Teorias Filosóficas sobre a Natureza Humana

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Sete Características Definidoras do Ser Humano

  1. Um animal racional

    A filosofia grega atribui aos seres humanos a capacidade de pensar e valoriza essa propriedade como uma das mais distintivas da humanidade. O racionalismo defende que a razão é a única fonte de conhecimento e rejeita a fé como correta. Em contrapartida, o vitalismo considera a razão como a fonte de todos os problemas da cultura ocidental, afirmando a primazia da vida, da liberdade e da oportunidade.

  2. Um animal senciente

    A vida psíquica é repleta de afetos. Todas as experiências humanas possuem um componente emocional; não se pode viver sem sentimentos. O romantismo celebra a paixão como um dos melhores componentes criativos dos seres humanos, enquanto o emotivismo rejeita a tentativa de basear a ética na razão. A descoberta da inteligência emocional levou à valorização das emoções no campo da psicologia contemporânea.

  3. Um animal que fala

    As palavras permitem-nos comunicar de forma mais complexa do que os outros animais. Aristóteles considerava que a capacidade de articular pensamentos em palavras era uma das características que melhor definia a humanidade. Os problemas contemporâneos de indefinição e ambiguidade deram origem à filosofia da linguagem.

  4. Um animal social

    O indivíduo integra-se num ambiente cultural que o sustenta, abrindo uma nova fase social na evolução da humanidade. Existem duas teorias sobre a origem da sociedade: a clássica, que defende que a sociedade é natural, e a moderna, que sustenta que os homens decidiram voluntariamente viver juntos. A teoria do contrato social baseia-se na criação de uma associação voluntária.

  5. Um animal que trabalha

    O ser humano é um animal que fabrica ferramentas que modificam a natureza, permitindo-lhe transformar o meio que o rodeia através do seu esforço organizado. O marxismo apresenta a história da humanidade como um processo de exploração de umas classes sociais sobre as outras. O liberalismo económico, por sua vez, encara as relações entre empregadores e empregados de formas muito distintas.

  6. Um animal livre

    Os seres humanos têm a capacidade de decidir o seu próprio destino. A liberdade é, portanto, a capacidade que permite às pessoas escolher como viver a sua vida. No entanto, alguns autores argumentam que a liberdade é apenas um sonho e que o homem está sujeito às leis da natureza que o impedem de ser livre. Esta abordagem é conhecida como determinismo.

  7. Um animal espiritual

    Todas as culturas humanas levantaram a questão da transcendência. Durante o Neolítico, os mortos eram enterrados, e acreditava-se que tudo tinha uma alma. Gregos e romanos possuíam uma cultura politeísta. O cristianismo introduziu o monoteísmo, considerando Deus como o criador do universo. Em oposição, existe a ideia de que o homem é, acima de tudo, um corpo, e que toda a sua existência se realiza e termina na Terra.

Teorias da Natureza Humana

1. Platonismo

Para Platão, o ser humano é um ser dual e estável, composto por alma e corpo. A alma governa o corpo. Ele também acredita que os seres humanos são naturalmente sociais. A solução para criar uma sociedade perfeita é formar indivíduos perfeitos. Para isso, o mundo deveria ser governado por filósofos. Essa sociedade seria composta por três estratos: a elite (os filósofos), os guardiões e os artesãos.

2. Cristianismo

Para o cristianismo, o ser humano é feito à imagem e semelhança de Deus. Incorpora também algumas ideias básicas da filosofia, como o dualismo e a imortalidade da alma. Todas as pessoas estão sujeitas ao pecado, do qual só se pode escapar através da imitação de Jesus.

3. Marxismo

É totalmente contrário ao cristianismo, com a sua proposta ateísta e materialista. A crença em Deus é uma invenção cujo único objetivo é subjugar e escravizar o povo. Segundo Marx, os seres humanos precisam de transformar o ambiente em que vivem para garantir a sua sobrevivência. O trabalho modifica a sua natureza. Este processo é social, ou seja, a sociedade nasce da necessidade de colaboração. A forma como se trabalha determina as relações sociais: as classes sociais e a exploração de uns pelos outros. O estado ideal é aquele em que todo o trabalho reverte em benefício da sociedade.

4. Psicanálise

A personalidade humana é marcada por uma série de fases nas quais se definem os padrões de comportamento:

  • Fase Oral: Dos 0 aos 18 meses. Esta primeira fase está relacionada com o prazer libidinal do bebé durante a alimentação.
  • Fase Anal: Estende-se aproximadamente dos 18 meses aos 4 anos. Relaciona-se com a possibilidade de reter e expulsar as fezes.
  • Fase Fálica: Neste momento, as pulsões parciais das fases anteriores especificam-se numa certa primazia do genital. É a primeira organização libidinal da criança sobre o caos das pulsões parciais anteriores, que será completada durante a puberdade.
  • Período de Latência: Período entre os 6 e os 12 anos. Representa a consolidação e o desenvolvimento de traços e habilidades adquiridas anteriormente, sem mostrar nada dinamicamente novo.
  • Puberdade: Refere-se ao processo de mudanças físicas no qual o corpo de uma criança se torna adulto, capaz de reprodução sexual.

Freud é determinista e pessimista na sua conceção do ser humano. A sexualidade está por trás de todos os atos humanos.

5. Existencialismo

Sartre defendeu o ateísmo e o indeterminismo na sua conceção do ser humano. O principal elemento que causa problemas aos seres humanos é o facto de não assumirem que são livres.

O Bem como Prazer e o Hedonismo

A filosofia de Epicuro é um exercício de liberdade individual através da autossuficiência e da ataraxia (tranquilidade da mente), que visa atingir um estado de felicidade. Para alcançar a felicidade, é fundamental libertar-se de medos irracionais, mas também é importante abandonar a paideia (educação tradicional na Grécia Clássica), pois esta transmite valores que provocam medo e não conduzem à felicidade.

Epicuro apresenta quatro princípios para alcançar uma vida feliz:

  • Não há razão para temer os deuses; nem o medo nem as orações são úteis.
  • Também não há razão para temer a morte.
  • A dor e o mal são facilmente evitáveis.
  • O prazer e o bem estão facilmente disponíveis.

A felicidade para Epicuro consiste em alcançar uma vida feliz através do prazer. Essa atitude, chamada hedonismo, foi reivindicada pela juventude dos anos 60 como parte substancial da existência. O conceito de hedonismo não significa apenas prazer, mas também alegria, e refere-se tanto aos prazeres do corpo como aos do espírito. Epicuro valoriza mais os prazeres estáveis e duradouros, caracterizados pela ausência de dor no corpo e de perturbação no espírito.

Epicuro considera a amizade um dos elementos mais importantes para a felicidade, pois é o sentimento que nos dá mais prazer.

Conceitos-Chave

Materialismo: Corrente que surge em oposição ao idealismo e resolve a questão fundamental da filosofia dando primazia ao mundo material. Em suma, o material precede o pensamento.

Determinismo: Doutrina que afirma que todos os eventos, incluindo o pensamento e a ação humana, são causalmente determinados por uma cadeia inquebrável de causa-consequência.

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