Vinculação e Desenvolvimento Infantil: A Base das Relações Humanas
Classificado em Psicologia e Sociologia
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Relação Precoce: Definição e Importância
Relação Precoce: relação recíproca que tem por base o conjunto de comportamentos (sorrir, chorar, vocalizar, agarrar, gatinhar) que nos primeiros tempos de vida permitem estabelecer a ligação afetiva entre a criança e quem dela cuida.
O ser humano nasce inacabado (neotenia), o que faz com que, após o nascimento, dependa durante muito tempo dos adultos para sobreviver. Mas, ao contrário do que se pensava, o bebé não é um sujeito passivo. É, pelo contrário, um sujeito ativo. Existe uma interação entre o bebé e os progenitores em que ambas as partes comunicam estados emocionais e respondem de modo adequado: regulação mútua. O bebé emite sinais daquilo que pretende.
As Competências Maternas e a Regulação Mútua
A sensibilidade e disponibilidade da mãe face às necessidades do bebé e o prazer mútuo das interações que se estabelecem, propiciam um sentimento interno de segurança que é gerador de uma confiança básica que permite ao bebé encarar o mundo de forma positiva.
Wilfred Bion (psicanalista britânico especialista em dinâmica de grupos, 1897-1979), face à ansiedade vivida pelo bebé, sugere três possibilidades de atuação por parte da mãe:
- Interpretá-la como teatral: agrava a situação de ansiedade (mãe não continente).
- Ficar alarmada: passa para o bebé a sua própria ansiedade (mãe não continente).
- Acolhê-la para si: transforma a inquietação em segurança (mãe continente).
John Bowlby e a Teoria da Vinculação
Vinculação (Attachment): Conceito e Fundamentos
Vinculação: conceito proposto por J. Bowlby para designar a necessidade inata, básica – e não dependente de outras necessidades como, por exemplo, a alimentação – de ligação do bebé à mãe e desta ao bebé, e que se expressa por um conjunto de comportamentos característicos da espécie. Afirma que os fundamentos da personalidade do adulto são construídos a partir das ligações precoces e socioafetivas da criança e que estes laços, ou vínculos, repousam sobre necessidades e fundamentos biológicos. A base do desenvolvimento humano radica, assim, na sensação de confiança. Confiança esta que apenas se desenvolve com base em ligações afetivas sólidas – vinculação (attachment) – construídas ao longo da infância.
A Resiliência: Adaptação Positiva a Adversidades
A resiliência é a capacidade de adaptação positiva a situações humanas ou naturais adversas. Engloba dois conceitos fundamentais:
- O risco, onde se incluem características da personalidade e/ou ambientais.
- Fatores de proteção de ordem psicológica, familiar e ambiental, que permitem fazer face à situação de risco.
Não há possibilidade de resiliência se não existirem, ou se o sujeito não encontrar, fatores alternativos de proteção.
Vantagens da Vinculação no Desenvolvimento
- Estruturação da sexualidade: pode estar relacionada com as representações relacionais que se constroem durante a primeira infância.
- Regulação emocional: está dependente de toda uma construção da afetividade que a vinculação permite.
- Interações sociais positivas: um vínculo seguro e confiante desenvolve sentimentos de segurança e confiança nos outros.
Individuação: A Construção da Identidade Pessoal
Individuação: necessidade sentida pelo ser humano de criar a sua própria identidade, a sua individualidade, e de se distinguir dos outros que lhe são próximos.
Em articulação com o processo de vinculação desenvolve-se o processo de individuação. A vinculação está na base deste processo, o que pressupõe, desde logo, uma relação de interação entre estes dois processos.
Assim sendo, na primeira infância a vinculação tem um papel importantíssimo, dominando as relações que a criança mantém com os outros, designadamente com os progenitores. Na adolescência, que é uma etapa do ciclo vital que se caracteriza pela necessidade de autonomia, domina o processo de separação-individuação.
Comportamentos de Vinculação no Bebé
O comportamento de vinculação (reação observável) destina-se a favorecer a proximidade e informa a mãe do desejo de interação do bebé. Incluem-se nos comportamentos de vinculação o sorriso, a vocalização, o agarrar, o gatinhar, mas também o choro.
Harlow e as Experiências com Macacos Rhesus
Harlow, através das suas experiências com macacos Rhesus, veio provar que a necessidade de conforto e afeto cria um vínculo mais forte com a figura materna do que a satisfação das necessidades básicas de nutrição. Este laço mantém-se mesmo depois de longas separações. Em situações estranhas, os macacos agarravam-se à mãe de pano até se acalmarem. Harlow concluiu que a necessidade de conforto afetuoso é inata e que é mais forte do que a necessidade de nutrição.
Spitz e a Síndrome do Hospitalismo
Foi Spitz (psiquiatra infantil e psicanalista) quem, pela primeira vez, chamou a atenção para a Dor Psíquica (depressão) em fases precoces de desenvolvimento, resultante da privação afetiva. A síndrome do Hospitalismo resulta da rutura total e duradoura da relação afetiva precoce, durante os primeiros 18 meses de vida. Caracteriza-se por um atraso global de desenvolvimento (psíquico, relacional, mas também físico e biológico).
Mary Ainsworth e os Estilos de Vinculação
Vinculação Segura (± 65%)
Procuram e mantêm ativamente o contacto com a mãe após o reencontro; rapidamente se acalmam e retomam a exploração com a chegada da mãe.
Vinculação Evitante (± 20%)
Mostram-se aparentemente pouco perturbadas com a separação; evitam o contacto com as mães no reencontro (evitando o olhar e, quando se encontram ao colo da mãe, querem voltar para o chão).
Vinculação Resistente/Ambivalente (± 15%)
Reagem às separações com muita perturbação; são difíceis de consolar na reunião; têm visível dificuldade em sintonizar com a mãe.