Tomás de Aquino: Provas de Deus, Metafísica e Ética

Classificado em Filosofia e Ética

Escrito em em português com um tamanho de 5,25 KB

Provas da Existência de Deus

Para provar a existência de Deus, Tomás de Aquino apresentou algumas demonstrações que chamou de vias. Algumas delas são:

  • Via do movimento: As coisas estão em movimento, e tudo o que se move precisa de um motor que o inicie. Este primeiro motor imóvel é Deus.
  • Via da causa eficiente: Todos os seres existentes têm uma causa eficiente que os criou. Esta causa primeira é Deus.
  • Via do ser necessário e contingente: Como tudo à nossa volta existe mas poderia não existir (é contingente), conclui-se que deve existir um ser necessário por si mesmo. Este ser necessário é Deus.
  • Via dos graus de perfeição: Todas as pessoas são capazes de julgar eventos e ações, qualificando-os como melhores ou piores. Isso é possível porque existe um ser com a perfeição máxima (bem supremo), que é Deus.
  • Via do governo do mundo (ou finalidade): Tudo na natureza parece ordenado a um fim; essa ordem deve ter sido impressa por uma inteligência superior, que é Deus.

Metafísica de Tomás de Aquino

Em sua metafísica, Tomás afirma que a existência de Deus não é evidente por si mesma para o ser humano, necessitando de prova através do raciocínio. Ele analisa a diferença entre o ser de Deus (Criador) e o dos seres humanos (criaturas). Deus é a causa da existência dos outros seres. Tomás distingue entre essência (o que define uma entidade, composta de matéria e forma, partilhada por todos os membros da mesma espécie, identificada com a potência aristotélica) e existência (aquilo pelo qual a essência existe, identificado com o ato aristotélico). Os seres humanos são contingentes: sua essência não se identifica com sua existência. São seres em potência. Deus criou estas criaturas e o universo, que, por isso, não é eterno. Santo Tomás utiliza a teoria da potência (qualidades que os seres podem desenvolver) e do ato (qualidades que se tornaram realidades) para explicar o movimento. Utiliza a teoria hilemórfica para a constituição dos seres e as causas do ser para explicar a sua origem. Portanto, tudo o que se move é movido por outro, e é impossível que um ser esteja em ato e potência ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto.

Antropologia

A concepção do ser humano segue a teoria hilemórfica de Aristóteles. O ser humano é entendido como uma unidade substancial composta de matéria (corpo) e forma (alma). Existem 3 tipos de alma: racional (característica dos seres humanos), sensitiva (própria dos animais) e vegetativa (própria das plantas). Santo Tomás afirma que a alma racional é imortal.


Teoria do Conhecimento

Distingue dois tipos de conhecimento:

  • Conhecimento sensível: O homem apreende a realidade através dos sentidos. Graças à imaginação, forma-se uma imagem da realidade na mente humana, que Tomás chama de fantasma.
  • Conhecimento abstrato: O intelecto realiza duas operações: a abstração (separando a forma universal da matéria individual) e a formação de conceitos universais. O ser humano conhece primariamente a realidade sensível. A divindade está fora do alcance direto dos seus sentidos. No entanto, pode haver um conhecimento indireto de Deus através dos seus efeitos.

Ética

Seguindo Aristóteles, Tomás de Aquino defende uma ética eudemonista, reconhecendo que todos os seres naturais tendem a um fim, que no caso humano é a felicidade (beatitude). Distingue dois tipos de virtudes:

  • Virtudes intelectuais (ou contemplativas): Desenvolvem a razão. O fim último é alcançar a felicidade na contemplação beatífica de Deus.
  • Virtudes morais: Desenvolvem o hábito de escolher a boa ação em cada situação, encontrando o justo meio.

Esta ética baseia-se na lei natural. A razão, ao deliberar, descobre princípios morais inscritos na natureza humana; uma lei não escrita, universal e imutável. A lei natural refere-se aos fins para os quais os seres humanos estão inclinados por sua natureza (tendências) e ao facto de poderem comportar-se racionalmente, escolhendo os meios adequados para alcançar esses fins.

Política

A política é uma extensão da lei natural. Os seres humanos são sociais por natureza e têm um propósito transcendente. O Estado deve possibilitar ao homem alcançar o seu fim último (sobrenatural). O indivíduo ordena-se à comunidade para o bem comum. Santo Tomás considera que o poder político e o religioso são distintos e compatíveis, mas o poder temporal está subordinado ao espiritual no que diz respeito ao fim último. Deve promover o cumprimento da lei natural. A soberania do Estado é limitada pela lei natural e pelo bem comum. Se houver tirania, a resistência pode ser legítima. Defende um governo cumpridor da lei. Existem formas de governo justas (monarquia, aristocracia, república/politia) e injustas (tirania, oligarquia, democracia/demagogia - no sentido clássico).

Entradas relacionadas: