Crash Bolchevique e a Grande Depressão: Impactos Econômicos e Sociais

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Os norte-americanos acreditavam que o seu país atravessava uma crise de prosperidade. No entanto, havia indústrias que não tinham recuperado da anterior crise. O desemprego tecnológico aumentava e a agricultura com produções excedentárias originavam preços baixos e queda de lucros. Os bancos, com uma política de facilitação do crédito, mantinham a aparência do poder de compra americano. Crentes na solidez da economia, muitos investiram na bolsa onde crescia a especulação. Desde 21 de outubro que as ordens de venda das ações se acumulavam na bolsa. Os grandes acionistas estavam alarmados com a descida dos preços e dos lucros industriais que se fazia sentir. O pânico instalou-se a 24 de outubro, a 'quinta-feira negra', quando 13 milhões de títulos foram postos nos mercados a preços muito baixos e não encontravam comprador, significa que não havia dinheiro a circular. Esta catástrofe ficou conhecida como o crash de Wall Street. Muitos acionistas ficaram na ruína, pois não havia ninguém que comprasse as suas ações transformadas em papéis sem qualquer valor. Visto que a maior parte dos títulos tinha sido adquirida a crédito, a ruína dos acionistas foi também a ruína dos bancos, que deixaram de ser reembolsados. E com as falências dos bancos, a economia paralisou, pois cessou a grande base da prosperidade americana - o crédito. A retirada dos acionistas e restrições do crédito levou as empresas a falirem. O desemprego disparou, a procura afrouxou e a produção industrial contraiu-se, e os preços baixaram. A diminuição do consumo e as dificuldades da indústria tiveram consequências nos campos: os preços agrícolas afundaram-se, as famílias inteiras viviam na miséria: fábricas fechadas ou mantendo apenas os trabalhadores estritamente necessários, os salários tiveram cortes drásticos.

A Grande Depressão e suas Consequências

A grande depressão propagou-se às economias dependentes dos Estados Unidos, aos países fornecedores de matérias-primas e a todos aqueles cuja reconstrução se baseava nos créditos americanos. Neste último caso encontravam-se a Áustria e a Alemanha, onde a retirada dos capitais americanos originou uma situação econômica e social absolutamente insustentável. Os anos 30 foram tempos de miséria e angústia. A conjuntura deflacionista, caracterizada pela diminuição do investimento e da produção, pela queda da procura e dos preços, parecia eternizar-se sem solução. Num ciclo vicioso, a diminuição do consumo acarretava a queda dos preços e da produção, as falências, o desemprego e novamente a diminuição do consumo. As autoridades políticas não compreenderam a real dimensão da crise e acentuaram a deflação com medidas desastrosas. Os Estados Unidos criaram dificuldades acrescidas aos outros países que ficaram sem condições para adquirir a produção americana. A este fato não foi alheio o declínio do comércio mundial então verificado. Por outro lado, aumentaram-se os impostos, buscando receitas novas para o orçamento e restringiu-se ainda mais o crédito para que desaparecessem as empresas não rentáveis. Na Alemanha, os funcionários públicos sofreram significativos cortes salariais. Pretendia-se o saneamento financeiro, evitando despesas e aumentando as receitas, originavam-se obstáculos ao investimento e à elevação do poder de compra da população. E sem procura não havia relançamento possível da economia. Instalada a descrença no capitalismo liberal, restou aos estados em crise uma maior intervenção na regulação das atividades econômicas.

O Totalitarismo Fascista e a Cultura de Massas

No mundo ocidental, o século XX despontou sob o signo do demoliberalismo. Direitos individuais como a liberdade e a igualdade eram garantidos por um estado que se pretendia neutro e assentava na divisão de poderes. O homem e o cidadão ganhavam em dignidade e parcelas cada vez mais amplas de população estavam representadas na governação. A vitória dos aliados na 1ª Guerra Mundial parecia inaugurar uma ordem internacional mais justa e mais fraterna, porque baseada no triunfo nas nacionalidades e nos progressos da democracia. Com o passar dos anos 20, um novo sistema de exercício do poder confrontou o demoliberalismo. Movimentos ideológicos e políticos subordinaram o indivíduo a um estado onipotente, totalitário e esmagador. Na Rússia, o totalitarismo adquiriu uma feição revolucionária, nasceu da aplicação do marxismo-leninismo e culminou no estalinismo. Já na Itália e posteriormente na Alemanha, o estado totalitário foi produto do fascismo e do nazismo e revestiu um cariz mais conservador.

O Estado Totalitário Fascista e a Defesa das Elites

Após a Primeira Guerra Mundial, a desorganização socioeconômica foi aproveitada pela ideologia fascista para impor no poder novas elites. Ao contrário do demoliberalismo, que acredita na igualdade entre os homens e defende o respectivo acesso à governação (elegendo ou sendo eleito), o fascismo parte do princípio de que os homens não são iguais, a desigualdade é útil e fecunda e o governo só aos melhores, às elites, deve competir. A destruição da ideia de representatividade popular fez com que o poder emergisse das organizações fascistas: as elites eram compostas pelos membros do partido fascista, ligados à milícia e ao exército e considerados de raça superior. Numa sociedade profundamente hierarquizada e rígida, as elites mereciam o elevado respeito das massas. Cabia-lhes veicular a ideologia dominante, assegurar o cumprimento estrito da ordem, manter a Nação submissa. A chefiá-las estava um homem elevado à categoria de herói, apresentado como um ser providencial (trazido pelo destino) capaz de resolver todos os problemas. Simbolizava o Estado totalitário, encarnava a Nação e guiava os seus destinos. A ideia de representatividade popular foi substituída pela ideia do governo dos 'melhores', uma aristocracia liderada pelo chefe incontestado a quem todos tinham de prestar adoração e seguir sem hesitação: na Itália, Benito Mussolini era, assim, designado por 'il Duce' e, na Alemanha, Hitler era 'der Führer' (expressões que significam 'o chefe').

O Culto do Chefe no Totalitarismo Fascista e a Defesa das Elites

Após a Primeira Guerra Mundial, a desorganização socioeconômica foi aproveitada pela ideologia fascista para impor no poder novas elites. Ao contrário do demoliberalismo, que acredita na igualdade entre os homens e defende o respectivo acesso à governação (elegendo ou sendo eleito), o fascismo parte do princípio de que os homens não são iguais, a desigualdade é útil e fecunda e o governo às elites deve competir. Desconfiando das escolhas baseadas no sufrágio universal que atribuem o mesmo valor ao voto de qualquer indivíduo, Hitler chegou mesmo a afirmar existirem mais probabilidades de fazer passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que descobrir um grande homem por meio de uma eleição. Espécie de homens, os chefes (duce na Itália fascista, führer na Alemanha nazista) foram promovidos à categoria de heróis. Simbolizavam o Estado totalitário, encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos. Mas as elites não incluíam apenas os chefes. Delas faziam parte a raça dominante, em geral os homens. A arregimentação de italianos e alemães prosseguia na idade adulta, deles se esperando a total adesão e a identificação com o fascismo. Contava-se para o efeito com diversas organizações de enquadramento das massas: - O partido único e as milícias, cuja filiação se tornava indispensável para o desempenho das funções públicas e militares e de cargos de responsabilidade. - A frente do trabalho nacional-socialista e as corporações italianas, que forneciam aos trabalhadores condições favoráveis na obtenção de emprego. - A dopolavoro na Itália e a kraft durch freude na Alemanha, associações destinadas a ocupar os tempos livres dos trabalhadores com atividades recreativas e culturais que não os afastassem da ideologia fascista.

