Tucídides: O Pai do Realismo e a Balança de Poder

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Tucídides e o Conceito de Anarquia Internacional

Tucídides demonstrou, nos seus livros, um rigor de análise inesperado para a sua época. Nas suas análises dos conflitos bélicos, Tucídides não introduziu princípios metafísicos ou religiosos para explicar a ação das lideranças políticas e o comportamento das cidades-Estado helénicas. É referenciado tanto como o revelador da ciência política como o pai da história, pois ele não se preocupou apenas em descrever acontecimentos — a sua história traduz indagação e não mera descrição.

Os acontecimentos que analisa são apresentados de forma precisa, em ordem cronológica e com grande sobriedade, escrevendo assim história científica e não imaginação literária. Tucídides critica e procura determinar as causas mais profundas dos eventos e o porquê das suas resultantes no contexto da guerra entre Atenas e Esparta, que entende ter tido origem com o rompimento da balança de poderes. Para este, não era o destino ou algo acima dos homens que fazia mover a história, mas sim a sua ação e interesses próprios. Para Tucídides, é fundamentalmente a regra do interesse entre Estados que determina a hierarquia dos fatores; ele convoca-nos a ver algo de mais profundo e permanente na arena política.

O Realismo de Tucídides e a Génese das Relações Internacionais

Em Tucídides, vemos a descodificação sistematizada da luta pelo poder, mas também a própria génese da análise científica das relações internacionais. Este coloca a hipótese, mais tarde confirmada por outros autores que o estudaram, de que os Estados operam como parte de um sistema.

A teoria da balança dos poderes desenvolvida por Tucídides vê a sociedade internacional como sendo desigual, e é esta desigualdade que leva os Estados, com o objetivo de manter o equilíbrio internacional, a que se vigiem mutuamente para impedir a hegemonia de um outro Estado, permitindo assim manter a sua integridade, identidade e independência. Assim, o realismo de Tucídides é considerado sofisticado devido à preocupação constante com a questão do equilíbrio e com a prudência no uso da força/agressão; assume um caráter intemporal e configura quer um conjunto de lições empíricas para a compreensão das dinâmicas internacionais, quer orientações para os decisores estaduais poderem preservar a segurança em tempos de instabilidade.

O Modelo da Balança de Poder e a Sobrevivência dos Estados

O modelo de balança de poder assume a existência de um sistema de Estados, a sua relativa homogeneidade, a possibilidade de cálculo de poder e a partilha de consenso sobre o funcionamento do sistema internacional, ou seja, subscrição de princípios de conduta comuns. O objetivo principal é a sobrevivência dos Estados e do sistema de Estados, e evitar a preponderância de um Estado ou grupo de Estados.

Segundo esta teoria, os principais meios à disposição dos Estados para assegurar o status quo são:

  • A vigilância e a inteligência;
  • Alianças internacionais;
  • Sanções económicas e outras;
  • Guerra limitada.

Prudência e cautela são características fundamentais num mundo desigual. Para sobreviver a este cenário, o Estado não pode ter em consideração razões de ordem ética, daí que o autor estabeleça uma distinção entre moralidade privada e princípios de justiça.

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