A Tragédia Fatal em Crônica de uma Morte Anunciada
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A Fatalidade em Crônica de uma Morte Anunciada
Gabriel García Márquez, escritor colombiano que trabalhou em jornais como El País, escreveu em 1967 Cem Anos de Solidão. Os anos de 1981 e 1982 foram importantes em sua vida pública ao publicar Crônica de uma Morte Anunciada e ganhar o Prêmio Nobel de Literatura. Um dos temas em destaque na obra é o drama trágico, o fatum. No romance, permanece um clima de tragédia. Sobre Santiago Nasar pesa o trágico e inevitável destino, como já anuncia o título. Este destino remonta à tragédia grega. Nas tragédias clássicas, muitos personagens estão condenados a um fim inevitável. Os deuses governam o destino dos homens, e estes nada podem fazer para mudá-lo. No romance, encontramos uma série de elementos que lembram a tragédia clássica: há uma transgressão que deve ser punida, a vítima inocente, a violência, o massacre bárbaro e o coro. Embora não existam forças divinas que regem o destino, há um acúmulo de erros, coincidências, contradições e circunstâncias que levam à morte de Nasar.
As formas concretas que a imperícia assume são variadas. A contradição central é que as pessoas sabem que os irmãos Vicário vão matar Nasar, e descobrem isso pouco antes de sua morte. A contradição é apresentada com habilidade e credibilidade, criando uma atmosfera trágica. A segunda grande contradição é que, em uma sociedade fechada e puritana, onde todos se conhecem, Ângela Vicário havia perdido a virgindade com um rapaz do povo, e esse fato não é de conhecimento geral, surgindo como um destino inevitável.
O acúmulo de contradições é resultado de certas ambigüidades. Há muitos fatos que não ficam claros para ninguém. A ambiguidade essencial se concentra em quem cometeu o crime de honra. Santiago Nasar foi, provavelmente, vítima de uma falsa acusação, ou foi morto por ter cometido algo. Há também um acúmulo de coincidências que marcam o curso fatal dos acontecimentos. Santiago, que quase nunca saía pela porta da frente, fez isso naquele dia, e os irmãos Vicário estavam lá esperando por ele. Luisa Santiaga sentiu a tragédia, mas naquele dia não conseguiu interpretar o presságio. O bilhete com o aviso de perigo posto por debaixo da porta não é visto por ninguém até depois do crime. Cristo Bedoya não encontrou suas balas, que teriam evitado o assassinato.
Essas coincidências são erros que levam o ser humano à tragédia fatal. Os erros e equívocos pontuam o evento e contribuem para o fim trágico. Plácida Linero, que interpretava os sonhos, não pôde ver o perigo iminente nos sonhos de Santiago. Os açougueiros não impediram os irmãos Vicário porque achavam que eles iam apenas assustar Santiago. O amigo de Santiago não o avisou porque estava tão feliz que achava que tudo estava resolvido. Santiago não avisou os outros porque acreditava que era impossível que não soubessem. Plácida Linero fechou a porta da frente achando que eram os irmãos Vicário que queriam entrar. Cristo Bedoya, que poderia ter avisado Santiago, não o encontrou. Não se pode dizer que não exista um tratamento hiperbólico da realidade: um acúmulo excessivo de acidentes, erros, mas não além dos limites do possível. Até o juiz se esforça para compreender tantas coincidências e tenta esclarecê-las racionalmente. Parece uma explicação terrível que os personagens sejam escravos desamparados da sorte. No entanto, adivinha-se uma força que vence a sorte: o amor. Ângela é a primeira dona do seu destino, ao enviar cartas de amor para o marido que a abandonou. Este é um gesto de libertação: a trajetória do destino foi alterada a seu favor.