Wittgenstein: Linguagem, Filosofia e Mística
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Wittgenstein: Usos da Linguagem e Jogos de Linguagem
Afirmar que as palavras descrevem o mundo é observar um de seus usos. Wittgenstein defende uma pluralidade de efeitos no uso da linguagem. O significado de uma palavra ou expressão só pode ser determinado considerando seu uso nos jogos de linguagem. A palavra é como uma peça de xadrez: entender o que é uma peça de xadrez é compreender o jogo inteiro. O significado de uma palavra se insere em um jogo de linguagem, um conjunto de atividades definidas por normas que regulam os usos das palavras em nossa língua. O significado é determinado pelo uso na linguagem cotidiana. Seguir a regra é uma prática, um hábito, um modo de vida. "Uma frase comum ou vaga tem um significado. Tudo tem um fim perfeito." Não procure a linguagem ideal. Estabeleça os usos cotidianos para esclarecer aqueles que estão confusos. "O importante é o uso da linguagem."
O uso da língua tem a ver com o significado das palavras, não se refere a objetos. O importante é o uso da linguagem em um contexto específico. A linguagem é vista como uma caixa de ferramentas. Os usos mudam com o tempo, assumindo novas formas. Todas as mudanças no uso da linguagem são válidas: dar ordens, descrever objetos, relatar um acontecimento, especular sobre eventos, formar e testar hipóteses, implorar, agradecer, xingar, rezar... "A linguagem é um jogo do qual participamos." O jogo mostra expectativas recíprocas das pessoas.
Jogos de linguagem referem-se à compreensão de como a vida, na qual a linguagem está imersa, envolve uma série de regras gramaticais. Estas são o produto de uma prática no contexto da vida cotidiana. Nem sempre são claras e devem cobrir todas as lacunas. Falar e agir andam de mãos dadas.
Diferença entre:
- Gramática de superfície: Analisa a função sintática.
- Gramática profunda: Contém o significado das proposições. Permite ver generalizações empíricas. Exemplo com duas proposições:
- "Todas as rosas têm espinhos" (posso imaginar uma rosa sem espinhos) – proposição empírica.
- "Todas as réguas têm comprimento" (não consigo imaginar réguas sem comprimento) – proposição conceitual.
Novo Papel da Filosofia
- Função de Descrição: Descrever os usos da filosofia.
- Função Terapêutica: Lidar com a perplexidade e a angústia causadas pelo mau uso da língua. Verificar se a utilização das palavras está de acordo com a língua a que pertence. Analisar nossas formas de expressão. Corrigir o mau uso da língua. Verificar as palavras que expressam conceitos filosóficos. Evitar confusões da linguagem. Analisar as formas de expressão em linguagem comum. Evitar linguagem que viaja no vácuo. Entender a linguagem como uma caixa de ferramentas. Entender que os problemas de linguagem não são empíricos, mas linguísticos.
O trabalho do filósofo é resolver problemas de linguagem, corrigindo o desvio do uso.
Wittgenstein: Duas Obras Principais
Wittgenstein é conhecido por duas obras distintas: o Tractatus Logico-Philosophicus (1º Wittgenstein) e as Investigações Filosóficas (2º Wittgenstein).
O Tractatus
Características:
- "Não se pode sair da lógica."
- A lógica conecta a linguagem com o mundo através de nomes e proposições.
- Nomes: Referem-se a objetos simples. São sinais que representam objetos (referência).
- Proposições: São representações da realidade (figuras, "art"). Compartilham a forma lógica. São verdadeiras se correspondem à realidade e falsas se não correspondem. Classificam-se em atômicas e moleculares.
- Estrutura: A estrutura da linguagem e da realidade é determinada pela lógica. Essa estrutura nos permite falar do mundo.
- Tautologias e contradições não dizem nada sobre a realidade.
- Fato: Refere-se à totalidade dos fatos: existentes (reais) e possíveis (metafísicos). Concorda com a mesma estrutura lógica da linguagem.
- Filosofia: Não pode ser uma teoria sobre a realidade, mas uma atividade para esclarecer questões de linguagem e delimitar as ciências naturais (limites do que se pensa e do que pode ser pensado).
- Metafísica: Ultrapassa os limites do pensável. Proposições sem sentido devido à falta de referência.
- Proposições éticas, estéticas e religiosas: Expressam avaliações do mundo. Não são fatos. São místicas, questões de interesse para o homem, mas que estão além dos limites da linguagem. Não podem ser ditas, apenas mostradas.
Dizer e Mostrar:
- Dizer: Refere-se ao mundo. Proposições típicas das ciências naturais (o que há no mundo).
- Mostrar: Há proposições que mostram a estrutura comum entre o mundo e a linguagem. Podemos falar sobre o mundo (lógica). O místico não se pode dizer, apenas mostrar (está além dos limites da linguagem).
Proposições em Geral:
- Todas as proposições têm igual valor, pois designam fatos contingentes.
- O sentido do mundo não é revelado em nenhuma declaração de fatos. Não resolve o problema do sentido.
- O sentido da vida não está no mundo, mas fora dele.
Os fatos do mundo são absolutos:
- Referem-se a eventos, leis e generalizações.
- Não explicam o sentido do mundo, um mundo sem valores (ética).
- A ciência nos diz como o mundo é, sem valor.
Ética:
- Não altera os fatos, mas os limites do mundo.
- Direcionada para a felicidade de cada pessoa.
A mística é o que tem valor: Refere-se ao sentido da vida. O sentido da vida é aproveitado pela Ética e Religião.
Investigações Filosóficas: Características
"O paralelo entre a linguagem e a realidade é apenas um fenômeno de linguagem."
Compara a linguagem e as palavras com uma caixa de ferramentas: cada ferramenta tem uma função específica, mas pode ser utilizada para outras finalidades. Da mesma forma, uma palavra pode ter diversos usos ou funções comunicativas.