Violência de Gênero: Consequências, Tipos e Recursos

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Consequências Psicológicas e Comportamentais da Violência

A violência pode desenvolver sintomas de transtorno de estresse pós-traumático, sentimentos depressivos, raiva, baixa autoestima, culpa e ressentimento. Muitas vezes, as vítimas apresentam queixas somáticas, disfunções sexuais, comportamentos de dependência e dificuldades em relacionamentos pessoais. Essas mulheres frequentemente têm dificuldade em dormir, revivendo os acontecimentos, permanecendo constantemente em estado de alerta, com irritabilidade e dificuldade de concentração. Além disso, o alto nível de ansiedade provoca problemas de saúde e doenças psicossomáticas (Marie-France).

Fases do Processo de Abuso

Distingue-se duas fases neste processo:

  1. Primeira Fase: A mulher fica confusa e desorientada, chegando a abandonar a própria identidade e a ver o agressor com aspetos positivos para ajudá-la a negar a realidade.
  2. Segunda Fase (Longo Prazo): Onde são atacados muitos dos laços que mantêm com o agressor. A vítima passa por um choque inicial, sentindo-se magoada, traída e envergonhada, apática, cansada e sem interesse.

Intervenção e Prevenção

A intervenção é necessária em muitos casos, após as mulheres passarem por um período de reflexão e várias tentativas de fugir da relação violenta. O aconselhamento e a educação são focos essenciais, especialmente nos casos de sequelas. As ações mais comuns incluem:

  • Informações sobre a violência doméstica, suas causas, origens e mitos.
  • Redução da excitação e ansiedade, promovendo a autonomia e a alteração de ideias distorcidas sobre si mesmas.

A principal forma de acabar com a violência de gênero é a prevenção e a educação das novas gerações: "O que eles dão para as crianças, darão as crianças à sociedade." (Karl A. Menninger). Isso exige uma mudança total na forma de encarar as relações entre homens e mulheres, um questionamento dos papéis sociais, estereótipos e da linguagem. Essas alterações devem ser transmitidas eficazmente pelos adultos às crianças.

Recursos Específicos na Comunidade Valenciana

Os recursos específicos para mulheres vítimas de violência de gênero na Comunidade Valenciana incluem:

  • Serviços Sociais Específicos: Abrigos para mulheres em situações de emergência e abuso, que incentivam a autonomia e oferecem consultoria sócio-jurídica.
  • Centro 24 Horas: Garante atenção integral às mulheres vítimas de violência e abuso.
  • Relatórios e Estudos: Condução de campanhas de conscientização e oficinas de formação.
  • Serviço de Aconselhamento Jurídico: Ajuda mulheres com conflitos conjugais ou de relacionamento, especialmente em questões laborais em Castellón.
  • Secretaria Municipal: Trata mulheres por sua condição ou falta de proteção, oferecendo cuidados especializados (derivada dos Serviços Sociais e do conselho cidadão).
  • Centro de Desenvolvimento Social e Cuidados "La Llar".

Todos esses recursos são identificados e definidos em conformidade com as normas e leis vigentes.

A Violência Contra as Mulheres como Problema Social

Para concluir, é importante notar que a classificação da violência contra as mulheres como um problema social implica não apenas a visibilidade do problema, mas também uma nova abordagem para a sua explicação. Se, anteriormente, a análise era individual (compreendendo a violência como resultado de circunstâncias específicas como nível socioeconômico ou psicopatologia do agressor), a consideração como um problema social entende que a violência contra as mulheres tem sua origem última nas relações sociais baseadas na desigualdade, num contrato social que envolve a pressão de um gênero (feminino) por outro (masculino). A partir desta perspetiva, são necessárias novas ações a nível social, envolvendo um novo contrato social, nova legislação e alterações nos programas de educação, para resolver o problema e superar suas consequências.


Definições, Tipos e Mitos da Violência de Gênero

Erradicar a pandemia da violência contra as mulheres é o verdadeiro desafio deste século, mais do que quaisquer outros avanços científicos, culturais ou tecnológicos. Se a humanidade aprendesse a detetar, parar e prevenir esta "doença histórica", seria um ponto de viragem na sua evolução: o fátuo "homo sapiens" tornar-se-ia pessoa, ser humano.

Diferenciação de Conceitos

Às vezes, as diferentes denominações de abuso levam à confusão (violência, parceiro, doméstica, mulheres). A violência doméstica refere-se ao que ocorre dentro de casa (marido à esposa, pais aos filhos, neto ao avô, etc.), excluindo-se os relacionamentos em que não há convivência. Já a violência contra as mulheres (ou de gênero) tem a ver com "a violência perpetrada contra as mulheres em virtude de o ser", e inclui tanto o abuso pelo parceiro quanto agressões físicas ou sexuais de estranhos, mutilação genital, infanticídio, etc.

O Artigo 1º da Declaração sobre a Eliminação da Violência contra as Mulheres (1994) define-a como "qualquer ato de violência baseado no sexo feminino que tenha ou possa ter como resultado dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico para as mulheres, incluindo ameaças, coerção ou privação arbitrária da liberdade." (Susana Velázquez, 2003, amplia a definição: são todos os atos pelos quais as mulheres são discriminadas, ignoradas ou subordinadas. É todo ataque material e simbólico que afeta a sua liberdade, dignidade, privacidade, segurança e integridade moral e/ou física).

Tipos de Violência

Violência Física:
É aquela que pode ser objetivamente percebida por outros (empurrar, morder, perfurar, etc.). É a mais visível e, portanto, facilita a perceção da vítima, sendo também a mais conhecida social e juridicamente.
Violência Psicológica:
Aparece sempre que há outro tipo de violência. Envolve ameaças, insultos, desprezo, humilhação, etc. Implica uma manipulação em que até mesmo a indiferença causa culpa e impotência, aumentando o controlo e a dominação do agressor sobre a vítima. Dentro desta, existe:
  • Violência Económica: O agressor controla o acesso da vítima ao dinheiro, impedindo-a de trabalhar para aumentar o controlo.
  • Violência Social: Limita os contactos sociais e familiares, isolando a vítima.
Violência Sexual:Exerce pressão física e psicológica para ter relações sexuais não desejadas pela vítima. Distingue-se da física por ter como objeto a liberdade sexual das mulheres.

Mitos Comuns e Justificativas

Os mitos comuns tentam explicar e justificar este tipo de violência, atribuindo-a a:

  • Características pessoais do agressor (vícios, distúrbios mentais).
  • Características das vítimas (masoquismo, "procura", natureza da mulher).
  • Circunstâncias externas (stress no trabalho, problemas financeiros).
  • Ciúmes ("crimes de paixão").
  • Incapacidade do autor de controlar impulsos.

Há também a crença de que a violência ocorre apenas em "parceiros errados" ou em baixo nível sociocultural, levando à ideia de que "estamos seguros". No fundo, essas justificativas procuram reduzir a responsabilidade e a culpa do agressor, e o compromisso que toda a sociedade deve ter para prevenir e lutar contra o problema.

"O que é que, sendo assim que os miúdos inteligentes são tão estúpidos a maioria dos homens? Deve ser o resultado da educação." (Alejandro Dumas).

Consequências Psicológicas

A principal consequência psicológica é a chamada Síndrome da Mulher Agredida, definida por Walker como uma adaptação à situação aversiva, caracterizada pelo aumento da capacidade de uma pessoa para lidar com estímulos adversos e para minimizar a dor, bem como por distorções cognitivas.

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