A Recuperação da Economia e a Estabilidade Financeira

A recuperação da economia preocupou os regimes de Itália e da Alemanha, que sofreram de uma forma contundente a crise do pós-guerra e depois os efeitos da grande depressão. Em ambos os países se adotou uma política econômica intervencionista e nacionalista que ficou conhecida pelo nome de autarcia. Propôs-se a autossuficiência econômica, apelou-se ao heroísmo e ao empenho do povo trabalhador, prometeu-se o fim do desemprego e a glória da nação. Na Itália, o Estado fascista reforçou a intervenção na economia. O enquadramento das atividades em corporações facilitou a planificação econômica, no que respeita à aquisição de matérias-primas, ao volume de produção ao tabelamento de preços e salários. Realizaram-se grandes batalhas de produção. A batalha da ira procurava a estabilização da moeda. A batalha do trigo aumentou a produção de cereais e fez diminuir as elevadas importações que agravavam o déficit comercial. A batalha de bonificação conseguiu a recuperação de terras e a criação de novas povoações nas zonas pantanosas a sul de Roma. O comércio foi alvo de um rigoroso enquadramento por parte do Estado, que subiu os direitos alfandegários e controlou o volume das importações e das exportações. A criação do Instituto Imobiliário Italico e do Instituto para a Reconstrução Industrial permitiu ao Estado financiar as empresas em dificuldades e intervir fortemente no setor industrial em pé de igualdade com os grandes grupos capitalistas. Este dirigismo econômico do Estado fascista atingiu a sua plenitude, quando a Itália se lançou na aventura colonial da conquista da Etiópia, que lhe permitiu a exploração de fontes de energia e minérios e a criação de produtos de síntese química como a borracha artificial. Na Alemanha, com promessas de pão e trabalho, Hitler chegou ao poder. Uma política de grandes trabalhos e na construção de autoestradas, aeródromos, pontes, linhas férreas, permitiu reabsorver o desemprego. O Estado reforçou a autarcia e o dirigismo econômico. Fixaram-se os preços. Em cereais, açúcar e manteiga, a Alemanha tornou-se autossuficiente. O vasto programa de rearmamento permitiu que a indústria alemã se elevasse ao segundo lugar mundial nos setores de siderurgia, química, eletricidade, mecânica e aeronáutica. As realizações econômicas do nazismo e a quase eliminação do desemprego renderam-lhe a adesão das massas e a admiração até de países ocidentais. O poderio militar seria posto ao serviço da conquista do 'espaço vital' prometido por Hitler.

Estabilidade Financeira e Equilíbrio Orçamental

A estabilidade financeira converteu-se na prioridade de Oliveira Salazar e do Estado Novo. Sabemos já das condições rigorosas colocadas pelo então professor universitário quando assumiu, em 27 de abril de 1928, o cargo de ministro das Finanças. No que respeitou a gastos públicos, os diversos ministérios foram submetidos a um apertado controle por parte de Salazar. Sob o lema de diminuir as despesas e de aumentar as receitas, Salazar conseguiu, nos anos seguintes, o tão desejado equilíbrio orçamental. Administraram-se melhor os dinheiros públicos, criaram-se novos impostos: o imposto complementar sobre o rendimento; o imposto profissional sobre os salários e os rendimentos das profissões liberais; o imposto de salvação pública sobre os funcionários públicos; a taxa de salvação nacional sobre o consumo de açúcares, gasolina e óleos minerais leves. Aumentaram-se, também, as tarifas alfandegárias sobre as importações, o que se relacionou com a redução das dependências externas, ditada pelo regime de autarcia. A neutralidade adotada pelo país na Segunda Guerra Mundial mostrou-se favorável à manutenção do equilíbrio financeiro. Poupou-se nas despesas com armamento e defesa do território. Criaram-se mais receitas com as exportações, como foi o caso do volfrâmio. As reservas de ouro atingiram um nível significativo, permitindo a estabilidade monetária. Apelidada de 'milagre', a estabilidade financeira granjeou ao Estado Novo uma imagem de credibilidade e de competência governativa. O êxito tinha tanta ou mais relevância quanto a 1ª República terminara os seus dias com as contas públicas desequilibradas e o mundo vivia, nos anos 30, os terríveis efeitos da Grande Depressão. Mas, embora a propaganda se esforçasse por enaltecer a obra meritória de Salazar, não faltaram as críticas nem os detratores da sua política de austeridade. Censuraram-lhe os extremos sacrifícios pedidos, a elevada carga de impostos, a supressão das liberdades e até o critério duvidoso (e rejeitado pela Sociedade das Nações) de incluir nas receitas extraordinárias os empréstimos contraídos.

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