Teorias da Comunicação: Pressuposições, Implicaturas e Cultura de Massa
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Pressuposições
É a informação não explícita, abordada por certas declarações, que serve à interpretação de tais declarações e cuja verdade é dada como certa pelos participantes no encontro comunicativo. Quando um remetente fornece uma informação na forma de um pressuposto, está a criar um conflito, pedindo ao destinatário que compartilhe essa ideia como algo comum. Por isso, muitos autores afirmam que os pressupostos 'aprisionam os destinatários'. Dizemos que as pressuposições exigem de nós, mas não as estamos impondo. São classificadas como: lógico-semânticas, pragmáticas e enciclopédicas ou gerais.
Pressuposições Pragmáticas:
Condições normais de atos ilocucionários, são o que não é dito para se inferir que uma declaração deve ser concebida ou interpretada como normal, ou seja, consistente com as regras sociais. Falar é uma atividade que consiste em:
- Atos Ilocucionários: o ato que ocorre quando se diz algo, que se pretende significar algo. (O que é feito durante a conversa: dúvidas, pedidos, repreender, etc.)
- Atos Locutórios: o ato de dizer algo.
- Atos Perlocucionários: o ato de dizer algo ou o efeito que dizer algo já produz. (Exemplo: se um juiz diz que alguém é inocente)
Pressuposições Lógico-Semânticas:
Pressuposições Enciclopédicas:
Todo o conteúdo que é dado como certo, pressuposto ou partilhado, e que forma o quadro cognitivo em que se desenvolve o processo de comunicação, ou seja, são a espinha dorsal da comunicação e que nos permite dar coerência e coesão. Pressuposições têm a ver com o contexto semântico, a competência comunicativa, a ideologia, os valores e as crenças dos interlocutores. Toda a comunicação é estabelecida em alguns temas gerais que fornecem informações novas; estas são questões gerais de pressupostos gerais ou enciclopédicos. Em processos de comunicação, o foco está nas novas informações, então o 'desculpe, assumi um pressuposto' não escapa à controvérsia. É o conteúdo que os parceiros compartilham.
Implicaturas
A alocução estratégica das intenções do falante, que é qualificada, e o significado literal do seu enunciado contam como uma instrução para transferir a comunicação para um outro nível, o nível do não-dito. Implicaturas são divididas em convencionais e conversacionais ou implícitas. (Apenas as conversacionais serão abordadas aqui)
Implicaturas Conversacionais:
A reconstrução dos atos ilocucionários pretendidos, ou seja, os efeitos de sentido que o destinatário recebe quando reflete sobre as intenções do remetente.
Quem estudou e propôs as implicaturas foi Grice, em um livro chamado 'Lógica e Conversação', onde as definiu como o que ocorre quando se viola uma máxima conversacional, mas, no entanto, não se quer quebrar o Princípio de Cooperação.
Para Grice, qualquer encontro comunicativo é racional e orientado por objetivos comuns, porque os participantes se baseiam em um princípio de boa vontade e bom entendimento, que ele chamou de Princípio de Cooperação. Este é um ideal regulador a ser seguido por todos os participantes. Esse Princípio de Cooperação é desdobrado em quatro máximas conversacionais:
- Máxima da Quantidade: a contribuição da comunicação não deve ser mais ou menos informativa do que o necessário.
- Máxima da Qualidade ou Sinceridade: as contribuições da comunicação têm de ser verdadeiras e fundamentadas.
- Máxima da Relevância: a contribuição da comunicação deve ser relevante.
- Máxima do Modo: a contribuição deve ser clara e ordenada.
Grice observou muitas vezes que estas máximas são violadas sem que, necessariamente, se queira quebrar o Princípio de Cooperação, e é assim que surge a implicatura. Existem três maneiras de violar as máximas:
- Ataque Público: o sujeito diz abertamente que não quer ser cooperativo.
