvem múltiplos sentidos, mas com menor definição de informação, obrigando o público a preencher as lacunas. Exemplo: televisão (visão e audição), que permite uma perceção mais rápida da mensagem.

Obras Principais

Os livros mais conhecidos de McLuhan incluem A Galáxia de Gutenberg (1962), Understanding Media (1964) e O Meio é a Massagem (1967). Este último, em coautoria com o artista gráfico Quentin Fiore, é um manifesto provocador e um inventário ilustrado dos efeitos da comunicação eletrónica sobre indivíduos, empresas e governos.

O Meio é a Massagem: O Erro Providencial

Segundo Eric McLuhan, filho do autor, o título do livro O Meio é a Massagem surgiu de um erro tipográfico, onde "Mensagem" foi trocado por "Massagem". McLuhan considerou o engano esclarecedor do seu ponto de vista e decidiu mantê-lo.

A obra, composta por textos e imagens, representava uma experiência sensorial que transcendia a simples leitura, explorando como cada meio afeta o sensorial humano de maneira diferente. Assim, os meios eram vistos como extensões do ser humano — dos seus sentidos, mentes e corpos. O livro foi um exercício de premonição, destacando os efeitos da "circuitação eletrónica", uma antecipação da rede mundial de computadores.

A Aldeia Global

A sua visão de uma Aldeia Global, termo que cunhou, descreve como as novas tecnologias eletrónicas encurtam distâncias, reduzindo o planeta a uma condição semelhante à de uma aldeia, onde todos estão interligados. McLuhan previu que um nível de interdependência eletrónica global forneceria informação abundante, instantânea e gratuita, tal como a internet faz hoje.

Outras interpretações associaram o título a jogos de palavras em inglês:

  • "Massage" como "Mass Age" (Era das Massas).
  • "Message" como "Mess Age" (Era da Confusão).

O Meio como Extensão do Homem

Para McLuhan, um "meio" é qualquer extensão do ser humano. Por exemplo, o martelo é uma extensão do braço e a roda é uma extensão das pernas. Cada tecnologia ou suporte que criamos prolonga o nosso corpo e altera a forma como nos relacionamos com a realidade.

"O meio é a mensagem significa apenas que as consequências pessoais e sociais de qualquer meio — ou seja, de qualquer extensão de nós próprios — resultam da nova escala introduzida nos assuntos humanos por cada extensão de nós próprios, por qualquer nova tecnologia."

Ele explicava didaticamente o seu pensamento: "A roda é uma extensão do pé; o livro é uma extensão do olho; a roupa é uma extensão da pele; o circuito elétrico é uma extensão do sistema nervoso central."

Relevância na Atualidade

Hoje em dia, as ideias de McLuhan são mais relevantes do que nunca. Circuitos, computadores e conexões instantâneas transformaram o quotidiano. As redes sociais, por exemplo, alteram a forma como nos relacionamos, incentivando-nos a viver uma vida digna de ser partilhada e "curtida". A sua visão da "aldeia global" reflete a realidade de um mundo digitalmente interligado, onde as ações de cada um afetam o todo. A ideia de que "todos os meios são extensões de alguma faculdade humana" integra-nos com as tecnologias que criamos, desde as ferramentas mais simples ao pós-humano.

Cultura Visual e os Seus Desafios

Showing Seeing: Uma Crítica da Cultura Visual

Este ensaio mapeia as principais questões dos estudos visuais, abordando a sua transformação em campo académico e o seu objeto de pesquisa. Analisa as resistências encontradas em áreas como a história da arte e a estética, onde os estudos visuais são por vezes vistos como um "suplemento perigoso".

O texto discute mitos e ideias que influenciam o campo, como a desmaterialização da imagem, o apagamento de fronteiras entre arte e não-arte, e a noção de que existem meios exclusivamente visuais. O ensaio conclui com a descrição de estratégias pedagógicas, como o exercício "showing seeing" (mostrar o ver).

O Que São os Estudos Visuais? A Visão de W. J. T. Mitchell

Segundo W. J. T. Mitchell, o campo lida com um paradoxo: a visão é, por si só, invisível. Não podemos "ver" o nosso próprio ato de ver. O objetivo do seu exercício "showing seeing" é, portanto, expor o próprio olhar, tornando-o acessível à análise, numa variação do ritual "show and tell" (mostrar e contar) das escolas.

As 5 Falácias dos Estudos Visuais

  1. Falácia Democrática ou de Nivelamento: A ideia de que a cultura visual elimina a distinção entre imagens artísticas e não-artísticas, dissolvendo a história da arte numa mera história de imagens.
  2. Falácia da Tendência Pictórica: A crença na hegemonia do visível na cultura moderna, onde o espetáculo visual domina a comunicação verbal, levando ao declínio da literatura e à atrofia de outros sentidos como a audição e o tato.
  3. Falácia da Modernidade Técnica: A suposição de que o domínio do visual é uma construção moderna e ocidental, produto de novas tecnologias (TV, internet), e não um componente fundamental da cultura humana em geral.
  4. Falácia dos Meios Visuais: A noção de que um meio pode ser puramente visual. Por exemplo, alega-se que "assistimos" à televisão, ignorando a sua componente auditiva fundamental.
  5. Falácia do Poder: A visão simplista de que as imagens são apenas expressões de poder, onde o espectador domina o objeto visto ou, inversamente, o produtor da imagem domina o espectador através da vigilância, propaganda e espetáculo.

A História do Design Gráfico e os Estudos Visuais

A Perspetiva de Rick Poynor

Rick Poynor argumenta que a história do design gráfico, como disciplina, ainda está em desenvolvimento e luta para atingir a maturidade. Frequentemente, é combinada com a história da arte ou do cinema, sem se estabelecer como um campo de pesquisa intenso e autónomo.

Segundo Poynor, o seu propósito é duplo:

  • Analisar as falhas no desenvolvimento da história do design gráfico.
  • Propor que a disciplina se desenvolva dentro do campo interdisciplinar dos estudos visuais, permitindo-lhe estabelecer as conexões necessárias para o seu crescimento.

A Visão de Andrew Blauvelt

Por outro lado, Andrew Blauvelt, editor de "Histórias Críticas" da revista Visible Language, afirma que o único uso plausível para a história do design gráfico é servir como uma ferramenta para a educação de futuros designers gráficos.

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