Transformações Urbanas e Sociais no Século XX
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Mutações na Cultura e Sociabilidade Urbana do Século XX
O Crescimento das Cidades
No século XX, a vida urbana sofreu grandes transformações, verificando-se um crescimento acentuado das cidades. Este crescimento deveu-se, principalmente, à concentração de indústrias, comércio e serviços que atraíam a população rural. Assim, as cidades transformaram-se em grandes e poderosos centros de atividade, relacionados com a política, o comércio, a administração, a indústria e os serviços públicos essenciais. Nestas, ergueram-se novos edifícios residenciais, novas vias de circulação e ampliaram-se as redes de transportes. Modernizaram-se as forças de segurança e de proteção, tudo para proporcionar conforto aos milhões de pessoas que procuravam viver na cidade. Com o crescimento populacional, a estrutura urbana teve necessariamente de mudar e nasceram os novos centros urbanos, ou seja, as grandes metrópoles do século XX. Esta mudança vivida nas cidades levou, inevitavelmente, a várias alterações nos padrões de vida tradicionais.
Individualismo, Massificação e a Nova Cultura do Lazer
As populações que chegavam às cidades, obrigadas a abandonar o seu antigo estilo de vida, não conheciam ninguém, verificando-se um grande desenraizamento das pessoas, onde dominava o anonimato e o individualismo. O Homem tornou-se escravo da vida profissional e dos valores materiais que ela proporciona. O trabalho em série, cada vez mais aperfeiçoado devido às novas técnicas, subordinava o operário a práticas desumanizadas. Consequentemente, surgiu uma tendência para a massificação, isto é, o estilo de vida na cidade levou a que tanto os comportamentos como os objetos se tornassem padronizados (normas, padrões, práticas). A vida passou a seguir este modelo, pautada pela rotina profissional e intervalada por fugazes tempos de lazer, em que as pessoas se levantavam à mesma hora para trabalhar, frequentavam os mesmos espaços e tinham as mesmas motivações e gostos.
No seguimento destas mudanças, verificou-se um crescimento da classe média e o nível de vida aumentou, proporcionando uma nova cultura do ócio, que a cidade facilitava, oferecendo muitas distrações, nomeadamente:
- Clubes noturnos
- Cafés e esplanadas
- Cinemas
- Salões de baile
- Recintos desportivos
Todos estes fatores contribuíram para que as pessoas passassem a ter mais tempo e dinheiro para o divertimento e o prazer. Nesta nova cultura de lazer, as populações urbanas abandonaram os tradicionais constrangimentos sociais e começaram a viver de forma intensa e frenética, ansiando por divertimento. Era a época dos “Loucos Anos 20”, que rompeu com todas as regras sociais impostas até então. O ritmo de vida acelerou e, cada vez mais, as pessoas tornaram-se fãs da ação, do desporto, da velocidade e do uso do automóvel.
O Impacto da Primeira Guerra Mundial: Desilusão e Anomia
Este tempo, próspero económica e socialmente, desmorona-se com o início da Primeira Guerra Mundial. A guerra deixou nas pessoas um sentimento de desespero, angústia e pessimismo, devido às inúmeras mortes, aos desequilíbrios sociais e à perda de poder da Europa. O pessimismo vivido mudou a forma de pensar e vários pilares da sociedade foram postos em causa, como:
- A ciência
- O casamento tradicional
- O papel da mulher
- A arte
- A política democrática
- O cristianismo
- A lei
Assim, construiu-se um clima de anomia social, em que as regras e normas sociais foram questionadas.
A Emancipação Feminina
É neste contexto que se inicia o processo de emancipação da mulher. Com os homens a combater na Primeira Grande Guerra, as mulheres foram obrigadas a ocupar cargos tradicionalmente masculinos, o que lhes proporcionou uma relativa independência económica. O início do século XX foi fortemente marcado pela luta das mulheres pela sua liberdade e pelo reconhecimento da igualdade de direitos civis e políticos, sobressaindo a luta pelo direito ao voto. Os movimentos feministas conseguiram que, no final dos anos 20, fosse reconhecido às mulheres o direito a participar nos sufrágios eleitorais, a exercer funções políticas e a ter plena igualdade no quadro familiar e no trabalho. Libertas e emancipadas de preconceitos, passaram a conviver socialmente: iam a clubes noturnos, viajavam, bebiam e fumavam. O seu vestuário mudou, passando a integrar saias até ao joelho e saltos altos, e começaram a usar o cabelo curto, o que lhes valeu o título de flappers.
A Crise do Racionalismo e as Novas Correntes de Pensamento
No início do século XX, o pensamento ocidental rebelou-se contra o quadro de estreita racionalidade que, até então, considerava o raciocínio e a ciência como suficientes para desvendar todos os mistérios do Universo. Passaram a ser aceites outras dimensões do conhecimento, como a intuição. O intuicionismo de Bergson teve grande impacto, já que proporcionou às pessoas uma libertação das normas rígidas do racionalismo.
Foi, no entanto, Einstein, com a sua Teoria da Relatividade, que destruiu as mais sólidas bases da física e abalou a fé na ciência e na sua capacidade de compreender a Natureza, ao negar o caráter absoluto do espaço e do tempo, afirmando que estes eram relativos. Esta nova conceção de ciência passou a aceitar a desordem, a probabilidade e a incerteza como integrantes do conhecimento e do universo, rejeitando a previsibilidade e a ordem absolutas.
Nesta mesma época, Freud demonstrou a importância do inconsciente no comportamento humano, comprovando que o Homem é comandado por impulsos escondidos na profundidade da mente. Criou, ainda, a psicanálise, um método de pesquisa que incide na análise de sonhos e pensamentos. Assim, o racionalismo foi abandonado em favor do relativismo, e o conhecimento passou a ser visto como subjetivo.