- Transgressão Secreta: quando se viola a máxima mentindo, ou seja, fazendo crer que se está a cumprir a máxima. (Exemplo: quando perguntado se tem um cigarro e diz que não, que é o último, sendo uma mentira)
- Transgressão Pública-Secreta: é compreendida como um movimento estratégico discursivo pelo qual o remetente se exime da responsabilidade pelo significado da sua declaração, deixando toda a responsabilidade nas mãos do destinatário. Inclui a ironia, alusões, sugestões, perguntas retóricas, metáforas, ou seja, a maioria dos atos indiretos. (Por exemplo: alusões, sugestões, perguntas retóricas, a maioria das ações indiretas, etc.)
Mediação
As teorias da comunicação entendem a ação do meio (mediação) de três maneiras diferentes, associadas aos significados do meio. Esses três significados são: o meio como algo intermediário (isto é, o que está entre); o meio como algo que pode servir a um propósito (ou seja, o meio para um fim); e o meio como as circunstâncias e contextos que cercam e influenciam a sociedade (isto é, o meio e o ambiente). Vamos focar no último, que é o que chamamos de Hipótese Ecológica ou Masmediação.
O Meio como Algo Intermediário:
Teorias que, no primeiro sentido, veem a ação/papel da mídia como mediadora de momentos de um processo linear.
McQuail falou de duas metáforas associadas a esta ideia de mediação: a primeira é a metáfora da janela, uma janela que restringe a experiência e o conhecimento do mundo material e social. A segunda é a metáfora de um filtro que distorce o conhecimento. Essas metáforas contraditórias marcaram boa parte da história da pesquisa em mídia.
O Meio como Instrumento (Teorias da Conspiração):
As teorias que se enquadram no segundo sentido compreendem a mídia como instrumentos de manipulação, ou seja, entende-se que a mídia é utilizada para controlar a população pelo poder político e econômico.
Cada um desses pontos representa alguns aspectos significativos da atividade da mídia, mas são as teorias que se inserem no terceiro significado que permitem uma melhor compreensão da atividade da mídia.
Hipótese Ecológica ou Masmediação
A Hipótese Ecológica ou Masmediação compreende que a mídia constitui o quadro fundamental de símbolos, representações, imagens, mitos e rituais das culturas contemporâneas, mas também as práticas, as instituições, os movimentos sociais e a sociedade em geral, ampliando o quadro das atividades da mídia.
É precisamente por isso que a mídia pode ser comparada a outras instituições modernas (o discurso da medicina, o discurso da lei, etc.) e pré-modernas (os mitos na antiguidade clássica, ou seja, a mídia cria narrativas) pela sua capacidade de organizar a forma como as pessoas experimentam as suas relações com o mundo, com os outros, com o espaço e o tempo. É isso que se chama mediação ou masmediação.
Cultura de Massa
A cultura de massa não é formada por todas as mensagens dos meios de comunicação de massa. Embora a mídia e seus produtos ofereçam a cultura de massa como principal referência, ela é um espaço cultural mais complexo. Ultrapassa o conceito de mensagens e apela para uma concepção ecossistêmica. Estamos interessados, pois resulta na formação de uma comunidade hermenêutica (interpretativa, suportada pela comunidade nos modos de interpretação e avaliação partilhada, mas sem co-presença de tempo-espaço entre os membros). Os membros compartilham: sensibilidades, estilos, rituais, iconografia, padrões de proxêmica de contato e relacionamento, vocabulários experienciais, etc.
O termo 'cultura de massa' denota, ao mesmo tempo:
- Um tipo de cultura popular, estendida a todas as classes sociais, típica das sociedades desenvolvidas, em oposição à cultura de elite, produzida industrialmente, com mensagens massivas e indiferenciadas, de acordo com tecnologias que permitem a otimização do investimento.
- Cultura como uma espécie de sociedade, de um modo geral, um regime sociopolítico ou sistema social.
Definição:
A cultura de massa é um produto da sociedade contemporânea, um novo modo de organização social derivado de algumas alterações do final do século XIX:
- Industrialização progressiva
- O desenvolvimento dos transportes e do comércio
- A difusão de valores abstratos de liberdade e igualdade.
A cultura de massa fornece um elo, a imprensa da época, a partir de um quadro real de tópicos de conversa comum e de apoio na sociedade.
Blasco Ibáñez começou publicando brochuras.
A ambivalência dessa cultura desde o seu início: a vanguarda pega itens de uso massivo e os transforma em arte.
Críticas à Cultura de Massa:
A crítica herdada da Escola de Frankfurt e seu conceito de 'indústria cultural' detecta até que ponto o entretenimento de massa é a chave para o funcionamento da estrutura do sistema: a variedade e a acessibilidade dos produtos mainstream escondem uma falsa liberdade de escolha entre conteúdos que têm em comum a cumplicidade com os valores fundamentais que legitimam a ordem social existente.
As seguintes críticas são feitas à cultura de massa:
- A Cultura da Coleta: produz uma fetichização (fetiche = objeto de culto) do conhecimento e da cultura como o mito da ascensão de classes, ou seja, a cultura de massa induz a posse como um ato de apropriação. Exemplo: Coleções de jornais.
- Divulgação: diz-se que a cultura de massa é uma cultura informativa, uma cultura que adapta o conteúdo a uma norma de nível médio que faz com que todos entendam o conteúdo de qualquer realidade, com o propósito de uma abordagem criativa inteligente da comummente chamada infantilização das massas. Baseia-se nos seguintes mecanismos:
- Simplificação: delineamento de argumentos pessoais, roteiros, etc.
- Maniqueísmo: colocar as coisas em duas opções: boas ou más, ou seja, sem qualificação. (Exemplo: preto ou branco)
- Atualização: adição de sensibilidades contemporâneas a clássicos. (Exemplo: Shakespeare Apaixonado, que introduz a heroína do feminismo)
- Modernização: mover conflitos atuais para o passado. (Exemplo: West Side Story é uma modernização de Romeu e Julieta)
- A Cultura do "Mau Gosto": a cultura de massa oferece aos consumidores efeitos deliberados e intencionais, substituindo a experiência estética. Estética (experiência → produto → efeito). (Exemplo: as risadas enlatadas em programas de TV)
- Classificação em Ordem: não é dada a possibilidade de uma classificação personalizada, e, portanto, o produto cultural não dialoga com o destinatário, o que ocorre com a experiência estética. (Exemplo: a classificação de uma livraria. Esta ordem é transmitida pelo casual.) Ou seja, a cultura de massa nos diz o que é engraçado, chato, emocionante, etc.
- Hierarquização (Ranking): o produto cultural, qualquer estilo, não só aparece ordenado na cultura de massa, mas também hierarquizado. A hierarquia não é feita com base na qualidade, mas sim na rentabilidade, ou seja, algo é bom ou tem interesse se for bem recebido pelo público. (Exemplo: um cantor que recebe um disco de platina se tiver muitas vendas, independentemente de o seu álbum ser bom ou não)
- Obsolescência, Moda e Substituição: a hierarquização também tem o efeito de criar modas, ou seja, colocar em circulação obras, estilos e autores que recebem o selo de validade. Os produtos da cultura de massa, como produtos de consumo, têm uma taxa de obsolescência, não porque cumpram sua função social, mas pela exaustão simbólica. Este ciclo de vida curto envolve o esforço de renovação meramente formal, ou seja, o produto começa a morrer.
- Prazer Confortável: a busca por instalações confortáveis, juntamente com a diversão e o entretenimento, é uma exigência do produto da cultura de massa. Como é essencial para a comunidade de usuários, o produto parece ser consumível.
- Sedução de Utilização: sua única finalidade é "seduzir" os destinatários a utilizá-lo. Os elementos mais importantes de sedução são: o esteticismo da hipersensibilidade, a sobrevalorização da forma e os recursos (conflito, amor, sexo e violência).
- Soberania Lunática do Consumidor: como o público está no comando, são realizadas práticas de satisfação que lidam com as críticas anteriores.
- Previsibilidade: a cultura de massa é repetida por toda parte: clichês visuais, efeitos, molduras, argumentos, etc., sendo compatível com a renovação formal.
- Produção Industrial: a lucratividade é o único critério de um produto cultural projetado como "mercadoria", ou seja, o processo de criação é padronizado.
- Serialidade: uma fórmula específica de produção industrial que renuncia à especificidade e singularidade do produto para a criação de estruturas de gênero que são preenchidas por um número não especificado.
- "Abolição" ou Final Feliz da Tragédia: a necessidade de um final feliz, para o qual convergem todas as histórias de consumo que seguem os mesmos padrões das histórias infantis que sempre terminam restabelecendo o equilíbrio inicial. Essa crítica se baseia no pressuposto de que o público quer receber mensagens que evitem qualquer problematização derivada da presença da tragédia.
- Repetição de Temas e Argumentos: esta repetição é necessária para o sistema de produção industrial, a fim de colocar em circulação mais produtos do que os que podem ser criados, esgotando todos os desenvolvimentos. É uma cultura de fotocópia.
- Estereótipos Culturais e Rótulos: a cultura de massa, famosa pela divulgação acessível a todos os níveis de educação e formação, exige que o conhecimento de todos os tipos seja capturado e entendido por todos em um curto espaço de tempo. Portanto, o conteúdo é superficializado e estereotipado. A crítica é que os estereótipos são colocados em circulação mais para o sucesso da mídia social do que pela sua plausibilidade.
- Fragmentação e Uniformidade: a pretensão de universalidade implica homogeneidade, mas também a necessidade de obras rentáveis, como um "cortador de força".
- Integração: questões, argumentos, estilos, etc., cruzam gêneros e formatos para invadir o mercado com a presença de uma forma cultural. (Exemplo: merchandising).
- Ecletismo: a cultura de massa borra as fronteiras entre gêneros, temas, tratamentos, estilos, etc., ou seja, opera um sincretismo. Isso distorce tudo.
- Kitsch: (forma de arte considerada cópia inferior de um estilo existente e também usada para se referir a qualquer forma de arte passada ou de mau gosto). A cultura de massa adota procedimentos da vanguarda e os adapta a um nível acessível às massas, ou seja, simplifica-os. Estes procedimentos são utilizados apenas quando a vanguarda já foi difundida o suficiente para ser aceita, ou seja, a cultura kitsch serve como um tranquilizante para o consumidor que pensa estar se engajando com a cultura.
Aspectos Negativos da Cultura de Massa:
- Como é dirigida a um público amplo e visa satisfazer as suas expectativas, evita propostas originais que possam desagradar a qualquer setor em particular.
- Como produtos para uma classe de tipo homogêneo, tende a neutralizar as diferenças sociais.
- Não promove a reflexão, mas sim as emoções imediatas.
- As audiências estão sujeitas às leis de oferta e demanda.
- Oferece ao público apenas o que ele quer e o que lhe é sugerido.
- Elimina as diferenças entre alta cultura e entretenimento.
- Encoraja uma atitude passiva.
- Funciona dentro da estrutura de pontos de vista comuns e reforça o status quo.
- Fomenta a conformidade.
- A classe dominante utiliza-a como um veículo para o controle social.
Aspectos Positivos da Cultura de Massa:
- Permite a um amplo grupo social direitos iguais de participação na vida pública e de consumo.
- Oferece muita informação, com mais formação e incentiva a reflexão.
- A homogeneidade do gosto permite que certas distinções de classe sejam eliminadas.
- A divulgação das informações estimula a curiosidade em setores anteriormente excluídos.
- Permite que pessoas contemporâneas tenham acesso a aspectos do mundo que antes eram restritos a uma elite.
- Coopera no renascimento cultural, pois incorpora novas formas de expressão.